Formas na Moda
SENAI – Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil – CETIQT
istração Nacional do SENAI Robson Braga de Andrade Presidente do Conselho Nacional do SENAI
Rafael Lucchesi Diretor Geral do Departamento Nacional do SENAI
Conselho Técnico-istrativo do SENAI/CETIQT Aguinaldo Diniz Filho Presidente
Conselheiros Antonio Carlos Dias João Batista Gomes Lima José Francisco Veloso Ribeiro Leonardo Garcia Teixeira Mendes Luiz Augusto Barreto Rocha Luiz Augusto Caldas Pereira Maria Lúcia Paulino Telles Pierangelo Rossetti Rolf Dieter Bückmann istração do SENAI/CETIQT Alexandre Figueira Rodrigues Diretor Geral
Renato Teixeira da Cunha Diretor de Educação e Tecnologia
Dácio Lara de Lima Diretor de Operações
Sérgio Sudsilowsky Jorge Caê Rodrigues
Formas na Moda
SENAI/CETIQT Rio de Janeiro, 2011 3
Copyright
2010. SENAI/CETIQT
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros sem prévia autorização, por escrito, do SENAI/CETIQT e do(s) autor(es).
DET – Diretoria de Educação e Tecnologia CA – Coordenação Acadêmica PE – Coordenação de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão NEAD – Núcleo de Educação a Distância
Equipe Gestora Simone Aguiar C. L. Maranhão Coordenadora Acadêmica
Ana Cristina Martins Bruno Coordenadora de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão
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Equipe técnica Coordenação Geral: Ana Paula Abreu-Fialho Consultora técnica: Gláucia Centeno Design Educacional: Cristina Mendes e Flávia Busnardo Revisão: Paulo Alves Projeto Gráfico: Nobrasso Branding, design & web Diagramação: Rejane Megale Figueiredo Ilustrações e edição de imagens: José Carlos Garcia Normalização: Biblioteca Alexandre Figueira Rodrigues – SENAI/CETIQT Impressão e acabamento: MCE Gráfica Apoio Departamento Nacional do SENAI
Ficha catalográfica Sudsilowsky, Sérgio. Formas na moda / Sérgio Sudsilowsky; Jorge Caê Rodrigues. Rio de Janeiro: SENAI/CETIQT, 2010. 156 p.: il. ISBN: 978-85-60447-51-0 1. Moda. I. Rodrigues, Jorge Caê. II. Título. CDU 391 SENAI/CETIQT Rua Dr. Manuel Cotrim, 195 – Riachuelo 20960-040 – Rio de Janeiro – RJ www.cetiqt.senai.br
Sumário |
Apresentação
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Aula 1
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As formas da Moda: O que é forma?
Aula 2
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Tipos de formas e suas relações com a moda – Parte 1
Aula 3
47
Tipos de formas e suas relações com a moda – Parte 2
Aula 4
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História da forma no século XX
Aula 5
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Período entre guerras e a Segunda Guerra Mundial (1919 -1945)
Aula 6
103
Da reconstrução da Europa à ascensão do Império Americano
Aula 7
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Retomando ou propondo: da contracultura ao pop – movimento dos Anos Rebeldes (1961 – 1970)
Aula 8 A re-invenção da Forma: fontes de referência para o uso da FORMA em alguns dos caminhos apontados na contemporaneidade
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Apresentação |
Nesta disciplina, vamos recapitular conceitos importantes sobre Moda, como: corpo, roupa, indústria, tecnologia, confecção, mercado e sociedade. A ideia é que você possa, a partir do estudo deste material, entender algumas das relações existentes entre a moda, o corpo para o qual projetamos e as formas que as roupas assumem. Para isso, vamos fazer um eio pelos mais significativos movimentos artísticos do século XX, mostrando como as Formas apareceram e foram utilizadas neles. Você verá também como foram estabelecidas as relações entre as Formas utilizadas nas Artes Plásticas, Moda, Design e Arquitetura. Por fim, chegaremos às relações existentes entre a Moda e o seu entorno, representadas através das Formas, e apresentaremos possibilidades e caminhos para a Forma na Moda Contemporânea. Bons estudos!
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Aula
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As formas da moda: O que é forma?
Seus Objetivos: Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. identificar a evolução do conceito de forma em diversos âmbitos do conhecimento humano; 2. reconhecer que as formas são percebidas a partir de um referencial.
3 horas de aula
Formas na Moda
1. O que é forma? Podemos considerar como a motivação fundamental deste nosso trabalho na disciplina “Formas na Moda” a busca por responder às seguintes perguntas:
Por que os seres humanos precisam conhecer as FORMAS? De que maneira o conhecimento sobre a FORMA pode ajudar o profissional que atua com Moda e Design a desempenhar (melhor) sua profissão? Para que servem as FORMAS?
Essas questões podem ainda se desdobrar em muitas outras, mas quando ocorre o desdobramento dessas questões? Ocorrem a partir do momento em que nós reconhecemos as formas como parte das nossas ferramentas de trabalho, uma vez que percebemos o mundo através de forma, pensamos através de formas, já que vivemos em um mundo de formas!
Fonte: StockXchange | Foto: mckenna71
Fonte: StockXchange | Foto: Margarit Ralev
Fonte: StockXchange | Fotos: Antônio Jiménez Alonso
Você já havia se dado conta de que as formas estão presentes a todo o momento em nosso dia a dia?
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Aula 1
Mas, para um aluno universitário, sobretudo os de pós-graduação, só essa constatação não basta: desenvolver a percepção, a observação, e a interpretação do mundo que nos cerca só têm sentido se desenvolvermos outra habilidade, a da reflexão, do pensamento estruturado: “Embora, em cada momento histórico, seja comum atribuir valores diferentes à ciência e à arte, não se pode negar a existência entre a razão e o sensível, entre o conceito teórico e a percepção estética, entre o conhecimento científico e a expressão artística, entre a teoria e a prática [práxis]. A teoria (saber) faz surgir uma nova prática (fazer); a partir de uma reflexão sobre essa prática surgirá uma nova teoria, da qual resultará uma nova prática, e assim indefinidamente [grifo do professor].” (PERAZZO, 2000, p.5)
Perazzo (2000) nos fala, nesse trecho, de um movimento essencial para o desenvolvimento de qualquer atividade humana, uma espécie de “retroalimentação”, já que a teoria tem como funções organizar, fundamentar e/ou direcionar a prática, enquanto a prática, quando submetida à reflexão crítica, gera novas percepções sobre a teoria. A teoria, diferente do que o senso comum acredita, não é um conjunto normativo e inflexível, mas sim algo que precisa mudar e adequar-se às novas realidades, aos novos tempos, aos novos espaços, às novas sociedades, aos novos modos de pensar e fazer etc. Assim, teoria, prática e crítica (reflexão) formam um tripé. Ampliamos nossa habilidade de estruturação do pensamento no momento em que nos utilizamos das teorias existentes para fundamentar a nossa atuação prática e, em seguida, refletimos
sobre as me-
lhores práticas geradas no ato do fazer, a fim de validarmos a teoria usada ou de formularmos novos conceitos que alimentarão novas práticas e, consequentemente, novas possibilidades de
A teoria fundamenta a prática que, submetida à reflexão, alimenta o conhecimento teórico.
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Fonte: StockXchange | Foto: Leo Cinezi
atuação profissional.
Formas na Moda
Trazendo isso para a nossa temática, conhecer bem as formas (a teoria sobre elas) é imprescindível à nossa prática profissional, para que não fiquemos simplesmente a repeti-las e perpetuá-las. Tal conhecimento é de grande importância para o profissional de Moda, que sempre é pressionado para inovar, propor novas formas, ser “original”, “incomum” etc. Assim, conhecermos alguns conceitos e as imagens que ilustram, “conformam” estes conceitos – o que é forma, quais os principais tipos de forma, que elementos compõem as formas – é o que faremos a partir de agora.
2. Conceituando – Vários significados ao longo do tempo... Para entendermos um conceito, é preciso saber como ele surgiu – o significado original da palavra - e quais os principais significados que ele foi assumindo ao longo do tempo. A busca ou “investigação” pelo entendimento de um conceito é extremamente útil e pode ser bem divertida – deveria ser um hábito de todos nós! – pois geralmente descobrimos o porquê das coisas terem os nomes que têm, além de, muitas vezes, mostrar-nos que geralmente aceitamos como “verdade absoluta” o que prega o senso comum, o que todo mundo “fala”, sem contestar. Etimologia: É a ciência que estuda a origem das palavras e o significado que elas assumem ao longo do tempo e em lugares diferentes.
Assim, nada melhor do que recorrermos ao dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2010) para uma rápida conceituação do termo FORMA. Etimologicamente, o substantivo “forma” surge no latim do século XIII, significando uma série de coisas, muitas delas sem ligação direta, óbvia. Alguns significados de forma estão representados na tabela a seguir:
Significados que a palavra forma assumiu ao longo do tempo.
Forma como:
Significados
aparência, semelhança
Essas palavras (substantivos), quase sinônimas, associam forma ao que é visto externamente nas “coisas”, “aspecto exterior dos corpos materiais”, “modo sob o qual uma coisa existe ou se manifesta”. Um conceito bastante abstrato é como as “coisas” se parecem com outras, a partir do nosso repertório, a ponto de podermos identificá-las como pertencentes a um grupo de coisas. Por exemplo, “cachorro” é uma categoria que possui determinadas características a ponto de um pitbull e um poodle serem reconhecidos como semelhantes, por serem cachorros.
beleza, formosura
Qualidades. Também eram sinônimas de forma. Também um conceito bastante abstrato, a ponto de se constituir uma ciência para estudá-los – a Estética, ramo da filosofia que estuda o Belo. 13
Aula 1
imagem, desenho
A “coisa” aqui também nomeia a representação dela mesma, isto é, a representação (concreta) também é chamada de forma. Por exemplo, o desenho de uma casa, seu projeto, não é a própria casa, mas sim sua imagem, uma representação.
maneira, aspecto.
Palavras que, também têm os significados próximos. Neste caso, se associarmos forma a um “jeito” de fazer algo, por exemplo, continuamos no campo da abstração. Outros desdobramentos deste conceito originarão palavras, como “molde” (a “fôrma” do bolo), “modelo” (formatação de um texto) e “modo”, palavras de onde surgiu a palavra Moda.
Fonte: StockXchange | Foto: Dorte Krogh Nielsen Fonte: Wikipédia Fonte: StockXchange | Foto: ibon san martin Fonte: StockXchange | Foto: sanja gjenero Fonte: Picasa Web | Foto: Steal Their Style Fonte: StockXchange | Foto: Maria Herrera
retrato, estátua
Formas como sinônimos de objetos concretos, não mais de ideias abstratas (mas ainda substantivos), ou seja, ao mesmo tempo em que a forma era algo abstrato, também poderia ser algo concreto. Confuso? Nem tanto: ainda hoje costumamos chamar de “Bombril” (marca, nome de uma empresa) o produto “palha de aço” (objeto concreto).
Observem como os conceitos apresentados podem se relacionar com as imagens acima, sobretudo naqueles mais subjetivos.
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Formas na Moda
Outros sentidos... be desde o seu surgimento uma série de associações, tendo simplesmente sua entonação levemente modificada, ganhando um “ô” e ando a ser usada para uma série de outras coisas, como para assar pão e bolo e fazer tijolos e bibelôs: “forma /ô/ = molde, caixilho, moldura etc.
Fonte: Flickr | Foto: Janelle
Além das variações citadas, a palavra forma rece-
Como podemos observar, desde o seu início, a palavra forma já assumia diversos significados e, com o ar do tempo, vai ganhando outros, como se fosse assumindo novas “roupas”, novas camadas, quase se tornando uma palavra “coringa”. Assim, forma entra no vocabulário popular e torna-se uma palavra genérica, que é utilizada em vários contextos – da Matemática à Biologia, das Artes Plásticas à Linguística -, já que este conceito se adéqua, como vimos, tanto às entidades concretas, dando nomes a coisas do mundo “real”, quanto às entidades abstratas, ideias que am por nossa cabeça, e até modos de fazer as coisas, os “jeitos” e “maneiras”. De maneira geral, forma às vezes é adjetivo, advérbio de modo e substantivo. Concluindo, hoje forma é sinônimo tanto de:
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Aula 1
Atividade 1 – Objetivo 1 Como você pode perceber, a palavra forma atualmente é uma palavra “coringa”, que apresenta diversos significados. No mundo da moda, esta palavra é muito utilizada. Faça um levantamento em revistas ou jornais especializados em moda, buscando identificar frases que tenham a palavra forma e selecionando três delas onde esta palavra apareça com significados diferentes. Identifique o significado presente para esta palavra em cada frase e justifique. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________
Resposta Comentada Matéria da Revista Elle Brasil (Julho de 2010)
AS TOP TENDÊNCIAS DAS SEMANAS DE MODA DE INVERNO Arquitetura • Militarismo • Nômade urbano • Novo Luxo • Couro • Textura • Esporte Fashion • Lingerie • Mix and Match • Preto Chic
“Formas arquitetônicas - Pedaços de tecido lembram tijolos, curvas invadem saias e volumes em 3D garantem modernidade” A palavra forma, presente na manchete da revista Elle (http://elle.abril.com. br/desfiles/spfw/semanas-de-inverno-top-10-tendencia-formas-arquitetonicas -532174.shtml) pode representar dois conceitos, assumindo tanto o significado de “formato”, uma vez que se refere às figuras geométricas propriamente ditas (curvas), além de elementos arquitetônicos (tijolos) como também pode significar aparência (o uso do verbo lembrar enfatiza esta interpretação).
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Formas na Moda
3. Percebendo as formas Podemos afirmar que o homem sempre procurou nomear e entender as formas. Desde os filósofos gregos da Antiguidade Clássica (os famosos Sócrates, Platão, Aristóteles e outros mais) e matemáticos (Pitágoras) até os dias atuais, a forma – e como nós a percebemos – intrigou os estudiosos. Toda esta “curiosidade” a respeito das formas levou ao surgimento de diversas correntes de estudo que só se interessaram nelas – a Geometria, por exemplo, é o campo específico da Matemática que se ocupa do estudo da forma, principalmente com relação a sua construção. Porém, só no final do século XIX é que vai surgir uma das primeiras correntes de pesquisadores que se debruçaram sobre o estudo da percepção da forma, composta por diversos psicólogos e médicos europeus, que iniciaram as suas pesquisas, observando macacos e bebês humanos. O conjunto de teorias pesquisado por estes doutores ficou conhecido como Teoria da Gestalt ou Teoria da Forma, em tradução livre.
Grandes nomes da Gestalt Max Wertheimer (1980-1943) foi um psicólogo checo que se dedicou ao estudo do processo psicológico da aprendizagem. Seu objetivo foi o de dar uma visão mais profunda e fundamentada sobre os processos do pensamento dos quais emerge a aprendizagem.
Kurt Koffka (1886 - 1941), psicólogo alemão,
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: imagem em domínio público
Gestalt: É um termo alemão que não possui tradução precisa para o Português, podendo significar forma, estrutura e até mesmo configuração. A teoria da Gestalt tem como principais teóricos os médicos alemães Wertheimer, Koehler e Koffka.
um dos fundadores da Gestalt. Publicou a obra “Princípios da Psicologia da Gestalt” (1935).
Wolfgang Köhler (1887-1967) nasceu na Estônia, mas a partir de 1910 se juntou a Kurt Koffka e a Max Wertheimer no Instituto de Psicologia em Frankfurt, Alemanha, para a formulação da teoria psicológica Gestalt. Em 1913, deixou Frankfurt para se tornar o diretor da estação de pesquisa antropoide na Academia Prussiana de Ciências, em Tenerife, nas Ilhas Canárias. Estudou sobre a percepção humana e em animais, e sobre a capacidade dos chimpanzés em resolver problemas.
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Aula 1
Para os pesquisadores dessa teoria, tanto a percepção da forma quanto a do movimento são integradas na atividade cerebral e atuam por processos, como identificação, classificação e codificação, gerando “esquemas” que vão tornar a percepção futura de elementos semelhantes mais fácil (até mesmo mecanizada). Estes esquemas dependem, em grande parte, de outros mecanismos, como a aprendizagem, a atenção, o raciocínio, a memória e, também, das estruturas da linguagem (adaptado de VERNON, 1974, p.3). A Teoria Gelstalt, a grosso modo, funciona como um modelo de interpretação para a percepção das formas, partindo de princípios (ou “leis”) como: • “figura e fundo” – lei segundo a qual só percebemos qualquer coisa no fundo porque contrapomos imagens, assumindo que o que está no primeiro plano corresponde à “figura” (ou imagem) e tudo o que faz
Fonte: Flickr | Foto: Sven Laqua
parte dos outros planos equivale ao “fundo”
• “fechamento” – uma das leis mais importantes do conjunto proposto pelos gestaltistas, ela afirma que o nosso cérebro possui uma tendência natural para “completar” imagens onde faltam pedaços ou aquelas que são apenas sugeridas. Parece que o nosso cérebro busca sempre “organizar” as imagens, a fim de dar significados ao que vemos.
A lei do fechamento demonstra a nossa capacidade de observar o todo e as partes isoladamente, compreendendo o todo.
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Formas na Moda
• “pregnância da forma” – quanto mais simples e conhecida for uma forma, quanto mais fácil de lembrar e de reproduzir, mais “pregnante” ela será. Para exemplificar, lembrem-se da marca da Rede Globo – um círculo externo, com um quadrado desenhado no centro que, por sua vez, possui outro círculo no seu interior. Outro exemplo pregnante é o vestido trapézio: todo mundo que conheça a forma trapezoidal iden-
Fonte: Flickr | Foto: bandita
tificará um vestido deste tipo.
Observem a simplicidade do vestido da imagem: se alguém pedir para vocês desenharem este vestido será fácil de lembrar, não é mesmo?
Existem mais algumas outras leis propostas pelos teóricos da Gestalt (são entre 17 e 22, a depender da interpretação dos textos originais), porém não nos aprofundaremos nelas agora. Para saber mais, consulte a bibliografia indicada ao final desta aula e visite os links oferecidos. Segundo os teóricos gestaltistas, perceber o ambiente só é possível, porque percebemos as formas e estas só existem, porque existe a cor – identificamos as coisas no mundo, a partir do momento em que diferenciamos as suas cores em relação ao seu entorno - e porque estamos sempre estabelecendo comparações: a forma nada mais é do que uma área colorida que “aparece” ao se contrapor (ou sobrepor) a outra e nós percebemos uma e outra, porque comparamos as duas. Assim, uma forma só é visível porque possui cor e porque estabelecemos uma separação/comparação entre “massas” (ou “campos”) de cores diferentes. Atente ao fato de que as coisas que nos cercam não possuem “linha de contorno”, ou seja, não possuem outra maneira de serem separadas umas das outras (visualmente falando) se não for pela diferença de áreas coloridas. 19
Fonte: StockXchange | Foto: Lease Roe
Fonte: StockXchange | Foto: Davide Guglielmo
Fonte: StockXchange | Foto: Jeff Prieb
Aula 1
Observem que, apesar de possuírem as mesmas formas, a cor modifica completamente a percepção. Notem como os pontos que marcam os números nos dados parecem ter tamanhos diferentes, dependendo do contraste com a cor da face.
