CURSO DE CAPACITAÇÃO PARA
PROFESSORES DA ESCOLA DOMINICAL
Objetivos do curso: curso
O curso visa qualificar candidatos para a docência nas classes da escola bíblica dominical, bem como atualizar os que já se encontram nesta condição.
A estrutura do curso:
PARTE – I DIDÁTICA
PARTE- II O FUNDAMENTO PARA O ENSINO CRISTÃO
PARTE – III O PERFIL DO PROFESSOR DA ESCOLA DOMINICAL
PARTE – IV A ESCOLA DOMINICAL
Parte I do curso (assuntos): • O que é didática • Como ela tem sido definida • O modelo tradicional e moderno de ensino • O objetivo da didática e seus aspectos • O que é aprendizagem • A psicologia da aprendizagem • Tipos de aprendizagem • Teorias pedagógicas
• Os teóricos da educação: Piaget, Vygostsky,Freneit e Paulo Freire • A teoria de Piaget • A teoria de Vygostsky • O pensamento e a prática de Freneit • O pensamento e a prática de Paulo Freire
Parte II:
• As bases e a origem para o ensino cristão • A meta do ensino cristão • Os participantes no ensino cristão
Parte III:
• A piedade e a devoção do professor • A capacidade intelectual do professor • O ensino do ponto de vista do professor • O professor e o conhecimento da sua audiência • Etapas no preparo da lição • O professor e a apresentação da lição • Etapas da lição diante da classe
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A linguagem do professor O que é argumentar A argumentação hoje e amanhã Argumentar, convencer e persuadir A retórica Condições da argumentação Convencendo as pessoas O professor como emissor A mensagem
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Jesus como exemplo de professor O professor como um líder Definição de líder A contribuição distintiva dos professores A filosofia educacional do professor A prática educacional do professor O professor como discípulos Os elementos do ministério: professordiscípulo • O professor discipulador como servo • O professor como estudante da bíblia
Parte IV:
• A escola dominical nos dias de Moisés • Na época dos sacerdotes, reis e profetas • Durante o cativeiro babilônico • No pós-cativeiro • Nos dias de Jesus • Nos dias da igreja • A escola dominical no Brasil • A escola dominical vale a pena?
• Elementos essenciais para as aulas da escola dominical • A importância da informação bíblica • Escolhendo e usando métodos criativos • Entenda os critérios • Entenda o processo de aprendizagem • O apoio audiovisual para o ensino.
O que é didática? a arte de ensinar – como Comenius a definia. A didática alterou profundamente no decorrer dos anos, o conceito do processo educativo. Hoje, por exemplo, não se sustenta o pressuposto de que a intenção de ensinar produz uma aprendizagem real. Enfoca-se hoje, o final do processo que é o ato de aprender.
Ensinar não é apenas transmitir conhecimentos, mas primeiro promover aprendizagem por parte do aluno. Não é apenas ler ou falar diante de uma classe, mas primeiro despertar, motivar e interessar a mente do aluno e em seguida dirigila no processo do aprendizado. Não pode haver real ensino sem aprendizagem por parte do aluno.
O termo “educar” deriva de um outro que significa literalmente "conduzir para fora".Conforme observa Antonio Gilberto é " pois privilégio e responsabilidade do professor da Escola dominical/conduzir seus alunos ao encontro das experiências da vida..." Ele ainda coloca: "Se o ensino secular é o meio de que o governo dispõe para eliminar o analfabetismo, a insipiência e o obscurantismo, a escola dominical deve ser o desafio da igreja contra o nanismo espiritual".
Modelo comparativo entre didática tradicional e a didática moderna: Didática Tradicional
A quem ensina?
Didática Moderna
Quem aprende?
Quem ensina?
Com quem se aprende?
Para que se ensina?
Para que se aprende?
O que se ensina? Como se ensina?
O que se aprende? Como se aprende?
Componentes
O aluno O professor Os objetivos Os conteúdos Os métodos
• Definição de didática A didática se ocupa do processo de ensinoaprendizagem que acontece no sistema escolar, mas diretamente em sala de aula, buscando alternativas para os problemas da prática pedagógica. • Como reflexão sistemática é o estudo das teorias de ensino e aprendizagem aplicadas ao processo educativo, como aos resultados obtidos. Estão presentes nesta disciplina, várias áreas do conhecimento que pesquisam o desenvolvimento humano, como: Filosofia, Sociologia, Psicologia, Antropologia, História Política e Teorias de Comunicação.
“Como a aprendizagem é um processo intencional, isto é, orientado por objetivos a serem alcançados por seus participantes; interessa, então, que esse processo consiga levar a aluno aprender, pela organização de condições apropriadas”.
• Objetivo da didática • O objetivo principal da didática é como fazer o educando aprender. Por meio dela o professor busca encontrar respostas para as seguintes perguntas: • *Como fazer para que os alunos se interessem pela matéria? • *Como motivar os alunos para que eles estudem? • *Como despertar e manter atenção do aluno?
• *Como avaliar os alunos? • *Como nos comunicar para que os alunos nos entendam? • *Como preparar bem as aulas?
• Aspectos que compõem a didática • • Tem sido afirmado que na caminhada da teoria até a prática o professor precisa respeitar, alguns aspectos, para que o aluno seja bem conduzido, a saber: • Sociológicos: voltado para os interesses da sociedade quando se trata dos conteúdos. • Psicológicos: aspectos voltados para a estrutura mental do aluno, ou seja, o seu desenvolvimento intelectual. • Filosóficos: aspectos interligados com os valores e os objetivos da educação, principalmente, com cada conteúdo apresentado.
• A Didática precisa ser vivida com a prática educativa no dia-a-dia em sala de aula. E para tanto ela precisa dialogar com as seguintes dimensões: • * Humana: vontade de todos que estão envolvidos no processo ensino-aprendizagem. • * Técnica: a organização intencional, formal e sistêmica que mobilize o processo educativo. • * Político-Social: Discute o currículo, em relação à população como também a ligação da parte técnica com a Humana.
• O que é aprendizagem “um fenômeno social amplo, complexo, através da qual a sociedade, ao mesmo tempo, se renova e perpetua”. • A aprendizagem é um processo de aquisição e assimilação consciente de novos padrões e novas formas de perceber, ser, pensar e agir.
O indivíduo só demonstra que aprende quando ele é capaz de reelaborar de maneira diferente o que lhe foi apresentado, ou seja, capaz de conceituar e abstrair. “Não havendo mudança de comportamento de quem está a aprender, não houve real aprendizagem”.
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A psicologia da aprendizagem O aluno normal aprende quando: (a) motivado, estimulado; (b) despertado para a realidade, pelas suas aspirações; (c) aprende quando gosta (d) aprende quando necessita (e) aprende quando vê fazer; (f) aprende quando faz; (g) aprende quando há métodos certos de ensino;
"O professor deve ministrar o ensino partindo do nível de conhecimento do aluno, e não do seu próprio".
• Tipos de aprendizagem • A Psicologia Educacional destaca os seguintes tipos de aprendizagem: • Motora ou Motriz: consiste na aprendizagem que envolve as habilidades motoras como: aprender a andar, dirigir, cortar etc.; • Cognitiva: ligada as habilidades mentais, intelectuais, a aquisição de informações, ou seja, tudo aquilo que depende do uso da memória.
Afetiva ou Emocional: diz respeito aos sentimentos e emoções, relacionadas aos valores. Dessa forma, é necessário que ocorra algumas premissas para que o processo ensino-aprendizagem seja alcançado por todos os alunos:
• O professor precisa motivar o aluno; • É necessário que haja uma relação intrínseca entre o ensino e a aprendizagem; • Não há ensino quando não existe aprendizagem; • Promover a participação de todos; utilizando técnicas e recursos; • Analisar o desenvolvimento bio-psico-social de cada aluno; • Elogiar, valorizar as atitudes positivas, pois motivação gera motivação, entre outros. • A aprendizagem precisa partir de uma situação concreta; Incentivar o aluno a interagir durante as aulas.
O professor deve perceber que o mundo atual exige, cada vez mais, que a sua prática docente precisa transformar as informações em conhecimento, pois o processo históricocultural constrói meios de interação humanosocial que necessitam de que as informações sejam transformadas em opiniões, para que, os professores, possam melhor entender o mundo e, assim, compreender melhor seus alunos. E aqui será de grande valia ao professor tornar sua abordagem mais consistente por meio de diálogos com as teorias de Piaget (1896 – 1980), Vygotsky (1896- 1934), Freneit (1920 1966) e Paulo Freire (1921 -19947), entre outros.
• Teorias pedagógicas e as suas contribuições • Os antigos concebiam que o papel do processo educativo consistia pura e simplesmente em franqueamento de informações que deveriam ser memorizadas, em seus mínimos detalhes, para que pudessem ser transmitidas às novas gerações. Contudo, esse modo de perceber o processo educativo foi ao longo dos anos enfraquecido na medida em que filósofos, educadores e demais especialistas, envolvidos com a educação, concebiam melhores caminhos para tornar a aprendizagem real e formativa.
Importantes contribuições emanaram de psicólogos e pedagogos que empenhados em comprovar a maneira como se processa aprendizagem, defendiam suas ideias, através de suas teorias, a fim de explicar determinadas situações e os os para alcançar o processo ensino-aprendizagem.
• Dois grandes teóricos da educação: Piaget e Vygotsky • Jean Piaget (1896 – 1980) e Vygotsky (1896- 1934) construíram paradigmas que promoveram marcas profundas no pensamento pedagógico contemporâneo. • A partir da discussão da perspectiva interacionista de Piaget e da dialética de Vygotsky várias propostas pedagógicas surgiram como verdadeira onda redentora para responder aos problemas educacionais.
Alguns especialistas estavam convencidos que o sucesso escolar aconteceria com a compreensão da psicogênese piagetina. Outros confiavam que só as abordagens de Piaget não conseguiriam suprir a força de reprodução, assim era necessário avançar a partir do pensamento dialético vygotskyano, ou seja, “fazer” algo diferente no sentido de levar em conta a criança como sujeito do processo do próprio desenvolvimento.
Exatamente neste contexto de inquietações, vários estudiosos, como Paulo Freire (1921-1997) e Freneit (1896 –1966), promoveram trabalhos com propostas para a educação que “recolha da prática concreta dos sujeitos educacionais o seu fundamento”, a fim de que todos os cidadãos sejam ancorados e tenham oportunidades de socializarem conhecimentos.
• Convergências entre Piaget e Vygotsky • Nasceram no mesmo ano e em lugares diferentes Piaget – 9 de agosto de 1896, na Suíça. Vygotsky – 17 de novembro de 1896, na Rússia. Tanto Piaget quanto Vygotsky percebiam, claramente, a necessidade de superar certas correntes epistemológicas radicais, que repousavam sobre a concepção mecanicista da aprendizagem. Ambos partilhavam do mesmo interesse, ou seja, pela gênese dos processos psicológicos, adotando abordagens teóricas centradas, simultaneamente, sobre a história e os mecanismos da aquisição ao longo do desenvolvimento. Contudo, as abordagens entre Piaget e Vygotsky sobre o desenvolvimento e a aprendizagem se dão de formas convergentes em muitos pontos.
• Divergências entre Piaget e Vygotsky • Piaget tinha formação em Biologia e defendia que a construção da aprendizagem é eminentemente epistemológica científica, livre das influências filosóficas ou ideológicas. O objetivo central de sua teoria é elucidar a atividade científica a partir de uma psicologia da inteligência, embora a sua teoria propicie respostas para área pedagógica. Piaget nunca se preocupa com o “como fazer”, portanto, não se pode falar em métodos ou técnicas piagetianas. Dos setenta livros e duzentos artigos publicados, apenas dois deles, Piaget refere-se explicitamente à educação. Recebeu o título de psicólogo aos 80 anos pela grande contribuição a esta ciência.
• Vygotsky, entre 1917 e 1923, atuou como professor e pesquisador no campo das Artes, Literatura e Psicologia. A partir de 1924 aprofundou sua investigação no campo da Psicologia, dirigido também para o da Educação de Deficientes. • Vygotsky pesquisava processos de mudança na história do sujeito, buscando a psicologia de forma historicamente fundamentada, enraizada no materialismo histórico e dialético. Entre 1925 e 1934, desenvolveu estudos nas áreas de Psicologia e anormalidades físicas e mentais com outros cientistas. Concluiu a formação em Medicina, sendo convidado para dirigir o Departamento de Psicologia do Instituto Soviético de Medicina Experimental.
• Obras • Piaget – Suas obras são bem divulgadas mundialmente. Ele pode aprofundar e debater a sua teoria até os anos 1980, portanto, consegue discutir as críticas à luz de seus trabalhos posteriores, pois somente faleceu em 1986, aos 90 anos. • Vygotsky – Suas obras foram pouco traduzidas, embora sejam intensas. A sua pesquisa foi interrompida quando se encontrava em via de construção, pois Vygotsky faleceu em 1934, apenas, aos 37 anos de idade. • A divulgação de sua obra se deu através de seus colaboradores, dos quais os mais conhecidos entre nós são: Luria e Leontiev.
• Teoria de Piaget • A perspectiva cognitivista-interacionista é apontada por Piaget ancorada nos mecanismos de modelo biológico, no que se refere à dinâmica do desenvolvimento e à concepção sistemática do pensamento, em diferentes patamares estruturais ao longo da infância e da adolescência. • Para Piaget o sujeito constrói conhecimento interagindo com o meio, mas paradoxalmente (contrário ao senso comum) este “meio” não inclui cultura nem a história social dos homens, apenas é assinalada pelas estruturas do organismo que se acomodam as novas exigências do ambiente, mostrando, assim, um comportamento adaptado a cada nova situação.
• Portanto, Piaget acredita que é pelo interior mesmo do organismo que se dá a articulação entre as estruturas do sujeito e as da realidade física. • Ele se livra de discutir as determinações sociais na construção de uma teoria psicológica do indivíduo, vai pela linearidade mecânica da evolução do conhecimento. Dessa forma, Piaget se dedica mais ao polo do Construtivismo, não se aprofundando na relação sujeito/sujeito. Ele busca compreender as estruturas do pensamento, a partir dos mecanismos internos que as produzem.
• Teoria de Vygotsky Vygotsky é contra as etapas do desenvolvimento individual apontada por Piaget. Daí a sua preocupação de apontar a compreensão dos aspectos da dinâmica da sociedade e da cultura, em que o histórico-social interfere no curso do desenvolvimento do sujeito. Isto porque, acreditava que o indivíduo transforma tanto a sua relação com a realidade como a sua consciência sobre ela.
Para Vygotsky, a internalização de um sistema de signos produzidos culturalmente provoca transformações na consciência do homem individual sobre a realidade, ou seja, o homem assimila os valores culturais de seu ambiente, e, ao mesmo tempo, desenvolve uma consciência crítica sobre os mesmos. Assim, o indivíduo se torna capaz de se transformar e atender as novas exigências de seu contexto social. Dessa forma, Vygotsky acredita que o reflexo do mundo externo sobre o mundo interno é a constante variável, imprescindível ao desenvolvimento do indivíduo. Para ele a natureza sócio-cultural se torna indispensável à natureza psicológica das pessoas.
• Piaget- A aprendizagem depende do desenvolvimento atingido pelo sujeito • Piaget prioriza o pensamento secundarizando o papel da linguagem no desenvolvimento do pensamento. Ele aponta a superioridade das estruturas cognitivas em relação à linguagem. Ele procurou abordar as mudanças qualitativas que a a criança, desde o estágio inicial de uma inteligência prática (sensório-motor) até o pensamento formal, lógico-dedutivo, que se dá a partir da adolescência. Esses estágios, segundo Piaget são:
• Sensório-motor (até 2 anos de idade) – anterior à linguagem • Pré-operatório (dos 2 aos 6 anos de idade) – pensamento indutivo, racionando a partir da intuição e não de uma lógica semelhante à do adulto. • Operatório-concreto (dos 7 aos 12 anos de idade) – criança torna-se capaz de efetuar operações mentalmente, lembrando o todo, enquanto divide partes. • Operações formais (a partir de 12 anos de idade) – capacidade de pensar sobre idéias abstratas.
• Maturidade intelectual (aproximadamente aos 15 anos de idade). • Para Piaget, a criança em um primeiro momento desconhece as regras (anomia), só depois que as recebe de “fora para dentro” (heteronomia) é que ela consegue caminhar para rejeitar, criticar, aceitar, refletir sobre valores e convenções sociais, culminando com a construção da autonomia. Ele investiga a compreensão das estruturas do pensamento, a partir dos mecanismos internos que as produzem. Para Piaget, o indivíduo não consegue conceber o que se a à sua volta de forma imediata, apenas com um simples contato com os objetos. E vão depender da maturação biológica, experiências, trocas interpessoais e transmissões culturais.
• Vygotsky- aprendizagem favorece o desenvolvimento do sujeito • Vygotsky tem a preocupação de buscar a compreensão do sujeito “interativo”, pois acredita que a constituição do indivíduo se funda a partir das relações intra e interpessoais. Ele observa que, a partir da abordagem histórico-social, é que o indivíduo se orienta e analisa a construção do conhecimento ou do pensamento, ou seja, pela unidade dinâmica da relação pensamento/linguagem. Para ele não há lugar para dicotomia, tudo está em movimento, pois acredita que não há fenômeno isolado.
A vida é formada por elementos contraditórios, coexistindo em uma totalidade rica, viva, e em constante mudança. Portanto, o indivíduo não pode ser fragmentado ou imobilizado, de forma artificial.
