10 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ECONOMIA ‐ O ESTUDO DA ECONOMIA GUIA‐SE POR ALGUMAS GRANDES IDEIAS
INTRODUÇÃO A palavra economia vem do termo grego e pode ser entendida como “aquele que istra o lar”. Embora pareça estranho, é certo que os lares e as economias têm muito em comum, pois tal como uma família, uma sociedade também se depara com muitas decisões. Assim, podemos dizer que economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam recursos escassos para produzir bens com valor e de como os distribuem entre os vários indivíduos. Embora o estudo da economia tenha muitas facetas, o campo é unificado por diversas idéias centrais – os Dez Princípios da Economia – os quais podem ser divididos em três grupos: I – Como as pessoas tomam decisões II – Como as pessoas interagem III – Como a economia funciona Em suma a economia é apenas um grupo de pessoas que interagem umas com as outras enquanto vivem. Como o comportamento de uma economia reflete o comportamento das pessoas que as compõem, começaremos o nosso estudo da economia com quatro princípios de tomada de decisões individuais. COMO AS PESSOAS TOMAM DECISÕES Principio 1: As pessoas enfrentam tradeoffs Em Economia, tradeoff é uma expressão que define uma decisão difícil de tomar, uma escolha que se tem de fazer, e que ocasiona inevitavelmente um problema. Para conseguirmos algo que realmente queremos, normalmente há necessidade de abrir mão de outras coisas que gostamos. Ao nos depararmos com a necessidade de tomar uma decisão,
estamos perante um problema econômico, que só aparece quando existe escassez e escolha. Assim num mundo de escassez, isto é, de recursos limitados, o provérbio “nada é de graça” resume bem a primeira lição sobre a tomada de decisões, que exige escolher um objetivo em detrimento de outro. “Numa sociedade deparamo‐nos com diferentes tipos de tradeoffs. O tradeoff clássico dá‐se entre “armas e manteiga”, ou seja, quanto mais gastamos em defesa nacional (armas) para proteger as nossas fronteiras de agressores estrangeiros, menos podemos gastar com bens de consumo (manteiga) para elevar o nosso padrão de vida interno.” Outro tradeoff que a sociedade enfrenta é entre eficiência e equidade. Embora os bens disponíveis numa sociedade sejam limitados, os seus desejos, pelo contrário, são ilimitados. Assim, é importante que a economia faça um uso dos seus recursos da melhor forma, isto é, da forma mais eficiente, em função dos desejos e das necessidades da população. Para isso, é necessário haver também Equidade, em que os benefícios procedentes desses recursos sejam distribuídos de forma justa entre os membros da sociedade. Por outras palavras, a eficiência refere‐se ao tamanho do bolo econômico enquanto que a equidade à maneira como o bolo é dividido. Assim, saber reconhecer os tradeoffs na nossa vida é tão importante como decidir por qual caminho optar. As pessoas somente poderão tomar boas decisões se compreenderem e reconhecerem as opções que têm disponíveis. Principio 2: O custo de alguma coisa é aquilo de que se desiste para obtê‐la Como se sabe, a escassez e a escolha estão fortemente ligadas. Se não existisse escassez seria possível ter todas as alternativas disponíveis, e assim não haveria a necessidade de se fazer escolhas. Desta forma, para se fazer uma escolha, é preciso sacrificar outra, isto é, existe um custo. “Quando uma pessoa decide se vai estudar economia, comprar um automóvel ou ir para a universidade, em qualquer um dos casos, deve ponderar qual o custo da decisão em termos de oportunidades perdidas.”
