O Que O Dinheiro Não Compra.docx 41591u

“O QUE O DINHEIRO NÃO COMPRA” Os limites morais do mercado (Michael J. Sandel) Tradução: Clovis Marques O mercado e a Moral Há coisas que o dinheiro não compra, mas atualmente, está a venda: barriga de aluguel; direito de abater animais em extinção; numero particular de um médico, e outras coisas, coisas que nem todos pagar por essas benesses. Vivemos numa época onde quase tudo pode ser comprado ou vendido. Com a crise de 2008, Ronald Reagan e Margaret Thatcher diziam que os mercados, e não o governo quem detinham a chave da prosperidade e da verdade, na qual tal cerne do triunfalismo de mercado era a ganância, desempenhando um papel na crise financeira. Porém a mudança mais decisiva nas três ultimas décadas não foi o aumento da ganância, mas a extensão dos mercados, e de valores de mercado, a esferas da vida com as quais nada tem a ver. A sociedade caminha nos os onde tudo está a venda, tendo como motivos a desigualdade e a corrupção, onde não basta apenas ter o dinheiro para comprar coisas luxuosas, mas sim quem tem o capital adquire para si, uma grande influencia política, sendo assim a distribuição de renda e da riqueza adquiri importância muito maior. “Quando todas as coisas boas podem ser compradas e vendidas, ter dinheiro a a fazer toda a diferença do mundo”. A analise tema deste livro. Naturalmente, pode haver discordância em torno dos princípios que valem a pena e das motivações a respeito. Assim para decidir o que o dinheiro pode - e não pode – comprar, precisamos saber quais valores governaram as diferente áreas da vida cívica e social. Quando bens podem ser comprados e vendidos, tratamos estes como mercadorias e instrumentos de lucro e uso, porem nem todos bens podem ser tratados dessa maneira. Como por exemplo, direito a cidadania, de voto, de júri, pois terceirizá-los significa aviltá-los, tratá-los de maneira errada. Furando a fila Ninguém gosta de esperar numa fila, porém as vezes é até possível pagar para furala, até mesmo uma boa gorjeta abre caminho para uma boa mesa em um restaurante cujo é muito concorrida. Como na maioria das pessoas não podem pagar por tais privilégios, empresas sempre

arranjam um jeitinho de vender agens mais caras, bilhetes diferenciados na qual dão ao comprador um privilégio e um livre o aos serviços oferecido. “conhecidos clientes VIP”. Existe a objeção à ideia de vender o direito a furar fila, sustentando a proliferação de esquemas, aumentando as vantagens da afluência e condena os pobres a ficar sempre no fim da fila, “Pistas Lexus”, considerando-as injustas com os usuários de poucos recursos. Mesmo sem poder pagar para abrir caminho até a frente da fila, pode-se as vezes contratar alguém para entrar na fila no seu lugar, tais profissionais da fila, são perfeitamente capazes de ... esperar... Algo ainda mais revoltante, o tráfico de senhas para consultas médicas por exemplo, sendo o que o sistema recompensa intermediários, e não aqueles que fornecem o atendimento. Cambistas pegam as senhas onde filas são formadas a noite e revendem a pessoas paciente que realmente precisam do atendimento por centenas de dólares. Tal expressão : “quem chega primeiro é atendido primeiro” – vem sendo substituída por uma nova ética de mercado-“pagou levou”. Incentivos Projetos de incentivos são criados mesmo que podem ser considerados “moralmente condenáveis”; propostas e programas são lançados, como exemplo o incentivo pago as mães viciadas em drogas, para que as mesmas aceitassem serem esterilizadas, impedindo assim o nascimento de bebes já viciados, controlando a natalidade, tais estimulo financeiro está voltado para mulheres vulneráveis de bairros pobres. Tais críticos afirmam que ao invés de ajudá-las a superar o vicio, o dinheiro serve para financiá-lo. Encarando como uma ação mercadológica esse tipo de acordo gera vantagens para ambas as partes e contribui para a utilidade social. Harris trata mulheres viciadas e contaminadas pelo HIV como se fossem maquinas danificadas de produção de bebes que podem ser desligadas por dinheiro. A maioria dos economistas prefere não ter de lidar com questões morais, pelo menos no desempenho profissional, cabe a eles explicar os comportamentos e não julgá-los. Nas ultimas décadas, os mercados e a lógica invadiram esferas da vida tradicionalmente governadas por outras normas, cada vez mais estamos atribuindo preço a bens não econômicos. Remunerar alguém para ser esterilizado, remunerar crianças para estudar e ter boas notas, remunerar pessoas para que tais se mantenham saudáveis, tomem seus remédios, parem de fumar e percam peso. Tais argumentos em pagar pela boa saúde é uma simples questão de custo-benefício; tendo ainda assim manifestações liberais opostas nas quais pessoas acometidas por problemas médicos que não tem como controlar, são discriminadas por empresas ou planos de saúde tendo atendimento e valores injustos, sendo que tais possuem risco saúde mais fragilizada, incorrendo em maiores riscos sem que nada tenham feito para isso. Muitas vezes o que está em questão do ponto de vista moral é algo mais importante,