• Linguagem /Pensamento • Piaget – Opõe a ideia que a linguagem, em geral, seja responsável pelo pensamento. Para ele, a imagem mental nada mais é do que a imitação interiorizada, portanto, a ação engendra a representação. • Ele privilegia em sua análise interacionista construtivista, a superioridade das estruturas cognitivistas, em relação à linguagem. Assim, os estágios do pensamento infantil são obstáculos epistemológicos que dificultam o avanço da questão. Para ele o conhecimento se constitui a partir da atividade de um sujeito primordialmente epistêmico e secundariamente social. Para Piaget, em um primeiro momento a criança apresenta uma linguagem egocêntrica, ou seja, fala de si própria sem interesse por seu interlocutor. Isto porque, ela não tenta se comunicar e nem espera resposta.
• Piaget acredita que essa fase começa a desaparecer aproximadamente na idade escolar. • Para ele existe a dualidade entre pensamento e linguagem. Ele não aceita o caráter socializador como base na formação do pensamento ou da consciência. Sendo assim, o pensamento é considerado como estrutura lógica de raciocínio, e, o conhecimento é o resultado da construção científica feita pelo homem. Logo, a linguagem se torna, apenas, sintonia de nível intelectual subjacente da criança.
Já Vygotsky considera que é na relação dialógica entre sujeitos que o indivíduo descobre na palavra a possibilidade infinita de expandir a fala contextualizada para além de seus limites. Portanto, para ele, as interações sociais são espaços privilegiados de construção de sentidos, em que a linguagem é criação do sujeito. Nesse sentido, Vygotsky inclui a afetividade, sendo ela que permeia toda produção artística e cultural, ficando de fora outras formas de expressão do conhecimento humano que extrapolam os limites de uma compreensão lógica de realidade.
Para Vygotsky tudo está em movimento, pela causa dos elementos contraditórios, coexistindo em uma mesma totalidade rica, viva, em constante mudança. Não há lugar para dicotomia que isole o fenômeno, fragmentando-o ou imobilizando-o de maneira artificial. Assim, para ele não podemos separar a relação pensamento/linguagem.
• Nessa concepção, ele ressalta a linguagem constituidora da consciência, sendo espaço privilegiado da construção de sentidos e marca essencialmente pela dimensão humana. • Vygotsky não prioriza o pensamento em detrimento à linguagem, pois sua análise parte da inter-relação entre ambos. Para ele , a fala contém sempre um pensamento oculto, um subtexto, pois todo o pensamento encerra desejos, necessidades, emoções. Logo, a compreensão do pensamento do outro depende da interação do ouvinte com base afetivovolitiva. Assim, não basta ouvir para compreender.
• De acordo com Vygotsky, a linguagem egocêntrica direciona e transforma a atividade em nível de pensamento intencional. É um estágio transitório na evolução da fala oral para fala interior, portanto, a linguagem interior é adquirida pela criança através dos conhecimentos sociais e, ao mesmo tempo, é responsável pela construção de sua subjetividade. Assim sendo, a dialética entre pensamento e linguagem no decurso da história social, é essencial. Os conteúdos da experiência histórica do homem não estão • consolidados somente nas coisas materiais, mas, sobretudo, se encontram generalizados e se refletem nas formas verbais de comunicação produzidas entre os homens sobre estes conteúdos.
[...] quando as crianças se confrontam com um problema um pouco mais complicado para elas, apresentam uma variedade complexa de respostas que incluem: tentativas diretas de atingir o objetivo, o uso de instrumentos, fala dirigida à pessoa que conduz o experimento ou fala que simplesmente acompanha a ação e apelos verbais diretos ao objeto de atenção.
Quando analisado dinamicamente, esse amálgama (mistura) de fala e ação tem uma função muito específica na história do desenvolvimento da criança; demonstra também, a lógica da sua própria gênese. Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto a através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social.
• Ressonâncias na educação: Piaget e Vygotsky • Piaget vê o sujeito fundamentalmente epistêmico, portanto, cognitivo. Mas para Vygotsky ele (o sujeito) é fundamentalmente social, que se constitui na história e na cultura, em que o desenvolvimento da criança é o processo pelo qual ela se apropria da experiência acumulada pelo gênero humano no decurso da história social. • O ponto comum entre Piaget e Vygotsky é que ambos se opõem ao associacionismo empirista e ao idealismo racionalista. Isto significa que, os dois autores contestam a exposição de conceitos de forma objetiva, em que o professor é considerado o centro do processo, sendo a função do aluno a de apenas assimilar, de forma eficiente, os conteúdos transmitidos.
Embora Piaget nunca tenha proposto um método de ensino, a teoria do conhecimento proposta por ele tem sido pouco a pouco utilizada por vários professores e pedagogos que acreditam na necessidade de estabelecer a mediação entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível, para que se encontre o êxito na aprendizagem. Deste modo, considerar as atividades espontâneas da criança, como nos aponta Piaget, é permiti-la a desenvolver a criatividade e a autonomia, a fim de que ela possa resolver situações problemas e construir conceitos.
A ênfase que Piaget dá ao modelo biológico de adaptação do organismo ao meio, submetendo os aspectos sócioculturais a um papel secundário na constituição do sujeito e atribuindo um peso menor às relações sociais, afetivas e lingüísticas, no desenvolvimento da criança, pode influenciar atitudes discriminatórias e a interpretação dos estágios de desenvolvimento como “verdadeiros” inquestionáveis e como critério único para ação do educador.
• Devemos estar atentos ao questionamento de Vygotsky quando ele salienta que o aprendizado começa muito antes da entrada da criança na escola, cujo aprendizado escolar produz algo novo no desenvolvimento infantil. • Considerando o nível de desenvolvimento real (manifesto ação) e, simultaneamente, o nível de desenvolvimento potencial (determinado através da solução de problemas sob orientação de um adulto ou em colaboração com demais parceiros), Vygotsky propõe o conceito de zona de desenvolvimento proximal para explicar o processo de aprendizagem.
Para ele, enquanto o nível de desenvolvimento real caracteriza-se pelo desenvolvimento mental, retrospectivamente, o nível potencial caracteriza-se pelo desenvolvimento prospectivo, em que a zona de desenvolvimento proximal é que define as funções em processo de maturação.
• Neste sentido, aquilo que é zona de desenvolvimento proximal hoje, será nível de desenvolvimento real amanhã. Assim, para Vygotsky “o bom aprendizado é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento”. • Muitos teóricos da educação têm afirmado que Vygotsky ultraou Piaget no modo de conceber o desenvolvimento humano, isto porque, para Piaget o desenvolvimento do pensamento é a adaptação do indivíduo ao meio físico e social, enquanto para Vygotsky o desenvolvimento do pensamento é um processo essencialmente dialético, em que o sujeito transforma e é transformado pela realidade física, social e cultural em que se encontra.
Para Piaget o que está em jogo é a construção do conhecimento científico, em que o indivíduo se constrói na relação sujeito-objeto. Já para Vygotsky o que está em jogo é a construção do conhecimento social, reconhecendo a interferência do sujeito e a dimensão social.
O verdadeiro papel do educador não é mais aquele de perceber a criança como um sujeito em crescimento, em processo, que irá se tornar alguém um dia. É imprescindível ao docente o reconhecimento que a criança já é alguém hoje, em sua casa, na rua e no trabalho, que nasce com uma história de vida única, que se faz na cultura e pertence à uma classe social, portanto a criança é muito mais do que exemplos de fases de uma escala de desenvolvimento, como afirma Vygotsky .
Hoje, não há lugar mais para alunos e nem professores imóveis, olhares fixos no quadro-negro, nem cabeças sobre o caderno. É necessário, propiciar à livre expressão, através das diferentes linguagens, com o colorido da imaginação e da fantasia de todos os alunos presentes, em sala de aula.
• O pensamento e a prática de Freneit • A pedagogia de Freneit tem uma proposta mais próxima da teoria de Piaget, por acreditar que o processo do conhecimento se dê no processo de sucessivas construções. Contudo, Freneit não mergulha em pressupostos científicos e nem busca construir um método, o seu sonho é criar um movimento pedagógico de renovação da escola. Nascido em 1896, na França e com formação em magistério, Freneit não se limitou a ser um mero professor, mais um estudioso e pesquisador, cujo centro de sua pedagogia está na forma como a criança aprende.
• Freneit questiona as normas rígidas de ensinar e seus métodos convencionais e procura apontar procedimentos e princípios na possibilidade de inovar e criar constantemente as práticas pedagógicas. • Com as idéias da Escola Nova, Freneit constrói com seus alunos um corpo pedagógico teórico aliado às práticas pedagógicas vivas em sua classe. Em 1927, as idéias e as práticas de Freneit extrapolam os limites de sua escola e de sua aldeia, após a sua participação no Congresso Internacional de Educação. O autor publica além do primeiro número da Biblioteca de Trabalho, composto por brochuras escritas por seus alunos, conhecido como Fichário Escolar Cooperativo.
• Em 1932, o movimento educacional iniciado por Freneit já se espalha pela Bélgica e Espanha e suas ideias am a incomodar os conservadores ses, resultando o afastamento de Freneit da escola Saint Paul. • A partir de 1934, com ajuda de doações, Freneit constrói a célebre Escola de Vence e em 1935 ele começa a matricular alunos. Entretanto, o Ministério de Educação se recusa a reconhecer a sua instituição, e, em conseqüência deste episódio, Freneit a a trabalhar arduamente para criar o Conselho Cooperativo (gestão participativa), os jornais murais, a empresa escolar, as fichas autocorretivas, a correspondência escolar, os ateliês de arte, aulas-eio e o Livro da Vida.
• Durante a 2ª Guerra Mundial, Freneit é preso e fica seriamente doente. Porém, durante o período de seu restabelecimento Freneit escreve a maior parte de sua obra. Nos anos 50, sua Pedagogia já se espalhara pelo mundo com fortes raízes sociais e políticas. Ele cria um movimento em prol da escola popular, distinguindo-o dos demais pensadores do movimento da Escola Nova da Europa. • Na verdade, Freneit foi um professor que quebrou as regras do jogo educacional de sua época. Ele teve um sonho que procurou realizar, ou seja, educar crianças de classes populares, construindo uma escola socialista, onde o sentimento “coletivo” imperava o individualismo.
• Freneit critica o trabalho alienado e defende uma educação que permita às crianças e adolescentes realizarem uma reflexão crítica das formas de exploração de trabalho. Ao mesmo tempo, ele faz uma análise do trabalho pedagógico fragmentado e alienador. Para Freneit o trabalho é uma necessidade para homens, não devendo fazer distinção entre trabalho intelectual e manual. • No entanto, muitos julgam Freneit como um mero criador de recursos didáticos, um inventor de pacotes de atividades, possíveis de serem aplicados a qualquer contexto.
• Outros consideram Freneit como doutrinador comunista ou uma pessoa que apenas oferece um receituário desprovido de conteúdo ideológico. • Contra a escola que transmite um saber alienado e artificial, sem dar sentido à realidade, Freneit ressalta o processo de construção e reconstrução cotidiana dos saberes, dentro de relações concretas e históricas. Ele sugere que se abra a possibilidade para as crianças das classes populares trazerem suas experiências de vida e de classe social para a sala de aula. Para isso, considera fundamental a confiança e o respeito ao ser humano, a escola aberta para a vida e para o futuro, livre expressão, trabalho visto com agente formador do ser social, cooperativismo e senso de coletividade.
• Desde 1966, Freneit já não está entre nós, contudo, mesmo não sabendo o número de professores que seguem a sua pedagogia, percebemos o quanto a sua proposta continua a ser seguida por vários educadores que acreditam na defesa da fraternidade, do respeito, da dignidade, da alegria e da esperança otimista na vida. • Segundo a revista Nova Escola de 1994, os princípios frenetianos estão condensados no que ele chamou de invariantes pedagógicas, quase um auto-de-fé em 30 itens, em que o professor deve rever a cada ano para avaliar se está ou não evoluindo em sua prática.
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As invariantes são: A criança e o adulto têm a mesma natureza; Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros; O comportamento escolar de uma criança depende de seu estado fisiológico e orgânico, de toda a sua constituição; A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias; Ambos não gostam de disciplinas rígidas, ou seja, obedecer ivamente a uma ordem externa; Ninguém gosta de trabalhar por coerção; a coerção é paralisante; Todos gostam de escolher seu próprio trabalho, mesmo que a escolha não acabe sendo a mais vantajosa; A motivação para o trabalho é fundamental; É preciso abolir a escolástica, porque ela não prepara para vida; A experiência tateante é uma conduta natural e universal; A memória não é preciosa, a não ser quando integrada ao tateamento experimental; Estudar regras e leis é colocar o carro à frente dos bois; A inteligência não é uma faculdade isolada e fechada; A escola cultiva apenas a forma abstrata de inteligência; A criança não gosta de receber lições ex-cathedra (impostas); A criança não se cansa do trabalho que seja funcional; Ninguém gosta de ser controlado e castigado, sobretudo em público; Notas e classificação são erro;
• O professor deve falar cada vez menos; • A criança prefere trabalho em equipe cooperativa; • A ordem e a disciplina são necessárias na sala de aula; • Castigos é sempre um erro; • A vida escolar tem de ser cooperativa; • A sobrecarga das classes é um erro; • A democracia de amanhã se prepara na democracia da escola; • O respeito entre adultos e crianças é uma das primeiras condições de renovação da escola; • É normal que qualquer mudança na escola provoque reações contrárias; • É preciso ter esperança otimista na vida.
Os teóricos têm afirmado que a Pedagogia de Freneit nasceu da prática mecânica, repetida e desprovida de sentido, mas da ousadia, da insatisfação, do estudo, da reflexão, da experimentação e do compromisso com uma escola democrática e popular. Uma escola que desse aos filhos do povo, os instrumentos necessários à sua emancipação.
• O pensamento e a prática de Paulo Freire • Falar de educação sem apontar Paulo Freire é como falar de amor sem paixão, de esperança sem sonho. Este pernambucano, nascido em 19 de setembro de 1921, ficou conhecido em todo o mundo pela sua metodologia de alfabetização de adulto e foi reconhecido com o educador do século XX. • Paulo Freire não gostava de ser apontado como criador de um método, o mesmo sempre afirmava que a sua maior preocupação, em relação à educação das classes populares, era de levar à construção de uma verdadeira concepção política do ato de educar. Para isso, ele adotava como principais fundamentos para a prática educativa: a valorização do cotidiano do aluno e a construção de uma práxis educativa que estimule à leitura crítica do mundo.
Na visão de Paulo Freire, a verdadeira educação é aquela que não separa, em momento nenhum, o ensino dos conteúdos do desenvolvimento da realidade.
• Neste entendimento, é de grande importância que reflitamos a respeito das palavras de Freire: • “A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar sua atividade docente. Esta atividade exige que sua preparação, sua capacitação, sua formação se tornem processos permanentes. Sua experiência docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de sua prática”.
• Princípios da pedagogia de Freire • _ Exclusão de qualquer método, cujos os uniformizem as informações, com se uniformes fossem todos os alunos. • _ Participação coletiva na discussão / sistematização dos assuntos (atividades criadoras). • _ Integração de todas as disciplinas, cujo currículo se constrói a partir das necessidades históricas e naturais. • _ Valorização do saber trazido pelos alunos. • _ Inclusão do prazer e da dor. • _ Problematização constante de toda e qualquer questão, pois o processo educacional a ser essencialmente político, ou seja, tem de enxergar por baixo da superfície de fatos e implica numa práxis (crítica da realidade/pronunciamento do mundo).
• Sobre o aprender Freire (1996) destaca sete pontos fundamentais: • 1) Aprendemos ao longo de toda a vida. • 2) Aprender não é acumular conhecimentos. • 3) É importante pensar coisas novas. • 4) É o sujeito ativo que aprende. • 5) Aprende-se o que é significativo para si e para o planeta. • 6) É preciso tempo para aprender. • 7) É preciso ter um projeto de vida.
• Atualmente, segundo Gadotti (2000), o método de Paulo Freire é considerado uma teoria do conhecimento porque se pauta em quatro pontos: • 1) à curiosidade estimulando a leitura de mundo; • 2) ao diálogo com o outro permitindo verificar se esta leitura é verdadeira, pois inclui o conflito de posições; • 3) à educação é ato produtivo, pois constrói o mundo em conjunto com outros, onde se produz e reproduz o conhecimento, através do construtivismo crítico; • 4) à educação como ato de libertação e de esperança, capaz de despertar o sonho, de reencantar.
• PARTE II- FUNDAMENTOS PARA O ENSINO CRISTÃO • "Uma filosofia cristã de ensino começa na Bíblia e faz parte do conceito maior de educação cristã. A Palavra de Deus oferece mais do que o conteúdo do ensino cristão; fornece também a estrutura filosófica essencial. Questões fundamentais, como: “Por que ensinar?”; “Que resultados devemos esperar?”;“Quem é o mediador do ensino cristão?”; “Como devemos ensinar?”; e “A quem devemos ensinar?”encontram respostas provocativas na Bíblia.
Um mandato e uma meta claramente definidos emaranham-se de forma precisa com os notáveis discernimentos das Escrituras sobre o professor, o aluno e Deus para, com isso, formar uma superestrutura estável. Cada ensinador cristão constrói uma filosofia pessoal de ensino ao entender, correta ou incorretamente, a estrutura bíblica. Portanto, o desafio permanente de construir uma filosofia verdadeiramente cristã começa de maneira correta examinando cada parte do componente fornecido pela Bíblia".