Segundo o pressuposto da teoria Gestalt, a percepção só ocorre, quando “vemos” uma forma (ou padrão, isto é, é a repetição do estímulo de visualizarmos uma forma que nos permite apreendê-la). Sempre estabelecemos esta percepção a partir da contra-
considerada pelos gestaltistas como o “primeiro estágio da percepção”, de onde todas as demais percepções decorrem. O que você vê na imagem ao lado?
Fonte: Wikimedia Commons
posição entre uma figura (ou imagem), o elemento em que focamos nossa atenção – e o fundo. A “aparição” da figura, em contraste com um fundo qualquer, é
Os pesquisadores da Gestalt partiam de um pressuposto: eles acreditavam que a percepção da forma era “inata” aos humanos, ou seja, eles acreditavam que o bebê humano já nascia com o conhecimento das formas. O que não fazia parte deste conteúdo inato era a “nomeação” das formas, isto é, desde bebês somos capazes de reconhecer as formas, mas precisamos aprender seus nomes, já que isto é informação que depende de um repertório. Diversos estudos (dos próprios gestaltistas, além dos feitos por Winnicot e Piaget, estudiosos da psiquê humana e dos processos de aprendizagem) demonstraram que, com o ar do tempo, ainda na fase de bebê, começamos a identificar com mais precisão as formas e cores (principalmente quando adquirimos a linguagem falada, já que é mais fácil identificar as coisas através de seus “nomes”), e estabelecemos relações de proximidade, semelhança, tamanho etc., assim como iniciamos processos de contagem e classificação de elementos.
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Repertório: Conjunto de conhecimentos dos quais dispomos para dar significado ao mundo que nos cerca.
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: imagem em domínio público
Formas na Moda
Os objetos mais próximos entre si são percebidos como grupos independentes dos mais distantes. Nesta imagem, há quatro grupos, mas os três conjuntos da direita ainda podem ser agrupados entre si, distinguido-se do
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: imagem em domínio público
conjunto da esquerda, e aí temos dois grupos – percepção de proximidade.
Os objetos similares em forma, tamanho ou cor são mais facilmente interpretados como um grupo. Nesta imagem, os círculos brancos e pretos parecem se agrupar, mesmo que a distância entre as fileiras sejam iguais – percepção de semelhança.
Assim, seja uma característica inata, seja adquirida, a percepção das formas – ou melhor, do mundo como um todo – desenvolve-se de maneira lenta e gradual ao longo dos primeiros anos de vida humana e depende, sobretudo, da curiosidade e da capacidade que possuímos de separar as informações que captamos no mundo, analisá-las e reorganizá-las, adicionando significados. Para a Gestalt, nossa percepção sempre será global, em um primeiro momento e, só depois, perceberemos as partes que compõem este todo, ou seja, percebemos as imagens na íntegra desde o primeiro momento em que as vemos, para somente depois percebermos seus detalhes. Ao iniciarmos o processo de decomposição da imagem em formas “menores”, mais “simples”, cada uma destas partes é percebida como “um novo todo”, já que pode possuir características particulares que não são, necessariamente, importantes para o “todo anterior”.
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Fonte: StockXchange | Foto: Harrison Keely
Aula 1
O olho a a ser percebido como um novo “todo”.
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: imagem em domínio público
Atividade 2 – Objetivo 2
a) Observe a imagem. Aproxime-a bem. O que você percebe? __________________________________________________________________ b) Observe novamente a imagem. Afaste-a bastante. O que você percebe? __________________________________________________________________
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Formas na Moda
c) De acordo com a teoria da Gestalt e baseado na imagem anterior, que relações você pode estabelecer entre a sua percepção da figura e a teoria? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________
Resposta Comentada O nome desta imagem é “Tudo é Vaidade”, por C. Allan Gilbert (sem ano). Nela, a vida, a morte, a vaidade e o significado da existência estão interligados. Nela podemos ver uma mulher se olhando no espelho ou um crânio humano, dependendo do que focarmos a nossa atenção, elegendo como figura (ou “assunto”) da nossa observação. Assim, dependendo de como olhamos para esta imagem, podemos observar um “todo” diferente, ainda que seja composto pelas mesmas linhas. Isso ocorre por causa da nossa percepção global das coisas, que sempre é prévia a uma observação mais apurada. Ao olharmos para uma imagem qualquer, o nosso cérebro procura imediatamente na nossa memória (repertório, conhecimento prévio) algo semelhante para que esta imagem seja compreendida e, então, significada. Só depois é que veremos os seus detalhes, percebendo outros “todos” dentro da mesma e, muitas vezes, ressignificando-a.
Conclusão No início desta aula, fizemos três perguntas-chave para a conceituação de “formas”: “Por que precisamos conhecer as formas?”, “De que maneira o conhecimento sobre a forma pode ajudar o profissional que atua com Moda e Design a desempenhar (melhor) sua profissão?” e “Para que servem as formas?”, mas apenas esboçamos uma resposta para a primeira delas. Começamos a partir do significado da palavra, por acreditar que uma ideia só pode ser realmente assimilada se sabemos bem o que ela significa. Assim, podemos perceber que a palavra “forma”, tão arraigada no nosso cotidiano, possui sutilezas em seus aspectos, sendo muitas vezes sinônima de “aparência”, “beleza”, “modelo”, “desenho”, entre tantos outros, ao ponto de tornar-se objeto de estudo de diversas ciências, como a Estética, a Geometria, a Física, entre muitas outras. 23
Aula 1
Dessa denominação, partimos para a apresentação de algumas teorias e conjuntos de conhecimentos importantes, como a Psicologia da Percepção, desenvolvidos basicamente no último século, voltados para a compreensão, a percepção, o entendimento e o uso das formas. E tudo isso ainda é o começo! Vivemos em um mundo de formas e é através do entendimento destas formas que compreendemos o nosso entorno. Concluindo, é importante termos sempre na cabeça o fato de que para nós, designers, as formas são uma das principais ferramentas de trabalho, de expressão e de realização da nossa práxis.
Para uma segunda olhada É importante que o profissional de Moda e Design conheça bem as formas para que consiga inovar conceitos e produtos. A palavra forma assumiu diversos significados ao longo do tempo, dentre eles:
A palavra forma assume determinado significado no contexto da Moda. Podemos concluir que, para a Gestalt, nossa percepção sempre será global em um primeiro momento e, só depois, perceberemos as partes que compõem este todo, ou seja, percebemos as imagens na íntegra desde o primeiro momento em que a vemos, para somente depois percebermos seus os detalhes desta imagem. Toda percepção da forma depende da percepção da figura e fundo de quem a vê. Ao iniciarmos o processo de decomposição da imagem em formas “menores”, mais “simples”, cada uma destas partes a a ser percebida como 24
Formas na Moda
“um novo todo”, já que podem possuir características particulares que não são, necessariamente, importantes para o “todo anterior”. O profissional de Moda deve estar atento aos diversos significados das formas, para que consiga inovar em seu trabalho criativo.
Referências BARTHES, Roland. A câmara clara. Lisboa: Edições 70, 1980. ____. Fragmentos de um discurso amoroso. São Paulo, Martins Fontes, 1977. ____. Mitologias. Lisboa: Edições 70, 1957 BOMFIM, Gustavo Amarante. Ideias e formas na história do design. Campina Grande: Editora da UFPB, 1997. DUROZOI, Gérard; ROUSSEL, André. Dicionário de filosofia. Campinas: Editora Papirus, 1993. ELLE. Disponível:
FERRARA, Lucrecia. Olhar periférico. 2. ed. São Paulo: EDUSP/FAPESP, 1993. FRUTIGER, Adrian. Sinais e símbolos. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem (Understanding Media). São Paulo: Editora Pensamento-Cultrix, 1969. MONTANER, Josep Maria. As formas do Século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. MOUTINHO, Maria Rita. A moda no Século XX. Rio de Janeiro: Ed. SENAC Nacional, 2000. PERAZZO, Luiz Fernando. Elementos da forma. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Senac Nacional, 2000. SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983. UOL. Dicionário da língua portuguesa. Houaiss eletrônico. Disponível em:
. o em: 15 ago. 2009. UOL. Moderno dicionário da língua portuguesa – Michaelis. Disponível em:
. o em: 15 ago. 2009. VERNON, M. D. Percepção e experiência. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974. WONG, Wucius. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Sites consultados FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. o em: 28 set. 2010. PICASA Web. Disponível em:
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. o em: 28 set. 2010. WIKIPÉDIA. Disponível em:
. 25
Aula 1
Sugestões de leitura (disponíveis no ambiente virtual da disciplina)
Sociedade da Informação BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. A sociedade da informação. In: ___. Sociedade de informação no Brasil - Livro Verde. Cap. 1. Disponível em:
.
Ilusão de Ótica ILUSÕES de óptica. Disponível em:
. WIKIMEDIA Commons. Disponível em:
.
Semiótica CENEP. Disponível em:
.
Bibliografia sobre a Gestalt ENGELMANN, Arno. A psicologia da Gestalt e a ciência empírica contemporânea. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 18, n. 1, p. 1-16, jan./abr. 2002. Disponível em: < http:// www.scielo.br/pdf/ptp/v18n1/a02v18n1.pdf>. SOCIEDADE PARA A TEORIA DE GESTALT E SUAS APLICAÇÕES. Disponível em:
Gestalt aplicada ao Design CRÍTICA à gestalt da percepção do visual. Disponível em:
. DESIGN.BLOG. Disponível em:
. LOLI Radfahrer. Aprenda Gestalt com James Brown. Disponível em:
. MARIN, Rafael. O que é Gestalt e por que ela é importante para o design. Disponível em:
.
Autor brasileiro que estuda as Leis da Gestalt aplicadas ao Design GOMES FILHO, João. Disponível em:
.
Forma na fotografia FOTOGRAFAR Vender Viajar. Disponível em :
. 26
Aula
2
Tipos de formas e suas relações com a moda – Parte 1
Seus Objetivos: Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. analisar os tipos de formas e como elas são constituídas; 2. identificar como as formas são utilizadas no campo do Design, sobretudo na Moda.
3 horas de aula
Formas na Moda
1. Entendendo as formas Na Aula 1, começamos o nosso estudo das formas. Apresentamos seus conceitos em diversos níveis, tanto no nível etimológico – os significados encontrados no dicionário – como pelo conjunto dos conhecimentos - oriundos dos estudos sobre a percepção - que se convencionou chamar de Teoria da Forma ou simplesmente Gestalt. A Gestalt, por se dedicar ao estudo da forma enquanto componente da “linguagem visual”, propõe um conjunto de normas e regras – como uma verdadeira gramática – para que possamos “ler” melhor (e compor também!) as imagens, a partir da forma. Nesse ponto, cabe uma ressalva: não é só a Gestalt que propõe uma “gramática”, leis, normas e metodologias para facilitar o “alfabetismo visual” (DONDIS, 1998), a percepção, compreensão e uso de formas e imagens, no geral. Outras ciências ou conjuntos de conhecimentos propõem seus próprios métodos, às vezes muito próximos à Gestalt, outras completamente distantes. Alguns representantes destes conhecimentos são os seguintes: Semiótica, Morfologia e, em alguns níveis de análise, a própria estética. Seguindo alguns dos princípios da Gestalt, sobretudo a relação entre o todo e as partes, nesta aula iniciaremos o estudo das formas (o todo) a partir da sua divisão em unidades – suas partes ou Elementos. Apresentaremos também novos conceitos, na medida em que as formas tornam-se mais complexas.
2. Elementos da forma Todas as formas, por mais rebuscadas e elaboradas que sejam, podem ser “divididas” em unidades – como se fossem átomos, entidades conceituais (que não existem, na realidade, só enquanto conceitos abstratos). Nas formas, estas unidades, ou melhor, seus elementos mínimos, são o ponto, a linha, o plano (ou superfície) e o volume. O professor de desenho e pesquisador da forma Wucius Wong (1998), no seu célebre livro “Princípios de forma e desenho”, chama a atenção para o fato de que todos os componentes da forma estão intimamente ligados, praticamente indivisíveis, sendo muito difícil separá-los na nossa experiência visual cotidiana. Com esta constatação, o autor propõe diversas possibilidades de classificação para os elementos componentes da forma. São eles:
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Aula 2
a. Elementos Conceituais O ponto, a linha, o plano e o volume são chamados elementos “conceituais”, porque não são “reais”, isto é, não “existem” na natureza, foram inventados pelo homem. Vamos conhecer um pouco mais sobre cada um deles mais adiante nesta aula. b. Elementos Visuais Representam a “materialização”, através do desenho, dos quatro elementos conceituais (ponto, linha, plano e volume). Por se tornarem visíveis, permitem-nos perceber (ou atribuir) tamanhos (largura, altura e profundidade), cores, formatos (regular, irregular, geométrico, simples, composto etc.) e texturas (simples, complexa, lisa, decorada, macia, áspera etc.), dentre outras características. c. Elementos Relacionais Dependem sempre do contexto em que a forma está apresentada, isto é, depende do entorno e de todos os elementos que se relacionam com a forma em uma representação. Por exemplo, ao observarmos uma forma qualquer em uma fotografia de revista, devemos estar atentos a todas as relações que esta forma estabelece, já que a forma pode ser entendida (e classificada) de diferentes maneiras, a partir da sua relação com: • os demais elementos que compõem a fotografia; • a possível moldura que a enquadra; • os textos da legenda e da reportagem – título, corpo da matéria etc.; • as logomarcas, anúncios, chamadas em destaque etc.; • a direção que a forma assume em relação ao observador (lembre-se que lemos da esquerda para a direita!); • a orientação no espaço – como está posicionado em relação à horizontal e à vertical, alto e baixo (gravidade) etc.; • a posição em que a forma foi colocada em relação à moldura e à página ou tela (se for o caso); • a proporção que a forma apresenta-se em relação aos outros elementos que a cercam. Assim, são inúmeras as relações possíveis a que devemos estar atentos, já que todas condicionam (ou alteram) a maneira como percebemos as formas. Observe a imagem fotográfica na seção de cinema de uma revista - a maior delas - que ocupa praticamente a metade da página. O nosso olhar “eia” pela imagem, obedecendo a um “roteiro” - de cima para baixo, da esquerda para a direita, quase como um “scanner”. Agora, perceba: 30
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Observe os elementos que compõem a fotografia: a imagem provavelmente retrata a fachada de um cinema, tendo como principais elementos um letreiro de neon, onde está escrita a palavra “Castro”, seguida de outra palavra – “Milk” -, a imagem de um homem (o ator Sean Pen) em tamanho grande, o suficiente para se destacar. Na entrada do cinema podemos encontrar novamente a palavra “Milk”, repedida duas vezes, além de alguns carros, que compõem a paisagem. Note ainda que existe uma caixa de texto azul que aparece “sobre” a fotografia, apontando para uma região onde se pretende dar destaque.
Fonte: Flickr | Foto: Hello Roma
A possível moldura que a enquadra: a imagem possui três níveis de moldura: o próprio contorno da fotografia, com cantos arredondados, que suaviza o peso que ela ocupa em toda a página (formas curvas/ orgânicas são melhor assimiladas pelo nosso cérebro), a moldura “imaginária”, composta pelo corpo de texto que está próximo à fotografia, mas que não está totalmente “colado” a ela, deixando um espaço em branco, e a linha azul, na parte superior, que dá uma espécie de unidade ao conteúdo, garantindo que o texto refere-se à figura, e vice-versa. As molduras “segregam”, isto é, separam conteúdos, a fim de dar uma maior importância para eles.
Os textos da legenda e da reportagem: a primeira coisa a ser lida na página deste editorial é a palavra “Cinema”, indicando que a matéria aborda assuntos relativos à Sétima Arte – ou seja, não vamos esperar encontrar informações que não se refiram a cinema. O grande destaque dado ao nome do diretor Gus Van Sant também dá a dica de que este artigo refere-se a cinema, mais especificamente a um filme deste diretor – no caso, “Milk: a voz da igualdade (2008)”. Ainda em relação aos textos, percebemos duas colunas, com frases destacadas em cor diferente (rosa), além das três caixas de texto azuis que destacam informações, dando mais peso ao seu conteúdo.
A posição em que a forma foi colocada em relação à moldura e à página ou tela (se for o caso): notem que a imagem, por possuir grande peso visual em relação ao restante dos elementos, foi posicionada à esquerda. Isto não aconteceu por acaso: o lado direito das páginas/ imagens geralmente pesa mais do que o esquerdo e, para compensar este peso, contrabalançamos a imagem com outros elementos. Aqui, se posicionássemos a imagem à direita, a leveza do conjunto do texto desequilibraria o layout.
A direção que a forma assume em relação ao observador, bem como a orientação no espaço: esta imagem possui grande peso dado à verticalidade, uma vez que linhas deste tipo são mais presentes do que as horizontais, como podemos observar no letreiro e nas linhas que compõem a fachada do prédio.
A proporção que a forma apresenta em relação aos outros elementos que a cercam: a imagem é muito grande em relação ao restante da página e isto nos dá algumas pistas: esta publicação provavelmente dá mais importância aos “textos visuais”, ou seja, às histórias que as imagens contam. Outra informação que podemos tirar do grande destaque dado à imagem – “uma imagem fala mais que mil palavras”, diz o dito popular -, comparado ao pequeno texto que a a, é que, provavelmente, esta página faz parte de uma publicação que tem como foco a leitura rápida.
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d. Elementos Práticos Estão relacionados com o conteúdo da representação, ou seja, com o significado dela, aquilo que a forma se propõe a representar. Assim sendo, uma forma pode ser:
Fonte: Flickr | Foto: dorena-wm
• natural - quando representa um elemento da natureza;
Fonte: Wikipedia
• artificial - quando representa algo feito ou pensado pelo homem;
Fonte: Picasa Web | Foto: Pablo Costa
• figurativa - quando ilustra algo reconhecível;
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• abstrata - quando não se preocupa com o reconhecimento, com sig-
Fonte: Picasa Web | Foto: fotosaula
nificados diretos;
• realista - quando se propõe a registrar algo existente, o mais próximo
Fonte: Wikipedia | Foto: imagem em domínio público
possível da realidade;
Fonte: Flickr | Foto: Nina Sodré
• estilizada - quando não representa as formas de maneira realista.
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Para aprofundar um pouco mais o nosso estudo, focaremos apenas nos Elementos Conceituais, essenciais para comunicarmos as nossas ideias em um projeto de Moda.
