No cárcere do Futuro Naquele dia pus o branco. É a cor que trajado esperei Sobre ti pôr arreio! Paz, pureza e calmaria Mas Futuro, tu é rebelde Desobedeces como da última vez! Muitos são os planos que tenho, Que sei que é tua tramóia estragar Mas pense duas vezes, futuro arredio Pois como da última vez, cuspo-o no rosto Puxo as correntes que o aprisionam E o jogo ao chão. Afinal, tu não me obedece! Sempre ferido e maltrapilho Assustado e inquieto! Não vê o branco que visto? Paz, pureza e calmaria! Na próxima irei matá-lo por inanição.
Há uma edição de luxo de ‘‘O Nome da Rosa’’ (Umberto Eco) na Amazon, belíssima. Capa dura, tradução revisada, glossário com os termos em latim. Seu preço de R$ 79,90, entretanto, faz com que essa obra não tenha lugar no meu carrinho de compras. Afinal, são quase R$ 80,00! Imagine! Isso paga cerca de seis almoços no Rei do Frango (ali na av. Nossa Sra. de Fátima, recomendo). De súbito, essa infelicidade me remeteu a uma ideia usualmente popular entre aqueles pouco familiarizados com noções econômicas (inclusive colegas de universidade). A ideia tentadora de que ‘‘Não seria ótimo se o Estado fizesse um controle de preços sobre os livros e os deixasse todos mais baratos?’’ Você provavelmente já se fez esse tipo de pergunta (sobre utensílios da cesta básica, talvez): a tentadora ideia do controle de preços. Acontece que se a resposta a que tenha chegado tendeu para um sonoro ‘‘sim!’’ ou, no mínimo, ‘‘talvez!’’, lamento em informar que você ainda não compreendeu o que significa essa coisa tão presente em nosso cotidiano: o ‘‘preço’’. Que diabo, afinal, são esses numerozinhos? A primeira coisa que você precisar compreender é que a Economia, como bem pontua Lionel Robbins, ‘‘é o estudo do uso de recursos escassos (...)’’. Desde que fomos expulsos do Jardim do Éden, estamos tratando de itens escassos, finitos e limitados, os quais diferentes economias terão diferentes formas de alocar: uns, optarão pelo controle centralizado da alocação desses recursos (como a antiga União Soviética, Cuba e Coreia do Norte); outros, optarão pela descentralização econômica (como Estados Unidos, Japão, Inglaterra e, com grandes ressalvas, Brasil). Na primeira forma, o governo determina quais recursos serão produzidos, sua quantidade e para onde serão alocados. Na segunda, não
há ninguém específico emitindo ordens para determinar a cadeia econômica. Essa coordenação é feita de forma automática e descentralizada pelos indivíduos, dos consumidores aos produtores, os quais determinam os preços aqui objetos de discussão e são, ao mesmo o, por ele determinados. Ao contrário do que a tendência racionalista de nossos tempos pode nos levar a deduzir, o fato é que as economias de planejamento central, comparativamente às economias descentralizadas, são historicamente marcadas pela deficiência na alocação de recursos à população. Em uma economia de mercado, cada indivíduo econômico - seja consumidor, produtor, varejista, patrão ou empregado - realiza com outros indivíduos transações em termos mutuamente acordados. Uns estabelecem preços de seu produto ou mão-de-obra, enquanto outros decidirão se estão dispostos a pagar pelo que oferecem. Os primeiros manterão, diminuirão ou aumentarão seus preços cobrados de acordo com a disposição dos segundos de arcar com esses preços. Tentando ilustrar a dinâmica econômica em uma economia de mercado, vamos nos limitar a análise de dois indivíduos econômicos: um vendedor e um consumidor. Aquilo o qual chamamos ‘‘disposição’’ do consumidor, aquele que paga, é um reflexo do ambiente econômico no qual se insere, pois a existência ou não dela por parte do consumidor levará em conta aspectos objetivos e subjetivos, como: se o dinheiro de que dispõe é suficiente, quais outras ofertas existem no mercado, quão necessário é o produto em questão para si naquela ocasião e questões afins. Se não dispõe de dinheiro suficiente, não fará a compra. Se pode ir a um outro lugar que a compra do mesmo produto ou mão de obra saia mais barata, não fará a compra (ao menos não ali onde o produto é mais caro). Se achar que seu grau de necessidade pelo produto ou serviço faz com que o preço pago não valha a pena, não fará a compra. Por outro lado, o preço o qual é pedido pelo vendedor em seu produto, caso pretenda sobreviver na dinâmica econômica (ou, em outras palavras, caso o vendedor pretenda vender), levará em conta diretamente a disponibilidade do seu produto (afinal, a economia lida com recursos escassos) e a demanda existente por ele. Se a demanda aumenta em relação à oferta (disponibilidade), o preço aumentará (mais pessoas interessados em um mesmo produto escasso, quem pagar mais leva); se a demanda diminui em relação à oferta, o preço cairá (produtos de mais e consumidores de menos). Trata-se de um jogo de oferta e demanda onde o preço é o placar. Mas imagine que esse seja um placar não só de uma determinada partida, mas de todo o campeonato. Acontece que em cada etapa na qual esse produto a, a lei da oferta e demanda incide sobre ele. Toda essas sucessivas incidências acumularão-se na forma de seu preço, subindo-o ou descendo-o ao fim. Imagine, por exemplo, um computador. Sobre cada um de seus componentes incidiu a lei da oferta e demanda a qual resultou em seu preço: sua oferta depende da quantidade de produção, sua quantidade de produção depende da disponibilidade, mão-de-obra e inúmeros outros detalhes até chegar nas matérias-primas. Se um avanço tecnológico faz com que seja necessária menos matéria-prima e mão-de-obra, por exemplo, menos será demandado e gasto para a produção de cada computador - o preço diminuirá. Se o preço diminuído sobreviver a todas as etapas até chegar na Ibyte, é provável que a venda aumente. Se a demanda aumentar, é provável que os fabricantes queiram vender mais, e assim produzir mais. Se, entretanto, a venda não crescer na mesma proporção do aumento, os fabricantes pisarão no freio e voltarão atrás. E você, consumidor, plenamente alheio à complexidade de fenômenos econômicos, inovações tecnológicas, desastres naturais ou
greves que podem ter antecedido àquele computador exposto na loja, consegue ter o ao resultado da confluência de todos eles na forma em que o interessa: o preço, consequência direta da economia que atuou sobre aquele o produto desde a sua fabricação. Não por acaso, o preço de um singelo papel higiênico pode te dizer muito sobre a situação econômica de um país.