Jnana Yoga O Caminho do discernimento e da verdade absoluta
Prof. Luis Antonio Lemes Bernegozi
Escola de Yoga Clássico de Sorocaba
1
Jnana Yoga - A iluminação através do conhecimento.
Poucos são os homens que pedem a verdade; Menor numero ainda ousa estudar a verdade; E, ainda mais insignificante é o total dos que ousam segui-las em todas as suas significações práticas.
O futuro do mundo que habitamos e do próprio ser humano reflete muitas dúvidas e questionamentos. Os problemas de ordem social, cultural e econômica nos têm levados a uma série de reflexões. Não bastasse isso, o ser humano neste último século afastou-se muito dos seus caminhos interiores seja filosófico ou espiritual. Claro que este é o momento de transformação, estamos em um ciclo evolutivo o qual os místicos têm chamado de nova era. Uma nova realidade de mundo está sendo formatada. Porém, temos que estar preparados para estas transformações, saber distinguir o falso do verdadeiro será o grande salto da humanidade, e isso tem que acontecer no âmbito interior individual em primeiro lugar. O ser humano tem que ser livre em seus atos e sinceros em suas ações, sendo assim seu melhor mestre é a sua conduta, seu comportamento, sua filosofia de vida e sua espiritualidade. Somos diariamente iludidos por uma série de falsos apelos, modernismo inúteis e vazios de sentido, propaganda de massa e falsas tendências, informações distorcidas. Tais fatos só atendem interesses pessoais de certos grupos ou pessoas, porém envolvem e manipulam a grande maioria, que infelizmente degradam o mundo e leva o homem a decadência. Sabendo de tudo isso os sábios Hindus a muitos séculos atrás codificou e organizou um sistema de discernimento chamado JNANA Yóga, também chamado caminho do conhecimento autotranscendente ou caminho da verdadeira sabedoria, com um simples objetivo: em que em meio a toda agitação do mundo o ser humano possa viver em paz, tanto exteriormente como interiormente. Conceitos Clássicos. Jnana Yóga ou Gnana Yoga: da raiz (sânscrita jna) literalmente significa verdadeira sabedoria. Baseada no sistema “vedanta” de não dualismo e tendo os vedas como conhecimento visto. E que tudo se distingui entre: ilusão, realidade verdadeira, fanatismo, radicalismo e o dogmático. O jnana segue uma linha de pensamento e inteligência viva e profunda. Estruturação do Jnana Yoga Para ser um adepto desse sistema o yoguin ou yoguine deverá seguir determinados preceitos básicos (técnicas), atingindo assim com mais facilidades seus objetivos superiores. Conforme os textos clássicos tradicionais os setes preceitos que são:
2
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
O discernimento. O desapego. As seis virtudes. A auto-realização ou libertação. A audiência atenta. A reflexão verdadeira. A meditação.
O discernimento: (viveka) entre o real e o irreal, o ser e o não ser (atman ou anatman), o finito ou infinito, o permanente e o impermanente. Trabalhando isso o yogue desenvolve todos os potencias sutis da mente e ao mesmo tempo reflete-se como uma via de busca da realidade absoluta (brahman). Dentro deste preceito ainda temos três graus de realidade. a) A realidade da aparência: que é tal como um sonho, ou uma visão de decorrências geradas pela ilusão. Que às vezes logo se dissipa. b) A realidade formal ou aparente: que é a experiência cotidiana e está submetida a continuas mudanças e transformações. Situações ou formas aparentemente reais, ou reais somente no momento presente. c) A realidade absoluta: aquela que é idêntica e imutável em qualquer situação e em todos os estados de consciência e jamais é influenciada por qualquer outro fator, (essência pura) - Shankaracarya 54 e 55. d) Desapego: (vairagya), de valores efêmeros e ilusórios, exemplificando o desapego como desinteresse por todos os objetos de prazer que, de uma forma ou de outra podem ser obtidos nesta ou em outras vidas.
O yogue deverá revelar seu desapego aos objetos de prazer terrenos, impermanente e irrelevantes.
3
As seis virtudes: (sad-sampat). 1. Sama – é o controle da mente e a erradicação dos desejos, resultado da harmonia e paz interior. 2. Dama – é o controle dos sentidos, que prioriza a harmonia dos órgãos da ação e percepção. 3. Uparam – é o estado de contentamento interior que resulta na cessação das necessidades exteriores. 4. Titiksa – é a força para ar, sujeitar-se, tolerar, que resultará na ampla paciência, esforço e coragem frente a qualquer obstáculo. 5. Sraddha – é ter fé, acreditar o que origina a estabilidade do espírito. 6. Samadhama – é o equilíbrio da mente, resulta a uma firme convicção no fato.