Assim, define‐se o custo da alternativa perdida como custo de oportunidade, isto é, é o valor do que melhor deixamos de fazer para fazer o que fizemos. Um exemplo disso é o caso da maioria dos estudantes, em que os salários que deixam de ganhar enquanto estão na faculdade, representam o maior custo de sua educação. “Repare‐se que, mesmo quando as alternativas podem ser medidas em dinheiro, o custo não é o dinheiro que se vai gastar. Esse é o custo financeiro ou monetário, que pouco tem a ver com o custo de oportunidade que estamos tratando.” Principio 3: As pessoas racionais pensam na margem Muitas das decisões tomadas durante a vida não podem ser tomadas de ânimo leve, isto é, tem que ser bem pensadas e ponderadas. Em muitos casos, as pessoas tomam as melhores decisões quando pensam na margem, determinando o quanto a mais de esforço é preciso despender para se obter maiores benefícios. Um bom exemplo é quando se tem já certa instrução e coloca em duvida se deve ou não ar mais um ano ou dois na faculdade. Para se tomar esta decisão é necessário saber quais os benefícios adicionais que um ano a mais na faculdade vai oferecer e quais os custos adicionais que você incorreria, só comparando esses benefícios e custos marginais é que se avalia se um ano a mais vale à pena. Em economia, o termo mudanças marginais é com freqüência utilizada para descrever ajustes desenvolvidos nos extremos daquilo que se está a fazer. Resumindo, uma pessoa ou empresa que toma decisões na margem, pode vir a ter um beneficio bastante superior nas decisões por si tomadas, visto poder analisar o problema e executar a ação se e somente se o beneficio marginal da decisão ultraar o custo marginal. Principio 4: As pessoas reagem a incentivos Por vezes, as pessoas são influenciadas na sua tomada de decisões, que, ao compararem custos e benefícios, podem alterar o seu comportamento em função da alteração desses custos e benefícios.
É de notar que, a própria forma como a economia formula custo e beneficio, implica diretamente uma decisão. “Beneficio é a utilidade do que se escolheu, e Custo é a utilidade do que se escolheria se aquilo que se escolheu não existisse. A escolha, sendo o objeto central da ciência, vai influenciar a forma de encarar estes elementos básicos.” Um exemplo que é do conhecimento de todos, é o efeito do preço sobre o comportamento dos compradores e dos vendedores num mercado. Ora, se um preço de bem diminui, influencia o consumo dos compradores e a uma maior produtividade pela parte dos produtores. Também na política podemos encontrar diversos tipos de incentivos, pois com alteração de leis, por exemplo, vai haver alteração de custos e benefícios para as pessoas, que alteram, portanto o seu comportamento. Considere‐se como exemplo o fato das pessoas usarem carros menores na Europa, onde os impostos sobre os combustíveis são elevados, do que nos Estados Unidos, onde esses são baixos. Contudo, as políticas públicas podem ter efeitos que não são tão óbvios antes de ocorrerem, por isso, “ao analisarmos qualquer política, precisamos considerar não apenas os seus efeitos diretos, mas também os indiretos que operam por meio dos incentivos.” COMO AS PESSOAS INTERAGEM Principio 5: O comércio pode ser bom para todos O comércio é há muitos anos o motor principal da nossa economia. Ao comercializarmos uns com os outros, podemos obter uma gama mais vasta de Bens e Serviços a um custo menor. A economia atual é baseada na especialização e na divisão do trabalho, que aumenta a produtividade dos seus recursos. A especialização, desta forma, faz com que as pessoas e os países concentrem os seus esforços numa determinada tarefa ‐ o que permite a cada pessoa e a cada país usar com vantagem as suas capacidades ou os seus recursos específicos. É muito mais vantajoso estabelecer uma divisão, dividindo a produção em pequenas etapas ou tarefas especializadas, em vez de toda gente fazer tudo, mas de forma medíocre. Desta forma, a eficiência da
