A Cabeça Coberta Em 1co 11 2-16 5q1j15

A cabeça coberta em 1Co 11:2-16 Muita controvérsia tem havido sobre o texto de 1Co 11:2-16, especialmente ligada a dois aspectos: a) Se o ensino ali expressado é para toda a igreja em qualquer tempo e lugar, ou apenas para o contexto local da igreja de Corinto; b) O significado de se orar ou profetizar com a cabeça coberta ou descoberta. Quanto ao primeiro ponto, a própria carta de 1 a Coríntios nos dá a resposta: 1Co 1:1-2 1 Paulo ( chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus ) e o irmão Sóstenes, 2 à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:

Embora apareça no texto algum aspecto cultural, o ensino apresentado em 1Co:11:2-16, como em toda a carta, é universal, aplicando-se a todos os crentes em todas as eras. A carta de 1 a Coríntios trata de vários problemas na vida da igreja: partidarismo entre os irmãos, conivência com imoralidade, necessidade de disciplina na igreja, normativas quanto ao casamento, envolvimento com coisas sacrificadas a ídolos, cuidados com a idolatria, restrições à nossa liberdade em função do próximo, entre outros. No capítulo 11 dois outros assuntos são tratados: a participação das mulheres nos encontros da igreja (objeto deste estudo) e a Ceia do Senhor. Para estudar o segundo ponto, referente ao significado de se orar ou profetizar com a cabeça coberta ou descoberta, vamos fazê-lo através de uma tradução mais literal do texto grego de 1Co:11.2-16. Muitos problemas resultam de traduções que introduzem palavras e conceitos não pertencentes ao texto grego original. Por exemplo, em vários lugares a palavra grega “katakaluptos”, cujo significado é simplesmente “cobrir”, tem sido traduzida por “cobrir com véu”, o que tem perturbado o entendimento do texto. É interessante notar que, nesta agem, a palavra véu ou mantilha aparece apenas uma vez, no verso 15, como estudaremos abaixo. A tradução da Bíblia que utilizaremos segue de perto a versão King James 1611/1679, considerada por muitos a melhor tradução já feita, bem como o Novo Testamento Interlinear Grego-Portugês: 1Co 11:2-3 2 E vos louvo, ó irmãos, porque em tudo tendes vos lembrado de mim, e retendes os preceitos assim como vo-los entreguei. 3 Quero, entretanto, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, e o homem a cabeça da mulher, e Deus a cabeça de Cristo.

Muito embora Paulo louve os irmãos de Corinto por sua disposição em obedecer aos preceitos que ensinara, ele faz questão de enunciar no versículo 3 um princípio divino que irá nortear o ensino corretivo que irá trazer em seguida: que Cristo é a autoridade sobre todo homem, que o homem é a autoridade sobre a mulher, e que Deus é a autoridade sobre Cristo. Nesse versículo o termo “cabeça” constitui claramente uma metáfora, significando “autoridade espiritual”. A cabeça é quem comanda, decide, dirige, conduz. Todo homem tem que ter Cristo como sua cabeça, no sentido que ele deve fazer apenas ao que Cristo comandar. Semelhantemente, a mulher deve ter o homem como sua cabeça, no sentido que ela não deve tomar decisões independentes do homem. Cristo é o exemplo, tanto para homens como para mulheres, pois o Filho sempre teve o Pai como sua cabeça: “Mas Jesus respondeu e disse-lhes: Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se o não vir fazer ao Pai, porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente ” (Jo 5.19); “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo, e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou” (Jo 5.30); “Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do Homem, então, sabereis que Eu sou e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou. E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8.28-29). Á semelhança do versículo 3, onde a metáfora da “cabeça” é evidente, deveremos tratar metaforicamente os versículos seguintes quando se fala de “cabeça coberta”.

1Co 11:4 Todo o homem que ora ou profetiza tendo algo ou alguém sobre a cabeça, desonra a sua própria cabeça.