gerando polemica em torno do limiar as vezes confuso entre uma multa ou taxa, por exemplo, multas de transito pelo excesso de velocidade, multa pela violação de política governamental, como é o caso da política de filho único na china, autorizações de poluir negociáveis onerando-a com impostos, fins de reduzir a emissão de poluentes através de regulamentação governamental. Pagar para caçar rinoceronte, o objetivo é proteger a espécie em extinção neste caso o governo Africano incentiva os fazendeiros à cria-los e cuidar dos animais, dando-lhe o direito de vender aos caçadores o direito de abater uma quantidade limitada de rinoceronte negro, sendo assim os fazendeiros alem de criar e cuidar dos animais, afastariam os caçadores ilegais. Tais incentivos também ocorrem no Canadá, na qual caçadores pagam para abater uma morsa, gerando renda a população com caça turística milionária monitorada. Como o mercado descarta a moral Existem coisas que o dinheiro não deveria comprar? A maioria das pessoas diria que sim, existe essas coisas, a amizade por exemplo, um amigo de verdade não é a mesma coisa de um amigo comprado. Um troféu pode ser comprado de um antigo campeão, porem o reconhecimento embutido na premiação não pode ser comprado. Parece, a primeira vista, existir nítida diferença entre dois tipos de bens: as coisas (como os amigos, e o premio Nobel) que o dinheiro não pode comprar e aquelas (como os rins e os filhos) que o dinheiro pode comprar, mas talvez não devesse, podemos identificar um vinculo entre os casos óbvios, em que a troca monetária corrompe o bem que esta sendo comprado, e os casos polêmicos, nos quais o bem sobrevive à venda, mas pode ser considerado com isso degradado, corrompido ou diminuído. Os economistas não gostam de presentes, pois ao invés de presentear alguém por melhor que seja a intenção, o aspecto monetário é relativamente obscuro, pois as pessoas são elas próprias que conhecem suas preferências, se o objetivo de presentear é fazer uma pessoa feliz, com certeza a melhor opção é fazer um pagamento monetário. Muitos economistas reconhecem atualmente que o mercado altera o caráter dos bens e das praticas sociais por ele governados. Hirsch considera que a ciência econômica tem ignorado o “efeito de comercialização” – “efeito sobre as características de um produto ou atividade, do fato de ser fornecido exclusivo ou predominantemente em termos comerciais, no lugar de algum outro meio – como a troca informal, a obrigação mutua, o altruísmo ou o amor, ou ainda sentimentos de prestação de serviço ou obrigação”.A “pressuposição geral, quase sempre oculta, é que o processo de comercialização não afeta o produto” sendo este o “imperialismo econômico”. Outro exemplo do sobrepujamento pelos mercados das normas alheias, como o caso da doação de sangue, no Reino Unido onde a doação de sangue para transfusão é doado por voluntários não remunerados, e nos Estados Unidos parte do sangue é doado, e parte é comprado por bancos comerciais, onde em geral pessoas pobres