Michael S. Lawson coloca ainda que o mandato para o ensino cristão remonta suas raízes aos primeiros dias do homem na terra. Deus começou a ensinar quando colocou uma restrição no comportamento do homem no jardim do Éden. Depois da queda, a necessidade de ensino aumentou. Pais piedosos aram de uma geração para outra, cruciais informações espirituais até que Deus formalizou a responsabilidade dos pais ao ordenarlhes que ensinassem os filhos (Dt 6).
Porque a Lei funcionava dentro de uma teocracia, o treinamento espiritual dependia em grande parte da família, mas recebia reforço de todo o sistema social, econômico, político e religioso. Embora os profetas fossem ocasionalmente enviados a outras terras (cf. Jonas), a tônica do ensino durante o Antigo Testamento permanecia nas pessoas que viviam em Israel. Jesus Cristo seria o primeiro a articular a ideia de ensinar a todos em todos os lugares.
A Grande Comissão em Mateus 28 é ao mesmo tempo uma das agens mais conhecidas e menosprezadas do Novo Testamento. Na História Geral, ninguém jamais comissionou ou tentou seriamente a educação universal. Contudo, Jesus espera que Seus seguidores façam discípulos de TODAS AS NAÇÕES. Se fosse levado a sério, esta agem deveria subjugar os professores cristãos com a falta de um currículo rigidamente definido, professores profissionalmente treinados ou extraordinários orçamentos para a educação. Suficientemente incrível, a história deste mandato determina o Cristianismo. Onde o ensino cristão viceja, a igreja prospera.
A característica mais importante da Grande Comissão para os professores cristãos gira em torno do aluno. A frase “fazei discípulos” (ARA) na verdade significa fazei ou desenvolvei aprendizes. O próprio mandato para o ensino cristão dado por Cristo envolve mais do que disseminar informações. Baseado neste texto bíblico, o professor cristão tem de desenvolver aprendizes. Os mestres cristãos lutam com sua tarefa até que seus alunos se tornem discípulos de Jesus Cristo. Quase ninguém questiona seriamente a chamada da comunidade cristã de ensinar seus constituintes. Mas ferozmente discutimos como realizar esse ensino.
A habilidade do Cristianismo ter sobrevivido sob quase todo o tipo de filosofia educacional que fala mais sobre seu Deus do que seus professores. Mas a mão superintendente do Senhor não nos alivia do mandato divino. Precisamente como devemos desenvolver aprendizes? Devemos treiná-los em mosteiros? Educá-los em comunidades agrícolas? Instruí-los em grandes grupos ou empregar principalmente a comunicação interpessoal?
Os professores cristãos deviam parar o suficiente para considerar o quão criativo Deus foi ao dar Sua revelação. Muitas metodologias de ensino copiam os modelos tradicionais que podem ou não refletir uma perspectiva cristã (sem mencionar criativa). Pelo fato de ser a Bíblia em grande parte um documento proposicional, alguns professores cristãos apresentam primariamente explicações preposicionais e verbais da verdade bíblica. Mas considere a variedade incrível de métodos e modos extremamente diversos que Deus usou para comunicar Sua Palavra.
O mandato nos desafia a ensinar a todos em todos os lugares. Enquanto Deus regula o andamento de nossa criatividade com Seu próprio exemplo, nós medimos nosso sucesso em termos de vidas transformadas. Mas o que exatamente deve ser alcançado nas vidas daqueles que se tornam discípulos de Cristo?
• A meta do ensino cristão • Em certo sentido, o mandato para o ensino cristão faz supor uma meta. Aqueles que aprendem acerca de Deus têm de responder positivamente a Ele. Quase invariavelmente, quando a meta do ensino cristão é suscitada, a palavra maturidade vem à tona. Parece que presumimos uma definição comum a esta palavra-chave, mas tal suposição produz confusão. • A Escritura usa pelo menos três palavras diferentes tanto para metas de ensino como para a medida da maturidade. A maturidade deve se manifestar em relacionamentos, moralidade e teologia. Primeira Timóteo, Hebreus e Efésios são evidentes ao declarar estas marcas de maturidade. Como temas, encontramos essas marcas em todas as partes da Bíblia.
• Os participantes no ensino cristão • O ESPÍRITO SANTO. • Nunca é demais enfatizar Sua importância como participante no processo do ensino cristão. O que quer que digamos sobre os outros dois participantes (o professor e o aluno), sempre deve ser entendido à luz do trabalho superintendente e global do Espírito Santo e Sua interação com o professor, o aluno e a Palavra de Deus.
• O PROFESSOR. • De que forma os professores são diferentes no ensino cristão? Com frequência presumimos que sabemos precisamente o que os professores devem fazer, porque amos muito tempo sob a supervisão deles. Os melhores anos de nossas vidas transcorrem sob a educação formal, na qual os professores têm grande influência (consciente e inconscientemente) sobre nosso desenvolvimento.
Não obstante muito do que eles fazem pode ou não ser eficaz ou valer a pena imitar. Examinar cuidadosamente o papel do professor de uma perspectiva cristã aclara nossa compreensão.
• O ALUNO. • Filosofias de educação e teorias de aprendizagem têm existido há centenas de anos. Mas a questão sobre como as pessoas aprendem permanece em parte sem resposta hoje. Há muitas teorias nas faculdades de educação, algumas das quais já vimos aqui, mas ninguém de maneira compreensiva resolveu o quebracabeça. • Certo psicólogo educacional aborda a questão dividindo a teoria da aprendizagem em dois campos principais. Os desenvolvimentalistas estão num campo, enquanto que os partidários do estímulo-resposta estão no outro, ambos, encrespando a opinião um do outro. Os dois princípios fazem contribuições à nossa compreensão de como as pessoas aprendem. Mas nenhum sintetiza por completo nossa compreensão do processo de aprendizagem.
Para o benefício dos alunos, os professores devem cooperar com o processo de aprendizagem para obterem melhores resultados. Mas no ensino cristão, até certo ponto, os resultados sempre serão impossíveis de predizer. Para o crente, muitas perguntas sobre a verdade espiritual complicam ainda mais as teorias de aprendizagem. A verdade espiritual é por natureza diferente de outra verdade? A verdade espiritual precisa ser apreendida por um mecanismo distinto dos sentidos normais? Certos textos bíblicos sugerem que problemas esperam os que pretendem ensinar a verdade espiritual, e duas agens parecem abordar o assunto muito diretamente.
PRIMEIRA CORÍNTIOS 2.14,15: O que mais possa ser verdade, existe uma diferença entre o homem natural e o homem espiritual, quando as coisas do Espírito de Deus estão relacionadas. Alguns sugerem que a depravação corrompeu a habilidade do homem compreender a verdade espiritual. Outros propõem que o homem natural entende a verdade espiritual, mas é incapaz de responder de uma maneira espiritual. No primeiro caso, o Espírito de Deus tem de iluminar a informação bíblica para que a verdade faça algum sentido para o aluno. No segundo, o Espírito de Deus precisa ativar a vontade para que o aluno dê uma resposta espiritual. Em qualquer caso, a verdade espiritual parece chegar ao aluno ordinariamente através de um dos cinco sentidos.
• Mas dependendo da posição adotada, o professor precisa antecipar dificuldades com a compreensão ou aplicação da verdade. Perguntas acerca da condição espiritual fundamental dos alunos tornam-se cruciais. • HEBREUS 5.13,14: Nesta agem, o autor faz distinção entre os crentes “espirituais”. Aparentemente alguns são capazes de participar de “mantimento sólido”, ao o que outros ainda bebem “leite”. Visto que a maturidade requer uma boa quantidade de tempo, os professores devem contar como certo que alguns alunos vão progredir mais do que os outros. Com frequência o professor lida com uma audiência mista. Esta lição deve equilibrar-se entre leite (para que o jovem não fique desanimado) e comida sólida (para que o maduro não fique entediado).
O Espírito Santo, o professor e o aluno reúnem-se em torno da Palavra de Deus no ensino cristão. Cada um contribui com exclusividade para o processo. Paradoxalmente, o Espírito Santo e o aluno muitas vezes operam independentemente do professor. Mas o mestre cristão precisa tanto dos alunos como do Espírito Santo para cumprir a sua missão.
• PARTE III- O PERFIL DO PROFESSOR DA ESCOLA DOMINICAL • É requisito sine qua non que o professor da escola dominical tenha preparo espiritual. Pois conforme observa Lécio Dornas: A piedade e devoção do professor precisam encabeçar a lista de suas virtudes, Realmente, à frente de uma classe precisa estar um verdadeiro crente em Jesus Cristo, alguém, objeto de uma experiência pessoal de conversão e em pleno processo de santificação. A responsabilidade de ensinar a Palavra impele a liderança da igreja a escalar como professores apenas crentes fiéis e detentores de um testemunho vivo do Evangelho.
• Dornas ainda coloca: Ser professor da Escola Dominical não é uma profissão, mas uma vocação, um serviço prestado ao Rei dos reis, uma oferenda, um gesto de adoração. Não basta, portanto, saber a lição ou dominar as técnicas de ensino; é necessário saber o caminho da cruz e ter coragem para chegarse aos pés de Jesus em oração, dia após dia. O professor é, antes de tudo, um adorador e um servo dependente em tudo do seu Senhor. • Sem dúvida que a oração deve ser parte da vida diária do professor.
Serve muito bem para o professor a oração do salmista: "Desvenda os meus olhos, para que eu veja as maravilhas da tua lei". (Salmo 119.18). Ao proferi-la, o professor expressa diante de Deus o reconhecimento de sua incapacidade de entender a Palavra de Deus sem o seu auxílio. Através de uma vida de oração e constante busca da vontade de Deus, o professor encontra na Palavra Santa, que estuda e ensina, verdades que mudarão a vida de seus alunos e a sua própria. Vale lembrar, porém, que a oração não substitui o trabalho do professor. Muitos pensam que tudo que precisam fazer é orar. Assim, cruzam os braços e esperam, inocentemente, que Deus se encarregue de tudo o mais. Cabem bem aqui as palavras de Inácio de Loyola: "Ore, como se você não contasse consigo mesmo. Trabalhe como se você não contasse com Deus", finaliza, Dornas.
• Antonio Gilberto observa que o êxito da escola dominical depende da espiritualidade e preparo do professor: O professor da escola dominical precisa ensinar tão bem a lição bíblica do dia, quanto o professor de matemática ensina sua matéria. • Gilberto põe em perspectiva o ensino do ponto de vista do professor: • 1. Por que ensino? — Por amor e gratidão a Deus, e também em obediência à ordem divina (Mt 28.19-20). • 2. Qual o meu propósito no ensino? — Há um propósito tríplice: salvar pecadores, edificar os crentes e treinar futuros obreiros... • 3. Que ensinarei? —A Bíblia, por excelência (Mt 28.20). • 4. A quem ensinarei? — A grupos de alunos de diferentes idades (Dt 31.12), o que implica conhecimento de suas características psicológicas. • 5. Como ensinarei? — Capacitado por Deus e preparado no que depender de mim (2 Tm 2.2,15 - ARA; 1 Pe 3.15).
• O professor e o conhecimento da sua audiência • É importante que o professor prepare suas lições tendo em vista a necessidade do aluno e não a sua. E saiba como se comunicar com as diferentes faixas etárias: o que interessa a um adulto, não interessa a um jovem ou a uma criança. Preparar a lição sem pensar nisso é ficar diante da classe “pregando no deserto”. O professor deve preparar a lição tendo em mira três propósitos para com o aluno: • • Que desejo que meus alunos aprendam? Isto visa a mente do aluno. E o plano objetivo da lição. • • Que desejo que meus alunos sintam? Isto visa a afetividade do aluno. E o plano subjetivo da lição. • • Que desejo que meus alunos façam? Isto visa a vontade do aluno, aliada à prática. E o plano objetivosubjetivo da lição.
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Etapas no preparo da lição 1. Estudo pessoal, usando: • A revista da Escola Dominical. • Apontamentos feitos na hora do estudo individual. 2. Estudo em fontes de consulta. O material necessário deve ser extraído e ordenado. Veja que fontes tem! Não se trata de ter muitos livros, mas de têlos bons. 3. Preparo do esboço da lição • Este é um necessário recurso mnemônico. • Deve ter no máximo quatro pontos ou subtópicos. • Deve apresentar unidade e coerência. • Quando mais bem detalhado e completo é chamado Plano de Aula.
• 4. Escolher os métodos e o material de ensino que será adotado durante a lição. • 5. Preparo de trabalhos para a classe • • Questionários (5 a 10 perguntas). • • Testes de vários tipos. • • Tarefas orais ou escritas para o domingo seguinte. Pode ser pesquisa, trabalho manual, ou mini-preleção de um ponto da lição ou versículo. • • Anúncios e comunicações de interesse da classe. • Quanto tempo você gasta no preparo da lição? Convém atentar para Jeremias 48.10. O preparo da lição deve começar na segunda-feira e prosseguir diariamente a semana inteira. O preparo de uma aula bíblica de 50 minutos não pode ser coisa de fim de semana!
• O professor e a apresentação da lição • A. Chegue cedo! Pelo menos 10 minutos antes da hora de começar a reunião da Escola Dominical. • B. Antes do estudo da lição, o secretário da classe cuidará das seguintes providências preliminares: • • Arrumação da sala. • • Apontamentos da classe, conforme o sistema de registro adotado. • • Boas-vindas aos visitantes. • • Cumprimentos aos aniversariantes. • • Matrícula dos novos alunos (usando o Cartão de • Matrícula)
• C. Etapas da lição diante da classe (50 minutos) • 1. Introdução da lição 3 minutos • • E o ponto de contato com a classe. O fato utilizado para introduzir a lição deve ser bem apropriado. • • Oração. Ore ou convide um aluno a fazer oração. • • Boas-vindas
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Prender a atenção dos alunos. • Introduzir o assunto da lição e seu relacionamento com as demais lições da série em estudo. 2. Explanação da lição..................................30 minutos 3. Verificação da lição......................................5 minutos E a recapitulação dos pontos e verdades básicas da lição, seguida de perguntas e respostas. 4. Aplicação da lição...................................... 7 minutos Uma das partes mais importantes da lição. O conhecimento pessoal adquirido pelo aluno não será eficaz se não for aplicado. Seu valor vem da sua utilidade imediata ou remota, quando aplicado pela pessoa que o obteve. E a aplicação das verdades bíblicas ensinadas, à vida e necessidades dos alunos, bem como aos tempos atuais. A aplicação da lição, corresponde, digamos, ao apelo na pregação.
• 5. Encerramento da lição.............................. 5 minutos • É a entrega das tarefas e atividades, avisos sobre trabalhos • especiais da igreja, etc. • Controle seu tempo! O professor dispõe de apenas 50 minutos para tudo isso, mas se ele souber dosar o tempo, este será suficiente. • A apresentação da lição como exposta acima, aplica-se às classes acima de 12 anos. Abaixo dessa idade a apresentação é diferente, havendo constantemente, mudança de atividade escolar, com mudança de métodos de ensino, é óbvio, para ganhar-se atenção e manter vivo o interesse do aluno.
• D. A linguagem do Professor • Grande número de pessoas têm falhado em suas carreiras, inclusive no ensino, devido a dificuldades no falar, em exprimir-se de forma adequada. A arte de falar torna a palavra, entre outras coisas, correta e expressiva. • • Correta. Pronúncia perfeita, com a articulação completa de todos os sons que compõem a palavra. Evitar e corrigir defeitos de pronúncia. • • Expressiva. Tradução perfeita da idéia que queremos exprimir. A expressão implica em entonação, pontuação e escolha das palavras. A entonação torna a voz agradável e elegante, mesmo vigorosa. A pontuação aclara o sentido, facilitando a compreensão.
• A escolha das palavras exatas faz com que o ouvinte compreenda claramente o que queremos dizer-lhe. O professor deve então cuidar de tornar as suas palavras co r r e t a s e e x p r e s s iv a s . A linguagem revela muito da personalidade do indivíduo. • Uma fala perfeita dá prazer ao ouvido, mas o falar errado, seja na entonação, na pronúncia, na pontuação, ou na escolha das palavras, cansa os ouvintes, e o auditório todo só acerta dizer: “amém”, não em sinal de satisfação, mas ansioso que o preletor pare. A expressão oral perfeita, impõe-se e dá destaque, mesmo que o orador seja modesto e humilde.
• E um prazer ouvir alguém falar corretamente, com expressão e graça. Em Juízes 12.2-7, temos um caso em que 42.000 homens morreram por causa de má pronúncia. Hoje em dia muitos “matam” seus ouvintes da mesma maneira... O professor tem que cuidar da linguagem, porque ele se utiliza dela quase todo o tempo da • aula. (Ver os seguintes textos: Pv 15.1; 16.24; Ct 5.16; 1 Co 14.8,9.). • A linguagem do professor, quanto ao vocabulário, deve ser comum a ele e a seus alunos.
• “O professor piedoso e fiel há de receber sua recompensa. Ao ver seus alunos amadurecendo na fé, transformando-se em homens e mulheres de Deus, cooperadores incansáveis na luta do Reino de Deus, até mesmo obreiros e ministros lutando no exército do Senhor; o professor notará que Deus o está recompensando por sua fidelidade e dedicação. Espiritualmente, o preparo do professor da Escola Dominical ainda é burilado pelo exercício fiel de sua mordomia e pelo serviço que presta à causa do Evangelho. É nossa opinião que para estar à frente de uma classe onde a Bíblia é ensinada o crente precisa ser um fiel dizimista, cumprindo com alegria as orientações da Palavra que deseja ensinar aos seus alunos”. • Tão importante quanto saber falar bem é saber argumentar bem.