Origem e significado das “formas” Não vamos apresentar nesta aula os significados do verbete forma em outros idiomas, além do Português/Latim, mas fica aqui a sugestão para que você continue com a curiosidade aquecida e que se divirta, investigando a origem e o significado da forma em inglês (form, appearance, figure, shape), francês (forme), italiano e espanhol (forma), alemão (Form, Figur, Gestalt)...
Atividade 1 – Objetivo 1 Como visto, os Elementos Conceituais estão presentes nas imagens que nos cercam, bem como os elementos visuais, os relacionais e os práticos. “Conceitos” são considerados “abstratos”, pois a partir do momento que separamos qualquer coisa do seu contexto e começamos a analisar e/ou classificar, esta “coisa”, necessariamente, transforma-se em um conceito que precisou ser abstraído. Somente a observação atenta e consciente possibilita-nos reconhecêlos de modo praticamente imediato. Então, vamos treinar a nossa observação: • Escolha uma página de revista (ou jornal), focada em assuntos de moda (editorial). É importante que a página escolhida contenha, pelo menos, elementos como imagem, texto e título. • Seguindo o exemplo de análise feita para a imagem do subtópico “Elementos Relacionais”, faça uma análise da página escolhida, só que agora utilizando como referência os “Elementos Práticos”. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 34
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3. O Ponto e a Linha: aprendendo um pouco mais sobre os elementos conceituais Já que estamos separando, contextualizando e classificando os elementos mínimos que compõem a forma, seguiremos definindo o que são “ponto”, “linha” e, na próxima aula, “plano/superfície”.
3.1. Ponto É um conceito abstrato; pontos indicam localização, interseção, o “local” de um encontro. É a menor unidade gráfica de uma composição, seu “átomo”. O ponto é a unidade que compõe o desenho, como se fosse uma “letra” em relação à palavra. O ponto é um elemento autônomo, isto é, que “fala” por si. É a unidade mínima da forma, ou seja, tudo começa no ponto, que equivale ao momento em que um registro é feito, quando uma ferramenta qualquer (lápis, pincel, caneta etc.) toca um e (papel, tela, tecido etc.). Ainda, de acordo com a Geometria, ponto é o registro do encontro de pelo menos duas linhas no espaço. Exemplo:
Exemplos de representação gráfica de pontos.
Em Moda, o ponto pode Fonte: Flickr | Foto: John Fonte: Flickr | Foto: Follow the White Bunny Fonte: Flickr | Foto: Aimee Ray Fonte: Flickr | Foto: Sewing Daisies
corresponder também à unidade mínima de uma costura, de um bordado ou a laçada de uma malha/tricô/crochê, como podemos ver nas imagens:
Pontos de costura e bordado.
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O ponto pode ter diversas formas. A mais comum, ou seja, aquela que lembramos imediatamente ao pensarmos em um ponto, é a circular, porém o ponto pode ser equivalente a um quadrado – um pixel - , por exemplo, ou aquele formado por linhas que se cruzam - um triângulo - ou ainda, possuir
Elementos que podem ser considerados como representação de pontos.
Fonte: StockXchange | Foto: Flavio Takemoto Fonte: StockXchange | Foto: Martyn Rice Fonte: Flickr | Foto: seiho Fonte: StockXchange | Foto: Fausto Giliberti
uma forma irregular.
3.2. Linha A linha é o segundo elemento fundamental da linguagem visual, é também uma das unidades mínimas do desenho. Geralmente, é conceituada como sendo “um ponto em movimento” ou então “um conjunto de pontos”, porém diferente do ponto, que é estático, a linha geralmente apresenta uma direção, um sentido. Se os pontos equivalem às “letras”, as linhas são como “palavras” e “frases”: elas são as unidades mínimas usadas na construção das obras de arte, dos edifícios arquitetônicos, dos objetos de design, dos produtos e produções de
Fonte: Flickr | Foto: Fernando Stankuns Fonte: Flickr | Foto: Rodrigo Soldon Fonte: Picasa Web | Foto: Brazoo Fonte: Picasa Web | Foto: Diablo
moda, das formas, no geral.
Observem como as linhas aparecem em tudo o que nos cerca.
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A linha não possui começo nem fim, sendo um elemento que se direciona sempre para o infinito, sem alterar o seu sentido (desde que nada interrompa sua trajetória). As linhas, sejam abertas ou fechadas, delimitam espaços e, portanto, compõem superfícies (assunto que veremos na próxima aula). Assim, basta uma única linha curva para compormos, através da lei do fechamento (Teoria da Gestalt, vista na aula anterior), planos com formato circular ou elíptico, ou, pelo menos duas linhas retas, unidas por um ângulo, para formarmos um
Fonte: Esquema elaborado pelo professor Sérgio Sudsilowsky
triângulo.
Ao olharmos para as linhas abertas representadas à esquerda do esquema, a tendência é que nosso cérebro complete as formas. Então, vemos como linhas fechadas, representadas à direita na forma de um círculo, uma elipse e um triângulo.
Observando o nosso entorno, podemos perceber que o mundo é composto por formas, seja o mundo construído ou o mundo natural. Estas formas podem ser subdivididas em linhas, dos mais diversos tipos: linhas retas, curvas, mistas, artificiais, orgânicas, horizontais, verticais, inclinadas etc., como veremos a seguir.
3.2.1 Tipos de linhas. A linha pode ser imaginária ou “real”: se observarmos uma série de pontos próximos uns dos outros – uma constelação de estrelas, por exemplo -, tendemos a “unir” estes pontos, já que o nosso cérebro tenta organizar e significar tudo o que percebemos, criando linhas que de fato não existem. Por outro lado, uma vez que um ponto desloca-se – uma estrela cadente ou um cometa – “desenha” uma trajetória, compondo uma linha real. 37
Observem as linhas “imaginárias” que desenham a constelação, bem como a linha real “desenhada” pela estrela cadente.
Se o ponto é estático, a linha sempre terá uma direção e um sentido, trazendo uma ideia de movimento – ainda que direção, sentido e movimento sejam percebidos de forma ambígua. Isto acontece, pois não podemos definir com precisão qual seria a direção da linha – a não ser que ela seja uma seta, é claro, ou seja, mesmo que uma linha não possua indicação dos seus pontos iniciais e finais, ela sempre apresentará características de direção, já que é um ponto de que deslocou de uma origem para um ponto final. A linha também sempre possuirá um sentido – da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, de baixo para cima e vice-versa. Tais diversidades fazem com que toda imagem possua diversos graus de expressividade e complexidade. Dentro destas possibilidades, a linha ainda se subdivide, quanto ao seu formato, espessura e terminação.
3.2.1.1. Tipos de linhas quanto ao formato. a. Reta – a mais “comum” é a linha horizontal, pois nos remete ao horizonte. É mais estática e estável que a linha vertical (que geralmente associamos às relações de alto e baixo, devido à lei da gravidade e à verticalidade, assumida pelo homem ao se colocar de pé) e a diagonal. Segundo Frutiger (1999), retas diagonais são as mais instáveis de todas as linhas, já que dependem do sentido da leitura para serem associadas a uma subida ou a uma descida.
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Fonte: Nasa
Fonte: Wikimedia Commons
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Diferente da estabilidade proporcionada pela horizontal, linhas diagonais são instáveis e transmitem ideias, como: movimento, insegurança e até mesmo imprecisão. Assim sendo, elas sempre serão “percebidas” de acordo com a horizontal ou vertical mais próxima, sendo que a horizontalidade tende a dominar a percepção humana, como dito anteriormente.
Assim, quando o ângulo é maior do que 45 graus, portanto mais próximo da verticalidade, a linha é vista como descendente, uma “queda” (Imagem 1). Ao contrário, se o ângulo for menos que 45 graus, mais próximo da horizontal, geralmente, é visto como uma subida, uma elevação (Imagem 2). A nossa direção de leitura também influencia isso. Nós, ocidentais, lemos da esquerda para a direita: se a linha diagonal possui uma extremidade assentada na esquerda, no que imaginariamente definirmos como “plano de chão”, na horizontalidade, geralmente associaremos a uma subida. Por outro lado, se o que se assenta no plano do chão for a outra extremidade da linha, à direita, associamos a diagonal à representação de uma descida. O ser humano confere à horizontal um significado totalmente diferente da vertical. A primeira é uma dimensão concreta, algo que pode controlar e medir com os próprios os. A Terra é plana [é assim percebida pelos nossos sentidos, já que não temos como ver a forma esférica do planeta estando dentro dele], e a horizontal teórica é um conceito existente [também o nosso campo de visão é muito mais amplo na horizontal do que na vertical: somos acostumados a percorrer com o olhar o horizonte, seja em busca de presas para alimentação, parceiros para a associação ou perigos que nos ameacem]. Em contrapartida, tudo o que cai na Terra realiza um movimento vertical e, por isso, não é algo que existe, mas um fenômeno que acontece, como o relâmpago, a chuva e até mesmo os raios do sol [e o que é arremessado geralmente percorre uma trajetória curva, em forma de parábola]. (FRUTIGER, 1999, p. 9) [grifos do autor]
Lembre-se que as linhas retas são consideradas como “linhas conceituais”, porque elas não existem no mundo natural - na natureza todas as linhas são orgânicas, isto é, curvas e irregulares. Até mesmo a linha do horizonte, que é aquela mais próxima da linha reta que temos como repertório, é curva. Isto 39
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porque o nosso planeta possui forma praticamente esférica e, portanto, a linha do horizonte é uma curva, ainda que os nossos olhos estejam acostumados a
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Hendrike Fonte: Wikimedia Commons | Foto: OS2Warp Fonte: Flickr | Foto: Cainha Fonte: Flickr | Foto: Fábio Pinheiro
vê-la muito próxima de uma reta horizontal.
Observem como as linhas retas (quadro do Mondrian, fachada do edifício) são mais estáveis e “duras” do que as linhas curvas, orgânicas (linha do horizonte e nuvens no céu do entardecer, bem como a paisagem natural do riacho).
b. Curva ou “orgânica” – é a linha mais encontrada na natureza. Ela está presente na nossa vida desde o útero materno, que é curvo e acolhedor. Está no sol, na abóbada celeste, nos contornos do corpo humano, na espiral que forma as conchas que observamos na praia, nas ondas do mar que quebram na areia. A própria existência humana é cíclica e circular: o tempo do relógio, as estações do ano, as fases da vida, ou seja, a maior parte da nossa vida é
Fonte: Flickr | Foto: Pandiyan V Fonte: StockXchange | Foto: anna076 Fonte: StockXchange | Foto: Makio Kusahara Fonte: StockXchange | Foto: Timo Balk Fonte: StockXchange | Foto: Moy Codi
experienciada em ciclos.
A sinuosidade da linha curva é muito mais “confortável” para o olhar.
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Existem dois tipos de linhas curvas: as geométricas, que são precisas e traçadas com instrumentos de medida, como o como, o transferidor e a “curva sa”, e as orgânicas, que são aquelas que realmente vemos na natureza, com traçado ‘livre’ e geralmente impreciso. A natureza tem horror à linha reta e ao como. (...) A natureza tem o bom gosto de não usar esses instrumentos. Já reparou que ela nada faz perfeitamente reto ou perfeitamente curvo, como as linhas e círculos traçados pela régua e pelo como? (...) - Pois a natureza é assim, meu filho. Parece que tem horror à geometria. Faz tudo mais ou menos – e por isso são tão belas as coisas naturais. Se você mandar a geometria fazer uma árvore, ela faz uma árvore toda cheia de linhas retas e curvas, de elipses, espirais e triângulos, tudo de uma
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Javier Carro Fonte: Flickr | Foto: Joana Joana Fonte: Flickr | Foto: Ela Fonte: Flickr | Foto: Heraldo Luciano Fonte: Flickr | Foto: _rosa_ Fonte: Picasa Web | Foto: Noivas de Portugal Fonte: Wikimedia Commons | Foto: José Cruz/ABr
‘precisão geométrica’ – e fica a feiúra das feiúras. (LOBATO, 2007)
Observem a diferença entre as linhas curvas geométricas (curvas precisas e “controladas”) das formas construídas – arquitetura do MAC e da Casa Batló, calçadão de Copacabana, portal e gradile as linhas orgânicas (irregulares) presentes no vestido de noiva e na pintura corporal. As primeiras tendem a ser mais estáveis, porém as últimas, geralmente, são mais agradáveis ao olhar.
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c. Quebrada – composta somente por linhas retas que se encontram e mudam de direção (ou sentido), criando ângulos entre elas. Diferenciam-se pelos graus de seus ângulos, pelo comprimento de suas linhas, pelas direções e sentidos que assumem, bem como pela complexidade da configuração total
Fonte: Blog All | Foto: imagem de divulgação
da trajetória registrada.
Como nos desenhos infantis, podemos observar no contorno deste carro os pontos de interseção das linhas, bem como as mudanças de direção.
d. Composta – formada por linhas retas e curvas. São as linhas mais pró-
Foto: Patrícia Diniz Fonte: StockXchange | Foto: Antonio Jiménez Alonso Fonte: StockXchange | Foto: RAWKU5 Fonte: StockXchange | Foto: Marc and Cristina Palmer and Burke Fonte: StockXchange | Foto: Teodora Vlaicu
ximas das orgânicas.
Percebam, no contorno destas imagens, os pontos de interseção das linhas, bem como as mudanças de direção e tipo (de reta para curva e vice-versa).
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3.2.1.2. Tipos de linhas, quanto à espessura A linha ocupa duas dimensões no espaço, que são o comprimento e a altura, esta última é equivalente à sua espessura. Assim sendo, linhas podem ainda ser classificadas de acordo com a espessura do seu corpo. Ela pode ser regular, quando toda sua extensão possui a mesma espessura ou irregular, quando surgem alternâncias no tamanho da espessura da linha. Exemplos:
3.2.1.3. Tipos de linhas, quanto à terminação Podemos ainda classificar a linha, quanto ao desenho de suas extremidades – que só possuem relevância quando esta linha não é muito fina ou quando damos um “zoom” no computador e aproximamos o nosso olhar da terminação da linha. Assim, elas podem terminar de forma quadrada, pontiaguda ou redonda. Exemplos:
Atividade 2 – Objetivos 1 e 2 Escolha três looks de desfiles apresentados nas últimas semanas de moda no Brasil (pode ser SPFW – São Paulo Fashion Week, Dragão Fashion, Fashion Rio etc.). Para praticar bastante os conceitos aqui desenvolvidos, escolha estilos diferentes – moda praia, casual, jeans etc. – e alterne entre masculino, feminino e infantil, se possível. Copie cada uma das imagens em um software gráfico – tipo “Paintbrush”, CorelDraw, Photoshop, Ilustrator, ou até o PowerPoint – e “desenhe” com uma cor quente (vermelho, amarelo ou laranja) as principais linhas encontradas nas roupas, como nos diversos exemplos já apresentados nesta aula. Marque também elementos que sejam semelhantes a pontos (botões, bolinhas, encontros de linhas etc.), porém usando uma cor diferente. 43
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Por último, identifique e nomeie os principais tipos de linha encontrados. Salve o seu arquivo em formato JPG e envie ao tutor através do ambiente virtual da disciplina.
Comentário Faça como no exemplo a seguir, onde indicamos com a cor azul os PONTOS e com a cor laranja as LINHAS.
Conclusão Finalizando esta aula, é importante enfatizar que as formas estão em todos os lugares, não só na moda, e elas geralmente fazem parte de um contexto, estabelecendo relações com o seu entorno. Assim, estudar as formas (o todo), geralmente se inicia com o reconhecimento e a compreensão da divisão destas formas em unidades – suas partes ou Elementos -, como o “ponto” e a “linha”. 44
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Assim, independente de analisarmos as formas pelo ponto de vista da Geometria, Matemática, Semiótica, Estética ou Gestalt, no fundo estamos adquirindo o repertório necessário para utilizarmos a nossa “gramática das visualidades”, ferramenta essencial para o trabalho do designer. Lembre-se que esse texto também faz parte de uma proposta, onde convidamos você a sempre mudar o seu jeito de pensar, mudando de rumo - quando necessário for -, experimentando novos caminhos, assumindo outras possibilidades, outras teorias, outros modos de fazer e, sobretudo, outros modos de ver.
Para uma segunda olhada... Nesta aula, pudemos perceber que forma é, antes de mais nada, um conceito, um elemento da linguagem – seja visual ou verbal - e a sua boa utilização depende de dominarmos, acima de tudo, seus significados. E, semelhante ao estudo etimológico feito na Aula 1, quando conceituamos “formas”, os significados das palavras tendem a mudar ou a assumir novos significados, seja com o ar do tempo, seja com a mudança de local. Assim, da etimologia até a Teoria da Gestalt, vimos diversas outras possibilidades de conceituar as formas, porém o mais importante de tudo: vimos que as formas podem ser “reduzidas” a unidades menores, unidades elementares, como as letras do alfabeto que compõem palavras e, estas, frases, textos, livros inteiros. Partindo destes princípios, começamos nossos estudos com os primeiros elementos desta “gramática da visualidade”: o ponto e a linha. Apresentamos mais detalhes de cada um destes elementos, enfatizando as diferentes classificações que possuem (as linhas são classificadas, quanto ao seu formato, espessura e terminação).
Referências BOMFIM, Gustavo Amarante. Idéias e formas na história do design. Campina Grande: Editora da UFPB, 1997. DONDIS, A. Donis. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1998. FRUTIGER, Adrian. Sinais e símbolos. São Paulo: Martins Fontes, 1999. LOBATO, Monteiro. Viagem ao céu. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2007. PERAZZO, Luiz Fernando. Elementos da forma. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Senac Nacional, 2000. 45
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VERNON, M. D. Percepção e experiência. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974. WONG, Wucius. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Sites consultados BLOG All. Disponível em:
FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. o em: 25 out. 2010. GEOMETRIA. Disponível em:
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. o em: 9 set. 2009.
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Aula
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Tipos de formas e suas relações com a moda – Parte 2
Seus Objetivos: Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. reconhecer os tipos de formas e como elas são constituídas; 2. identificar como as formas são utilizadas no campo do Design, sobretudo na Moda.
3 horas de aula
Formas na Moda
1. Relembrando... Nas Aulas 01 e 02, começamos o nosso estudo das formas, a partir da sua conceituação em diversos níveis, tanto no nível etimológico – do dicionário – como pelo conjunto de conhecimentos, advindos dos estudos da percepção, (Teoria da Forma ou Gestalt). E a Gestalt, por se dedicar ao estudo da forma, enquanto componente da “linguagem visual”, propõe um conjunto de normas e regras – como uma verdadeira gramática – para que possamos “ler” melhor (e compor também!) as imagens, a partir da forma.