dispõem a vender o proprio sangue para receber dinheiro. Embora o sistema não impede de ninguém de doar sangue se assim quiser, os valores de mercado que permeiam esse sistema exercem um efeito corrosivo na norma da doação. Aristóteles ensinava que a virtude é algo que cultivamos com a pratica, Rousseau semelhantemente esclarece que quanto mais um país exige dos seus cidadãos, maior sua devoção a ele. Onde a virtude cívica não é desgastada, mas intensificada, pelo exercício zeloso da cidadania. Altruísmo, generosidade, solidariedade e espírito cívico não são como mercadorias que se esgotam com o uso, mas se assemelham a músculos que se desenvolvem e tornam mais fortes com o exercício. Mercados na vida e na morte O seguro do zelador é uma pratica repugnante entre duas partes onde uma transação voluntaria entre, a empresa que compra a apólice (tornando-se beneficiaria) e a companhia de seguros que a vende, O trabalhador não participa do acordo, mas a falta de consentimento não é a única objeção moral contra o seguro do zelador, em sua maioria os empregados aceitavam uma oferta sem conhecimento da enorme discrepância entre o benefícios que sua família receberia, e as centenas de milhares de que a companhia se beneficiaria com sua morte. A criação de condições em que os trabalhadores tem mais valor mortos do que vivo é algo que os coisifica; eles são tratados como mercadorias a futuro, e não como empregados cujo valor para a empresa está no trabalho que executam. O seguro viático consiste em que um investidor oferece um valor a um detentor de seguro de vida cujo esteja moribundo, e de tal forma o real detentor do seguro, vislumbra uma certa quantia em vida para findar sua vida da melhor maneira possível, quando ocorrer a morte do segurado o investidor recebe o valor total da apólice, tão logo um lucro em mais de 100% ao ano. Tais historias levaram a processos judiciais. Pois certos investidores decepcionados processavam corretores pela venda de apólices de seguro de vida que não amadureciam, um executivo explicou as desvantagem dos remédios que prolongavam a vida, como exemplo uma pessoa portadora de HIV cuja expectativa de vida de 12 meses transformava-se em outra de 24 meses, “bagunçava completamente o rendimento”. Bolões da morte, uma analogia com os viáticos, jogos da internet são oferecidos onde os participantes pagam uma taxa para se inscrever e tal prescreve uma lista com nomes de celebridade que podem morrem naquele ano, ao final o participante cujo acertar o maior numero de mortes recebem um premio por tal feito. Apostar no momento em que celebridades morrerão é uma atividade recreativa, um jogo macabro, ninguém ganha a vida assim, porem levantam algumas das mesmas questões morais colocados pelos viáticos e o seguro do zelador. Título da morte se é moralmente condenável apostar na vida de seres humanos e lucrar com sua morte, os títulos da morte reduz em certa medida o efeito corrosivo em nossa sensibilidade moral. Uma vez que as apólices de seguro de vida sejam reunidas em grandes pacotes comerciais, retalhadas e oferecidas a venda para fundos de

pensão e fundações universitárias, nenhum investidor terá interesse na morte de alguma pessoa especifica. Às vezes, podemos aceitar a convivência com uma pratica de mercado moralmente corrosivo em nome do bem social que ela proporciona. O seguro de vida teve inicio com finalidade de proteger famílias e empresas de risco financeiro de uma morte inesperada, porem a sociedade se revelou difícil conter a tentação especulativa a fazer uma aposta com a morte. Direitos de nome