• O que é argumentar? • Segundo o senso comum, argumentar é vencer alguém, forçá-lo a submeter-se à nossa vontade. Definição errada! Von Clausewitz, o gênio militar alemão, utiliza-a para definir guerra e não argumentação. Seja em família, no trabalho, no esporte ou na política, saber argumentar é, em primeiro lugar, saber integrar-se ao universo do outro. E também obter aquilo que queremos, mas de modo cooperativo e construtivo, traduzindo nossa verdade dentro da verdade do outro.
Antônio Suárez Abreu observa que não basta ser inteligente, ter uma boa formação universitária, falar várias línguas, para ser bem-sucedido. O verdadeiro sucesso depende da habilidade de relacionamento interpessoal, da capacidade de compreender e comunicar idéias e emoções. Abreu cita dados de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos que concluiu que entre as competências necessárias para que o País continue líder mundial no próximo século, está a de gerenciamento da informação por meio da comunicação oral e escrita, ou seja, a capacidade de ler, falar e escrever bem. E Abreu pondera: Isso nos leva a pensar muito seriamente na necessidade de desenvolver essas habilidades, pois amos a maior parte do tempo defendendo nossos pontos de vista, falando com pessoas, tentando motivar nossos filhos.
“Já é coisa sabida que o mais importante não são as informações em si, mas o ato de transformálas em conhecimento. As informações são tijolos e o conhecimento é o edifício que construímos com eles. Mas onde é que vamos buscar esses tijolos? A maior parte das pessoas os obtém unicamente dentro da mídia escrita e falada. Ora, desde 1924, filósofos como Theodor Adorno, Walter Benjamin e, mais tarde, Herbert Marcuse e Erich Fromm nos alertaram sobre os perigos da cultura de massa e da indústria cultural. Na verdade, a mídia nos oferece uma espécie de ”visão tubular” das coisas. É como se olhássemos apenas a parte da realidade que ela nos permite olhar, e da maneira como ela quer que nós a interpretemos. A seguir um exemplo desta visão tubular que a mídia franquia:
Há alguns anos, depois da queda do presidente Ferdinand Marcos, das Filipinas, os jornais do mundo inteiro publicaram uma foto do closet da primeira-dama, Imelda Marcos, dando destaque a uma incrível quantidade de pares de sapatos lá existente. Por causa disso, Imelda ou a ser conhecida mundialmente como uma mulher fútil, por possuir uma enorme quantidade de sapatos. Durante seu julgamento, na Corte Federal da cidade de Nova York, ao fim do qual foi absolvida, os jornais locais enviavam repórteres ao tribunal, com a exclusiva missão de fotografar-lhe os pés, para que pudessem publicar, no dia seguinte, o modelo que ela estaria usando. O resultado foi frustrante, pois ela usou, em todas as sessões do júri, um mesmo par de sapatos pretos. Por essa época, ela confidenciou a seu advogado Gerry Spence que nunca tinha comprado aqueles sapatos divulgados pela mídia.
Nas Filipinas, há muitas fábricas de sapatos e, todos os anos, ela recebia dessas fábricas, gratuitamente, coleções completas deles, pois todas queriam proclamar que a primeira-dama usava seus produtos. Ora, Imelda calçava um número grande e, por esse motivo, era sempre difícil encontrar outras mulheres a quem pudesse dar os seus sapatos. Jogá-los fora seria pior, uma vez que isso iria produzir constrangimentos junto aos fabricantes. Ela, então, simplesmente colecionava-os. Apesar disso, até hoje a maior parte das pessoas ainda conserva a imagem da esposa de Ferdinand Marcos, imposta pela mídia, como uma pessoa fútil, atacada de uma espécie de doença mental, por possuir uma quantidade imensa de sapatos.
Além do alinhamento de pontos de vista, existem ainda os processos de manipulação. Durante a Guerra do Golfo, as televisões do mundo inteiro exibiram duas imagens de forte impacto: uma delas mostrava incubadoras desligadas pelos iraquianos, com crianças prematuras kwaitianas mortas; outra, pássaros, sujos de petróleo por uma maré negra provocada também pelos iraquianos. Ambas as imagens eram falsas. As incubadoras eram uma montagem. A maré negra era real, mas tinha acontecido a milhares de quilômetros dos ”cruéis” iraquianos.
• A argumentação no hoje e no amanhã • No mundo de hoje e no futuro que nos espera, é muito importante saber gerenciar relação. O mundo está ando por uma mudança em relação ao emprego industrial e rural. No campo, para o futuro, a perspectiva é termos apenas 2% da população interagindo com uma agricultura altamente mecanizada. Nas cidades, menos de 20% trabalharão nas indústrias robotizadas e informatizadas. O resto (mais de 80%) ficará na área de serviços. Ora, serviços implicam clientes e clientes implicam bom gerenciamento de relação. O trabalho do futuro dependerá, pois, do relacionamento. Mesmo os profissionais liberais dependem dele. O médico ou o dentista de sucesso não é necessariamente aquele que entrou em primeiro lugar no vestibular e fez um curso tecnicamente perfeito.
É aquele que é capaz de se relacionar de maneira positiva com seus clientes, de conquistar sua confiança e amizade.
Um exemplo dessa mudança é o fato de que algumas concessionárias de automóveis descobrirem, em pleno século XXI, a távola redonda. Você se lembra daquela idéia genial do rei Artur em substituir a mesa retangular, à qual ele se sentava com os cavaleiros, e diante da qual eram disputados lugares em termos de hierarquia, por uma mesa redonda, em que todos eram iguais? As concessionárias estão fazendo a mesma coisa. Estão substituindo as mesinhas retangulares em que o cliente ficava ”frente a frente” com o vendedor representando a empresa, por mesinhas redondas (pequenas távolas redondas), onde ambos se sentam lado a lado, o que favorece um relacionamento mais informal e menos hierárquico.
No plano da vida pessoal, não é diferente. Quantas pessoas nós conhecemos, gente famosa, bonita, rica, com prestígio, mas extremamente infeliz, por não saber se relacionar com o outro! A verdade é que ninguém é feliz sozinho, mas, ao mesmo tempo, temos medo de nos relacionar com o próximo. Conseguimos diminuir a distância que nos separa das partes mais longínquas do mundo, por meio da aviação a jato, da tevê a cabo, da Internet, mas não conseguimos diminuir a distância que nos separa do nosso próximo. E quando conversamos com as pessoas, falamos sobre tudo: futebol, automobilismo, política, moda, comida, mas falamos apenas superficialmente sobre nós mesmos e, assim, não conhecemos o outro e ele também não nos conhece!
• Argumentar, Convencer e Persuadir • Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente, significa vencer junto com o outro (com + vencer) e não contra o outro. Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. A origem dessa palavra está ligada à preposição per, ”por meio de” e a Suada, deusa romana da persuasão. Significava ”fazer algo por meio do auxílio divino”. Mas em que convencer se diferencia de persuadir? Convencer é construir algo no campo das idéias. Quando convencemos alguém, esse alguém a a pensar como nós.
Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize. Muitas vezes, conseguimos convencer as pessoas, mas não conseguimos persuadi-las. Podemos convencer um filho de que o estudo é importante e, apesar disso, ele continuar negligenciando suas tarefas escolares.
Podemos convencer um fumante de que o cigarro faz mal à saúde, e, apesar disso, ele continuar fumando. Algumas vezes, uma pessoa já está persuadida a fazer alguma coisa e precisa apenas ser convencida. Precisa de um empurrãozinho racional de sua própria consciência ou da de outra pessoa, para fazer o que deseja. É o caso de um amigo que quer comprar um carro de luxo, tem dinheiro para isso, mas hesita em fazê-lo, por achar mera vaidade. Precisamos apenas dar-lhe uma ”boa razão” para que ele faça o negócio. Às vezes, uma pessoa pode ser persuadida a fazer alguma coisa, sem estar convencida. É o caso de alguém que consulta uma cartomante ou vai a um curandeiro, apesar de, racionalmente, não acreditar em nada disso.
• Argumentar é, pois, em última análise, a arte de, gerenciando informação, convencer o • outro de alguma coisa no plano das idéias e de, gerenciando relação, persuadi-lo, no plano das emoções, a fazer alguma coisa que nós desejamos que ele faça.
• A retórica • A retórica, ou arte de convencer e persuadir, surgiu em Atenas, na Grécia antiga, por volta de 427 a.C, quando os atenienses, tendo consolidado na prática os princípios do legislador Sólon, estavam vivendo a primeira experiência de democracia de que se tem notícia na História. Ora, dentro desse novo estado de coisas, sem a presença de autoritarismo de qualquer espécie, era muito importante que os cidadãos conseguissem dominar a arte de bem falar e de argumentar com as pessoas, nas assembléias populares e nos tribunais. Para satisfazer essa necessidade, afluíram a Atenas, vindo sobretudo das colônias gregas da época, mestres itinerantes que tinham competência para ensinar essa arte. Eles se autodenominavam sofistas, sábios, aqueles que professam a sabedoria.
Os mais importantes foram Protágoras e Górgias. Como mestres itinerantes, os sofistas faziam muitas viagens e, por esse motivo, conheciam diversos usos e costumes. Isso lhes dava uma visão de mundo muito mais abrangente do que tinham os atenienses da época e lhes permitia mostrar a seus alunos que uma questão podia itir diferentes pontos de vista. Um dos princípios propostos por eles era o de que muitos dos comportamentos humanos não eram naturais, mas criados pela sociedade. Como exemplo, citavam o ”sentimento do pudor”. Contradizendo os atenienses, que acreditavam que fosse algo natural, os professores de retórica afirmavam, por experiência própria, que, em muitos lugares por que tinham ado, a exposição de certas partes do corpo e certos hábitos tidos lá como normais, se vistos em Atenas, causariam perplexidade e constrangimento.
• Foi esse tipo de pensamento que deve ter provocado a célebre afirmação de Protágoras: • O homem é a medida de todas as coisas, que o levou, inclusive, a afirmar que o verdadeiro sábio é aquele capaz de julgar as coisas segundo as circunstâncias em que elas se inserem e não aquele que pretende expressar verdades absolutas. • A retórica, ao contrário da filosofia da época, professada principalmente por Sócrates e • Platão, trabalhava, pois, com a teoria dos pontos de vista ou paradigmas, aplicados sobre os objetos de seu estudo. Por esse motivo, foi inevitável o conflito entre retóricos ou sofistas, de um lado; e os filósofos, de outro, que trabalhavam apenas com dicotomias como verdadeiro/falso, bom/mau etc.
• A primeira tarefa da retórica clássica tinha natureza heurística (Heurística é o método de análise que visa ao descobrimento e ao estudo do de verdades científicas. A • palavra se origina do verbo grego eurisko, que significa ”achar”, ”encontrar”.). Tratava-se de descobrir temas conceituais para discussão. Um dos temas mais célebres, escolhido por Górgias, foi “o direito que a paixão tem de se impor sobre a razão”. Para defender essa tese, Górgias escreveu um discurso intitulado Elogio a Helena, em 414 a.C.
• A história de Helena de Tróia é uma das mais conhecidas da mitologia grega. Helena,esposa de Menelau, rei da cidade de Esparta, foi raptada por Paris, príncipe troiano, que a ganhara como prêmio da deusa Vênus. Esse rapto deu origem à guerra de Tróia, que os gregos promoveram para resgatar Helena. A questão colocada por Górgias era que Helena, apesar de casada com Menelau e, do ponto de vista moral ligada a ele, tinha também o direito de apaixonar-se por Paris, dando vazão aos seus sentimentos. Na • verdade, Vênus prometera a Paris não apenas Helena, mas o amor de Helena. Eis, a • seguir, um pequeno trecho do Elogio a Helena:
• Eu quero, raciocinando com lógica sobre a infeliz tradição a ela referente (referente a • Helena), liberá-la de toda acusação e fazer cessar a ignorância, demonstrando que seus acusadores estão equivocados. [. . .] Se o que originou seus atos foi o amor, não é difícil apagar a acusação de culpa em que dizem que ela incorreu. As coisas que vemos têm a natureza própria de cada uma delas e não a que nós queremos. Ademais, mediante a percepção visual, a alma é modelada em seu modo de ser.
Tudo aquilo que pensamos e fazemos é fruto dos discursos que nos constroem, enquanto seres psicossociais. Na sociedade em que vivemos, somos moldados por uma infinidade de discursos: discurso científico, discurso jurídico, discurso político, discurso religioso, discurso do senso comum etc. Paramos o automóvel diante de um sinal vermelho, porque essa atitude foi estabelecida pelo discurso jurídico das leis de trânsito. Votamos em tal candidato de tal partido, porque esse tipo de voto foi conquistado pelo discurso político desse candidato.
A retórica clássica se baseava, portanto, na diversidade de pontos de vista, no verossímil, e não em verdades absolutas. Isso fez com que a dialética e a filosofia da época se aliassem contra ela. Platão, por exemplo, em sua obra chamada Górgias, procura mostrar que a retórica visava apenas aos resultados, enquanto que a filosofia visava sempre ao verdadeiro. Isso fez com que a retórica decaísse perante a opinião pública (discurso do senso comum) durante séculos. A própria palavra sofista ou a designar pessoa de má-fé que procura enganar, utilizando argumentos falsos. O interessante é que o próprio Platão, na sua República, utiliza amplamente os recursos retóricos que ele próprio condenava. Nietzsche comentou, ao seu estilo, que o primeiro motivo que levou Platão a atacar Górgias foi que Górgias, além de seu sucesso político, era rico e amado pelos atenienses.
Dizem, também, que um dos motivos do declínio da retórica foi que a experiência democrática dos gregos foi muito curta. Acabou em404 a.C., quando Atenas foi subjugada por Esparta, ficando assim eliminado o espaço para a livre crítica de idéias e o debate de opiniões.
• Condições da Argumentação • A primeira condição da argumentação é ter definida uma tese e saber para que tipo de problema essa tese é resposta. Se queremos vender um produto, nossa tese é o próprio produto. Mas isso não basta. É preciso saber qual a necessidade que o produto vai satisfazer. Um bom vendedor é alguém capaz de identificar necessidades e satisfazê-las. Um bom vendedor de carros saberá vender um automóvel de eio a um cliente que se locomove apenas no asfalto e um utilitário àquele que tem de enfrentar estradas de terra. No plano das idéias, as teses são as próprias idéias, mas é preciso saber quais as perguntas que estão em sua origem.
Se eu quero vender a idéia de que é preciso sempre poupar um pouco de dinheiro, eu tenho de saber que a pergunta básica é: — O que eu faço com o dinheiro que recebo? Muitas pessoas se queixam de que, nas reuniões da empresa, suas boas ideias nunca são levadas em consideração. O que essas pessoas não percebem é que essas idéias são respostas a perguntas que elas fizeram a si mesmas, dentro de suas cabeças. Ora, de nada adianta lançar uma idéia para um grupo que não conhece a pergunta. É preciso primeiro fazer a pergunta ao grupo. Quando todos estiverem procurando uma solução, aí sim, é o momento de lançar a idéia, como se lança uma semente em um campo previamente adubado.
• Uma segunda condição da argumentação é ter uma “linguagem comum” com o auditório. Somos nós que temos de nos adaptar às condições intelectuais e sociais daqueles que nos ouvem, e não o contrário. Temos de ter um especial cuidado para não usar termos de informática para quem não é da área de informática, ou de engenharia, para quem não é da área de engenharia e assim por diante. • Durante a campanha para a prefeitura de São Paulo, em 1985, Jânio Quadros contou com o apoio do deputado e ex-ministro Delfim Neto. Durante um comício para moradores de um bairro de periferia, Delfim terminou sua fala dizendo: ”- A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário.
Logo depois, Jânio chamou Delfim de lado e disse: ”- Delfim, olhe para a cara daquele sujeito ali. O que você acha que ele entendeu do seu discurso ? Ele não sabe o que é processo. Não sabe o que é inflacionário. Não sabe o que é déficit. E não tem a menor idéia do que é orçamentário. Da próxima vez, diga assim: - A causa da carestia é a roubalheira do governo.”
• Em um processo argumentativo, nós somos os únicos responsáveis pela clareza de tudo • aquilo que dissermos. Se houver alguma falha de comunicação, a culpa é exclusivamente nossa! • A terceira condição da argumentação é ter um contato positivo com o auditório, com o outro. Estamos falando outra vez de gerenciamento de relação. Nunca diga, por exemplo, que vai usar cinco minutos de alguém, se vai precisar de vinte minutos. É preferível, nesse caso, dizer que vai usar meia hora. Muitas vezes, há necessidade de respeitar hierarquias e agendas. Faça isso com sinceridade e bom humor. • Outra fonte de contato positivo com o outro é saber ouvilo. Noventa e nove por cento das pessoas não sabem ouvir.
• A maior parte de nós tem a tendência de falar o tempo todo. É preciso desenvolver a capacidade da audiência empática. Pathos, em grego, além de enfermidade, significa sentimento. Em, preposição, significa dentro DE. Ouvir com empatia quer dizer, pois, ouvir dentro do sentimento do outro. • As palavras são escolhidas inconscientemente. É preciso prestar atenção a elas. É preciso prestar atenção também ao som da voz do outro! É por meio da voz que expressamos alegria, desespero, tristeza, medo ou raiva. As vezes, a maneira como uma pessoa usa sua voz nos dá muito mais informações sobre ela do que o sentido lógico daquilo que diz. • Devemos também aprender a ”ouvir” com nossos olhos! A postura corporal do outro, suas expressões faciais, a maneira como anda, como gesticula e até mesmo a maneira como se veste nos dão informações preciosas. O poeta e semioticista Décio Pignatari costuma dizer que o homem precisa aprender a ”ouviver”, verbo que ele inventou a partir de ouvir, ver e viver.