As Ciências que estudam as formas e imagens Cabe uma ressalva: não é só a Gestalt que propõe uma “gramática”, leis e normas e metodologias para facilitar o “alfabetismo visual” (DONDIS, 1998), a percepção, compreensão e uso de formas, e imagens. Outras ciências ou conjuntos de conhecimentos propõem seus próprios métodos, às vezes, muito próximos à Gestalt, outras completamente distantes. Alguns representantes desses conhecimentos são a Semiótica, a Morfologia e, em alguns níveis de análise, a própria Estética.
Na Aula 02, você já conheceu dois dos elementos conceituais que compõem as formas: o ponto e a linha. Nesta aula, você verá com mais detalhes mais um elemento conceitual: o plano.
2. Plano É formado a partir da união (ou da simples aproximação) de linhas – basta que uma linha curva tenha sua origem e seu final aproximados, para construirmos um plano na nossa imaginação. Também definido como sendo o resultado da “trajetória de uma linha em movimento” (WONG, 1998, p. 42), onde a linha delimita o plano e institui dois espaços relacionados ao plano: • o interno, compreendendo tudo o que está dentro do limite da linha e • o externo, compreendendo tudo o que está fora do limite da linha. Além disso, o plano ocupa duas dimensões no espaço: largura e altura.
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Aula 3
A forma, enquanto plano, pode possuir uma grande variedade de FORMATOS, podendo ser, como veremos na próxima seção, geométricos (construídos artificialmente, através da Matemática) ou naturais (encontrados na natureza, como as folhas das árvores, por exemplo). Podem ser ainda:
Fonte: Stock.xchng | Foto: Antonio Jiménez Alonso
Fonte: Stock.xchng | Foto: Ton Araujo
• Orgânicos: limitados por linhas livres, geralmente curvas;
Observe os formatos das nuvens, compostos por linhas livres, curvas, que constituem planos bem delimitados. O mesmo acontece com as pedras portuguesas que podem compor calçadas.
Linhas retas verticais (à esquerda) e diagonais (à direita).
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Fonte: Stock.xchng | Foto: Burak Mestan
Fonte: Stock.xchng | Foto: Abdulaziz Almansour
• Retilíneos: composto apenas por linhas retas;
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• Regulares: quando possuem linhas similares, delimitando os lados da
Fonte: Stock.xchng | Foto: Juan Carlos Arellano
Fonte: Stock.xchng | Foto: Daniel West
figura, quanto à sua representação;
O hexágono, polígono que possui seis lados iguais. Vale ressaltar que esse tipo de formato também acontece na natureza, como é o caso do favo de mel nas colmeias de abelhas.
• Irregulares: quando possuem linhas diferentes, delimitando os lados
Foto: Cristina Mendes
Fonte: Stock.xchng | Foto: Melodi T
da figura, quanto à sua representação;
Exemplos de formatos irregulares geométricos (à esquerda) e orgânicos (à direita).
• Simples: quando formam figuras reconhecidas, como as geométricas,
Fonte: Flickr | Foto: Tobin
por exemplo;
Quadrados e triângulos retângulos.
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Aula 3
• Compostos/complexos: quando são formados pela junção, interseção
Fonte: Stock.xchng | Foto: Emiliano Hernandez
Fonte: Stock.xchng | Foto: Billy Alexander
ou subtração de dois ou mais planos, formando uma flor, por exemplo.
Observe como uma forma simples, disposta repetidamente, pode gerar formatos complexos.
2.1. Formas geométricas planas: Formatos SIMPLES As formas geométricas simples podem ser regulares (quando possuem lados iguais) ou irregulares. As formas geométricas básicas são: • círculo ou circunferência: Possui 360º e todos os pontos localizados em seu perímetro (desenho da circunferência) estão posicionados à mesma distância do seu centro (essa distância é chamada “raio”). É importante destacar que essa é a forma com maior pregnância (acredita-se que seja assim porque pode
Fonte: Stock.xchng | Foto: Josep Altarriba
Fonte: Stock.xchng | Foto: ew90
ser facilmente associada a elementos naturais, como o sol e a lua, por exemplo).
Pregnância ou “Lei da Boa Forma” - pode ser entendida como sendo a “força” que uma imagem possui de parecer o mais simples, clara, nítida e estável possível. A pregnância seria um dos ideais, buscados na composição de imagens, sobretudo símbolos, sinalização e logomarcas.
A lua, apesar de não ser uma forma regular, é uma boa imagem que pode ser usada como uma representação
• elipse – forma composta, a partir de linhas curvas. Porém, diferente da circunferência, não possui os pontos do seu perímetro equidistantes do centro.
Elemento conhecido por todos, o ovo é um bom exemplo para ilustrar a forma da elipse.
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Fonte: Stock.xchange | Foto: amr safey
da circunferência.
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• triângulo – possui três lados e três ângulos internos, podendo ser equilátero (três lados de tamanhos iguais, com três ângulos internos de mesma medida = 60º), isósceles (dois lados de tamanhos iguais), “retângulo” (possui um ângulo reto, ou seja, de valor igual a 90º) e escaleno (possui três lados de tamanhos diferentes).
Escaleno
Isósceles
Retângulo
Equilátero
Observe que, apesar de diferentes, todas as imagens são triangulares por possuírem os elementos mínimos necessários para serem reconhecidas por esse formato (três ângulos e três lados).
• quadrilátero – como os triângulos, os quadriláteros também possuem diversos tipos: quadrado (possui os quatro lados iguais, com quatro ângulos internos de 90º), losango (também conhecido popularmente como “balão”) surge a partir da rotação do quadrado), retângulo (possui lados diferentes, porém os dois lados correspondentes à altura devem ser necessariamente iguais, assim como os dois lados correspondentes à largura, porém conservando os quatro ângulos internos de 90º) e trapézio (possui, pelo menos, uma linha em diagonal).
Quadrado
Retângulo
Losangulo
Trapézio
• pentágono – figura geométrica que possui cinco lados.
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• hexágono (seis lados), heptágono (sete lados) e os demais com “N” números de lados – a quantidade de lados corresponde ao número indicado pelo seu prefixo (octo = 8, enea = 9, deca = 10, undeca = 11, dodeca = 12 etc.) acrescido da terminação “ágono” (que quer dizer ângulo).
Aqui, temos exemplificado um eneágono (nove lados).
Observe que a exceção do círculo, que é curvo por natureza, todas as demais figuras geométricas podem ser retilíneas ou curvas. Além disso, a partir dos quadriláteros, todos podem assumir forma estrelada, ou seja, se unirmos seus vértices (ponto de encontro entre duas linhas) com linhas internas à figura, obtemos o formato de estrelas com a quantidade de pontas equivalente à
Fonte: Stock.xchng | Foto: H Assaf
quantidade de vértices da figura geométrica.
Um bom exemplo disso são os azulejos árabes, encontrados nas mesquitas. Veja como a junção de formas geométricas, como losangos, podem formar estrelas nessa composição.
2.2. Inter-relação de formas planas: Formatos COMPLEXOS As formas geométricas são usadas desde sempre nas representações humanas. Sejam em representações literais, na estamparia ou decoração de superfícies, círculos compõem “pois” (lê-se “poás”), quadriláteros compõem 54
Pois: é o nome pelo qual é conhecida a padronagem “de bolinhas”, i. é., feita por círculos com o mesmo tamanho, de pequenas dimensões, repetidos a intervalos regulares de linha e coluna.
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listras e xadrezes, além de servirem também para orientar a repetição de outros elementos, quando utilizados como “grades”. Pentágonos e hexágonos são utilizados para compor superfícies esféricas, como bolas de futebol, flores são representadas por círculos e ovais, “casinhas” são retângulos, triângulos, quadrados e trapézio, e assim por diante. Assim, formas complexas (ou formatos, nesse caso) podem ser obtidas basicamente de duas maneiras: • por aproximação – quando aproximamos duas (ou mais) formas, a ponto de serem percebidas como um conjunto, imediatamente buscamos estabelecer relações entre elas, mesmo que elas sejam muito diferentes entre si. Isso acontece, pois o nosso cérebro, como dito anteriormente, tentar organizar
Fonte: Stock.xchnge | Foto: Afonso Lima
É fácil “decompor” formas complexas: biquínis geralmente têm como forma básica triângulos, enquanto óculos são formados pela junção de ovais e elipses.
• por contato – ao colocarmos duas (ou mais) formas próximas o suficiente para que elas se toquem, estabelecemos um “contato” entre elas a ponto de, muitas vezes, as formas originais deixarem de ser reconhecidas, uma vez que a “nova forma” possui mais “força” – ou peso - e sobressai-se às demais. O Contato pode ser feito por: a. Tangência – quando uma forma simplesmente toca a outra em apenas
Fonte: Flickr | Foto: Avivi
um ponto.
Fonte: Flickr | Foto: John
Fonte: Stock.xchnge | Foto: Vangelis Thomaidis
e ordenar as nossas percepções em uma gestalt integrada.
A ampulheta é um bom exemplo de formato complexo. Resultante de contato entre duas formas simples, tornou-se um formato tão conhecido ao ponto de nomear uma silhueta específica em moda.
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Aula 3
b. Superposição – quando uma das formas “ultraa” os limites da outra, como se a estivesse “cobrindo”, gerando a ilusão de dois (ou mais) planos sobrepostos e até mesmo de profundidade espacial (3D, como veremos na
Foto: Cristina Mendes
Fonte: Stock.xchng | Foto: Keith Syvinski
seção “volume”).
Observe como a simples sobreposição de formas gera a ilusão de representação de planos.
c. Interpenetração – o mesmo que o formato anterior, mas as formas que se sobrepõem aparecem como se fossem “transparentes”, conservando os contornos de ambas que continuam no mesmo plano. Equivale, na Matemática, à representação do encontro de dois conjuntos, onde ambos mantêm as suas particularidades e apenas se encontram onde possuem elementos em comum,
Fonte: Flickr | Foto: Beatrice Oettinger
mantendo os seus contornos delimitados.
Observe que todas as “camadas” de formas são visíveis, mantendo as suas características.
d. União, Junção ou Adição – se pegarmos o formato anterior e somarmos uma forma à outra, temos uma união. Porém, diferente da Interpenetração, os contornos fundem-se, formando um novo elemento. 56
Fonte: Stock.xchng | Foto: Mee Lin Woon
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As flores representadas nessa abotoadura equivalem à junção de seis círculos: cinco que compõem as pétalas e mais um central, o miolo. Porém, no caso da adição todos os contornos “fundem-se”, formando imagem unificada.
e. Subtração – se sobrepmos uma forma à outra e retirarmos o espaço equivalente a essa sobreposição da forma original, temos uma subtração. É como se usássemos a forma como uma “faca” que corta outra forma, gerando
Fonte: Flickr | Foto: Andi
Fonte: Flickr | Foto: xn14
um novo formato.
O eclipse parcial do sol é um exemplo de representação da subtração. Assim, como a saia de cintura alta sobre a blusa na modelo.
f. Interseção – semelhante à Interpenetração, porém o formato final corresponde apenas àquele resultante da sobreposi-
Fonte: Stock.xchng | Foto: Adrian Gtz
ção das duas formas.
Observe a forma resultante da gola dessa T-shirt, é como se uma “faca” circular entrasse no tecido, gerando o seu formato através de uma intersecção.
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Aula 3
g. Coincidência – quando as formas são semelhantes e sobrepõem-se,
Fonte: Flickr | Foto: Planet Girls
obtemos uma coincidência.
Sobreposição de dois agasalhos, ou malha e agasalho são exemplos de coincidência.
2.3. Mais algumas formas Além dessas formas e formatos, podemos ainda destacar alguns elementos simbólicos que possuem grande força e reconhecimento ao longo da história da humanidade e estão sempre presentes nas expressões artísticas. São elementos comuns ao nosso imaginário e, por esse motivo, amplamente utilizados pela representação humana, como o quadriculado (xadrez), além das listras. Outros elementos simbólicos, como o coração, a flor (incluindo os tipos específicos, como a flor de lis, a rosa e a margarida), a seta e a cruz também são corriqueiras nas representações humanas; portanto, são mais fáceis de reconhecer, lembrar e reproduzir – são pregnantes. São elas (em ordem crescente de pregnância): círculo (e ovais), triângulo, cruz, quadrado (e
Exemplos de xadrez e listrado.
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Fonte: Stock.xchange | Foto: Billy Alexander
Fonte: Stock.xchange | Foto: Billy Alexander
retângulo), estrela e losango.
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O listrado nas roupas Para saber mais sobre os tecidos listrados, indicamos a leitura do livro “O
Foto: Divulgação | Fonte: Pin up
pano do diabo”, que conta a evolução desse tipo de tecido, desde o início do seu uso pela humanidade até os nossos dias. A história a pela Idade Média – quando esses tecidos eram utilizados para “marcar” loucos, prostitutas e presidiários. Aborda também a introdução desses tecidos nos uniformes militares (marinheiros) e nas roupas íntimas, e de cama, mesa e banho. Hoje em dia, o listrado pode ser utilizado para representações “românticas” e “clássicas”, quando bicolores e em tom pastel, até “radicais” e “modernas”, quando utilizadas cartelas de cores com alto contraste e listras de tamanhos irregulares.
Atividade 1 – Objetivos 1 e 2 Experimentar a leitura de formas visuais em diversos contextos/mídias – pintura, escultura, fotografia, cartaz, televisão, vídeo, cinema e site/blog da Internet, com foco em vestuário ou moda. Escolha 3 imagens diferentes, a partir das mídias acima, e identifique as principais formas e formatos existentes nelas. Postar as 3 imagens em formato JPG no fórum, no Ambiente Virtual, com a análise feita e os seus comentários.
Resposta e Comentário Somente exercitando é que podemos internalizar e tornar natural o uso da “gramática visual”. É fundamental que possamos olhar para os diferentes tipos de representação, sejam elas estáticas (foto, desenho/pintura, ilustração, gravura etc.) ou dinâmicas (imagens com movimento – gif animado, cinema, TV, desenho animado etc.) e perceber que TODA e qualquer imagem é composta por formas, que possibilitam a sua configuração enquanto formato. É importante percebermos que um círculo continua a ser um círculo, independente do e (tecido, tela, papel etc.), do veículo/mídia (tela do computador, televisão, livro etc.) ou da técnica utilizada para a representação (fotografia, pintura, escultura etc.)
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3. Os quatro elementos da forma. Além do ponto, da linha e do plano, existe um 4º elemento da forma, o volume. Quando acrescentamos a 3ª dimensão do espaço a uma representação, obtemos um volume. Conceitualmente, um volume equivale ao registro da trajetória de pelo menos um plano posto em movimento, compondo uma profundidade. A partir do momento em que pelo menos dois planos compõem um volume, geralmente amos a chamar cada um desses planos de superfícies. Como todo desenho é bidimensional – já que o e só possui 2 dimensões, seja ele o papel, a parede, uma tela de pintura, uma tela do computador etc. - a 3ª dimensão sempre é ilusória, uma espécie de “ilusão de ótica”, obtida pela representação do volume, quer a partir da junção de pelo menos dois planos, quer pelo registro de texturas ou de luz e sombra.
“Evolução natural” dos elementos da forma: origina-se com o ponto (a) que, quando posto em movimento em um sentido específico e numa dada direção, torna-se linha (b); essa, por sua vez, ao se deslocar no espaço, em direção perpendicular ao 1º deslocamento, transforma-se em um plano (c), que vai dar origem ao volume (d), também ao deslocar-se no espaço, em qualquer direção.
Atividade 2 – Objetivos 1 e 2 Reconhecendo e nomeando as formas – selecione duas imagens de moda, uma masculina e uma feminina (podem ser editoriais de revista ou imagens de desfile). Observe atentamente cada uma das imagens e analise as formas empregadas pelo designer / estilista para compor os looks.
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Identifique e nomeie: formas simples, formas complexas, formatos – orgânicos, retilíneos, regulares, irregulares, além de figuras geométricas, quando elas existirem. Faça uma apresentação de slides com os resultados da sua análise, seguindo a seguinte estrutura: Slide 1: capa – identificação da Instituição, curso, disciplina, turma, tutor, nome do aluno e título da atividade; Slide 2: a proposta – proposta da atividade; Slide 3: imagem 1 – feminino ou masculino; Slide 4: comentários 1 – análise da imagem 1; Slide 5: imagem 2 – feminino ou masculino; Slide 6: comentários 2 – análise da imagem 2. Envie sua apresentação pelo Ambiente virtual.
Resposta e Comentário Reconhecer e nomear as formas são fundamentais para o trabalho do designer, sobretudo o designer de moda. É ela quem direciona o processo criativo – muitas vezes o ponto de partida para o desenvolvimento de uma coleção é a silhueta desejada, isto é, o formato que pretendemos enfatizar (ou impor) no corpo; se falarmos de modelagem, então, a forma e seus formatos são prioritárias: imagine fazer o encaixe de um molde de manga de camisa com a sua respectiva cava, se ambas não forem semelhantes?
Conclusão Concluímos, nesta aula, com o estudo dos planos, elemento que faz parte da tríade principal “elementos da forma”, iniciados com o ponto e a linha. É importante perceber que um acontece em consequência do outro, isto é, que a linha é uma sequência de ponto – um ponto em movimento – e o plano corresponde a, pelo menos, uma linha fechada, ou um conjunto de linhas que se encontram. Porém, ainda que os 3 elementos sejam interdependentes, isto é, um depende do outro para existir, todos são independentes: possuem estrutura própria, sistema de classificação e formatos próprios.
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Aula 3
Para uma Segunda Olhada É importante ressaltarmos que, mesmo existindo materialmente na natureza, os quatro elementos são entidades abstratas, criadas a partir da Matemática – sobretudo a Geometria – com finalidade de estudar (e organizar) o mundo que nos cerca. No caso do plano, enquanto forma / superfície, podemos classificá-lo em uma variedade de formatos, que são os nomes mais comuns com que nos relacionamos com as formas. Assim, sejam eles geométricos ou naturais, simples ou complexos, orgânicos ou retilíneos, regulares ou irregulares, são os formatos que determinam as silhuetas, principalmente na moda, e que configuram as imagens em geral, partindo sempre das formas básicas mais simples e comuns – principalmente as geométricas. Um exemplo disso é o caso do círculo que representa uma aliança de casamento – até chegarmos a construções extremamente complexas, como os vestidos de noiva, compostos através de interseções, interpenetrações, adições, sobreposições, superposições e tangências entre pontos, linhas, planos e volumes.
Referências BOMFIM, Gustavo Amarante. Ideias e formas na história do design. Campina Grande: Editora da UFPB, 1997. DONDIS, A. Donis. A sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1998. FRUTIGER, Adrian. Sinais e símbolos. São Paulo: Martins Fontes, 1999. PERAZZO, Luiz Fernando. Elementos da forma. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Senac Nacional, 2000. VERNON, M. D. Percepção e experiência. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974. WONG, Wucius. Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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MICHAELIS. Disponível em:
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Aula
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História da forma no século XX
Seus Objetivos: Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. reconhecer como os mais significativos movimentos artísticos do século XX utilizaram as formas; 2. estabelecer relações entre as formas utilizadas nas artes plásticas, moda, design e arquitetura; 3. reconhecer as relações existentes entre moda e o seu entorno, representadas através das formas.