Há muito tempo jogadores esportivos são perseguidos para em em souvenires, cartões, bolas, tais autógrafos, eram apenas guardados por colecionadores, mas hoje em dia tais autógrafos, se revelaram uma grande forma de arrecadação de dinheiro, jogadores aposentados vendem seus autógrafos. Mas hoje as estrelas começaram a cobrar pela de autógrafos segundo escala de preços que variava de acordo com seus status. Em outros tempos caçadores de autógrafos eram apenas garotos fascinados com seus heróis, hoje em dia participam da caçada colecionadores, revendedores e investidores. Corretores começaram a pagar jogadores para milhares de bolas, bastões, camisetas e outros objetos. Os revendedores então avam adiante esses suvenires produzidos em massa através de empresas trabalhando como catálogos, canais de TV a cabo e loja de varejo. Mas a maior valorização é de objetos que tenham sido usados nos jogos, transformado tal comercialização de suvenires um elemento rotineiro. Autógrafos e parafernálias de jogadores não são as únicas coisa a venda, bancos, companhia de energia, empresas aéreas, firmas de tecnologias e outras, dispõem a pagar somas elevadas pela visibilidade de que podem desfrutar com a associação de seus nomes em estádios dos grandes times. Tornando os estádios verdadeiros imãs para o patrocínio corporativo. Naturalmente, os estádios esportivos são essencialmente lugares onde as pessoas, se reúnem para assistir a eventos atléticos. Quando torcedores vão ao estádio não mais estão indo por uma busca de uma experiência cívica, mas sim “vão para ver seus ídolos brilharem em seus próprios palcos”. À medida que os estádios deixam de ser, sobretudo, marcos referencias para se aproximar mais de painéis publicitários, seu caráter publico vai desaparecendo. E o mesmo talvez aconteça também com os vínculos sociais e os sentimentos cívicos que eles inspiram. Camarote de luxos, são pagos onde executivos milionários são entretidos em ambientes sofisticados separados da multidão; dividindo torcedores em função da renda. O mundo dos esportes não é o único em que grassam os mercados e o comercialismo, nas ultimas décadas, a publicidade comercial ultraou as fronteiras dos seus veículos habituais – jornais, revistas, rádio e televisão – para colonizar todos os recantos da vida. Em 2000, um foguete russo ostentava um gigantesco logotipo da

Pizza Hut, levou a publicidade ao espaço sideral, mas em sua maioria os novos espaços que tem sido invadidos por anúncios estrategicamente localizados, permitem aos anunciantes atrair a atenção das pessoas naqueles breves momentos do dia. Em elevadores, caixas eletrônicos, postos de gasolina, supermercados, e até mesmo em banheiros de restaurantes. Uma agencia londrina começou a vender espaço publicitário na testa das pessoas, com tatuagens temporárias, outras agências desenvolveram variações de outras possibilidade de anúncios corporais, “outdoors cranianos” na qual participantes raspavam a cabeça e usavam tatuagens temporárias na parte de trás da cabeça. O marketing municipal apropria-se do mundo comum, o seu caráter publico vai encolhendo. Além dos danos que causa a bens específicos o comercialismo corrói o comunitarismo. Quanto maior o numero de coisas que o dinheiro compra, menor o numero de oportunidades para que as pessoas de diferentes estratos sociais se encontrem. Numa época de crescente desigualdade e marquetização de tudo significa que as pessoas abastadas e as de poucos recursos levam vidas cada vez mais separadas. Democracia não quer dizer igualdade perfeita, mas de fato exige que os cidadãos compartilhem uma vida comum. O importante e que pessoas de contextos e posições sociais diferentes encontrem-se e convivam na vida cotidiana, pois é assim que aprendemos a negociar e respeitar as defirenças ao cuidar do bem comum. E assim, no fim das contas, a questão do mercado significa na verdade tentar descobrir como queremos viver juntos. Queremos uma sociedade onde tudo esteja a venda? Ou será que existem certos bens morais e cívicos que não são honrados pelo mercado e que o dinheiro não compra?