• Finalmente, a quarta condição e a mais importante delas: agir de forma ética. Isso quer • dizer que devemos argumentar com o outro, de forma honesta e transparente. Caso contrário, argumentação fica sendo sinônimo de manipulação.
• Convencendo as Pessoas • Ao iniciar um processo argumentativo visando ao convencimento, não devemos propor de imediato nossa tese principal, a idéia que queremos ”vender” ao nosso auditório. Devemos, antes, preparar o terreno para ela, propondo alguma outra tese, com a qual nosso auditório possa antes concordar. Quando Ronald Reagan foi candidato pela • primeira vez à presidência dos Estados Unidos, antes de pedir aos americanos que • votassem nele, fez-lhes a seguinte pergunta: Vocês estão hoje melhores do que estavam há quatro anos?
É claro que Reagan sabia que a resposta era não. No governo Carter, que estava terminando, a taxa de desemprego aumentara, havia uma inflação elevada para os padrões do país e havia trezentos reféns americanos presos há mais de um ano na Embaixada americana no Irã. Somente depois de fazer essa pergunta e deixar as pessoas pensarem na resposta é que pediu que votassem nele, e sabemos que ele ganhou não somente aquela eleição, mas também a seguinte.
Essa tese preparatória chama-se tese de adesão inicial. Uma vez que o auditório concorde com ela, a argumentação ganha estabilidade, pois é fácil partir dela para a tese principal. As teses de adesão inicial fundamentam-se em fatos ou em presunções. A tese de Reagan fundamentou-se num fato: o de que os americanos estavam tendo uma vida pior, sob o governo Carter. Se quisermos, por exemplo, defender o Novo Código Brasileiro de Trânsito (tese principal) é importante levar nosso auditório a concordar previamente com um fato: o de que, depois de implantado esse código, houve uma diminuição de 50% das mortes no trânsito (tese de adesão inicial).
• O professor como o emissor • Na Escola Dominical, o professor é o emissor. É importante, para uma auto-avaliação, refletir um pouco sobre o tipo de emissor que você tem sido. Como tem determinado suas mensagens? Está baseado mais na sua própria pessoa ou tem se preocupado mais com os seus alunos? Tem sempre em mente os objetivos da lição ou nunca consegue atingi-los, por causa dos assuntos paralelos que costuma trazer à baila? • A resposta franca e honesta a cada uma dessas questões pode lançar luz sobre o desempenho de cada um, como professor.
• O Receptor • O receptor, como vimos, no nosso caso são receptores, ou seja, os alunos que compõem as classes da Escola Dominical. Eles são a peça fundamental na aula do professor, porque são eles que DETERMINAM o teor, a forma e o tipo da mensagem a ser transmitida. O professor que desconsidera os seus receptores (como pensam, sentem, reagem, gostam de ser tratados, etc.) comete um grave equívoco. • Essa é a razão do porque muitas classes de Escolas Dominicais terem minguado e ficado reduzidas a dois ou três alunos, pois o professor simplesmente punha-se a falar perante seus ouvintes, completamente alheio ao fato de serem eles jovens ou velhos, homens ou mulheres, camponeses ou homens de negócio, e assim por diante. É bom atentar para essa realidade, pois esta na correta adequação da mensagem ao receptor, o êxito ou o fracasso da comunicação.
• A Mensagem • Como já vimos, quem DETERMINA o gabarito da mensagem é o receptor. Essa é uma lei áurea em comunicação humana. O bom comunicador tem que ter em mente quais são as pessoas que constituem seu público e PARA ELAS direciona sua MENSAGEM, considerando, entre outras coisas, sua idade, interesse, profissão e capacidade de compreensão. • Ouça o que diz C. H. Spurgeon, considerado o príncipe dos pregadores, sobre o assunto: • “O pregador que se dirigir a seus ouvintes com bom grau de instrução em linguagem que usaria para falar a um grupo de feirantes, se mostraria louco. Por outro lado, aquele que se põe entre mineiros e carvoeiros, empregando expressões técnicas da Teologia e frases próprias das salas de recepção, age como idiota” (SPURGEON, Lições Aos Meus Alunos, vol. I, pg. 34).
• O professor da Escola Dominical deve tomar todo o cuidado para não incorrer no mesmo erro. É de importância fundamental que a aula seja ministrada no nível dos alunos; nem mais alto, nem mais baixo. • Ele não pode falar a crianças como falaria aos jovens, e não pode falar aos jovens da mesma maneira que falaria aos idosos. A mensagem deve ser especialmente dirigida, com clareza, àquele grupo específico que constitui os seus receptores (alunos). • Houve um tempo em que a igreja romana perdeu muitos de seus freqüentadores, porque os sacerdotes atingiam, com seus sermões elevados, apenas o prefeito, o juiz de direito e outras pessoas importantes da comunidade.
• O povo, que voltava para casa sem nada entender, não tinha motivação para voltar no domingo seguinte. • Todo esforço deve ser feito para que semelhante erro não seja cometido no meio evangélico, principalmente na Escola Dominical. • O mesmo Spurgeon, já citado, é o autor da seguinte observação:
"Quando um homem não me faz entender o que quer dizer é porque nem ele mesmo sabe o que quer dizer. O ouvinte mediano, incapaz de seguir o curso de pensamento do pregador, não devia ficar aborrecido consigo, mas censurar o pregador, cuja obrigação é apresentar o assunto com clareza." (SPURGEON, idem, pg. 32)
• O professor da Escola Dominical precisa entender de fato, que sua função, conquanto na forma seja diferente, tem o mesmo objetivo da pregação, pois também constitui ensino da Palavra de Deus. Deve, portanto, preparar suas aulas (mensagens) com todo cuidado e clareza, nunca perdendo de vista que elas serão destinadas àquele seu grupo específico de alunos, e, portanto, devem estar no nível e de acordo com a necessidade DELES. • O cuidado no preparo das lições, considerandose todos esses aspectos mencionados, habilitará o professor a levar uma MENSAGEM clara, objetiva e eficiente aos seus receptores.
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Jesus como exemplo de professor O Mestre do professor é o Senhor Jesus — o Mestre dos mestres. Para o professor ser eficaz no ensino, precisa seguir de perto os os do seu Mestre. Vejamos alguns pontos sobre Jesus como Mestre: Jesus conhecia a matéria que ensinava. A agem de Lucas 24.27 faz menção ao maior estudo bíblico da história: abarcou o período de Moisés a Cristo. (E, tão grande estudo foi dirigido para uma classe de 2 alunos!) Através dos Evangelhos vemos, por suas citações das Escrituras, como Jesus conhecia o Livro Sagrado.
• B. Jesus conhecia os seus alunos. Tanto eles andavam com Jesus, como Jesus os visitava. Os ensinos objetivos e ilustrados do Mestre, bem como seu modo de proceder para com eles, demonstram que Jesus os conhecia bem. (Ver Mateus capítulo 13; Lucas 15.8-10; João capítulo 21, etc.) • C. Jesus reconhecia o que havia de bom em seus alunos (Ver João 1.47). O professor jamais deve apresentar-se à sua classe com ares de superioridade, com aspecto dominante. Paulo, com toda a sua grandeza, reconhece as qualidades dos seus irmãos na fé e cooperadores (Rm cap. 16; Fp 2.20-25). • D. Jesus ensinava as verdades bíblicas de modo simples e claro. Exemplos: Lucas 5.17-26; 13.3; João 14.6. Ele tomava as ocorrências comuns da vida, conhecidas de todos, para ensinar as verdades eternas de Deus. (Ver Mateus 9.16; 11.16.)
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E. Jesus variava o método de ensino conforme a ocasião e o tipo de ouvintes. As vezes ele usava o método de perguntas, o ilustrativo, o de discussão, preleção, tarefas, leitura, etc. Com a mulher samaritana, usou o método de perguntas; com os discípulos a caminho do Jardim das Oliveiras, usou o de preleção. F. Jesus ensinava através do seu exemplo, isto é, sua vida de obediência. (Lede João 13.15; Atos 1.1; 1 Pedro 2.21). G. Jesus sabia o que ia fazer (Jó 6.6). O professor da Escola Dominical deve saber o que vai ensinar a seus alunos, quando diante de sua classe. H. Jesus ensinava com graça (Lc 4.22). É a graça divina na vida do professor que torna a sua aula realmente eficaz e de efeito duradouro para a glória de Deus. I. Jesus ensinava com autoridade e poder divinos (Lc 4.36). Só aos pés do Senhor em oração e comunhão com Ele é que o professor obtém autoridade e poder divinos renovados em sua vida, para ensinar na casa de Deus.
• O professor como um líder - Howard G. Hendricks • Cada vez mais os líderes tornam-se espécie em extinção. Aonde quer que se vá — por todo o território nacional ou ao redor do mundo —, descobre-se a necessidade gritante de líderes. Infelizmente, como opinou com percepção John Gardner nos anos 60, os jovens americanos foram infectados pelo vírus da antiliderança o que muito exacerbou o problema. Nosso déficit de liderança é comprovado em várias áreas determinativas.
• Precisamos de líderes em nossas casas • O esteio de Deus é a família. É fato histórico surpreendente constatar que sociedade alguma jamais sobreviveu depois da desintegração de sua vida familiar. Nos Estados Unidos de hoje a textura doméstica está desfiando como um suéter barato. Mulheres que trabalham e maridos ausentes e ivos são as marcas distintivas de nossa época.
• Pierre Mornell, psiquiatra da Califórnia, confessa: Durante os últimos anos tenho visto em meu consultório número crescente de casais que compartilham um denominador comum. O homem é dinâmico, eloqüente, animado e, em geral, bem-sucedido no trabalho. Mas em casa é inerte, mudo, letárgico e retraído. Em seu relacionamento com a esposa ele é ivo. E sua ividade a deixa louca. Diante do recolhimento dele, ela fica furiosa. • Lamentavelmente, a fragmentação da família não está limitada à América. Em mais de setenta países que visitei, os líderes cristãos — nacionais e missionários —testemunharam o colapso da família como um dos problemas sem solução.
• Precisamos de líderes em nossas igrejas • A Igreja nos Estados Unidos atua através de 15 a 20% de seus membros. Portanto, a maioria é mais espectadora do que participante. Pouquíssimas denominações evangélicas dãose ao luxo de colocar um letreiro na porta com os dizeres: “Não se precisa de ajuda”. Devemos ter muito cuidado para não culparmos Deus pela nossa deficiência. O Senhor ainda está no processo de distribuir dons (1 Co 12.4-6), mas nós não estamos dispostos a aperfeiçoá-los. A tarefa primária do crente dotado pelo Espírito Santo é a de equipar os santos para a obra ministerial (Ef 4.7-16).
• Precisamos de líderes em nossa sociedade • Arnold Toynbee, renomado historiador, ao avaliar o curso da história, concluiu que o surgimento e queda de sociedades dependeram quase exclusivamente da qualidade de seus líderes. Nos Estados Unidos a crise de liderança permeia todo segmento da sociedade. Envolve as descobertas nas transações dos negócios internos de Wall Street, o aumento alarmante do abuso de substâncias químicas no atletismo, a falta de integridade entre candidatos presidenciais e até a imoralidade e estilos de vida destrutivos de líderes religiosos. Nenhuma esfera de ação da vida nacional escapa do câncer da corrupção.
• Eugene Peterson coloca uma pedra em nosso sapato com estas palavras: • Eis um quebra-cabeça: Por que tantas pessoas vivem tão mal? Não apenas de modo tão perverso, mas de forma tão vazia.
• Não apenas tão cruelmente,mas também tão estupidamente. Há pouco a irar e menos a imitar nos indivíduos que estão em proeminência em nossa cultura. Temos celebridades, mas não santos. Famosos apresentadores de shows de variedades divertem • uma nação de insones entediados. Criminosos infames representam as agressões de conformistas tímidos. Atletas petulantes e mimados jogam partidas vicariamente por espectadores preguiçosos e apáticos. Pessoas, sem rumo e chateadas, divertem-se com trivialidades e tolices. Nem as aventuras da bondade nem a busca pela justiça são manchetes. • Os micróbios morais corroem o coração do corpo político. Ele se desintegra por dentro. Os pedestais estão vazios. Mas por que é tão difícil encontrar líderes quando todo setor de atividade precisa deles tão desesperadamente? Grande parte da culpa pode ser colocada à porta das salas de aula da América. Este capítulo sugere que no meio da indisposição, uma das maiores esperanças para a nova geração de líderes reside no professor.
• A arte de liderar pode ser ensinada e líderes potenciais podem ser desenvolvidos, contanto que o sistema educacional não aborte o embrião educacional. • Henry Brooks Adams demonstra sua confiança com estas palavras: • “Um assassino tira a vida, mas sua ação pára por aí; um professor afeta a eternidade; ele nunca pode dizer onde sua influência pára”. Por que o professor é tão essencial para o desenvolvimento de autênticos líderes? Por, no mínimo, três razões:
• (1) As pessoas para quem ele realiza suas tarefas — mentes jovens e moldáveis que são como cimento fresco, • (2) a posição que ele mantém — de visibilidade e influência e • (3) a pessoa que ele é — autêntica ou falsa, religiosa ou irreligiosa — deixará sua marca permanente.
• Definição de líder • Charles Kettering afirmou: “Um problema com boa definição é meio caminho andado na solução do problema”. A fim de aprimorar nosso assunto precisamos defini-lo. Eis minha definição prática de líder: Pessoa que sabe para onde está indo e que é capaz de persuadir outros a ir junto com ele.
• Ou seja, ele tem objetivos claros e é motivador. Ele não é fascinado apenas por • ideias, mas por indivíduos; ele é orientado a tarefas como também a pessoas.Identificamos estes componentes claramente na vida de Jesus e do apóstolo Paulo: “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir [objetivo] e dar a sua vida em resgate de muitos [motivação] ” (Mc 10.45). Em 1 Tessalonicenses 2.8, Paulo explica: “Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus [objetivo], mas ainda a nossa própria alma; porquanto nos éreis muito queridos [motivação] ”. Um professor é primeiramente uma pessoa com objetivos transparentes e motivação transformadora. Se ele não sabe para onde está indo, como pode liderar? Se as pessoas não o seguem, ele não é líder.
• Ele tem que ser pessoa de influência • Liderança é mais que uma posição, é poder; não é um papel, mas uma responsabilidade; não é um título, mas uma função. Pessoas de todos os estilos de vida, quando avaliam as mais influentes que causaram impacto em suas vidas, invariavelmente descrevem um professor. Alguém que de modo significativo e permanente moldou a direção de suas vidas, muitas vezes até a escolha de suas especializações. Pouco teve a ver com o assunto ensinado, mas tudo a ver com a sua importância. Esta é a razão de podermos dizer que o ensino consiste em poucos momentos susceptíveis de ensinamento. Bons professores freqüentemente ouvem:“Você mudou toda a minha vida”. Interessante observar que na maioria das vezes a influência não é imediata, mas de longo alcance.
• É por isso que a paciência é um vestuário essencial no guarda-roupa do professor. Como o agricultor, ele planta a semente e mais tarde presencia a colheita. Como nos dias de Jesus, “A Sociedade dos Nove Ingratos” está muito ativa na atualidade (cf. Lc 17.11- 19). • A atuação do professor pode ser negativa ou positiva, mas ele exerce influencia. Quem de nós não se identifica com Houston Peterson em sua arrebatadora descrição? Temos de retroceder do cemitério de livros e autores mortos por pedagogia inepta. Quem não teve uma matéria inteira, como história ou matemática, arruinada por ela?
Quem não foi permanentemente afastado de Shakespeare, ou de Wordsworth, ou de Emerson por erudição desajeitada ou dissecação mal orientada? Os epítetos do crime não são impróprios aqui, pois vez após vez ouve-se os estudantes falarem de serem “roubados” por um professor, ou de terem uma matéria “matada” por outro. Professores devem ser pessoas que servem. O líder servo é o modelo Jesus. Ao falar de sua vida, nosso Senhor disse: “Eu, porém, entre vós, sou como aquele que serve”(Lc 22.27). O professor cristão desenvolvesse ao mais alto nível possível — pessoal e profissionalmente — e depois oferece tudo. Lamentavelmente, hoje, a liderança serva é expressão de murmuração. Sofre mais às mãos de amigos do que de inimigos e foi saqueada de suas nuanças bíblicas.
Porquanto seja verdade que os professores também sirvam, eles atuam melhor liderando. Os líderes servos não são ivos mas ativos; não estão esperando que aconteça algo, mas fazem algo acontecer. Todos nós compreendemos o conceito, mas não percebemos exatamente o que está envolvido. Ele adota mais do que age; é uma atitude que penetra tudo o que fazemos. O professor existe para o aluno — não para a istração, seus colegas de profissão ou o grupo de constituintes —, embora tenha importante responsabilidade diante de todos os três grupos. Ele leciona mais que uma matéria; ele ensina indivíduos. Se o aluno não aprendeu, o professor não ensinou. Sua maior realização acha-se em oferecer sua vida como oferta de libação a seus alunos.
• Ele vive para servi-los. Compensação financeira não é sua maior preocupação. Como o Salvador, ele pode dizer: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”. Seu pagamento está em sua realização — a satisfação de ter construído a vida de outro ser humano com um impacto eterno. Ele é membro da “Ordem da Toalha” (cf. Jo 13.1-17), a maior fraternidade educacional já intitulada. Ele precisa ser pessoa de caráter. • Fred Smith resume bem o assunto: Liderança, como temos visto, é tanto algo que você é como aquilo que você faz . Mas liderança eficaz começa com o caráter. Quando os líderes fracassam, na grande maioria das vezes é resultado da falha de caráter do que de competência. O alvo de todo cristão é amadurecer, conformar-se cada vez mais à imagem de Cristo.