A auto-realização ou libertação: (mumuksuta),quando o ser humano possui todas as qualidades anteriores definidas, aliada também a um profundo espírito de humildade já estará no plano concreto da auto-realização ou libertação. Audição: (sravana), para poder distinguir, também, o que é um ensinamento e o que não é. Reflexão verdadeira: (manana), sobre tudo que foi ouvido, eliminando os questionamentos e fortalecendo cada vez mais, a convicção por meio correto do raciocínio. A meditação: (nididhyasana), sobre o correto raciocínio absorvendo-se ao final somente no absoluto e em sua eternidade. Fortalecer as práticas através do conhecimento significa o esplandecer do despertar interior, da iluminação. Tornar esse fortalecimento constante e permanente é um dos principais objetivos e esforços da realização (sadhana). Por outro lado não se deve crer na simples compreensão intelectual da verdade seja suficiente para atingir o verdadeiro conhecimento interior. Para isso é preciso vencer as barreiras do comodismo, transando os limites da covardia e, quebrando as muralhas das nossas prisões anteriores permeadas ou mascaradas por falsas imagens, falsos conceitos, preconceitos, ambições e ilusões. Veja o sábio Shankaracarya em seu aforismo 133 “Essas pessoas que são muitos hábeis em falar e discutir o absoluto, mas que não o realizaram pessoalmente, e, o que é pior, está cheios de apegos, renascem e morrem ainda, muitas vezes em conseqüência da sua ignorância”.
4
Obstáculos no caminho da espiritualidade
1. A distração ou falta da concentração: os quais são causados pelos pensamentos dispersos e constantes, geralmente insignificantes. Eles são quase sempre, acompanhados de lembranças, legiões de desejos, duvidas, tormentos ou ainda pequenas tolices da mente, tais como formigamentos, coceiras, vontades ou bobagens mais. 2. O apego e os desejos: provocados na sua grande maioria por sensações emocionais, falsas necessidades, lembranças ou memórias de experiências adas. 3. A preguiça e a sonolência: talvez esse seja as maiores inimigas de grande parcela dos praticantes, que deixam arrastar por elas como se fossem seus escravos perpétuos, incapazes de superá-los ou combatê-los. Gerando inércia, perda de interesse e adormecimento mental. 4. A satisfação por um estado de realização ageiro: a medida que não esteja consciente dessas situações e se iluda com elas, diminuirá seus esforços para ir mais além.
O Liberado vivo (Jivam Mukta) O sutra 47 de Shankaracarya “O praticante que atingiu a iluminação completa vê pelo olho do conhecimento o universo inteiro como seu próprio eu, e vê a si mesmo com um presente em tudo”. O verdadeiro conhecimento da unidade do “eu” (subjetiva ou objetiva), é o único meio para se alcançar a completa libertação dos laços do ego e da escravidão dos sentidos. Tais laços, na matéria especialmente, são as causas da miséria, dos sofrimentos e da infelicidade dos seres humanos, assim chamados de trevas da ignorância. Pela clara influência da ignorância o “Eu” Individual e, limitado julga-se móvel e sujeito ao nascimento e a morte além de todos os outros processos, fatos e ocorrências inerentes aos mesmos.
5
Os seis os do Jnana em busca da verdade absoluta:
1. Um sincero procurador da verdade não adora uma divindade pessoal (como o bhakti yóga), ele procura compreender claramente a verdadeira significação de seus atributos, e também enxergar que todas as concepções de uma divindade pessoal são limitações grosseiras, já que o absoluto é sem forma e ilimitado. 2. Um praticante de jnana não venera nenhuma entidade ou divindade. Para ele, as preces e devoções em tais circunstâncias, são desnecessárias e inúteis. Também não busca qualquer proteção ou auxílio sobrenatural ou divino, pois é consciente da natureza do “eu” e sabe que o mesmo está acima do bem ou do mal, dos vícios e das virtudes. 3. O Jnana Yogue sabe que ele não pode desta forma, ser limitado pelas leis primárias que reinam sobre a natureza, mesmo em um plano inferior. Já que há outras leis em outros planos. 4. Um verdadeiro praticante de jnana procura constantemente estar acima de todas as condições fenomenais limitadas e relativas. 5. Um jnana Yogue sabe que a ignorância faz com que o ser humano pense que o “eu” seja algo ligado ao mundo exterior, tal como bens materiais, lar, família etc. Um dos pensamentos mais comuns e grosseiros e de que o corpo é o “eu” e que, por isso esteja sujeito as situações como juventude e velhice, saúde e doença, beleza e feiúra. Há aqueles ainda que, mergulhados nessa situação, relacionem até mesmo os órgãos dos sentidos com o “eu”, acreditando que o “eu” possa ser cego, surdo e às vezes mudo. E por final existem os que intitulam o “eu” como um conjunto de energias vitais, quando se sabe que este composto faz parte de um veículo de transporte do “eu”. 6. Um verdadeiro jnana sabe distinguir o “eu” do “não eu”.
As quatro grandes afirmações dos Textos sobre Jnana!
1. Tu és isso (Tat twan asi): verdade, conhecimento e infinidade. 2. Eu sou o absoluto (Aham Brahmasmi): incondicionado ao ilimitado, sem começo nem fim. 3. Esse “eu” é o absoluto (Ayam Atma Brahman): Felicidade e perfeição não são atributos do absoluto e sim o próprio absoluto, é a causa e o efeito sem um fenômeno. 4. O absoluto é consciência (Prajnanam Brahman): inexplicável, imensurável, sem sentido.
6