2 horas de aula
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1. É tempo de mudanças Na aula anterior, vimos alguns conceitos importantes sobre a forma. Ela, ao longo da história, sempre desempenhou um papel muito importante nas diferentes linguagens artísticas. Nos séculos XVIII e XIX, vamos assistir a grandes transformações na vida do homem, no que se refere à vida prática, à vida do dia a dia. Tudo por causa de grandes invenções que vão trazer uma melhoria de vida para a sociedade: o aparecimento da embarcação a vapor, da ferrovia, da primeira ponte de ferro, dos teares mecânicos, do telefone, do fonógrafo, da luz elétrica, da fotografia etc. Esses acontecimentos também vão ter grande impacto no campo artístico. Novas formas de fazer e ver a arte surgem no fim do século XIX e estendem-se durante o século XX. O que veremos a seguir é como a forma vai se desenvolver no meio deste emaranhado de novidades. O século XX é o século das transformações em todos os níveis da sociedade: econômico, religioso, político, comportamental, geográfico. Desde a invenção da imprensa por Gutenberg no Renascimento, não se via mudanças tão radicais na sociedade – da bomba atômica à informática. Tudo ao mesmo tempo. Bem, vamos conhecer as formas deste século, que deixaram marcas profundas na constituição da humanidade.
2. Enfim... somos modernos (1900-1918) O século XX começa herdando as novidades que a Revolução Industrial tinha criado nos dois séculos anteriores. As correntes artísticas, que surgem no início do século, propõem-se a interpretar as mudanças econômicas, religiosas, sociais e tecnológicas da Civilização Industrial. Diversas publicações e acontecimento importantes ocorrem nestas áreas: • Em 1900, é publicado A Interpretação dos Sonhos de Freud; • Em 1905, Einstein apresenta sua teoria sobre a relatividade; • Em 1906, Santos Dumont voa com o 14 Bis, em Paris; • Em 1910, Henry Ford começa a produção em série de automóveis; • Em 1914, inicia-se a Primeira Guerra Mundial. Esse período – início do século XX - também é conhecido como a Belle Epoque. Esta era é até hoje relembrada como uma época de florescimento total do belo, de transformações, avanços e paz entre o território francês, onde este movimento centralizou-se, e os países europeus mais próximos. Surgem novas 67
Aula 4
descobertas e tecnologias, e o cenário cultural fervilha com o aparecimento dos cabarés, do cancã, do cinema. As artes aram por uma transformação radical durante as décadas antes da Primeira Guerra Mundial e novas formas artísticas associadas com modernidade surgiram. O estilo que mais representa a Belle Epoque é o Art Nouveau. O Art Nouveau é um fenômeno tipicamente urbano que surge na França, no fim do século XIX, estendendo-se até as primeiras décadas do século XX. O movimento vira moda e, rapidamente, espalha-se por outros países, ganhando diferentes nomes, tais como: Jugendstil, na Alemanha; Liberty, na Itália; Sezessionsti, na Áustria. A fonte de inspiração primeira dos artistas é a natureza, as linhas sinuosas e assimétricas das flores e animais. Inspiram-se também nos motivos estilísticos da arte japonesa. Os artistas recusam a proporção e o equilíbrio simétrico. O movimento da linha assume o primeiro plano dos trabalhos, ditando os contornos das formas e o sentido da construção. Os arabescos e as curvas, complementados pelos tons frios, invadem as ilustrações, o mundo da moda, as fachadas e os interiores. A arquitetura orgânica seria aquela que busca imitar as formas da natureza. Um dos casos mais curiosos deste início de século são as obras de Antonio Gaudi, arquiteto catalão. Nas primeiras décadas do século XX, ele projeta obras sem pares na história das formas e da arquitetura, explorando o máximo da organicidade das formas da natureza. Ele imaginava formas fantasiosas e inéditas e, ao mesmo tempo, delimitava experimental-
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Frank Kovalchek
mente como seria sua estrutura feita em pedra, tijolo ou cerâmica.
Casa Batllo, localizada em Barcelona, na Espanha. Obra de Antonio Gaudi, 1905/1907.
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No Brasil, observam-se leituras e apropriações de aspectos do estilo Art Nouveau na arquitetura e na pintura decorativa. Em sintonia com a ascensão do ciclo da exploração da borracha (1850/1910), as cidades de Belém e Manaus assistem à incorporação de elementos do Art Nouveau, na arquitetura urbana. A arte que surge durante esse período não se reflete diretamente na moda, mas nós podemos ver algumas conexões entre as artes visuais e as roupas. No caso da Art Nouveau e mais tarde na Art Déco, estas conexões são óbvias. As formas da moda no início do século podem ser traduzidas através das “Gibson Girls”. As ilustrações de mulheres do ilustrador Charles Gibson aram a representar o espírito dos primeiros anos do século XX, na América do Norte. Suas ilustrações, aparecendo em várias revistas populares, tanto influenciaram e refletiram as atitudes, comportamentos e costumes daquela região. Seus desenhos atraíram iração e reconhecimento imediato pelo público em geral. Suas formas em S dominaram a iconografia das mulheres do início dos anos 1900. A “Gibson Girl” tornou-se um modelo para a forma
Fonte: Wikipedia | Foto: Charles Dana Gibson
Fonte: Flickr | Foto: Mary Allen Gunter
imitada por mulheres e irado pelos homens.
As ilustrações femininas de Charles Gibson influenciaram as atitudes, comportamentos e costumes, tanto das mulheres, como dos homens que iravam este modelo feminino.
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Aula 4
Atividade 1 – Objetivos 1 e 2 Observe as imagens a seguir e analise as formas nos cartazes de Mucha,
Fonte: Wikipedia
Escultura de Antonio Gaudi
Cartaz de Alfons Mucha
Fonte: Wikipedia | Foto: Charles Dana Gibson
Fonte: Flickr | Foto: cwangdom
na arquitetura de Gaudi e nas ilustrações de moda de Charles Gibson.
Ilustração de Charles Dana Gibson
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Resposta e Comentário As formas vistas nas figuras apresentadas são características do movimento Art Noveau. São formas orgânicas, linhas sinuosas e assimétricas com inspiração na natureza, como podemos ver nas linhas que ilustram o cartaz. Os arabescos e sinuosidade também são percebidos nas formas que demarcam a arquitetura do Parque Guel. Estas mesmas formas compõem o design da ilustração de Gibson.
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Formas na Moda
3. As três grandes correntes. No grande campo das artes visuais, ainda se vê, no início do século XX, desdobramentos das expressões artísticas que tinham marcado as últimas décadas do século XIX, porém, com o advento da fotografia, os artistas afastamse gradualmente da representação naturalista e realista para uma representação mais impressionista, chegando até ao abstracionismo. Podemos dividir, para efeito de estudo, essas manifestações em três grandes correntes: • Expressionismo; • Abstração; • Fantasia. Segundo H. W. Janson (1996, pág. 357), “o expressionismo enfatiza a atitude emocional do artista para consigo próprio e para o mundo, a abstração enfatiza a estrutura formal da obra de arte e a fantasia explora o domínio da imaginação”.
3.1. Os expressionistas. As primeiras décadas do século XX são conhecidas como as décadas dos ismos. A cada movimento ou uma nova tendência que surgia, este era imediatamente batizado com um “ismo”. A arquitetura expressionista desenvolve-se na agitação que vivia a Alemanha no pós-guerra. O Expressionismo foi caracterizado por uma adoção pré-modernista de novos materiais, inovação formal e volumes extremamente incomuns, algumas vezes inspirados nas formas biomórficas naturais, algumas vezes por uma nova técnica oferecida pela grande produção de tijo-
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Lestath
los, aço e especialmente vidros. Buscava expressar sentimentos, estados de ânimo e conteúdos emotivos, sempre trabalhando com linhas curvas. A Torre Einstein, de Erich Mendelson, é o maior exemplo desta arquitetura.
Torre Einstein, Erich Mendelson, 1910/1923.
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Aula 4
O Fauvismo é o primeiro dos “ismos” e fez parte do movimento expressionista. Na primeira década do século XX, a grande novidade nas artes plásticas é o salão de outono de 1905, em Paris. Lá, pela primeira vez, são apresentados os trabalhos de Henry Matisse, George Roualt e André Derain. Suas obras provocam um escândalo. Você sabe por quê? Seus trabalhos são caracterizados pela distorção das formas e da cor. Pela violência apresentada nos seus trabalhos, estes artistas ficam conhecidos como Fauves (as feras) e o movimento ficou conhecido como Fauvismo. As obras são consideradas violentas por que a cor e a forma são usadas para expressar uma visão única do artista. A inovação não está nos temas, que ainda são as bailarinas, as paisagens urbanas e pedestres de locais noturnos, e sim no uso da cor. As cores não são verossímeis: um céu pode ser cor de rosa. As forborrões, que servem apenas como base para a aplicação da cor.
Luxo, tranquilidade e prazer, de Henri Matisse, pintado em 1904.
Fonte: Flickr | Foto: Wally Gobetz
mas tornam-se diminutas, quase
Em 1905, na Alemanha, um grupo de artistas que morava em Dresden, junta-se para discutir e produzir, em sintonia com as correntes artísticas inovadoras da éposionistas alemães acentuam o seu desejo de liberdade, apresentando um tratamento subjetivo na forma e na cor. Enquanto a cor, para os fauves, tinha uma vitalidade, para o grupo de pintores da Ponte, a cor expressa angústia. As formas são angulosas e agressivas.
Cinco Mulheres na Rua, Ernst Ludwig Kirchner, 1913.
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Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Ernst Ludwig Kirchner
ca. Eles se denominam Die Brucke (A Ponte). Os expres-
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Em 1911, nasce em Berlim o grupo chamado Der Blauer Reiter (O Cavaleiro Azul). Fundado pelo pintor russo Wassily Kandisky e pelo pintor alemão Franz Marc, este grupo pretende dar a voz ao interior do indivíduo. Este interior é concebido como uma força espiritual. A cor e a forma assumem um significado puramente espiritual, onde não há semelhança com o mundo físico. É um estilo não objetivo. Deve ser visto e compreendido como uma liberdade do espírito. Kandinski foi o primeiro artista propriamente abstrato. Suas teorias sobre a abstração das formas, como expressão do espírito humano, determinaram uma mudança substancial na pintura e escultura do século XX, dando início a movimentos e artistas que vão usar formas abstratas, sem se preocupar
Fonte: Picasa | Foto: fotosaula
com a reprodução da realidade, mas sim uma pintura mais não objetiva.
Composição IV, Kandinsky, 1911.
3.2. Os Abstracionistas Segundo Silvia Ferrari (2001), “os expressionistas entreabriram uma porta, deixando entrever a possibilidade de modificar as regras da composição, traduzir os estados de espírito e atribuir livremente as cores”. Os desdobramentos que virão serão de grande impacto nas artes e irão influenciar todo o século XX. A primeira grande ruptura acontece em 1907. O pintor Pablo Picasso, influenciado pelas pinturas de Cézanne (pintor impressionista), que tinha reduzido o real a volumes mínimos e simples, e que tinha retratado a natureza através de formas básicas, como o cilindro, a esfera e o cone, e pela cultura negra, apresenta no salão de arte daquele ano o quadro Les Demoiselles 73
Aula 4
D´Avignon. Este quadro dá início ao movimento cubista. O Cubismo caracteriza-se pela revalorização das formas geométricas – triângulos, retângulos e cubos -, além, é claro, da proposição da pintura e da escultura como formas de expressão. Quanto ao nome dado a este novo movimento, ele não partiu dos próprios artistas, mas dos críticos de arte da época, totalmente desconcertados diante deste novo caminho de expressão artística. O Cubismo ocorreu entre 1907 e 1914, tendo como principais fundadores Pablo Picasso e Georges Braque. Os pintores e escultores desse movimento afirmavam que na natureza é possível reduzir todas as coisas a formas geométricas perfeitas, mediante as quais elas podem ser representadas. Esta síntese da realidade é fruto de uma busca dos elementos mais fundamentais e primários das artes plásticas, de suas próprias raízes. O Cubismo é dividido em dois momentos: o primeiro é chamado de Cubismo Analítico – a pintura pretende mostrar a imagem de diferentes pontos de vista ao mesmo tempo, chegando à abstração total, em alguns casos; o segundo Carlos Argan (1992, p. 302), “a finalidade era transformar o quadro numa forma-objeto que possuísse uma realidade própria e autônoma”. O segundo momento é chamado de Cubismo Sintético – a pintura torna-se menos abstrata e mais real. É o momento em que os artistas am a utilizar outros objetos, aplicados à pintura, tais como pedaços de jornal e
Fonte: Picasa | Foto: Fotosaula
pedaços de tecidos.
George Braque - Still Life on a Table, 1914. Musée National d’Art Moderne, Centre Georges Pompidou, Paris
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Formas na Moda
O Cubismo desmaterializava a forma, mas seus temas ainda eram tradicionais – natureza morta, retrato, nus, contudo outros pintores e artistas viam no novo estilo novas possibilidades de dialogo com o dinamismo dos tempos modernos. Em 1909, é publicado em Paris o primeiro manifesto do Futurismo. O manifesto exalta como elemento fundamental da poética futurista – a velocidade. O Futurismo pretende celebrar o movimento, a tecnologia, a beleza da máquina. O carro era exaltado não por sua forma, mas pela possibilidade da velocidade. O primeiro manifesto foi publicado no Le Fígaro, de Paris, em 22 de fevereiro de 1909, e nele o poeta italiano Marinetti diz que: “o esplendor do mundo enriqueceu-se com uma nova beleza: a beleza da velocidade. Um automóvel de carreira é mais belo que a Vitória de Samotrácia”. O segundo manifesto, no ano de 1910, resultou do encontro do poeta com os pintores Carlo Carra, Russolo, Severini, Boccioni e Giacomo Balla. Para os futuristas, os objetos não se esgotam no contorno aparente e seus aspectos misturam-se continuamente a um só tempo ou vários tempos num só espaço. Todas as formas acabam por se interpenetrar, pois tudo existe ao mesmo tempo. Os futuristas usavam muitas cores berrantes, mas nunca desenvolveram uma teoria coerente sobre cor, que os pudesse distinguir dos outros movimentos artísticos da mesma época. Podemos considerar que este é um dos poucos movimentos que se preocupa com a moda. Eles desenvolvem roupas coloridas, de corte assimétrico, que retomam suas experiências na pintura. O Futurismo perde o seu ímpeto durante a Primeira Guerra Mundial. Uma segunda geração, menos subversiva, surgiu no início da década de 1920 e sustentou o movimento
Fonte: Flickr | Foto: Mark Skrobola
até a década de 1930.
Formas únicas da continuidade no espaço, Umberto Boccioni, 1913.
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Fonte: Picasa | Foto: Fotosaula
Aula 4
Dinamismo de um cachorro na coleira, Giacomo Balla, 1912.
Sapatos de homem bicolores, 1916-1918, Giacomo Balla.
Giacomo Balla e o site a seguir para conhecer uma importante obra de Giacomo Balla - Manifesto futurista da roupa masculina, 1913. http://incidentalmusique.blogspot.com/2009/04/giacomo-balla-manifesto-futurista-da. html?zx=94224be161d54122
Todas essas manifestações aconteciam em paralelo, ou seja, não existe um fim para uma nem um começo para outra. Em 1913, os cubistas ainda se manifestavam em Paris, enquanto na Itália os futuristas vão divulgando suas propostas. Na Rússia, novas ideias e novas formas começam a chamar atenção do mundo. É o início do Suprematismo. Iniciado por Kazimir Malevitch, o movimento defende a posição de ser uma arte autônoma, sem qualquer relação 76
Formas na Moda
com o real. O extremo destas concepções é o quadro Quadrado branco sobre fundo branco. As formas são geométricas e retas, frequentemente pintadas em monocromia. Eles pretendiam afirmar a autonomia conceitual da pintura. Ela é diferente das abstrações de Kandisky, que procurava um sentido espiritual e
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Rtc
mais emocional.
Quadrado negro sobre fundo branco, Malevitch, 1913.
Em 1917, a Revolução Socialista derruba o Regime Czarista na Rússia. A corrente artística que surge neste momento é o Construtivismo que foi um movimento de renovação artística e arquitetônica, fortemente vinculado a ideais políticos revolucionários. Segundo Argan (1992, p. 326), “a arte deve estar a serviço da revolução, fabricar coisas para a vida do povo (...). qualquer distinção entre as artes deve ser eliminada (...) a pintura e a escultura são construções”. As formas do Construtivismo são fortes, partem da abstração geométrica, utilizam elementos cinéticos e a tecnologia. Caracterizou-se, de forma bastante genérica, pela utilização constante de elementos geométricos, cores primárias, fotomontagem e a tipografia sem serifa. Tatlin foi o escultor líder do movimento. Segundo Montaner (2002, p. 74): as formas construtivistas buscavam ser aplicadas não só à arquitetura e à cidade, mas também foram propostas para diferentes áreas da vida coletiva, como as cenografias de Iakov Chernikhov; ou da vida doméstica, como os vestidos geometrizados de designers de moda revolucionários, como o arquiteto Aleksandr Rodchenko, Nadejda Lamanova, (...)
Após a revolução, grande parte dos artistas iniciais do movimento migra para a Europa ocidental, fazendo com que o Construtivismo sirva de e para outros movimentos, como a Bauhaus. 77
Fonte: Picasa | Foto: Fotosaula.
Aula 4
Fonte: Picasa | Foto: Bonifacio Pontonio
Monumento a III internacional, Vladimir Tatlin, 1919.
Bate os brancos com a cunha vermelha, El Lissitzky, 1920.
A explosão da primeira guerra não faz com que os artistas deixem de produzir. Novas ideias e novas discussões continuam a aparecer na arte pela Europa. Porém, ainda dentro da abstração, em 1917, na cidade holandesa de Leyden, surge a revista Der Stijl. A revista vai divulgar as novas ideias de Piet Mondrian e Theo Van Doesburg e dar nome ao novo movimento. Nasce o Neoplasticismo (Der Stijl). O Neoplasticismo ou Der Stijl caracteriza-se por linhas retas horizontais e verticais. Chega-se a uma abstração através de quadrados e retângulos de cores primárias e o branco. Não há qualquer referência com o real. De Stijl procu-
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ra exprimir-se em termos universais, sem qualquer expressão de emotividade. As pinturas de Mondrian não têm um centro e nem um ponto para chamar a atenção. As forças das linhas são distribuídas pelo todo do quadro. O impacto do seu trabalho foi além do campo das belas artes, atingindo a arquitetura, a moda e a publicidade. Na arquitetura neoplástica, havia 17 pontos que delimitavam e sintetizavam os princípios formais de uma forma arquitetônica, são eles: abstrata, objetiva, elementarista, informe, econômica, planta livre, assimétrica, antidecorativa, antimonumental, anticúbica, aberta, flutuante e em equilíbrio dinâmico. As obras de Theo Van Doesburg vão introduzir a linha diagonal nas composições. Este sentido de movimento não existe nas obras de Mondrian e aca-
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Hendrike
ba por entrar em conflito com as ideias inicias do movimento.