• Este desenvolvimento de caráter é particularmente importante para os líderes. E é um processo, não um platô onde nos sentamos e descansamos. Líderes que permanecem não param de crescer; eles continuam a se desenvolver. Deus está no caráter, não nas credenciais. • Ele não está impressionado com o que fazemos, mas com o que somos, porque isto sempre é o produto do que Ele faz. Quando o Espírito Santo descreve as qualificações de um líder em 1 Timóteo 3 e Tito 2, Ele instrui que a maioria destas qualidades é reflexo do desenvolvimento do caráter santo. Elas focalizam o ser e não o fazer; em que tipo de pessoa somos. Mas por que é tão exigente? Porque um líder é muito determinativo. Ele tem de gerar respeito.Como todas as criaturas de Deus, os professores reproduzem segundo sua espécie. Os resultados subsistem.
• Os pensamentos que eles produzem estarão presentes por muito tempo. Por isso, Paulo nos lembra: • “Veja cada um como edifica”! A maior crise de liderança dos dias de hoje é a falta de caráter. John Dean, testemunha do Caso Watergate, descreve o processo já bem familiar do subterfúgio ético: Para construir meu caminho para cima, a um cargo de confiança e influência, tive de me deslocar para baixo através dos jogos faccionários de poder, corrupção e, por fim, crimes cabais. Devagar, mas com firmeza, eu subiria em direção ao abismo moral do círculo interno do Presidente até que, finalmente, eu entrasse nele, pensando ter conseguido alcançar o topo no momento exato em que comecei a me dar conta de que tinha na verdade chegado ao fundo.
• Nossa geração requer homens e mulheres de integridade, pessoas que sejam autênticas. O Novo Testamento nunca defende que os líderes cristãos sejam modelo de perfeição, mas de progressão (cf. 1 Tm 4.15). • Mark Hatfield, no seu excelente capítulo,“Mantendo a Integridade sob Pressão”, chama a atenção para as palavras de Peter Drucker, de que “a qualidade do caráter não faz um líder, mas sua falta aborta o processo inteiro”. A qualidade do professor é a chave para a liderança futura. Seus alunos ou assentam tijolos ou constroem catedrais.
• A contribuição distintiva dos professores • Os professores moldam o pensamento, atitudes e comportamento dos jovens durante o período mais formativo de suas vidas. Líderes são formados no processo de exposição intensiva a um ou mais educadores de expressão e não a todos os que servem em salas de aula. É comum que alguns dos professores mais importantes de qualquer geração não tenham esse título. • Ensinar liderança é essencial, mas não é fácil. Nossa sociedade transmite aos jovens um senso de impotência, de dispensabilidade.
• John Gardner afere a situação: • Nossos jovens nascem numa sociedade que é enorme, impessoal e intricadamente organizada. Longe de chamá-los à liderança, mostra-se totalmente indiferente. Não demonstra precisar deles absolutamente. Longe de gerar a confiança que os líderes jovens precisam, é hábil em criar desorientação e uma sensação de falta de autoridade. É muito difícil para os jovens de hoje acreditarem que qualquer ação da parte deles afetará os vastos processos de sua sociedade. • Para o jovem cristão o problema torna-se mais intenso quando o mundo pergunta: “Quem se importa? Por que se envolver em tal compromisso dispendioso? ’’ Há muito a desfrutar sem se envolver em tudo isso. O ado é um cemitério; ignore-o; o futuro é um holocausto; evite-o. Não há pagamento que valha a pena o discipulado; não há destino para a peregrinação.
Obtenha Deus do modo mais fácil; compre carisma instantâneo. Para que a liderança prospere, tem de haver condições nas quais possa emergir. Com certeza o professor é o ideal para criar o clima mais favorável no qual a liderança possa vicejar. O que ele pode fazer para formar uma nova estirpe de líderes é determinado por dois ingredientes seminais.
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A filosofia educacional do professor Este tópico não tem a intenção de explicar uma filosofia de educação. Não obstante, tal é essencial se esperamos que o ambiente de aprendizagem seja conducente ao desenvolvimento de líderes. A vida de aprendizagem não é feita para nós, mas desenvolvida em nós. Por isso, a essência do ensino tem de abraçar a compreensão de que não é o que o professor faz, mas o que o aluno realiza como conseqüência. Duas perguntas permanecem no âmago de uma filosofia de educação bem formulada: ( 1 ) o que é ensinado? e (2) o que se aprende? Se ensinar é fazer as pessoas aprenderem, então a preocupação preliminar deve ser: Como os estudantes aprendem? A aprendizagem, para ser mais eficiente, demanda que o aluno seja ativo, não ivo; participante, não espectador. Ainda que muito pouco saibamos a respeito da verdadeira natureza da liderança, uma coisa sabemos com certeza: os líderes não são circunstantes ivos.
A educação cristã, como concebida na atualidade, é completamente iva e inativa. O Cristianismo é a força mais revolucionária na Terra — radicaliza as pessoas — e, não obstante, freqüentemente é firmado no concreto. Líderes não são reproduzidos em cenários soporíferos. Jeremias faz esta pergunta perspicaz: “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderias competir com cavalos?” (Jr 1 2 .5 ). A qualidade do professor é a chave para a boa educação. As pessoas aprendem a liderar, ando tempo com pessoas de comprovada habilidade de liderança. Se um professor é contagiante e modela a liderança, ele tem a melhor chance para reproduzir líderes. Você não pode ensinar liderança; mas pode desenvolver líderes.
• A prática educacional do professor • A filosofia sempre têm precedência e dá resultados na prática. Professores eficientes equilibram seu ensino entre análise e ação, entre teoria abstrata e prática realista. Muitas vezes um estudioso mostra-se descuidado com o processo de ensino, porque interfere com seu interesse primário, isto é, sua matéria. Cursos levam a um título acadêmico, mas não a uma educação. Três ingredientes nos influenciam à ação no ensino. Tem de estar atrelado ao processo. Os professores devem deixar de ser executores e tornarem-se alunos. Eles devem ser pessoas que fazem as coisas melhores, mas — e isto é o mais importante — devem ser os que equipam outros a fazer as coisas melhores. Quando o processo é a meta principal, o professor não limita os outros pelas limitações dele. Ele lança o aluno numa jornada que pode e, freqüentemente, vai muito além de sua própria jornada.
• Henry Adams frisa a necessidade de se aprender: “O que alguém sabe na juventude é de pouca importância; sabe o bastante quem sabe aprender”. • O ditado é verdadeiro:“Dê-me um peixe e comerei por um dia; ensine-me a pescar e comerei pelo resto da vida”. Precisamos entender que escolaridade e aprendizagem são muito diferentes. Eugene Peterson explica: Na escolaridade, as pessoas valem muito pouco. Fatos são memorizados, informações assimiladas, exames ados. Os professores estão sujeitos a uma supervisão que se empenha por assegurar desempenho • uniforme, o que significa que todos produzem tão semelhantemente quanto possível e são recompensados à medida que a transferência de dados do livro para a cabeça é feita com tão pouca contaminação pessoal quanto possível. Na escolaridade, o caráter pessoal é reduzido ao mínimo: testes são padronizados, professores regulados, estudantes orientados à informação.
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Ensino de qualidade requer tempo. Na época do tudo instantâneo, os educadores ousam não entrar no sistema. Nossa tarefa como professor é equipar nossos alunos para esse processo perpétuo de aprendizagem. Os professores, na maioria das vezes erroneamente, vêem-se como distribuidores de informação em vez de aperfeiçoadores de vida. • Escolas não procriam líderes; a vida, sim. Tem de estar atrelado às pessoas. A aprendizagem é um processo em sua maior parte intricadamente pessoal. Ela não pode ser produzida para as massas. Churchill expressou o conceito muito bem: “Amo aprender; odeio ser ensinado”. A aprendizagem corresponde a esta analogia: Como pilotos cujo sistema de navegação às vezes falha, líderes voam às cegas com frequência alarmante. Embora as teorias de liderança sejam abundantes (certo livro resume mais de 3 - 0 0 0 estudos), grande parte delas está baseada em premissa maravilhosamente simples — mas perigosamente imperfeita.
Os seres humanos são como peças de xadrez ou soldadinhos de chumbo. Pode-se confiar neles de maneira previsível, reagindo a estímulos exteriores muito similarmente aos cães salivantes de Pavlov. Mas os teóricos não levaram em conta uma parte essencial da humanidade do homem — sua propensão à irritante inconsistência. Eles têm de encarar o perturbador fato de que, ao contrário dos fenômenos químicos ou físicos — nos quais a água sempre ferve a aproximadamente 1 0 0 graus centígrados —,os humanos comportam-se de modo inesperado. É isto que gera excitação e demanda criatividade no ensino. Os estudantes são tão diferentes entre si quanto os flocos de neve, as vozes e as impressões digitais.
• O indivíduo recua à tentativa contemporânea de padronizar a educação. Visto que a aprendizagem é tão interativa, quem o professor é determina o que ele faz. Os alunos não estão meramente interessados no que você sabe e no modo como obteve o que aprendeu, mas principalmente em quem você é. Modelar tornase de importância vital na prática do ensino. Mas a maioria dos professores encontra-se muito distante dos alunos a quem tentam causar impacto. Não há comunicação quando existe um abismo • entre o professor e os alunos.
• . Você causa impacto na proporção direta do envolvimento. • Há muito tempo me convenci de que as quatro paredes são os maiores preventivos contra o ensino eficiente. Às vezes a melhor aprendizagem acontece/ora da sala de aula em situações informais. A arte de ensinar é o modo de alguém ser completamente humano.
Os professores devem ser vulneráveis, porque os estudantes vêem seus mentores no lugar onde eles estão, não em termos do processo necessário para se chegar até lá. Tem de estar atrelado à vida. A vida é inacreditavelmente desordenada, impossível de predizer e em constante mutação. Invariavelmente não concorre com os devaneios de castelos no ar com os quais somos confrontados. Às vezes nós, como professores, não apenas sabemos as respostas, mas nem mesmo conhecemos os problemas. Fomos treinados numa época que nem mais existe. Isto explica porque os estudantes freqüentemente reclamam: “Minha educação respondeu perguntas que ninguém está fazendo, mas para as questões que estão destruindo as vidas das pessoas, nunca nos reunimos para discutir”.
Realisticamente, há apenas um modo de prevenir esta deficiência transparente: ensinar às pessoas um processo de tomada de decisão — a capacidade de pensar e resolver problemas, de questionar mais respostas. Andrew LePeau traz à tona a necessidade de um contexto cristão: Convidamos as pessoas para “decidir” por Cristo, contudo muitas vezes acreditamos que esta é a última decisão que elas têm de fazer como cristãs. Nossa vida com Cristo está repleta de decisões e encruzilhadas. Como devo confrontar Maria acerca de seu incessante sarcasmo?
• O que posso fazer para ajudar João enquanto seu pai está no hospital? Neste semestre, quanto tempo devo estudar, me dedicar às atividades da igreja, ar um tempo com a família? Se tentamos alimentar a colheres aqueles que estão sob nossos cuidados, eles nunca adquirirão a prática de lidar sozinhos com tais problemas. Permanecerão imaturos. • Os professores cristãos têm de criar ambientes de aprendizagem nos quais os alunos não somente tenham a liberdade de elaborar perguntas relacionadas à vida, mas sejam encorajados a fazê-las.
• Talvez o maior problema que requeira solução seja a falta de auto-estima por parte dos estudantes desta geração. Ninguém compendia melhor este tipo de ensino do que Marva Collins. Marva Collins, como muitos professores excelentes, deixou a tradicional sala de aula. Diferente de muitos professores excelentes, • ela não se afastou da educação.Antes, ela fez uso positivo da energia que de outra forma poderia ter sido dissipada pela raiva e frustração. Ela levou à consecução um sonho que • deve ter permanecido dormente ao longo dos anos, enquanto ela lutava com um sistema educacional falho que impedia o desenvolvimento do potencial humano jovem. Ela escolheu não se unir às fileiras daqueles que, nos corredores seguros e anti-sépticos da academia, apenas discutiam a teoria educacional apropriada.
• Ela decidiu agir na coragem de suas convicções e testar algumas das doutrinas da sabedoria comum (ou bom senso). • A senhora Collins abandonou questões vazias como: “Por que João não sabe ler?” Ela se recusou ficar emaranhada em chavões como: “De volta ao básico ”. Ela evitou as pretensiosas teorias da motivação, atribuição cognitiva e coisas como essas. A meta suprema do professor é produzir um auto-aluno comprometido em superar alguma inaptidão de aprendizagem e desenvolver uma curiosidade vitalícia pela aprendizagem, autodisciplina e honestidade intelectual. Isto é ensino transformativo.
• O professor como discipulador - James R. Slaughter • Um estudo do Novo Testamento deixa claro que o ministério do discipulado é responsabilidade que todo cristão, em algum ponto do seu caminhar na fé, deve assumir. As últimas palavras de Jesus na Terra foram ditas aos Seus seguidores que se reuniram em torno dEle na montanha: Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.(Mt 28.19,20, ARA). O duplo ministério do discipulado inclui evangelismo (salvação e batismo) e aperfeiçoamento (formação e ensino). A todos os que conhecem a Cristo, as Escrituras exortam a compartilhar a fé (1 Ts 1.8; 1 Pe 2.9,10; 3-15) e ajudar os outros crentes a crescer na experiência cristã (Rm 14.19; Cl 3-16). Esta tarefa de ganhar almas e formar discípulos pertence não apenas ao ministro do Evangelho, mas também ao cristão leigo.
Deus chama crentes de todos os estilos de vida para serem formadores de discípulos como está evidenciado no ministério de Áquila e sua esposa Priscila (At 18). Embora fabricante de tendas por profissão (At 18.3), Áquila estava ciente de sua responsabilidade como discipulador e, tanto ele como ela, ministraram ao eloqüente, mas pouco instruído Apolo (At 18.2426).Hoje,os crentes de todas as nuanças evangélicas devem estar não menos profundamente convictos da chamada de serem formadores de discípulos. Coleman expressa-se bem quando escreve: A Grande Comissão não é uma chamada especial ou um dom do Espírito; é uma ordem — uma obrigação a cargo de toda a comunidade cristã. Não há exceções. Presidentes de banco e mecânicos, médicos e professores, teólogos e donas de casa — todos os que crêem em Cristo têm parte em Sua obra (Jo 14.12).
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Nenhum crente tem oportunidade mais promissora para o ministério do discipulado do que o professor. Este tem uma audiência já feita (os alunos) com quem se associa regularmente (quase todos os dias ou, pelo menos, semanalmente), uma assistência composta de pessoas que olham para ele como fonte da verdade e guia para relacionar essa verdade com a vida. A meta de todo professordiscipulador é capacitar seus alunos-discípulos a ficar cada vez mais semelhantes a Jesus Cristo mediante o processo de ganhar almas e formar discípulos. O apóstolo Paulo declara este propósito nitidamente: “A quem anunciamos, oestando a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo homem perfeito em Jesus Cristo ” (Cl 1.28). Deus permite que todo professor crente tenha parte nesse processo • através do qual o Espírito Santo traz o aluno mais estreitamente em conformidade com o Salvador,“a varão perfeito [maduro], à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13).
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Os elementos do ministério do professor-discipulador
Os que ensinam a Bíblia em escolas e faculdades cristãs entendem perfeitamente • como seu ministério inclui o processo do discipulado.Afinal de contas, eles ensinam matéria bíblica. O currículo, se não for especificamente dos livros da Bíblia, com certeza está relacionado com as Escrituras, e a associação é óbvia. Para os vocacionados a ser professores- discipuladores, mas que ensinam assuntos seculares, a relação pode não ser tão notória. Como um professor pode discipular seus alunos, enquanto lhes ensina português, trigonometria ou educação física? Como a aplicação à vida espiritual é evidenciada? Os cinco princípios do discipulado expostos a seguir são úteis em virtualmente qualquer situação de ensino, independente de sua orientação. São usados genericamente, porque não focalizam o conteúdo, mas o contexto, ou seja, o desenvolvimento de um ambiente no qual os professores fomentem relacionamentos com os alunos, de forma que o crescimento espiritual ocorra.
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A consagração A palavra “consagração” significa dedicar a Deus, separar algo ou alguém para uso do Senhor. No antigo Israel, Moisés e Salomão consagraram respectivamente o Tabernáculo e o Templo, junto com todas as mobílias, separando-os para o uso de Deus (Lv 8 .1-11; 1 Rs 8 ). Os próprios sacerdotes de Israel tinham vidas consagradas ao serviço do Senhor, e eles consagravam os sacrifícios oferecidos a Deus em benefício do • Seu povo (Lv 8 .12-36). O Novo Testamento combina as idéias de sacerdote e sacrifício • em uma entidade na vida do crente.Todo cristão atua como sacerdote no serviço do Senhor, comissionado a oferecer “sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1 Pe 2.5). Em Romanos 12.1,2, o apóstolo Paulo explica com mais detalhes a natureza do sacrifício a ser oferecido pelo crentesacerdote: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”.
O próprio sacerdote oferece sua vida como sacrifício. Não um holocausto morto como no período do Antigo Testamento, mas uma oferta viva proveitosa a Deus em base contínua. Os sacrifícios dos sacerdotes israelitas no Antigo Testamento eram oferecidos e consumidos (queimados ou comidos pelo sacerdote e sua família segundo permissão da Torá). Mas o crente-sacerdote do Novo Testamento (ele próprio o sacrifício) continua diariamente em seu andar com Cristo e serviço ao Senhor. Este compromisso de ser um sacrifício vivo é dever de todo aluno cristão, mas primeiro tem de estar na vida do professor-discipulador. Ele, por sua vez, encorajará e exortará os alunos-discípulos a oferecer a vida como sacrifício vivo.