Se tratarmos este versículo no contexto da metáfora, podemos entender que se o homem ora ou profetiza debaixo da autoridade espiritual de qualquer coisa ou pessoa (que não seja Cristo), ele estará desonrando sua cabeça, que é o próprio Cristo. Este é um ponto muito importante para ser entendido na vida comunitária da igreja. O senhorio de Jesus Cristo sobre a vida individual de cada homem não pode ser ofuscado por nada nem por ninguém. Na igreja não pode haver dominação de uns para com os outros (Mt 20:25-28; 23:8-10). Todos estamos debaixo da autoridade de um só, Cristo. É claro que as Escrituras nos mandam submeter-nos uns aos outros (Ef 5.21) e que nos deixemos ser liderados por irmãos que Deus levanta para nos ajudar em nosso discipulado a Cristo (Hb 13:7,17). Porém, não podemos nos esquecer de que um só é o nosso mestre e de que somos todos irmãos (Mt 23:8). 1Co 11:5-6 5 Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. 6 Portanto, se a mulher não está coberta, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, esteja ela coberta.

Para a mulher o ensino é diferente. Se ela ora ou profetiza sem estar debaixo da cobertura espiritual varonil, ela estará desonrando sua cabeça (marido para a casada, pai para a solteira, liderança da igreja para as demais). Certamente estavam ocorrendo problemas entre os coríntios por mulheres estarem se manifestando publicamente na assembleia sem considerar os varões. Paulo, então, faz uso de mais uma metáfora: se uma mulher orar ou profetizar sem estar debaixo da autoridade varonil é como se estivesse com sua cabeça rapada, sem cobertura. Assim como hoje em dia, naquela época isso seria uma coisa indecente, ainda mais pelo fato das prostitutas cultuais dos templos pagãos terem a cabeça rapada. Veementemente, Paulo afirma que se uma mulher quer viver sem cobertura, então que rape seu cabelo, a cobertura natural de sua cabeça dada por Deus. Trataremos mais sobre isso no versículo 15. Certamente, a cabeça rapada traria uma grande desonra. Essa metáfora é perfeita para mostrar como a atitude indevida da independência da mulher é vista por Deus. As irmãs precisam levar muito a sério este princípio espiritual de cobertura que é expresso tão claramente nas Escrituras ( ver Ef 5:22-24, Cl 3:18, 1Pe 3:1-6). 1Co 11:7-9 7 Pois, na verdade, o homem não deve ter a cabeça coberta, sendo a imagem e glória de Deus. Mas a mulher é a glória do homem. 8 Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. 9 Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem

Estes versículos ressaltam o propósito criacional do homem, feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26) para expressar Sua glória. Para isso, nenhuma outra cobertura espiritual deve haver sobre sua cabeça, senão o próprio Cristo. A mulher foi criada para ser ajudadora idônea do homem (Gn 2:18) para o cumprimento do seu propósito criacional, sendo sua glória. É importante olhar esses versículos à luz de Ef 5: 22-33, onde se mostra que o marido e a mulher expressam a maravilhosa realidade existente entre Cristo e a igreja. As mulheres devem se sujeitar aos seus maridos assim como a igreja se sujeita a Cristo, sendo a Sua glória, e os maridos devem amar suas mulheres como Cristo amou a igreja e se entregou por ela, e assim expressar a glória de Cristo. 1Co 11:10 Por isso, a mulher deve ter autoridade sobre a cabeça, por causa dos anjos.

Neste versículo fica claríssimo o que deve estar sobre a cabeça da mulher: a autoridade do homem, não outra coisa. Em algumas traduções aparece que a mulher deve ter sobre a cabeça um sinal de autoridade, mas a palavra sinal não aparece no texto original. Foi acrescentada para se adequar à interpretação desse texto de que a mulher deve usar um véu sobre a cabeça. Devido á ordem criacional, as mulheres devem estar debaixo de autoridade varonil. Isso significa que elas não devem tomar iniciativas por conta própria, sendo independentes de seus pais, maridos ou líderes, em especial nos encontros da igreja. Há uma razão a mais para isso: além de “estarem como rapadas”, no mundo espiritual isso está sendo observado pelos anjos. Esta última afirmação do versículo, “por causa dos anjos”, é de difícil interpretação. Trata-se de anjos de Deus, ou de anjos caídos? Não importando como interpretemos, o texto

nos fala que o fato de haver ou não autoridade sobre a cabeça da mulher tem reflexo no mundo espiritual. Como as irmãs devem levar isso a sério! Paulo afirma em outro lugar: 1Tm 2:11-14 11 A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. 12 E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o homem; esteja, porém, em silêncio. 13 Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. 14 E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.