Fonte: Flickr | Foto: tom&oliver/isa
Composição com vermelho, azul e amarelo, Piet Mondrian, 1930.
Casa Schöder, Gerrit Rietveld, 1925.
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Fonte: Flickr | Foto: Dovina_is_Devine
Aula 4
Yves Saint Laurent, 1965. Tennis Vans, 2008
Atividade 2 – Objetivos 1, 2 e 3 Analise as formas retas na arquitetura e nas obras de Rietveld, nos carta-
Fonte: Flickr | Foto: Dovina_is_Devine
Fonte: Flickr | Foto: Téo Brito
Fonte: Wikimedia Commons
zes do Construtivismo e na coleção de Yves Saint Laurent.
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Resposta e Comentário Todos os objetos citados têm em comum a abstração geométrica. Caracterizam-se pela utilização das cores primárias e elementos geométricos. Todos têm em comum a ideia da construção, construir para crescer, não só em termos ideológicos, como no Construtivismo, mas também em termos espirituais, como no Der Stijl (expresso nas formas geométricas da cadeira, do cartaz e do vestido; nas cores da cadeira e do vestido). A grande preocupação do movimento Der Stijl era a divisão do espaço através das linhas verticais e horizontais. As forças das linhas estabelecem uma tensão no equilíbrio assimétrico da composição. Estas discussões de forma e espaço são aplicadas não só nos vestidos de Saint Laurent, assim como nos produtos desenvolvidos por Rietveld, proporcionando uma beleza harmônica na composição de suas formas.
3.3. A fantasia O que Janson (1996) denomina fantasia é menos definida, já que parte mais de um estado de espírito do que um estilo específico. Os movimentos Dadaísta e Surrealismo vão explorar o inconsciente como fonte de criação estética. Na Europa tomada pela guerra, a Suíça é um oásis. Num país que se declarou neutro, a atividade artística é densa e crescente. É lá que surge o último grande movimento das duas primeiras décadas do século XX – o Dadaísmo. A palavra Dada não que dizer nada. Os mentores do movimento não queriam propor nada. Eles alegavam que todas as crenças tinham sido destruídas pela guerra. Eles defendiam uma abordagem destrutiva, irreverente e libertadora da arte. O Dadaísmo não tenta criar um estilo. Este movimento propunha a atuação interdisciplinar como única maneira possível de renovar a linguagem criativa. É nonsense, pois o comportamento do mundo é ilógico. Não são apenas os princípios estéticos a serem questionados, como fizeram os expressionistas ou cubistas, mas o próprio núcleo da questão artística. Negando toda possibilidade de autoridade crítica ou acadêmica, consideram válida qualquer expressão humana, inclusive a involuntária, elevando-a à categoria de obra de arte. Os dadaístas apropriam-se de objetos do cotidiano e os apresentam como obras de arte. São os ready mades: um objeto qualquer pode ser uma obra de arte. Os dadaístas utilizam-se de todas as linguagens artísticas: a fotografia, o cinema, a escultura, a colagem (tratava-se da reunião de materiais, aparentemente escolhidos ao acaso, nos quais sempre se podiam ler textos elaborados com recortes de jornais de diferentes feições gráficas) e a pintura. 81
Aula 4
Com o fim da guerra, o movimento perde seu impacto inicial. Se seu fazer artístico era através da negação, o movimento esgota-se. Mas, não antes
Fonte: Flickr | Foto: kamikazecactus
de deixar entrever que as manifestações psíquicas seriam a novidade nas artes.
A fonte, Marcel Duchamp, 1917.
Man Ray e o site a seguir para conhecer importantes obras do artista Man Ray, dentre elas a obra O violino de Ingres, 1924. Basta clicar em Image Archive e depois em Man Ray Digital Photo Library e fazer a busca pelo nome da obra. http://www.manraytrust.com/
4. Período entre guerras (1919-1945) O período compreendido entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial é um momento de grandes tensões políticas na Europa. A Europa percebe-se não mais como o centro do mundo, diante da ascensão dos Estados Unidos. Neste período, a Rússia a a viver o Comunismo e o Nazismo instala-se na Alemanha. Em 1929, os Estados Unidos caem em uma grande recessão. Esta crise econômica repercute no mundo todo. No campo das artes, temos o aparecimento do Art Déco, da criação da Bauhaus e do surgimento do movimento Surrealismo. Nesta aula, veremos apenas o Surrealismo, dentro da divisão proposta por Janson.
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4.1. O Surrealismo Nascido dentro da literatura, o Surrealismo rapidamente expande-se a todas as formas de arte: pintura, escultura, cinema, arquitetura e moda. O Surrealismo é uma consequência do mundo aberto por Sigmund Freud e a psicanálise. Um grupo de literatos, entre eles André Breton, Paul Éluard, Louis Aragon dão continuidade às propostas do Dadaísmo. Breton era médico psiquiátrico e estudioso de Freud; o inconsciente era sua fonte de inspiração, um campo até então desconhecido. Os surrealistas desenvolveram um processo de criação ao qual deram o nome de “automatismo”. As imagens são apresentadas sem uma razão lógica. Segundo Josep M. Montaner (2002, p. 44), “a interpretação e recriação dos sonhos se converteu em um dos mecanismos básicos que nutriu a teoria e prática dos surrealistas”. O Surrealismo foi, por excelência, a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente. Suas origens devem ser buscadas no Dadaísmo e na pintura metafísica de Giorgio De Chirico (uma volta à figuração, inspirada na cultura grega e na filosofia europeia, no qual construções geométricas dialogam com cenários teatrais e fantasiosos). Este movimento, a exemplo de seus predecessores, pregou a transgressão dos valores morais e sociais, a nulidade das academias e a dessacralização do artista, com uma Nihilismo: Conceito filosófico que prega a descrença absoluta de valores, ausência de finalidade da vida.
ressalva: opôs uma atitude esperançosa e comprometida com seu tempo ao nihilismo fundamentalista do Dadaísmo. Os artistas do Surrealismo que mais se destacaram na década de 1920 foram os seguintes: o escultor italiano Alberto Giacometti, o dramaturgo francês Antonin Artaud, os pintores espanhóis Joan Miró e Salvador Dali, o belga René Magritte, o alemão Max Ernst, o cineasta espanhol Luis Buñuel e os escritores ses Paul Éluard, Louis Aragon e Jacques Prévert. A livre associação e a análise dos sonhos, ambos métodos da psicanálise freudiana, transformaram-se nos procedimentos básicos do Surrealismo, embora aplicados a seu modo. Por meio do automatismo, ou seja, qualquer forma de expressão em que a mente não exercesse nenhum tipo de controle, os surrealistas tentavam plasmar, seja por meio de formas abstratas ou figurativas simbólicas, as imagens da realidade mais profunda do ser humano: o subconsciente. Dentro do Surrealismo, devem-se destacar três períodos importantes e bem diferenciados entre si: • o período dos sonhos (1924), representado pelas obras de natureza simbólica, obtidas através de diferentes procedimentos de automatismo, de um certo figurativismo; 83
Aula 4
• o período do compromisso político (1928), expresso na filiação de seus líderes ao Comunismo; • uma terceira fase (1930), de difusão, que se empenhou na formação de grupos surrealistas em toda a Europa, tendo conseguido a adesão de grupos americanos. Os surrealistas apropriam-se das técnicas livres do Dadaísmo, assim como das possibilidades da fotografia e do cinema, porém não negam o rigor das técnicas formais da pintura figurativa. Max Ernst introduz a técnica do frottage, que consiste em esfregar um lápis num papel sobre uma superfície texturizada. Segundo Breton, há dois métodos propriamente surrealistas: o automatismo rítmico (pelo qual se pintava seguindo o impulso gráfico) e o automatismo simbólico (a fixação Onírico: Relativo aos sonhos.
das imagens oníricas ou subconscientes de maneira natural). De acordo com isto, surgiram grupos diferentes de pintores: Miró, Hans Arp e André Masson, por exemplo, representaram o surrealismo Fonte: Flickr | Foto: kamikazecactus
orgânico ou automatista, enquanto Dalí, Magritte, Chagall e Marx Ernst, entre outros, desenvolveram o surrealismo simbólico.
Salvador Dali - Tentação de Santo Antonio, 1929 (esquerda) e Criança geopolítica assistindo ao nascimento do novo homem, 1943 (direita).
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Fonte: Flickr | Foto: Valentine Valov
Canto de amor, Giorgio De Chirico, 1917.
Fonte: Flickr | Foto: Sugar
Fonte: Flickr | Foto: kamikasecactus
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Fonte: Flickr | Foto: elena-lu
Obras de Max Ernst.
Vestido de Elsa Schiaparelli.
Atividade 3 – Objetivo 3 Quais as principais diferenças entre o Dadaísmo e o Surrealismo? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 85
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Resposta e Comentário O Dadaísmo não criou um estilo. Ele propunha a atuação interdisciplinar como única maneira possível de renovar a linguagem criativa. É nonsense, trabalha com o acaso, apropriando-se de formas já produzidas pela indústria. O Surrealismo trabalha com a livre associação e a analise dos sonhos. Não existe um rigor formal no Dadaísmo, diferente do Surrealismo.
Conclusão Nesta aula, vimos que o início do século XX foi de grandes transformações na sociedade, em geral. O desenvolvimento industrial herdado da Revolução Industrial muda costumes e comportamentos. No campo das artes visuais, as mudanças são decisivas para os caminhos futuros das produções artísticas. As primeiras décadas do século XX são marcadas por movimentos artísticos que apresentam novidades estéticas não só na pintura, mas também na arquitetura e, consequentemente, na moda.
Para uma segunda olhada… O Movimento Art Noveau é um dos mais importantes para a moda no início do século XX. O Expressionismo é caracterizado por inovação formal e volumes extremamente incomuns. Os fauves apresentam novas possibilidades no uso das cores e das formas. Kandisky é o primeiro artista a trabalhar apenas com formas abstratas. O Cubismo revaloriza as formas geométricas. Afirma que na natureza tudo pode ser reduzido a formas geométricas. Dentre os ismos, o Futurismo é o primeiro a criar também para a moda. As linhas horizontais e verticais do Neoplasticismo vão servir de inspiração, não só para a moda, mas para vários produtos relacionados à moda. O Dadaísmo rompe com a artesania da arte, ao apresentar objetos do cotidiano como obras de arte. As ideias freudianas vão influenciar o surgimento do Surrealismo, movimento que se estendeu da pintura ao cinema, ando pela moda.
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Referências ARGAN, Giulio. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. FERRARI, Sivia. Guia de História da Arte Contemporânea. Lisboa: Editorial Presença, 2001. JANSON, H. W. Iniciação à historia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. MONTANER, Josep Maria. As formas do século XX. Barcelona: Editorial Gustavo Gil, 2002.
Sites Consultados FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. o em: 8 set. 2010. PICASA. Disponível em:
. WIKIMEDIA Commons. Disponível em:
. o em: 8 set. 2010. WIKIPEDIA. Disponível em:
.
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Aula
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Período entre guerras e a Segunda Guerra Mundial (1919 -1945)
Seus Objetivos: Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. reconhecer como os mais significativos movimentos artísticos do século XX utilizaram as formas; 2. estabelecer relações entre as formas utilizadas nas artes plásticas, moda, design e arquitetura; 3. identificar as relações existentes entre moda e o seu entorno, representadas através das formas.
1 hora de aula
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1. Vamos recomeçar! Na aula anterior, conhecemos vários movimentos artísticos que ficaram conhecidos como Vanguardas Históricas, por seu caráter inovador. Estes movimentos aconteceram paralelamente em alguns casos, ou seja, havia algo de novo surgindo na França, quando novas ideias brotavam na Itália. As coisas aconteciam simultaneamente. Apesar de já termos chegado até a década de 1930, vamos retroceder até o fim da Primeira Guerra Mundial e vermos outros movimentos que não são considerados vanguardas, mas são muito importantes para as formas nas artes, na arquitetura e na moda.
2. Com o fim da Primeira Guerra... As vanguardas mudaram e transformaram o campo das artes. A tradição academicista foi duramente golpeada, assim como a sociedade. As monarquias da Áustria e da Rússia ruíram. A Alemanha diminuiu em tamanho, ou melhor, transformou-se em duas, contudo no final da primeira guerra, em todos os níveis sociais, começa um período de reconstrução. A Europa estava devastada pela guerra e, por isto, era necessário um recomeço. Era o momento em que as pessoas queriam se esquecer dos traumas da guerra, divertir-se e olhar para o futuro. Após a Primeira Guerra, o clima social na Europa e nos Estados Unidos não podia ser mais o mesmo. Escritores da época falam de uma revolução moral. Isto ficou evidente no comportamento dos jovens, principalmente das mulheres jovens. Até a Primeira Guerra, havia certos padrões de comportamento esperado das senhoras: elas não deviam fumar, beber, ver jovens, rapazes, sozinhas. A partir de 1920, tudo mudou. As “melindrosas”, como eram apelidadas, pareciam livres de todas as restrições do ado. As revistas de moda e os filmes de Hollywood, em particular, ajudaram a disseminar um comportamento e uma moda a um público extremamente curioso por novidades.
2.1. A escola Bauhaus Mas nem tudo era agitação e ansiedade por melhorias no pós-guerra. Alguns países, como a Alemanha, estavam severamente abalados. A Alemanha precisava se reconstruir e um sinal desta necessidade foi a criação da Bauhaus. Em 1919, o arquiteto Walter Gropius fundou a Escola Bauhaus. A escola de de91
Aula 5
sign foi concebida a partir da fusão da Escola de Artes Aplicadas e da Academia de Belas Artes. A escola pretendia ser um centro de concepção e de criação para a indústria. Fundava-se sobre o princípio da colaboração e da pesquisa conjunta entre mestres e alunos. De acordo com Amy Dempsy (2003, p. 130), “Por um lado a intenção da Bauhaus era formar artistas, designers e arquitetos mais responsáveis socialmente. Por outro, ela pretendia nada menos do que o progresso da vida cultural da nação e o aperfeiçoamento da sociedade”, ou seja, a Bauhaus pretendeu unir arte e indústria para atender às necessidades da sociedade. A Bauhaus pode ser dividida em três períodos, tomando como princípio as cidades onde ela se encontrava: • O primeiro período data de 1919 a 1926, em Weimar. Dirigido por Gropius e Itten, este período relaciona-se ao expressionismo tardio; • O segundo período vai de 1926 a 1932, em Dessau. Dirigido por Gropius, Lazlo Moholy-Nagy e Hannes Meyer, é um período marcado por forte influência do construtivismo; • O terceiro período vai de 1932 a 1933, em Berlim. Dirigido por Mies Van der Rohe, é um período marcadamente racionalista. Durante o segundo período da escola, podemos encontrar suas principais características. O novo design da Bauhaus é caracterizado pela simplicidade, requinte de linha e da forma, abstração geométrica, cores primárias e o emprego de novos materiais e tecnologias. Exemplos são as fontes sem serifa, utilizadas em caixa baixa, o mobiliário em aço tubular e o projeto de casas populares. Sob a pressão do regime nazista, a Bauhaus é fechada em 1933. Na arquitetura, as formas simplificadas começam a afirmar-se e o funcionalismo é levado até as últimas consequências, rejeitando qualquer caráter utilitário.
Poltrona Barcelona, design de Mies van der Rohe.
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Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Sailko
caráter ornamental para privilegiar o
Fonte: Flickr | Foto: arnoKath
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Cartaz em homenagem a Jan Tschichold, professor da Bauhaus.
O traje feminino da década de 1920 fornece a evidência visível da agitação, vivida naquele tempo. Nunca antes na história do costume, no Ocidente, mulheres tinham usado saias que revelassem suas pernas. Os cabelos das mulheres nunca haviam sido cortados de forma tão curta. As calças compridas como vestimenta para as ruas tinham sido, até então, estritamente roupas de homens. De acordo com Christopher Breward (1995, p. 185), “As formas planas, geométricas, masculinizadas, frequentemente associadas com os códigos femininos de moda da década de 1920, só realmente tiveram um impacto real a partir de 1926”.
2.2. O Estilo Art Decó Em 1927, os cabelos curtos, cortados em camadas, os lábios e olhos acentuados por cosméticos, os vestidos com estampas abstratas feitos com os novos materiais, como o rayon, expam as batatas das pernas das moças. Além disto, os sapatos de salto alto com tiras nos tornozelos transformaram o visual feminino daquele período. Este visual foi inspirado por influências tão diversas, como a Exposição Internacional das Artes Decorativas em 1925, 93
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em Paris. Esta exposição marca a surgimento do estilo que vai ficar conhecido como Art Déco (abreviação de arts décoratifs), também conhecido como style moderne ou Paris 1925. A época busca a ordem e o equilíbrio, o que se traduz no domínio da decoração por ângulos bem definidos e pelo gosto pela simetria, em contraste total com as incríveis sinuosidades da Art Nouveau. O padrão decorativo Art Déco segue outra direção: predominam as linhas retas ou circulares estilizadas, as formas geométricas e o design abstrato. Cores vibrantes, formas naturais e uma mistura de influências exóticas marcam o estilo. O movimento originou-se na França, como um estilo luxuoso, profundamente decorado, que se difundiu rapidamente pelo mundo. O Art Déco tem várias influências: desde as formas de Charles Mackintosh e Josef Hoffmann, ando pelas vanguardas artísticas, os exóticos cenários dos balés Russos de Diaghilev até a descoberta da tumba de Tutancâmon. No campo da moda, o costureiro Paul Poiret é um dos principais nomes do movimento. Em 1911, ele fundou sua Ecole d´Art Decoratif Martine e foi um revolucionário no campo da moda. Criou uma nova visualidade para mulheres, dispensando totalmente o espartilho. O Art Déco apresenta-se, de início, destinado à burguesia enriquecida do pós-guerra, empregando materiais caros, como jade, laca e marfim. É o que ocorre, nas confecções do estilista e decorador Paul Poiret, nos vestidos “abstratos” de Sonia Delaunay, nos vasos de René Lalique e nas padronagens de Erté (pseudônimo de Romain de Tirtoff). O estilo também tem grande penetração nas artes gráficas.