Tal compromisso por parte do professor requer vida regular vital e santa, inclusive com o estudo assíduo da Palavra de Deus. O próprio Jesus afirmou claramente: “Se vós permanecerdes [continuardes sendo submergidos] na minha palavra [ensino], verdadeiramente, sereis meus discípulos” (Jo 8.31). Somente quando o professor se enriquece na Palavra de Deus como discípulo, é que ele poderá apresentar aos alunos a realidade da necessidade de consagrar a vida a Deus,e a necessidade de cultivar sua própria experiência devocional. Como formador de discípulos, o professor aborda o processo de ensino no contexto da vida consagrada. O ensino leva à assimilação da matéria acadêmica, mas este ensino deve ser usado para dar glória ao Salvador.
Paulo exorta os crentes em 1 Coríntios 10.31:“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. Embora o contexto específico diga respeito ao comportamento que pode levar alguém a tropeçar, o princípio aplica-se manifestamente a todos os empreendimentos na vida. O discípulo cristão deve ser consagrado, separado para Deus, santo em tudo o que faz, quer seja comer ou beber, escrever ou fazer a mudança, construir uma ponte ou dar uma palavra. O discípulo faz tudo para a glória de Deus. O professor cristão comunica a importância da consagração de várias maneiras. Ele dá à classe orientação distintamente bíblico-teológica mediante seu próprio testemunho e estilo de vida.
Ele deve incluir a leitura da Bíblia e/ou a oração antes do início da aula simplesmente para dedicar o tempo ao Senhor para bênção e uso de Deus. O professor deve desejar que seus alunos cantem um hino ou música cristã em algum momento durante o período da aula com o propósito de chamar a atenção deles para as coisas espirituais. A música expressa uma verdade bíblica ou de algum modo diz como a matéria a ser estudada pode ser usada na obra de Cristo. A toda hora, o professor-discipulador deve manter em mente a importância de comunicar aos alunos e, se possível, discutir com eles a consagração deles a Cristo, inclusive o progresso na vida devocional, ou talvez, se ainda não forem crentes, a necessidade de aceitarem a Cristo como Salvador.
Além disso, ele tem de mostrar a aplicação da aprendizagem na sala de aula no seu serviço cotidiano para Cristo — a mais nobre das tarefas, quer ele ensine matemática, istração doméstica, política ou a Bíblia.A primeira prioridade do professor deve ser sua vida consagrada. Depois, sua devoção deve ser o primeiro assunto que ele procura abordar com os alunos-discípulos em classe. Como pastor dos alunos o professor tem de trabalhar constantemente para expô-los à verdade bíblica e conduzi-los a uma vida consagrada e separada.
• O afeto • Lamentavelmente às vezes é notória a distância insalubre entre professor e seus alunos, os quais ficam um tanto quanto irados do conhecimento, capacidade e experiência do professor, e talvez apreensivos com respeito ao relacionamento entre eles. Situação pior desenvolvesse quando o professor permanece indiferente, formal e impessoal, ou quando ele, de alguma maneira, transmite um senso de superioridade para com os alunos. O professor precisa estabelecer um bom relacionamento entre ele e os alunos, se é que deseja efetivamente discipulá-los.
• O professor, portanto, precisa ser afetivo, algo tão crucial no ministério do discipulado. Não só ele pastoreia seus alunos, mas se torna um amigo que os ama, cuida deles e os aceita. Em muitos aspectos, o ministério do discipulado feito pelo professor depende do seu compromisso com este elemento do processo. Um formador de discípulos oferece • o conteúdo certo, modela com coerência, integra a matéria adequadamente — faz todas as coisas que um discipulador realiza. Porém, se não ama seus discípulos, seu ministério não dará frutos. O evangelho de João impressiona seus leitores com a profundidade do amor de Jesus pelos discípulos: “Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de ar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus [discípulos] que estavam no mundo, amou-os até o fim”(Jo 13-1)- Seguindo este testemunho, o Senhor tangivelmente expressou Seu amor pelos discípulos quando lhes lavou os pés (Jo 13.2-11).
Depois, Ele os exortou a ter esse mesmo amor uns pelos outros: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.34,35). Em Romanos 12.10, o apóstolo Paulo ordena a todos os crentes: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal”; e em 1 Coríntios 1 3, ele descreve o verdadeiro amor.Afeto tem participação essencial no ministério do discipulado e deve ser iniciado pelo professor.
À medida que discipularmos nossos alunos, desejaremos estar cientes de dois aspectos básicos da afetividade:(l) O de cuidar de nossos alunos e (2) o de aceitá-los como eles são. Ambos os aspectos permitem- nos comunicar o amor de Cristo e derrubar as paredes relacionais entre nós e eles. O professor-discipulador cuida de seus alunos mostrando interesse, consideração e apreciação por eles. Quando estão sob tensão, o interesse do professor manifesta-se quando ouve atenta e seriamente um aluno falar de algum problema pessoal. Orar quando o aluno compartilha uma necessidade também demonstra o cuidado amoroso do professor, quando este em ação subsequente faz um telefonema, envia um cartão ou escreve uma carta.
• O professor pode ser uma fonte inesgotável de informação útil ou de sugestões como uma excrescência de suas próprias perícias. Mostrar cuidado pelo aluno-discípulo também toma a forma de exortação (“Por que não tenta?”), encorajamento ( “Você consegue! ”) e confrontação • Além do interesse, manifestamos cuidado pelos alunos mediante consideração. Esta evidenciase por coisas como fixar objetivos de curso e exigências razoáveis e atingíveis,
e ter preocupação de limitar os deveres de casa e outras responsabilidades extra-aula. Também demonstramos consideração na sala de aula tratando os alunos com dignidade e respeito. Depreciar não pertence à educação bíblica e certamente não tem lugar no ministério do discipulado. Como professores-discipuladores também cuidamos de nossos alunos denotando apreciação por eles. Isto pode facilmente ser realizado por palavras de agradecimento ou elogio por um trabalho bem feito. A apreciação sincera é cativante e, quando modelada regulamente pelo professor, torna-se atividade e compartilhada entre os membros da classe.
• A demonstração • O velho adágio:“Ações falam mais que palavras”, aplica-se acertadamente ao discipulado como em qualquer outro contexto. Embora as palavras sejam importantes na comunicação do que cremos, o que fazemos tem muito mais peso do que o que dizemos. O professor realça enormemente o treinamento do discipulado na sala de aula, quando ele modela as características do crente maduro. Como os outros elementos do discipulado, a demonstração ocupava lugar importante no ministério de Jesus aos doze apóstolos, e o Novo Testamento consistentemente defende esse modelo para os que desejam crescer na estatura cristã.
Logo após lavar os pés dos discípulos, Jesus comentou: “Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.14,15). Paulo, em Filipenses 2.5-7, exorta a todo crente:“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento Lde humildade] que houve também em Cristo Jesus, que .. . aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo- se semelhante aos homens”. Jesus nunca ficava satisfeito só em dizer aos discípulos como viver a existência cristã — Ele lhes mostrava como praticá-la; modelava-a; demonstrava-a. A Escritura ordena aos maridos cristãos que amem suas esposas “como também Cristo amou a igreja”(Ef 5.25), e exorta os crentes: “Recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Rm 15.7).
• Em outras palavras, treinaremos melhor os outros a terem vidas santas não falando, mas mostrando a eles;e • à medida que a vida cristã for modelada pelo discipulador, ele mesmo começa a entender e exibir o comportamento cristão. Com frequência o método de Jesus discipular envolvia abordagem indutiva com os estudantes.
Seus discípulos o observavam: Seus hábitos, atitudes, ações e prioridades. O Mestre interpretava-lhes Seu comportamento e incentivava-os a seguir Sua liderança. Ele mostrava, dizia e incentivava — eles viam, entendiam e faziam. A vida de Jesus enfatizava a importância desta abordagem com os discípulos do primeiro século, e como professores modernos temos de pôr isso em prática com os alunos-discípulos de hoje. Entre as formas de comportamento cristão que Jesus demonstrava aos discípulos, e que o professor faria bem em dar o exemplo a seus alunos, incluía-se a oração, a memorização das Escrituras, a responsabilidade social o amor pelos irmãos e a preocupação pelos incrédulos."
• Parece que a modelação que Jesus fazia de Sua importante vida de oração instigava os discípulos a persuadi-lo:“Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11.1) e, posteriormente, Sua explicação de como deveria ser feita. Da mesma maneira, o professor motiva seus alunos a ser pessoas de oração quando Ele regularmente ora com eles e por eles, e quando sustenta uma vida de oração rigorosa na qual eles vêem a oração respondida. Jesus fez vasto uso de citações das Escrituras em Seu ministério (cf. Mt 5.27,28; 12.18-21; 13.14,15). Provavelmente o extensivo uso da • Bíblia feito por Pedro (At 2.17-21,25-28; 1 Pe 1.24,25; 2.6-10; 3.10-12) tenha sido motivado e cultivado pelo modelo de Jesus no processo do discipulado.
O professor-discipulador também modela o uso da verdade das Escrituras em sua vida, e partilha versículos memorizados que lhe tenham sido particularmente significativos. Quando Jesus modelou a importância de civicamente sermos responsáveis em coisas como pagarmos impostos (Mt 22.15-22) e submeter- nos à autoridade (Jo 18.10-13), o professor igualmente tem ótima circunstância favorável para influenciar seus discípulos modelando a responsabilidade cívica. Coisas como pagar impostos, votar e estar propenso a servir de jurado quando convocado, falam muito alto a discípulos que observam se o líder pratica o que prega.
• A oração por líderes governamentais também pode ser demonstrada (1 Tm 2.1,2), assim como a obediência às leis (Rm 13.1-7; 1 Pe 2.13-17), inclusive dirigir no limite de velocidade e parar nos sinais vermelhos. Submissão voluntária às autoridades e a responsabilidade de cumprir os deveres cívicos são características cristãs que devem ser demonstradas pelo professordiscipulador • para o crescimento dos alunos. Amor pelos seus seguidores e preocupação pelos incrédulos são coerentemente manifestados por Jesus aos discípulos.
A oração de Cristo pelos doze, a instrução e proteção que Ele lhes deu, a defesa e provisão fornecidas a eles estão plenamente atestadas no Novo Testamento. Já se afirmou que eles amavam uns aos outros, porque primeiro Jesus demonstrara o Seu grande amor por eles (cf. 1 Jo 4.7-21). Além de amar Seus discípulos, Jesus também manifestou amor comivo pelos incrédulos. Cada pessoa era digna do Seu tempo e consideração, quer fosse o altamente venerado mestre de Israel (Jo 3) ou a quase desconhecida e imoral mulher samaritana (Jo 4). O Salvador importava-se profundamente por todos e esta preocupação era uma revelação que chocava os discípulos (Jo 3.27).
• Amor pelos perdidos era expressão sempre presente no coração de Jesus, e assim deveria ser para todo professor cristão. Discutir com os alunos acerca do testemunho da fé, orar junto por amigos e parentes dos que ainda não são salvos, regozijar-se quando estes aceitarem a Cristo e orar com a classe pelas pessoas não alcançadas em cada país ou continente — tudo isso modela um amor pelos perdidos que motiva e atrai o aluno-discípulo. Como professor, o indivíduo precisa pensar constantemente sobre o que ele faz tanto quanto sobre o que ele diz. Como comenta • Horne:“Trata-se de truísmo pedagógico o fato de ensinarmos mais pelo que somos do que pelo que dizemos”. Esta idéia comunica a essência da demonstração no ministério do professor-discipulador.
• O professor-discipulador como servo • O professor cristão também ensina seus alunos quando os serve e, assim, ajuda-os a, por sua vez, tornarem-se servos. Do começo ao fim, o ministério de Cristo revela que a existência cristã não é uma vida de receber; porém de conceder. Nenhuma agem das Escrituras ilustra este fato de maneira tão clara do que Marcos 10.32-45. A agem descreve uma ocasião solene segundo a perspectiva de Jesus. Cristo e os discípulos viajavam para Jerusalém onde Ele seria entregue nas mãos das autoridades romanas que o condenariam à morte. Jesus explicou este fato nos v. 3 2 a 34, mas os discípulos não entenderam. Eles interpretaram mal a configuração do tempo do ministério de Jesus e acreditaram que Ele logo introduziria o Reino, o governo de Cristo de mil anos na Terra em circunstâncias ambientais virtualmente perfeitas. Ele focalizava espinhos e cruz; eles se concentravam em tronos e coroas. Tiago e João pediram-lhe cargos especiais e favores no reino.
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Que egoísmo grosseiro! Mas interessante notar que o Senhor não os reprovou • pelo pedido feito. Ele apenas lhes comunicou que a verdadeira grandeza não é conseguida com um cargo elevado na sociedade, mas mediante a posição humilde de escravo. Ele disse aos discípulos: Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes delas se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal. E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo de todos (Mc 10.42-44). Aos olhos de Deus o serviço de escravo é a verdadeira grandeza e caracteriza o verdadeiro discípulo. O próprio Jesus perfeitamente dá o exemplo da liderança escrava e da realidade desta verdade. Ele explicou:“ Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45). • Se o Senhor Jesus estabeleceu tamanha ênfase no serviço escravo, pode o professor-discipulador dos dias de hoje fazer menos do que isso? Em geral os alunos não aprendem muito de um professor que goste de exercer autoridade sobre eles. Na verdade, entendem mais do professor que dá a vida no serviço por eles — o mestre que derruba a parede relacional ao servi-los. Este tipo de professor vê-se como aluno entre alunos.
• Ao perceber este tema o apóstolo Paulo defendeu seu ministério arguindo que as credenciais mais importantes para o ministério não são as acadêmicas, mas as do serviço (2 Co 3)- O assunto em questão não é que títulos acadêmicos não tenham importância na educação, mas que só eles, sem o coração de um servo, não garantem que aconteça • um ministério eficaz. O professor-discipulador serve seus alunos. A maioria dos professores cristãos não contestaria essa idéia, pelo menos na teoria. Mas servir somente quando é conveniente, ou quando recebemos reconhecimento apropriado e agradecimento por nossos serviços, significa servir sob nossas condições.
Ele não se importa em ser escravo; apenas não deseja que alguém o trate como tal. Mas Jesus não nos ensina a deixar de lado nossos desejos a fim de satisfazermos as necessidades dos outros? Quando o professor-discipulador serve seus alunos nas condições deles, sacrificandose para satisfazer as necessidades deles, ocorre o verdadeiro discipulado. Isto significa investimento precioso de tempo antes e depois das aulas, quando fala com os alunos sobre um trabalho escolar ou responde perguntas suscitadas por um texto.
Servir seu aluno-discípulo significa encontrar-se com ele em seu escritório para aconselhá-lo, o qual a circunstância difícil em casa, ainda que você tivesse designado aquele espaço na agenda como “horário de pesquisa”. Servir os alunos pode tomar a forma de o professor em casa como convidado se uma necessidade surgir, ou cuidar dos filhos deles em uma emergência. Ao ser servido pelo professor, o estudante aprende a importância de ter o coração de um verdadeiro servo. Ele entenderá o valor e a produtividade do serviço de escravo e o seu impacto na vida dos outros e, talvez, aproveite as oportunidades que surgirem para dar se a outros como o professor o fez por ele.
• A integração • Os estudantes freqüentemente acham difícil ver a floresta pelas árvores. Estão tão envolvidos com os detalhes dos trabalhos escolares, que não observam o quadro todo; tão concentrados na análise, que negligenciam a síntese; tão preocupados com particulares que não prestam atenção ao padrão global da verdade de Deus. O professor• Discipulador ajuda o estudante a formular uma cosmovisão cristã, ou seja, uma visão bíblica da vida. Ao agir desta maneira, ele capacita o aluno a relacionar com precisão seus estudos acadêmicos com uma estrutura bíblica. Ao professor pertence esta tarefa de integração; ao menos, é onde tem de começar. O aluno tem a tendência de ver tudo despedaçado, e sua experiência na educação parece diversa e fragmentada, uma colagem de matéria sem conexão, na qual qualquer ponto de ligação ou consonância é • puramente coincidente.
O professor ajuda o estudante a juntar os fragmentos da colagem educacional e formá-los num todo unificado com Jesus Cristo em seu centro. Universal e pessoalmente, nosso mundo revolve-se em torno dEle. Assim, tudo o que estudamos precisa encontrar seu propósito supremo no serviço para Ele. A Bíblia ensina que Deus se revelou a Si mesmo ao homem em duas esferas diferentes: (1) Pelas Escrituras (revelação especial) e (2) pela criação (revelação natural). No Salmo 19.1, Davi escreve sobre a revelação natural de Deus.“Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos”. No v. 7, o salmista discute a revelação especial de Deus.“A lei do SENHOR é perfeita e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices”. A verdade de Deus é revelada na criação e nas Escrituras, de maneira que ambas as esferas formam juntas um reservatório unificado da verdade para o crente.
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Importante no discipulado é a tarefa do professor demonstrar aos alunos como os assuntos seculares relacionam-se com a verdade bíblica. De fato, ele tem de assumir a responsabilidade de mostrar que todos os assuntos não devem ser absolutamente interpretados como “seculares”, mas como parte de uma cosmovisão cristã baseada numa estrutura bíblica. Gaebelein lembra-nos da distinção ilusória entre o sacro e o secular, e a necessidade de ver todos os assuntos à luz do propósito bíblico. Ele sugere:“Caímos no erro de deixar de ver tão claramente quanto deveríamos que há bolsões de verdade, não plenamente explicadas pela Escritura, e que esses também fazem parte da verdade de Deus. Assim, fazemos ; ilusória distinção entre o sacro e o • secular, esquecendo-nos de que [...] ‘onde a verdade está, à medida que é verdade, ali Deus está’”. O professor deve ensinar aos alunos que a precisão da matemática constitui obra de Deus, que a Si mesmo é descrito como justo e verdadeiro. Ele criou um universo sistemático que opera de acordo com as precisas leis da física (SI 19). Newton descobriu a lei da gravidade posta em operação por Deus e hoje usada pelo homem para dominar a criação sob mandamento do Senhor (Gn 1.28).