especialização, torna possível a complexa rede comercial entre pessoas e países. A idéia de ganhos do comércio constitui assim um dos principais conceitos de Economia, onde “os diferentes indivíduos, ou países, tendem a especializar‐se em certas áreas, e, depois, envolvem‐se na troca do que produzem por aquilo de que necessitam.” “Considere, por exemplo, o caso do Japão, que tem crescido fortemente com a especialização na fabricação de bens como os automóveis e a eletrônica de grande consumo. Exporta muita da sua produção para pagar as importações de matérias‐primas.” Em resumo, o Comércio pode enriquecer todos os países e indivíduos que trocam voluntariamente, os produtos em que se especializaram por outros, aumentando consideravelmente a variedade e a quantidade de consumo, e elevando o nível de vida. Principio 6: Os mercados são geralmente uma boa maneira de organizar a atividade econômica Muitos dos países de hoje, já tiveram, em outros tempos, economias de planejamento central, aonde quem conduzia toda a atividade econômica era o Governo, decidindo assim que bens e serviços produzir, as quantidades a serem produzidas, e quem os produziria e consumiria. Hoje, a maioria dos países que tiveram economias de planejamento central abandonou esse sistema, na tentativa de desenvolver economias de mercado. Numa economia de mercado, considera‐se um sistema econômico moderno, que, como Adam Smith descreveu, é baseado na liberdade de iniciativa e no sistema de preços, lucros, prejuízos e incentivos. No seu livro de 1776, em A riqueza das nações, referiu ainda à existência de uma “mão invisível”, responsável por resultados favoráveis no mercado, onde os participantes da economia são motivados pelos seus próprios interesses, conduzem a um bem estar econômico da sociedade em geral. Desta forma, é alcança‐se a situação mais racional e cria‐se o melhor bem‐estar, ao qual chamamos mercado eficiente. As decisões do planejador central são substituídas, desta forma, pelas decisões de milhões de empresas e famílias em que as primeiras decidem
quem contratar e o que produzir e as segundas onde trabalhar e o que comprar com os seus rendimentos. Elas interagem no mercado, em que os preços e o interesse próprio guiam as suas decisões. Note‐se que, ao falarmos em mercado, estamos falando em um ambiente onde compradores e vendedores de um bem interagem para determinar o preço e a quantidade transacionada. O preço é, assim, o elemento mais delicado e sensível do sistema econômico. “Pode‐se dizer então, que, a abertura dos mercados é, hoje, a melhor forma de desenvolver a economia portuguesa, européia e mundial. E, ao mesmo tempo, eliminar o canal entre os países ricos e os países pobres, orientais ou outros. Permitir que todos vendam o seu produto livremente é uma oportunidade excelente que se apresenta ao progresso mundial.” Principio 7: As vezes os governos podem melhorar os resultados dos mercados Uma economia ideal seria aquela em que todos os bens e serviços sejam voluntariamente transacionados aos preços de mercado. Deste sistema seria extraído o benefício máximo de recursos disponíveis da sociedade, sem a intervenção do estado. Mas, na realidade, todas as economias de mercado sofrem imperfeições, pois para que a mão invisível funcione, esta precisa da proteção do governo para providenciar polícia e tribunais de modo a fazer valer os nossos direitos sobre aquilo que produzimos. Desta forma, o governo assume muitas tarefas em resposta ás falhas do mecanismo de mercado, intervindo na economia para que seja promovida eficiência e equidade. Em economia usa‐se a expressão falha de mercado em qualquer situação em que o mercado, por si só, não consegue fazer uma distribuição eficiente dos recursos. Podemos então dizer que foram identificadas duas grandes falhas de mercado. A primeira é a existência de poder de mercado, ou seja, uma distorção na concorrência. Se todos os produtores de um produto qualquer não tiverem o á mesma informação, por exemplo, ficam em posições desvantajosas, podendo até haver manipulação dessa informação. Nesses