Jade: designação comum a diversos minerais duros, compactos e esverdeados, empregados em geral em objetos de adornos e/ou estatuetas. Laca: resina vermelha extraída de várias plantas.
Quem mais ganha com esse estilo é a arquitetura. Os motivos simples do design Art Déco adaptaram-se facilmente ao uso arquitetônico. Os poucos motivos da sua sintaxe ornamental, como o ziguezague, o triangulo e as curvas vão caracterizar a paisagem de Nova York, nos anos 1930. A partir de 1934, ano de realização da exposição Art Déco no Metropolitan Museum de Nova York, o estilo a a dialogar mais diretamente com a produção industrial, com os materiais e forestilo começasse a declinar na França, ele adquire vida nova nos Estados Unidos. O Art Déco americano é notadamente mais geométrico e aerodinâmico do que o estilo que se via em Paris.
Cartaz do designer A. M. Cassandre.
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Fonte: Flickr | Foto: Boston Public Library
mas íveis de serem reproduzidos em massa. Embora o
Fonte: Flickr | Foto: elena-lu
Fonte: Flickr | Foto: Sharon Mollerus
Fonte: Flickr | Foto: Octavio Isaac Rojas Orduña
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William van Allen, Edifício Chrysler, 1928/1930.
Obra de Sonia Delaunay.
Cartaz de Erté.
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No Brasil, a obra de Victor Brecheret pode ser pensada com base nas influências que sofre do Art Decó em termos de estilização elegante. Um rápido eio pela Cidade do Rio de Janeiro pode ser tomado como exemplo da difusão do Art Déco, impresso em vitrais, escadarias, decoração de calçamentos e letreiros. O interior da Sorveteria Cavé, no centro da cidade; o Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes; a Central do Brasil; alguns prédios do Lido, em
Fonte: Flickr | Foto: Rodrigo Soldon
Copacabana, entre muitos outros, revelam as marcas e motivos Art Déco.
Podemos observar na torre da Central do Brasil o rigor geométrico e a predominância de linhas verticais, que nos dão a ideia de um edificio mais alto, caracteristicas do Art Decó.
No campo da pintura, o período entre guerras é caracterizado pelo surgimento do surrealismo, um segundo futurismo e manifestações específicas em determinadas parte da Europa. Na Itália, em 1922, um grupo de artista dá origem ao Novecento. Anselmo Bucci, Leonardo Dudreville, Achille Funti, entre outros, liderados pela escritora e crítica de arte Margherita Sarfatti, propõem uma volta ao Classicismo. Não há nenhuma complexidade formal: as formas são claras e destacam-se num fundo uniforme. Muitas vezes descrito como fascista, o movimento de curta duração influenciou arquitetos e designers. Ele faz parte da busca pela estabilidade e pela ordem, características de muitos movimentos do período pós-guerra.
2.3. Um novo movimento; um novo objetivo? Outro movimento deste período é a Nova Objetividade, tendência realista da pintura na Alemanha, durante a década de 1920. Os artistas não forma-
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ram um grupo, mas trabalhavam com as mesmas ideias: os horrores da guerra, a hipocrisia social e a decadência moral. Max Beckmann, Otto Dix, George Grosz, entre outros, desenvolvem uma forma distorcida, herança do expressio-
Fonte: Flickr | Foto: Nicolas Patte
nismo, junto a uma atitude agressiva, próxima do dadaísmo.
Retrato da jornalista Sylvia Von Harden, 1926, Otto Dix.
2.4. Estilo Internacional Em meados do século XX, predomina na arquitetura o Estilo Internacional, também designado como modernismo internacional. Este estilo surge na década de 1920 e estende-se até a década de 1950. Caracteriza-se por formas retilíneas e simples, tetos planos, espaços internos abertos, ausência de ornamentação. O Estilo Internacional converge interesses não só nos Estados Unidos, como também na Europa. Os grandes arquitetos deste movimento são Le Corbusier, Adolf Loos, Frank Lloyd Wright. Estes edifícios geométricos vão caracterizar a arquitetura do novo século e vão se impor em todo o mundo Fonte: Flickr | Foto: STGO web
durante vários decênios, até se esgotarem.
Villa Savoye, Le Corbusier, 1929/1930.
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Fonte: Flickr | Foto: Rob Williams
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Villa Kaufmann, Frank Lloyd Wright, 1936/1937.
Na moda, Coco Chanel vai ser o grande nome da década de 1920, assim como Vionnet vai exemplificar os anos 1930 e Schiaparelli, o fim dos anos 1930. As formas retilíneas e simples do estilo internacional podem ser vistos nos
Fonte: Menai. Imagem de divulgação
tailleurs de Chanel.
Observe nos tailleurs as formas quadrangulares e triangulares que as linhas retas fazem, ao mesmo tempo em que realçam a modelagem da peça.
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Atividade 1 – Objetivos 1, 2 e 3 Faça um quadro de similaridades e diferenças entre as formas do movimento Art Decó na arquitetura, nos cartazes de A. M. Cassandre e nas ilustrações de moda de Erté, através das imagens apresentadas anteriormente na aula. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________
Resposta e Comentário As similaridades são a simetria do prédio e a simetria do cartaz. O rigor estrutural do cartaz e o rigor arquitetônico diferenciam-se do movimento livre, característico da ilustração de Erté. O trabalho de Erté apresenta formas exóticas e suntuosas, inspiradas no mundo mágico árabe, bem diferente das formas retas e simples, apresentadas no cartaz de Cassandre. Observe que os três têm em comum os ângulos bem definidos e as formas estilizadas.
Conclusão Apesar do período instável em que o mundo vivia, os anos entre guerras foram decisivos para o design. O aparecimento da Bauhaus, institucionalizando o ensino de design, deixou um legado que é apreciado até os dias de hoje. Além disto, é nesse período que surge o Art Decó, movimento muito importante para arquitetura, design e moda. Não podemos deixar de falar que nesses anos de turbulência, surge um dos maiores nomes na moda: Coco Chanel.
Para uma segunda olhada… A Bauhaus pretendeu unir arte e indústria para atender às necessidades da sociedade. O design da Bauhaus é caracterizado pela simplicidade, requinte de linha e da forma, abstração geométrica, cores primárias e o emprego de no-
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vos materiais e tecnologias. Na arquitetura, as formas simplificadas começam a afirmar-se e o funcionalismo é levado até as últimas consequências. O traje feminino da década de 1920 fornece a evidência visível da agitação, vivida naquele tempo. As mulheres começaram a usar saias, revelando suas pernas. Os cabelos foram cortados de forma curta. As calças compridas que tinham sido até então estritamente roupas de homens, am a ser também vestimenta para as mulheres. Surge o estilo Art Déco. A época busca a ordem e o equilíbrio, o que se traduz no domínio da decoração, por ângulos bem definidos e pelo gosto pela simetria. O padrão decorativo segue outra direção: predominam as linhas retas ou circulares estilizadas, as formas geométricas e o design abstrato. Cores vibrantes, formas naturais e uma mistura de influências exóticas marcam este estilo. No campo da moda, o costureiro Paul Poiret é um dos principais nomes do movimento. O Art Déco apresenta-se, de início, destinado à burguesia enriquecida do pós-guerra, empregando materiais caros, como jade, laca e marfim. No Brasil, a obra de Victor Brecheret pode ser pensada com base nas influências que sofre do Art Déco, em termos de estilização elegante. Outro movimento desse período é a Nova Objetividade, tendência realista da pintura na Alemanha, durante a década de 1920. Os artistas trabalhavam com as mesmas ideias: os horrores da guerra, a hipocrisia social e a decadência moral. Em meados do século XX, predomina na arquitetura o Estilo Internacional, também designado como Modernismo Internacional. Este estilo surge na década de 1920 e estende-se até a década de 1950. Caracteriza-se por formas retilíneas e simples, tetos planos, espaços internos abertos, ausência de ornamentação. Na moda, Coco Chanel vai ser o grande nome da década de 1920, assim como Vionnet vai exemplificar os anos 1930 e Schiaparelli, o fim dos anos 1930.
Referências ARGAN, Giulio. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BREWARD, Christopher. The Culture of Fashion. Manchester University Press: Manchester, UK, 1995. DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo: CosacNaify, 2003. FERRARI, Silvia. Guia de historia da arte contemporânea. Lisboa: Editorial Presença, 2001. JANSON, H. W. Iniciação à historia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. MENAI, Tania. CHANEL liberta: com a estreia de Coco antes de Chanel. Revista TPM. Disponível em:
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MONTANER, Josep Maria. As formas do século XX. Barcelona: Editorial Gustavo Gil, 2002. TORTORA, Phyllis; EUBANK, Keith. Survey of historic costume. New York: Fairchild Publications, 2001.
Sites Consultados WIKIMEDIA Commons. Disponível em:
. o em: 8 set. 2010. FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. o em: 8 set. 2010.
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Da reconstrução da Europa à ascensão do Império Americano
Seus Objetivos: Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. reconhecer como os mais significativos movimentos artísticos do século XX utilizaram as formas; 2. estabelecer relações entre as formas utilizadas nas artes plásticas, moda, design e arquitetura.
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A Segunda Guerra Mundial deixa rastos de violência e de angústia que se refletem na arte. A pintura figurativa recebe a herança do Expressionismo e do Surrealismo, associando a aspereza de um à ambiguidade do outro. Todavia, é sobretudo na pintura não figurativa que o Expressionismo e o Surrealismo, conjugando-se, geram novas formas de arte, mais subversivas do que as vanguardas de se reclamam. (FERRARI, 2001)
1. Os Anos Dourados O fim da Segunda Guerra Mundial deixa a Europa arrasada, não só em termos econômicos e estruturais, como também no plano intelectual. Muitos dos grandes pensadores e artistas fugiram para a América do Norte. Os Estados Unidos tornam-se o centro difusor de arte e dos novos costumes. O fim da década de 1940 e os anos dourados da década de 1950 são a ponte para as grandes transformações sociais que ocorrerão na década de 1960. Mudanças estruturais vão acontecer nas artes, nos comportamentos e na moda. Nesta aula, vamos ver como se deu esta transição.
2. A não forma Segundo Argan (1992), após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos, mais precisamente Nova York, torna-se o centro da cultura mundial. Na pintura americana, a linha, a massa ou a cor já não têm sentido fora da finalidade cognitiva da arte europeia. O gesto de pintar, colocar a tinta nos es, a a ter e a ser a expressão maior do período pós-guerra. Action painting é o nome dado a esta nova pintura. O que importa é o ato de pintar. A pintura renuncia a qualquer prazer formal ou cromático. Ela se apresenta como visualização imediata da interioridade do artista. Dripping: Método de pintar cuja característica é o gotejamento e borrifos de tinta sobre a tela estendida no chão.
O ato de pintar é caracterizado desde pinceladas rápidas e furiosas, até usar o próprio corpo como pincel ou usar a técnica do dripping. Estas produções também vão ser conhecidas como Expressionismo Abstrato. O que importa é o gesto. Neste momento, a forma é consequência do gesto, que pode ser suave, com um ritmo mais lento, criando composições silenciosas ou gestos acelerados que criam composições mais violentas. Os grandes nomes deste período são Willem de Kooning, Franz Kline, Jackson Pollock, entre outros. A pintura
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de Kooning ainda herda muito da força dos expressionistas do início do século XX, conservando certas características figurativas. Kline utiliza pincelada grande e brochas para compor ritmos mais lentos. Pollock é o grande nome deste momento. Sua pintura é dramática, tem um ritmo febril. A Action painting
Fonte: Picasa Web | Foto: Leonard Dixon
rompe todos os esquemas espaciais da pintura tradicional.
Fonte: Flickr | Foto: Steven Damron
White Light, 1954, Jackson Pollock. The Museum of Modern Art, New York City
Willem de Kooning, Woman n°1, 1950/52.
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Brochas: Grandes pincéis, normalmente usados para pintar paredes. Ritmo febril: Pinceladas rápidas, como se estivessem tendo espasmos.
Fonte: Picasa Web | Foto: Bob Swain
Formas na Moda
Franz Kline, New York.
A mudança nos padrões de vida, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, teve um impacto importante sobre o que as pessoas usavam. Muitas mulheres americanas voltaram ao lar, depois de trabalhar durante a II Guerra Mundial. O desenvolvimento americano foi muito rápido, trazendo novos costumes. Muitas famílias mudaram-se para os subúrbios. As viagens familiares aumentaram, o camping tornou-se uma forma popular de recreação. É o momento em que o período da adolescência é visto como um estágio independente do desenvolvimento para a vida adulta. Surge um mercado direcionado para os teenagers. O trabalho doméstico era escasso. Todas estas mudanças ajudaram a criar uma ênfase em um estilo mais casual. Para as mulheres, as saias eram muito arrendondadas ou curta. As blusas eram ajustadas ao corpo. As bermuBeatniks: Movimento literário que surge no fim dos anos 1950, no Estados Unidos. Jack Kerouac e Allen Ginsberg são os grandes nomes, dentre outros. Eles faziam uma crítica ferrenha à sociedade de consumo americana da época. Rejeitavam o mundo “careta” americano.
das e calças compridas, ajustadas no tornozelo, eram peças importantes no guarda- roupa das mulheres, no fim os anos 1940 e início de 1950. Para os homens, em geral, não houve mudanças radicais em termos formais. Somente entre a juventude masculina vemos mudanças. É o início da era do beatniks, que adotam um estilo mais despojado – calça jeans, barda, tênis gastos. Na Inglaterra, temos o Teddy Boys, expressão que traduzia a aparência dos rapazes operários (que aspiravam à ascensão social) que utilizam jaquetas mais longas, colete, blusas com as mangas dobradas e calças apertadas e bem mais cortadas. 107
Fonte: Flickr | Foto: Carl Guderian
Aula 6
Dois jovens, usando o estilo Teddy boys.
As lojas de departamentos desenvolveram setores exclusivos para roupas esportivas. É o início dos Shoppings Centers.
3. Décadas de 40 e 50 – as linhas curvas Durante os anos 1940 e 1950, as formas arno, evoluem para caminhos diferentes. Entre 1957 e 1959, Frank Lloyd Wrighy constrói o Guggenheim Museu de Nova York. O edifício é uma espiral ascendente, totalmente dividida por terraços circulares sobrepostos. Na mesma época, o purismo de Le Corbusier evolui para formas mais suaves.
Fonte: Picasa Web | Foto: Jon Abbott
quitetônicas, defendidas pelo movimento moder-
Os arquitetos empregaram bastante as linhas curvas. A capela de Ronchamp é feita de audaciosas linhas
A arquitetura da dos anos 1950 foi marcada por construções que valorizavam as linhas curvas. Nas imagens, o Gugguenhein Museum, acima, e a Capela de Ronchamp, abaixo.
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Fonte: Flickr | Foto: Ian Burt
sinuosas e grandes saliências.
Formas na Moda
O impacto das guerras mundiais gerou, na França, uma filosofia que se tornou moda entre os jovens: o Existencialismo, cujo papa era Jean-Paul Sartre. Jovens vestidos displicentemente, com casaco de couro preto, aram a perambular pelas “caves” parisienses, ouvindo jazz, canções e poemas de velhos e novos profetas: Boris Vian, Jacques Prévert, Jean Cocteau. Segundo a visão do Existencialismo, o homem está sozinho no mundo, é forçado a tomar consciência da sua solidão e, por outro lado, tem a liberdade de definir a si mesmo. A música preferida era feita por Glenn Miller. Frank Sinatra começou cantando em sua orquestra e tornou-se o delírio vocal da época. Christian Dior inventou o New Look com cintura fina e saia longa e rodada. A mulher ou a usar tudo que podia em maquiagem e roupa. Nas artes plásticas, a pintura figurativa destorcida de Francis Bacon, as figuras oblongas de Alberto Giacometti ou os retratos de Lucian Freud mostram as angústias e o estado de espírito de um tempo. Muito difundido nos anos 1950, o fenômeno começa a diminuir de intensidade, a partir dos anos 1960. A visão existencialista começa a ser questionada por uma nova geração, que procura criar arte em comunhão com o meio em que vive.
Fonte: Picasa Web | Foto: Bob Swain
Caves: Tabernas, boates que ficavam no subsolo dos prédios.
Homem que anda, Alberto Giacometti.
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Fonte: Picasa Web | Foto: fotosaula
Aula 6
Fonte: Picasa Web | Foto: E Corcoran
Homem na Cadeira, Lucian Freud.
Estudo a partir do retrato do Papa Inocêncio X de Velásquez, Francis Bacon, 1953.
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Formas na Moda
Perfomance: Expressão artística que combina elementos das artes visuais com a música e o teatro. Não há participação da plateia. Happening: Expressão artística que combina elementos das artes visuais com o teatro. Não utiliza a palavra, só o gesto, e provoca a participação da plateia.
4. Décadas de 60 e 70 Os desdobramentos oriundos das vanguardas do início do século são levados até as últimas consequências, nas últimas décadas do século XX. A arte e a sociedade contemporânea começam a competir. Os anos 1960 e os anos 1970 são testemunhas de transformações radicais no mundo das artes. A forma fechada, delimitada ou não, são substituídas por objetos ou por performances ou happenings, que só conservados através de fotos ou filmes.
Atividade 1 – Objetivos 1 e 2 Faça uma análise do figurino do filme Cinderela em Paris (Funny Face), de 1957, buscando reconhecer os movimentos artísticos da época, estabelecendo relações entre as características das formas na moda, nas artes e na arquitetura. O filme conta a história de um famoso fotógrafo de modas, Dick Avery (Fred Astaire), que trabalha para a Quality Magazine, uma conceituada revista feminina. Dick cumpre as determinações da editora da revista, Maggie Prescott (Kay Thompson), que não está satisfeita com os últimos resultados e tenta encontrar um “novo rosto”. Dick o acha em Jo Stockton (Audrey Hepburn), uma balconista de uma livraria no Greenwich Village onde ocorreu um ensaio fotográfico. Após certa resistência, Maggie Fonte: OYO
aceita Jo como a modelo que irá a Paris para fotografar e ser o símbolo da Quality. Jo só concorda, pois lá poderá conhecer Emile Flostre (Michel Auclair), um intelectual cujas ideias ela idolatra, entretanto, ao chegarem a Paris, as coisas não correm como o planejado. Fonte: ADORO cinema
Comentário O filme mostra o mundo da moda dos anos 1950, em Paris. Todo o glamour dos grandes designers, tais como Balenciaga, Pierre Cardin, Channel, Courreges, Dior, Givenchy são mostrados, indiretamente, no filme. Balenciaga introduz o chemisier e Dior, a silhueta em forma de A - estilos muito populares 111
Aula 6
-, ou ainda as formas arredondas das grandes saias. Todas essas novidades são apresentadas no filme através da revista de moda que se preocupa em contratar uma modelo para suas fotos. Por outro lado, o filme mostra a jovem americana querendo viver as ideologias do movimento existencialista (apresentado como o Enfaticalismo) que, originário de Paris, já é conhecido nos Estados Unidos. Apresenta a mudança nas suas roupas: de pretas e discretas para modelos coloridos e esvoaçantes.