A fórmula para achar a hipotenusa de um triângulo reto não existe como verdade de Pitágoras, mas de Deus expressa por esse sábio em termos matemáticos para uso do homem cientificamente. Portanto, a matemática acha sua fonte suprema e propósito em Deus. O homem recebeu do Senhor diversas leis e usaas cientificamente para dar glória ao seu Criador. A literatura pode ser usada para expressar valores bíblicos e o pensamento cristão, e ser ensinada para realçar princípios santos de vida. O professor-discipulador deve comparar os valores manifestos em diversos tipos de literatura para ressaltar discrepância ou concordância com o ensino bíblico. A verdade todo abrangente de Deus inclui outro meio importante — a música.
• E que componentes da verdade encontramos nela? Mais • uma vez, Gaebelein expõe acertadamente:“Não são eles honestidade de expressão, sinceridade no sentido de evitar o barato e o maquinado? Sem dúvida eles também incluem tais elementos como simplicidade e direitura”. A verdade sobre Deus pode ser expressa poderosamente pela música secular e sacra, através de sua franqueza e integridade. O professor deve achar ocasião para levar os alunos a lidar com a verdade de Deus enquanto esta é expressa pelos acordes de uma composição musical. • O ensino afeta o comportamento. O ensino cristão ajuda o aluno a viver de modo cristão • num mundo não-cristão, refletindo na vida a presença de Cristo. Como diz Lockerbie Jesus Cristo é o “centro cósmico”, o centro da criação, e todo ser criado encontra seu ponto central nEle.
Como escreve o apóstolo Paulo aos colossenses: “Porque nele foram criadas todas as coisas [...];tudo foi criado por ele e para ele”(Cl 1.16). Principalmente por esta razão, o professor instrui os alunosdiscípulos sobre a integração do “sacro” e “secular”. O estudante tem de ver que todas as disciplinas ajustam-se em um todo unificado tendo Cristo como centro, e que este todo integrado forma a estrutura para a fé e a vicia. Deus chama todos os crentes para serem formadores de discípulos, e os professores cristãos não são exceção. Na verdade, eles dispõem de oportunidade singular para moldar o desenvolvimento dos alunos, independente da disciplina que ensinem. O professor discipula os alunos agindo como pastor (o ministério da consagração), como amigo (o ministério do afeto), como modelo (o ministério da demonstração), como servo (o ministério do serviço) e como unificador da verdade (o ministério da integração). Pela obra do Espírito Santo estes elementos do discipulado são assimilados pelo aluno-discípulo, tornando-se parte do próprio processo de crescimento na santificação. Os professores que mostram aos alunos estes aspectos importantes da vida cristã são privilegiados por desfrutarem de experiência além da qual não há chamada mais nobre.
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O professor como estudante da bíblia- Roy B. Zuck Os atletas americanos que competiram nas Olimpíadas de 1984 usaram o slogan:“Vamos pelo ouro”. A meta deles era alta: não apenas receber por suas realizações atléticas uma medalha de bronze ou de prata, mas alcançar uma medalha de ouro — o mais alto prêmio. As palavras “Vamos pelo ouro” têm sido usadas desde então como slogan nos Jogos Olímpicos para incentivar os atletas a atingir metas elevadas, alcançar algo de grande valor para eles. Nenhuma meta seria mais elevada do que ir pelo “ouro” das Escrituras. • A Bíblia muitas vezes se refere a si como ouro ou pedras preciosas, como o rubi, a fim de frisar o sublime valor do seu conteúdo. Por exemplo, Davi escreveu: “Os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino”(Sl 19-9,10).O Salmo 119,aquele que exalta a Palavra de Deus em quase todos os seus 176 versículos, inclui esta declaração pelo salmista: “Melhor é para mim a lei da tua boca do que inúmeras riquezas em ouro ou prata” (SI 119.72).
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No mesmo capítulo, o salmista escreveu que ele ama os mandamentos de Deus “mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino” (SI 119.127). Como estudantes da Palavra, os professores cristãos devem garimpar o ouro da Escritura, cavando “filões” nas profundezas da Bíblia e peneirando as verdades das Escrituras para si mesmos. Exploração diária das riquezas da Palavra enriquece a vida — dando mais capacidade para os professores cristãos guiarem outros nas mesmas explorações. • Por que garimpar ouro? • A Bíblia apresenta várias razões para todos os crentes, e certamente para os professores cristãos, serem estudantes diligentes da Bíblia. Primeiro, a Bíblia nos ajuda a crescer espiritualmente. “Desejai afetuosamente,como meninos novamente nascidos,o leite racional,não falsificado, para que, por ele, vades crescendo, se é que já provastes que o Senhor é bom” (1 Pe 2.2,3). Sem a ingestão da Palavra, os cristãos ficam mal alimentados espiritualmente.Além do ouro, a comida é outro ingrediente ao qual a Bíblia se compara. É dito na Palavra que os juízos do Senhor são “mais doces do que o mel e o licor dos favos” (SI 19.10). No Salmo 119.103 lemos:“Oh! Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais doces do que o mel à minha boca”.
• Crentes que sejam espiritualmente fortes, que crescem e desenvolvem-se no homem interior, alimenta-se com a Palavra de Deus. O apóstolo João falou da relação entre estas duas situações em 1 João 2. l4 :“Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a Palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno”. Segundo, a Bíblia nos guia. Quando você compra um aparelho de som, um cortador de grama ou um forno microondas, vem junto • um manual de instruções para orientá-lo no uso. Adquira um automóvel e o manual do proprietário no porta-luvas explica-lhe as características do veículo e como dirigir e cuidar dele. A Bíblia também é um manual. Fala-nos como é a vida e como tirar o melhor proveito dela. Como escreveu Irving Jensen: “Já pensou na Bíblia como um manual que vem junto com o produto’, que é você.
A Bíblia e você foram projetados para estarem juntos, para serem inseparáveis. Ambos foram trazidos à existência pela mesma inspiração de Deus (Gn 2.7; 2 Tm 3 -16). A Bíblia foi dada p ara você, para estar com você. Este é o nítido desígnio de Deus”. Na Bíblia, Deus nos fala sobre nós, sobre Ele e sobre nosso presente e futuro. E foi escrita para nos guiar na direção certa, para nos ajudar a tomar as decisões corretas.
O salmista escreveu: "Lâmpada para os meus pés é tua Palavra e luz para o meu caminho” (SI 119.105), e:“A exposição das tuas palavras dá luz” (SI 119.130). Os “testemunhos” de Deus são os “conselheiros” do crente (SI 119.24). Terceiro, a Bíblia guarda-nos do pecado. A Bíblia tem um efeito limpante no crente. Quando ele permite que o refletor da verdade de Deus brilhe em sua vida, contempla áreas que precisam de correção e limpeza. Davi também escreveu sobre este benefício da Palavra: “Por eles é oestado o teu servo” (SI 19.11).A Palavra de Deus, escreveu o salmista, estava escondida no coração para que ele não pecasse contra Deus (SI 119-11)- No discurso que Jesus fez no Cenáculo, Ele falou aos discípulos com exceção de Judas:“Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3).
Como espelho, a Bíblia reflete nossas necessidades, e quando o crente obedece ao que a Palavra ordena,Deus o abençoa (Tg 1.2325). E quando o crente peca, a Palavra traz restauração espiritual. “A lei do SENHOR é perfeita e refrigera a alma” (SI 19-7). Quarto, a Bíblia instiga-nos para a maturidade espiritual. “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2Tm 3-16,17). O verbo “ensinar” dá a entender que as Escrituras orientam os crentes na direção certa.
• “Redarguir” é o ministério da Bíblia que chama a atenção do crente quando este se desvia do caminho.“Corrigir” ou “restabelecer” fala do ministério da Palavra que traz o crente de volta para o caminho. E “instruir”, palavra que se refere à criação de crianças, sugere ajuda ao crente que permanece no caminho depois de ter sido restabelecido nele. • À medida que o professor cristão permite que o Espírito Santo implemente a Palavra de Deus nestas quatro maneiras na vida dele, ele fica “perfeitamente instruído para toda boa obra”. O vocábulo grego traduzido por “perfeitamente” também pode ser traduzido por “adequadamente”, significando em condição ou forma própria. A palavra vertida • do grego para “instruído” insinua estar adequadamente aparelhado e abastecido para uma tarefa.
• O papiro grego usa esta palavra para aludir a um barco provido com dois remos e a uma prensa de azeite pronta para funcionar. Em outras palavras, à medida que nos apropriamos da Palavra de Deus, ficamos adequadamente aparelhados e abastecidos para a obra e serviço que Deus tem para nós. Crescimento, direção, guarda e instigação — quatro razões para sermos estudantes consistentes e diligentes das Escrituras. • Os professores cristãos precisam dar o exemplo para os alunos no estudo da Bíblia. Se eles desejam que os estudantes manifestem o fruto do Espírito (G1 5.22,23) e sejam “cheios de frutos de justiça” (Fp1.11), então devem fazer o mesmo. Se querem que os alunos se voltem para a Bíblia como fonte de alimentação espiritual, direção, limpeza e maturidade, devem estar sempre compenetrados na Palavra.
Isto revela o fato de que o professor primeiro deve ser estudante. Ensino eficaz requer aprendizagem consistente. Se o professor deixa de estudar, a eficácia do seu ensino cai. Quando ele continua lendo, pesquisando, pensando, interagindo, sondando e perguntando, ele se mantém em boa disposição e em dia com seus assuntos. À medida que o professor exercita seus neurônios, alarga os horizontes intelectuais e aprofunda o conhecimento, ele tem melhores condições de ajudar seus alunos a fazer o mesmo. Uma árvore sem água morre; um músculo sem movimento atrofia; uma pessoa sem comida falece. Da mesma forma o professor que pára de aprender fracassa como mestre. Trata-se de verdade em qualquer ramo de ensino, mas sobretudo no ensinamento da Bíblia e seus assuntos relacionados. O professor cristão precisa beber continuamente das correntezas da Escritura. Ele deve alimentar-se perpetuamente da comida da Palavra. Sem nutrição espiritual ele não tem força pela qual nutrir os alunos.
• A menos que estudemos e sigamos o método de Deus, não acharemos fácil levar outros a fazer o mesmo. A não ser que nossa vida esteja em sintonia com a Palavra, teremos dificuldade em colocar as pessoas em harmonia com os preceitos de Deus. Sem bens espirituais não temos algo para enriquecer os outros. Para mitigar a sede intelectual e espiritual das pessoas, nós mesmos precisamos beber da nascente das verdades de Deus. • As seções seguintes deste capítulo discutem maneiras de estudar a Bíblia (“garimpando o ouro”), princípios para interpretar a Palavra (“avaliando o ouro”) e idéias para pôr a Bíblia em prática (“investindo o ouro”). Estas três áreas são essenciais para todo professor que quer enriquecer sua vida com as riquezas da Palavra.
• Maneiras de estudar a bíblia: garimpando o ouro • Quando visitam exposição num museu de arte, algumas pessoas entram, caminham apressadamente pelo local, dão uma olhada em algumas coisas e saem. Elas podem ou não dedicar tempo para ler o que outros indivíduos viram nas obras de arte e o que pensam sobre elas. Outros, porém, entram, demoram-se olhando cada pintura detida- mente e até chegam a fazer perguntas sobre os artistas ou curadores do museu.
O estudo da Bíblia também é abordado de uma entre duas maneiras — ou pelo exame casual e ocasional ou abordagem acidental, vendo algumas coisas e desprezando outras, ou pela abordagem mais completa, na qual tudo é observado com minúcia. Qualquer método de estudo da Bíblia, e seguramente a síntese do livro, requer observação meticulosa e completa. O estudo dos livros da Bíblia aborda a Palavra como ela foi escrita — em livros. Os autores humanos, ao escrever sob inspiração do Espírito Santo, não registraram alguns versículos aqui e ali, um a cada dia ou coisa que o valha, e depois os reuniram numa espécie de mixórdia, formando eventualmente um livro completo. Quando escreveram eles tinham todo o quadro geral em mente — a estrutura inteira do livro. À medida que procuramos essa mesma estrutura, ficamos mais próximos do que o Senhor tem em mente para nós. É importante ver a Bíblia telescopicamente antes de vê-la microscopicamente. Martinho Lutero costumava dizer que estudava a Bíblia do modo como colhia maçãs.
• Primeiro ele agitava fortemente • a árvore para que as frutas maduras caíssem. Depois, ele subia na árvore e sacudia cada galho. A seguir, investigava os ramos de cada galho. Logo depois, chacoalhava cada galho fino e, finalmente, olhava debaixo de cada folha. A árvore sugere a Bíblia, os galhos dão a entender os livros da Bíblia, os ramos referem-se aos capítulos, os galhos finos aludem aos versículos e as folhas, às palavras. Alguns professores arrancam versículos fora do contexto sem se preocupar pela razão de estarem os versículos em determinado livro da Bíblia. Sem síntese isto se torna armadilha comum no estudo da Bíblia. Por exemplo, quando Mateus registrou que Jesus disse para os doze não irem aos gentios, mas, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10.5,6), ele estava escrevendo num livro dirigido ao povo de Israel acerca do Messias. Os doze deviam levar a mensagem do Reino dos Céus (Mt 10.7) para a nação de Israel.
• Os os a seguir podem ser proveitosos no estudo de um livro da Bíblia. • Leia o livro pelo menos duas vezes. Leia-o como se fosse a primeira vez. Tentar esquecer o que você já sabe sobre o livro lhe permitirá ver algumas coisas que, de outro modo, com certeza deixaria ar. Leia o livro do princípio ao fim em uma sentada, sem tentar extrair cada detalhe. O propósito desta leitura é adquirir uma percepção do livro, sentir a visão geral do que o escritor disse. Leia pensativamente, usando sua imaginação para formar o quadro do que você leu. Procure informações sobre a formação do livro. Note quem o escreveu, a quem foi escrito, onde, quando e como foi redigido. Nem todas estas questões estarão evidentes em todos os livros da Bíblia, mas • a maioria as apresenta.
• Por exemplo, Efésios 1.1 declara quem escreveu • o livro e a quem foi escrito, mas é somente no último capítulo (Ef 6.20) que sabemos que Paulo o escreveu na prisão. Procure frases e palavras repetidas no livro. Por exemplo, o fato de ocorrer doze vezes a palavra “melhor” no livro de Hebreus indica • que o autor enfatizava a superioridade de Cristo. O uso freqüente pelo autor das palavras “sacerdote”, “sumo sacerdote” e “sacrifícios”, aponta sua ênfase na obra de Cristo como o Sumo Sacerdote do crente, o qual é superior aos sacerdotes do Antigo Testamento. Divida o livro em partes. Identifique os principais pontos decisivos ou mudanças definidas de estilo, direção ou ênfase.
A mudança pode ser geográfica, como em Atos, em que Jerusalém serviu como local dos eventos ocorridos nos caps. 1 a 7;Judéia e Samaria são os lugares dos acontecimentos dos caps. 8 a 1 2 ; e os “confins da terra” fornecem indicadores geográficos para os caps. 13 a 28. Estas três divisões são como círculos concêntricos, que começam com Jerusalém no círculo interno menor, o qual por sua vez explica detalhadamente a ordem de Jesus em Atos 1.8. O livro pode ser dividido por suas personagens principais. Por exemplo, em Génesis, os caps. 1 a 11 destacam Adão e Eva, Enoque e Noé; os caps. 12 a 23 salientam Abraão; os caps. 24 a 27 ressaltam Isaque; os caps. 28 a 36 enfatizam Jacó; e nos caps. 37 a 50 José é a figura chave. Em alguns livros, as partes são literárias. Por exemplo, em Isaías 1 a 39, o profeta realça o julgamento, ao o que a tônica de Isaías 40 a 6 6 é o consolo. O livro de Romanos pode ser dividido por seu assunto doutrinário. Ocasionalmente um livro é dividido por suas perguntas, como o de Malaquias.
• Encontre o propósito do livro. Às vezes temos o propósito do livro claramente declarado no texto, como, por exemplo, em Lucas 1.4 ou João 20.31. Em muitos livros, o propósito deve ser determinado por várias pistas do referido assunto. Por exemplo, a ênfase na alegria e regozijo em meio aos sofrimentos mostra que em Filipenses Paulo tinha o propósito de encorajar os crentes para não serem vencidos pelos sofrimentos, mas a experimentarem a alegria de Deus. • Sinta a pulsação do livro. Ao estudar um livro da Bíblia, desejemos notar se ele é principalmente narrativa ou poesia, se carta ou profecia. Isto ajuda a sentir a “atmosfera”do texto. Gálatas e Judas,por exemplo, são livros argumentativos no sentido de serem defesas da verdade e oposição a falsos ensinamentos. Primeira Coríntios oferece correção; Romanos é teológico; Levítico dá instruções; 1 e 2 Reis descrevem ação narrativa excitante; e os Salmos são reflexivos.
Claro que algumas destas “atmosferas” podem existir ao mesmo tempo em um livro, mas a questão é sentir o impulso primário do texto bíblico a ser estudado.