Este texto deve ser visto à luz do texto que estamos estudando. A proibição é para o exercício da autoridade da mulher sobre o homem e não uma proibição absoluta da participação feminina nos encontros da igreja. Sem o respaldo de autoridade varonil a mulher deve ficar em silêncio. Porém, se está sob autoridade, a mulher pode orar e profetizar. A razão alegada para isso é a mesma, ou seja, a ordem criacional. O versículo 14 afirma que foi Eva quem foi enganada, não Adão. Ela, tomando iniciativa independente de Adão, foi enganada por Satanás. É claro que Adão depois também pecou, não porque foi enganado, mas por pura desobediência a Deus ao querer agradar sua mulher. Talvez a melhor explicação para a frase “por causa dos anjos” seja a condição de vulnerabilidade à operação de espíritos enganadores que as mulheres se colocam ao agirem sem a devida cobertura espiritual, à semelhança de Eva. 1Co 11:11-12 11 Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor. 12 Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus.

No Senhor, essa diferenciação entre homens e mulheres não faz um maior do que o outro. Eva veio da costela de Adão, mas todos os demais homens nasceram de mulher. Somos todos, homens e mulheres, criaturas de Deus, para Sua glória. Em Cristo não há mais distinção entre judeu e grego, escravo e livre, homem e mulher (Gl 3.28). 1Co 11:13-15 13 Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? 14 Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? 15 Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu.

Aqui Paulo apresenta outro argumento para a mulher estar sob autoridade, que é o fato natural universal do homem usar cabelo curto e a mulher cabelo comprido. É claro que não é uma regra absoluta, mas é algo que está “impresso” na consciência coletiva da humanidade. Seja nas Américas, na Europa, na Ásia, na África, no oriente, no ocidente, mesmo entre os índios, cabelo comprido para o homem não “cai bem”, enquanto que é “natural” para a mulher. Também, em condições normais, dificilmente uma mulher perde seus cabelos e fica “careca”, o que é muito comum entre os homens. É como se uma lei da natureza estivesse a testemunhar que as mulheres devem ter a cabeça coberta, mas os homens não. É muito sugestivo que a mulher sem a devida cobertura é vista no mundo espiritual como rapada (versículo 5), isto é, sem a proteção natural que deveria ter ao cumprir o propósito para a qual foi criada por Deus. 1Co 11:16 Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.

Esse assunto não era para ser objeto de discussões e controvérsias, mas para ser obedecido, assim como se fazia nas demais assembleias. Algumas considerações: 1. Muitos irmãos interpretam literalmente o termo “cobrir a cabeça” no texto de 1Co:11:216, ensinando que as irmãs devem usar véu nos encontros públicos da igreja. Porém, não encontramos nenhum outro texto correlato nas Escrituras que sugira esta prática, ou que indique a necessidade de um “sinal” exterior para representar uma realidade interior da submissão da mulher. Essa doutrina, com base em apenas uma agem bíblica isolada, não repousa naturalmente no testemunho das Escrituras. 2. Quando Paulo e Pedro tratam da submissão da mulher nas cartas para outras igrejas, eles, muito embora refiram-se ao traje das irmãs, nunca mencionam o uso do véu ou aparato exterior, mas sempre se referem a virtudes interiores:

1 Tm 2:9-11 9 Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, 10 porém com boas obras , como é próprio às mulheres que professam ser piedosas . 11 A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão; 1Pe 3:1-6 1 Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, 2 ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. 3 Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; 4 seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. 5 Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido, 6 como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma.

Observe que os textos recomendam, metaforicamente, que as mulheres se ataviem de traje que reflitam modéstia, bom senso, boas obras, espírito manso e tranquilo, e submissão a seus maridos. 3. Em Ef. 5:22-24 Paulo fala que as mulheres devem sujeitar-se aos maridos “como ao Senhor” e “como a igreja se sujeita a Cristo”. Podemos observar que a sujeição da igreja a Cristo não é demonstrada por nenhum aparato externo. Paulo aqui destaca novamente o fato de que o marido é a cabeça da mulher, e estende o fato de ser Cristo a cabeça da igreja, isto é, não apenas do homem, mas também da mulher. 4. Muitas interpretações tem surgido a partir de 1Co 11:2-16. Que essas diferenças não venham prejudicar a nossa comunhão em Cristo. Temos que aprender a conviver com essas diferenças, até que “aquele dia nos esclareça”. Que lindo estarmos juntos, com véu ou sem véu, de mãos dadas, olhando para Nosso Senhor e dizendo: “Maranata, vêm Senhor Jesus!”