casos o governo pode e deve intervir, regulando as situações da forma mais justa. O segundo tipo de falhas de mercado são as Externalidades, que ocorrem quando empresas ou indivíduos, impõem custos ou benefícios, a outros que estão fora do mercado. As Externalidades podem ainda ser negativas ou positivas. Como exemplo de Externalidades negativas temos a poluição do ar ou água. Para produzir o seu produto, uma fábrica usa trabalho, matéria‐prima, capital, e paga esses recursos. Mas para, além disso, ela também usa ar e água que não são pagos, e ainda são poluídos. Externalidades positivas são, em extremo, Bens públicos. A segurança e a defesa nacional, os jardins públicos, as estradas são exemplos de bens públicos. Contudo, dizer que o governo pode melhorar os resultados do mercado não significa que ele o fará. A política pública é feita por um processo político que está longe de ser perfeito, em que, por vezes são feitas por líderes bem intencionados, mas mal informados. Um dos objetivos do estudo da economia é ajudar‐nos a julgar quando uma política governamental é justificável para promover a eficiência ou a equidade e quando não é. COMO FUNCIONA A ECONOMIA Principio 8: O padrão de vida de um país depende da sua capacidade de produzir bens e serviços Quando viajamos através do mundo, vemos tremendas variações nos padrões de vida. Uma pessoa de classe média em um país rico, como os Estados Unidos, o Japão ou a Alemanha, tem uma renda mais de dez vezes maior do que uma pessoa de classe média de um país pobre, tipo Índia, Indonésia ou Nigéria. Essas grandes diferenças de renda refletem em grandes disparidades na qualidade de vida. Estas variações dos padrões de vida por todo mundo, é, de certa forma, fácil de explicar, através de uma só palavra: produtividade. O termo produtividade refere‐se á quantidade de bens e serviços que um trabalhador pode produzir por hora de trabalho. Assim, em países onde os trabalhadores apresentam uma elevada produtividade, a maioria das
pessoas desfruta de padrões de vida elevados. Da mesma forma, a taxa de crescimento da produtividade de um país determina a taxa de crescimento da sua renda média. A relação fundamental entre produtividade e padrão de vida é simples, mas as suas implicações são profundas para a política pública. Quando procuramos saber como alguma política afetará os padrões de vida, a questão chave é como ela afetará a nossa capacidade de produzir bens e serviços. Os formuladores de políticas tentam, desta forma, solucionar este problema através de ferramentas e equipamentos adequados, de uma formação dos trabalhadores na tarefa que estão a desempenhar, tendo o á melhor tecnologia possível. Principio 9: Os preços sobem quando o governo emite moeda demais Sabemos que o valor da moeda flutua com a sua abundância. Uma moeda abundante tem um valor baixo e, por isso, os preços de todas as coisas medidos nessa moeda são altos. Inversamente, uma falta de moeda faz descer acentuadamente o nível geral dos preços. O valor das coisas é, assim, representado por determinada quantidade de moeda, ao qual chamamos de preço. Geralmente, por motivos de gestão financeira, o Estado (mais precisamente o Banco Central) decide lançar um acréscimo de moeda na economia. Em primeira análise esta parece ser uma solução fácil para os problemas de pobreza do país. Mas, o que acontece na verdade é precisamente o contrário, visto que, se há mais moeda, o valor dela diminui, e os preços todos sobem. A este fenômeno chamamos inflação. Qualquer processo inflacionário é, assim, resultado de um excesso de moeda em circulação, por responsabilidade do banco central. Como uma inflação elevada impõe diversos custos á sociedade, mantê‐la em níveis baixos é um objetivo dos políticos de todo o mundo. Principio 10: A sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre Inflação e desemprego Outro problema que surge, a curto prazo, devido ao aumento de moeda na economia, é a um menor nível de desemprego. Através da Curva
de Phillips pode‐se verificar o tradeoff de curto prazo entre inflação e desemprego, isto é, Phillips provou que, anos com baixo desemprego tendem a apresentar baixa inflação. Assim sendo, em períodos de um ou dois anos a inflação e o desemprego tendem a seguir direções opostas. Os políticos podem explorar este tradeoff usando diversos instrumentos de política tais como: alterando o montante de gastos do governo ou o valor arrecadado de impostos ou mesmo o montante de emissões de moeda.
Tabela 1: Quadro síntese dos dez princípios da economia