Conclusão Os anos que se seguem, após a Segunda Guerra, são de depressão e angústia. Aos poucos, a tristeza da guerra dá lugar à alegria do rock and roll. As grandes composições pictóricas, ricas em expressão não só figurativas, mas também abstratas, tornam-se totalmente livre de formalismo. A arquitetura deixa-se envolver pelas linhas curvas, transmitindo graça e sinuosidade aos grandes prédios. Na moda, os americanos adotam um estilo mais causal, liberto dos padrões – é o pret a porter, pronto para usar. A juventude começa a ter um rosto próprio e vai ser a grande protagonista das décadas seguintes.
Para uma segunda olhada… O fim da Segunda Guerra Mundial deixa a Europa arrasada. Muitos dos grandes pensadores e artistas fugiram para a America do Norte. Os Estados Unidos tornam-se o centro difusor de arte e dos novos costumes. Os elementos que caracterizam o rigor da pintura europeia já não fazem sentido no novo continente. O ato de pintar torna-se tão importante quanto a pintura em si. Estas produções também vão ser conhecidas como Expressionismo Abstrato. O que importa é o gesto. No action painting, não existe uma forma definida; a liberdade observada no ato da criação começa a ser vista no ato de se vestir. Nas décadas de 40 e 50, as formas sinuosas voltam a ocupar espaço nos projetos arquitetônicos. O novo é o acontecimento, é o imediatismo. Não há preocupação com a forma. Os anos 1960 e os anos 1970 são testemunhas de transformações radicais no mundo das artes. 112
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Referências ARGAN, Giulio. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo: CosacNaify, 2003 FERRARI, Sivia. Guia de história da arte contemporânea. Lisboa: Editorial Presença, 2001. JANSON, H. W. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996. MONTANER, Josep Maria. As formas do século XX. Barcelona: Editorial Gustavo Gil, 2002 TORTORA, Phyllis; EUBANK, Keith. Survey of historic costume. New York: Fairchild Publications, 2001.
Sites Consultados ADORO cinema. Disponível em:
. FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. o em: 18 out. 2010. OYO. Disponível em: http://www.oyo.com.br/filmes/classicos-comedia-romance/ cinderela-em-paris/. PICASA Web. Disponível em: <www.picasaweb.google.com>. o em: 18 out. 2010.
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Aula
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Retomando ou propondo: da contracultura ao pop – movimento dos Anos Rebeldes (1961 – 1970)
Seus Objetivos: Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. estabelecer relações entre as formas utilizadas nas artes plásticas, moda, design e arquitetura; 2. reconhecer as relações existentes entre moda e o seu entorno, representadas através das formas.
2 horas de aula
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1. “Faça amor, não faça a guerra” Esta frase foi a tônica dos anos 1960. A sociedade em geral e, principalmente, a juventude, estava bastante decepcionada com os rumos que a vida estava tomando. As guerras da Coreia, do Vietnã principalmente, fizeram com que a juventude começasse um movimento que ficou conhecido como hipismo – uma negação dos valores estabelecidos pela cultura hegemônica patriarcal americana. O movimento pregava a paz e a igualdade social em todos os segmentos da sociedade. Foi uma revolução nos costumes, nas artes e na moda. Vamos conhecer este período cheio de alegria, cores e muita música.
2. Os anos Rebeldes Os anos 1960 assistem a transformações radicais na sociedade e, consequentemente, no mundo das artes. A agem do Realismo e do Existencialismo dos anos cinquenta ao Estruturalismo e a cultura Pop significa a mudança paulatina do simples ao complexo. Vários grupos sociais considerados minorias ou invisibilizados por uma classe dominante - negros, mulheres e gays am a ocupar lugar de destaque ao longo da década. No fim da década de 1950, há um grande interesse pela cultura de massa por vários artistas, que discutiam a crescente cultura de massa que se manifestava no cinema, na propaganda, na ficção cientifica, no consumismo, na mídia, nos meios de comunicação e nas novas formas de tecnologias que se espalhavam pelo mundo (satélites, viagens espaciais etc.). A cultura Pop dita as formas da década de 1960, integrando as imagens do mundo da publicidade com as imagens das histórias em quadrinhos, mistura cinema e jornal, televisão e o mundo das revistas. Tudo isto embalado pela minissaia de Mary Quant e pelos novos sons da música Pop de bandas, como The Beatles e Rolling Stones. A cultura Pop funde a cultura alta e a baixa cultura num caldeirão de possibilidades artísticas. A arte Pop surgiu nas cidades de Londres e Nova York como a expressão de um grupo de artistas que procurava valorizar a cultura popular. Para isto, serviram-se tanto dos recursos da publicidade, quanto dos demais meios de comunicação de massa. Histórias em quadrinhos, cartazes publicitários, elementos de consumo diário e a nova iconografia, representada por astros do cinema, da televisão e do rock, aram a integrar a temática central desta nova corrente, não sem uma certa ironia crítica.
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Fonte: Flickr | Foto: Ian Burt
Aula 7
O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? Richard Hamilton, 1956.
As atividades desses grupos começaram em Londres, por volta de 1961, sob a forma de conferências, nas quais tanto artistas quanto críticos de cinema, escritores e sociólogos discutiam o efeito dos novos produtos da cultura popular, originados pelos meios de comunicação de massa, especialmente a televisão e o cinema. Da Inglaterra, o movimento transferiu-se para os Estados Unidos onde, finalmente, consolidaram-se seus princípios estéticos como nova corrente artística. A arte desse período vai trabalhar com conceitos de complexidade, diversidade, contradição e ambiguidade. É um tempo no qual a forma é construída por sobreposições e complexidades, baseado no deleite da mistura de imagens, pensando no sujeito cuja existência desenvolve-se sob o domínio dos meios de comunicação. Os pintores Pop manifestaram interesse em deixar de lado as abstrações e continuar no figurativismo, para tornar mais palpável esta segunda realidade que os meios de comunicação tentavam transmitir e vender. Os quadros de persode suas próprias variações cromáticas, não são mais do que a reinterpretação da nova iconografia social, representada por estrelas de cinema e astros de rock.
Marilyn Monroe, Andy Warhol, 1967.
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Fonte: Flickr | Foto: Ian Burt
nagens famosos de Andy Warhol, deformados pelo acréscimo
Fonte: Picasa Web | Foto: Bob Swain
Formas na Moda
Autorretrato, Andy Warhol, 1967.
A arte Pop tem um laço muito estreito com o design e a cultura popular. Desta forma, ela acabou se voltando para o design comercial, a propaganda, os
Fonte: Flickr | Foto: Toni
produtos de consumo, a moda e a decoração de interiores.
Fonte: Picasa Web | Foto: fotosaula
Quando abri fogo, Roy Lichtenstein, 1964.
Caixas de cartão de Brillo, Andy Warhol, 1964.
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Aula 7
Paralelamente às mudanças no mundo das artes, as questões relativas aos direitos humanos eram o epicentro das discussões na mídia americana. A segregação racial, ainda muito forte nos anos de 1950, tornava-se intolerável no início dos anos de 1960. A guerra do Vietnã e o assassinato do jovem presidente Kennedy, iniciaram uma série de questionamentos nos jovens americanos. Por volta de 1966, uma nova forma de comportamento desses jovens começa a ser notada pela mídia. O movimento hippie ou a contracultura foi uma resposta dos jovens americanos aos valores da classe média dominante, que rapidamente se espalhou pelo mundo. Os hippies defendiam o amor livre e a não violência. De acordo com Heloisa Buarque de Hollanda (1982, p. 69): O movimento hippie fervilhava, chocando a sisudez ocidental, inconformada diante da sujeira e da promiscuidade dos jovens de cade comportamental suas armas para combater a violência do way of life industrializado. O uso das drogas, como busca de uma nova sensibilidade, o amor livre, a preferência pela expressão artística em detrimento do discurso político assumiam um sentido “contra cultural’ que empolgava toda uma geração não só nos EUA, mas em diversos países. Para os artistas envolvidos com a Contracultura, o movimento Art Nouveau foi o veículo que estes novos artistas usaram para expressar suas novas ideias de liberdade. A moda tornou-se fluida e esvoaçante, o cabelo masculino cresceu e os vestidos, como os desenhados para Biba, por Barbara Hulanicki, imitaram os estilos do início do século XX. A opulência e a decadência da Art Nouveau serviram ideologicamente ao gosto da juventude hippie da década de 1960. Podemos destacar que, no que se referem às formas deste período, elas são abstratas ou onduladas, esticadas ou deformadas. As cores usadas são brilhantes, muitas vezes intensas, às vezes com tons contrastantes adjacentes. Imagens são muitas vezes inusitadas, podendo ser sensuais, bizarras ou bonitas, filosóficas ou metafísicas. Há um grande detalhamento das ilustrações, elementos simétricos, objetos amorfos e distorcidos, repetição de motivos e tipografia inovadora. Esta produção vai ficar conhecida como Arte Psicodélica. Em geral, tinham sua inspiração nas alucinações ‘caleidoscópicas’, proporcionadas pelo LSD. Isto porque o usuário, durante a experiência psicodélica, chega a estágios no qual a capacidade de receber e analisar de forma estrutural as informações do ambiente fica distorcida. A aparência dos hippies nos Estados Unidos também reverberou na indústria da moda. Cabelos longos para os homens e para as mulheres; o uso de 120
Fonte: Hair the movie
belos crescidos que faziam do erotismo, da sensualidade e da liberda-
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faixas na cabeça; saias longas; estilo cigano para as mulheres. O uso do jeans tornou-se obrigatório na juventude. O interesse pela cultura oriental também vai influenciar o modo de se
Fonte: Flickr | Foto: Cliff
vestir da juventude, hippie ou não, dos anos de 1960.
Pôster de Victor Moscoso - Junior Wells, 1966.
Atividade 1 – Objetivo 2 Faça uma análise do figurino do filme Hair, de 1979. O filme conta a história de um jovem do Oklahoma Claude (John Savage), que foi recrutado para a guerra do Vietnã. Em Nova York, é “adotado” por um grupo de hippies, comandados por Berger (Treat Williams), que, como seus amigos, tem conceitos nada convencionais sobre o comportamento social e tenta convencê-lo dos absurdos da atual sociedade. Lá, Claude também se apaixona por Sheila (Beverly D’Angelo), uma jovem proveniente de uma rica família. Fonte: Adorocinema __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________
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Aula 7
Resposta e Comentário O filme de Milos Forman traduz o espírito dos anos de 1960. A contestação dos valores da sociedade branca americana é apresentada não só nos diálogos e cenas do filme, como também no figurino dos personagens. O filme fala de sexo, drogas, política, guerra e da possibilidade de uma vida diferente. O figurino retrata a liberdade que os personagens procuravam. Cabelos longos para os homens e para as mulheres; o uso de faixas na cabeça; saias longas; estilo cigano para as mulheres. O uso do jeans assume o lugar do uniforme da juventude. Podemos ver a força do jeans na cena na qual a mãe pede para lavar a calça jeans de Berger e ele diz que não precisa, é daquele jeito que ele usa. Como se o jeans fizesse parte do seu corpo. O interesse pela cultura oriental também vai influenciar o modo de se vestir daquela juventude. A peça teatral ou o próprio filme, baseado na peça, ainda mantém uma força não só ideológica, como documental para quem quer pesquisar sobre os anos 60.
Em meados dos anos de 1960, o mundo da arte, em Nova York, sempre em busca de novidades, já pregava a morte da Pop Art e procurava por substitutos. Em 1965, uma exposição em Nova York foi a resposta para a procura. Os artistas trabalhavam as formas geométricas para criar movimento virtual. As obras sugerem movimentos por meio de efeitos ópticos, obtidos de várias formas. Combinando reentrâncias e saliências, juntamente com associações cromáticas, criam ondulações hipnóticas de acordo com a posição do observador. O maior nome do movimento é o húngaro Victor Vasarely. Seus quadros apresentam uma série de formas geométricas, dispostas em uma ordem que implica várias possibilidades de variação. A mídia chamou o trabalho do grupo de Optical Art ou apenas Op Art. A Optical Art foi um movimento que se centrava nos efeitos ilusórios de linhas e formas manipuladas. Baseou o seu método nos princípios rígidos da influente escola alemã de arte Bauhaus, mas transformou o seu uso de contornos severos e extremidades rigorosas para produzir formas anônimas, geométricas e exatas, que provocam ilusões de óptica. São produções que facilmente podem servir de padrão para composições futuras. Este movimento armuito utilizado pelo consumo de massa. O novo estilo invadiu também o campo da moda, da decoração de interiores e das artes gráficas.
V. Vasarely
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Fonte: Flickr | Foto: Barry M.
tístico foi rapidamente desconsiderado, porém foi
Fonte: Flickr | Foto: Ian Burt
Formas na Moda
Fonte: Flickr | Foto: Chris
Fonte: Flickr | Foto: Simon
Vega-Gyongly-2, V. Vasarely, 1971.
A moda apropria-se da Op Art.
3. Preparando a contemporaneidade - 1971 – 1990 A partir da década de 1960, os artistas afastam-se do objeto artístico para centrarem a sua atenção no próprio corpo e no corpo das outras pessoas. Várias experiências, envolvendo ações, pessoas e objetos, vão caracterizar as décadas de 1970 e 1980. O happening é um trabalho que envolve, ao mesmo tempo, o criador e o público. Ele se preocupa com a ação e não com a produção de um objeto. Os happenings ou performances alcançaram rápida popularidade. A sensação de liberdade, tanto para os artistas como para os espectadores, era contagiante. Os eventos misturavam teatro e as tradições da arte, junto com o cinema, o vídeo. O happening permitiu romper as fronteiras entre mídia e as disciplinas, entre arte e vida. 123
Fonte: Flickr | Foto: Marius Watz
Fonte: Flickr | Foto: Sean Ganann
Aula 7
Instalações de Yayoi Kusama.
Se nos happenings o corpo é instrumento, na Body art o corpo é a própria obra de arte. A fusão de arte e vida está no cerne da Body art. Ela apresenta uma atitude autopunitiva, masoquista ou utiliza a ambiguidade sexual, que provoca no público reações de sofrimento e de repulsa. O corpo proporciona meios para explorar várias questões, incluindo identidade, gênero, sexualida-
Fonte: Flickr | Foto: Matias jaramillo
de, doença, morte e violência.
Gunther Brus.
Body art – repulsa e sofrimento Para conhecer algumas das obras dos principais artistas deste movimento – Hermann Nitsch, Gunter Brus, Otto Muehl e Rudols Schwarzkogler – e o site a seguir: http://vienna-actionists.webs.com/
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Formas na Moda
O trabalho artístico do fim do século XX vai ser bastante influenciado pelas experiências de Marcel Duchamp. O conceito de Arte Conceitual, que surge no fim da década de 1960, é uma delas. É muito mais centrado na arte da ideia ou arte da informação do que na arte do objeto. Para os artistas conceituais, a verdadeira arte é a ideia. Ela exige uma participação intelectual do observador. A obra é secundária, reduzida, em muitos casos, a pouca coisa. É quase incorpórea e, portanto, desconcertante. Ela envolve várias atividades: a body art, o happening, a instalação, a land art etc ou assume a forma de documentos, propostas escritas, mapas e fórmulas matemáticas. Também propõe perguntas, como: O que é arte? Quem determina o que é arte? A arte conceitual atinge seu ápice em meados dos anos 1970 e continua a subjazer boa parte da arte contemporânea. Sem sombra de dúvidas, tem suas
Fonte: Flickr | Foto: Dimitri dF
Fonte: Flickr | Foto: Jerzy Kociatkiewicz
raízes no Dadaísmo.
Filzanzug (terno de feltro pendurado em cabide), 1970 e A Matilha (instalação com uma Kombi Volkswagen e 24
Fonte: Picasa Web | Foto: Bonifacio Pontonio
trenós de madeira, contendo feltro e lanternas), 1969 de Joseph Beuys.
Merda de artista nº 066, Piero Manzoni, 1961.
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Aula 7
As manifestações artísticas dos anos de 1980 são uma espécie de estratificação das múltiplas experiências anteriores. Há um imenso repertório de possibilidades. O início do século XX é marcado pelas experiências formais nas diferentes técnicas da linguagem visual. A forma é decupada pelo Cubsimo, torna-se rígida durante o De Stijl, até desaparecer nas ações contínuas do uso da pinta por Pollock. Durante os anos de 1980, as artes voltam-se para o conceito, indo além da superação da pintura. Vê-se surgir novas formas de expressão, utilizando as linhas e o plano, mas que usam os espaços urbanos como e. Os grafites de Nova York ganham rapidamente espaço nas galerias de Manhattan. Os autores dos grafites retratam a imagem da sociedade de consumo à sua própria sensibilidade, com nuances de raiva ou de irreverência. A forma é suja, tosca, sem preocupações com o belo. Jean-Michael Basquiat e Keith Haring são os dois grandes nomes dessa geração que vem das ruas e que ascende para a notoriedade num curtíssimo espaço de tempo. Em Basquiat, vemos uma pintura sem qualquer preocupação cromática ou formal, com grandes doses de agressividade. Já em Haring, as pinturas trazem uma forma mais alegre. São formas sintéticas, que se agitam como se houvesse uma corrente elétrica, ando por elas. Estas manifestações já se inscrevem no que vem a ser conhecido como Pós-Modernismo. Enquanto o Modernismo visava criar uma utopia moral e estética unificadora, o Pós-Modernismo apontava para uma realidade mais descontínua e descentralizada, e celebrava o pluralismo do fim do século XX. Uma arte híbrida, composta de diferentes partes,
Autorretrato e obra sem título, Basquiat.
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Fonte: Picasa Web | Foto: fotosaula
Fonte: Picasa Web | Foto: Bonifacio Pontonio
sem muita relação entre elas.
Fonte: Picasa Web | Foto: fotosaula
Fonte: Picasa Web | Foto: fotosaula
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Fonte: Flickr | Foto: David
Fonte: Flickr | Foto: MACSURAK
Radiant Baby (1988) e sem título (1981), Keith Haring.
Exemplos do trabalho de Haring, aplicados à moda.
Atividade 2 – Objetivos 1 e 2 Relacione as formas e grafismos das últimas décadas do século XX com o trabalho de Alexandre McQueen – veja o vídeo sobre este estilista no link http://www.youtube.com/watch?v=hu3scGLyHU8.
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Resposta e Comentário Neste pequeno documentário sobre o designer McQueen, podemos observar como ele utilizou todas as possibilidades artísticas do fim do milênio no seu trabalho. O designer, que morreu em 2010, aos 31 anos, deixou uma marca inconfundível. Seu trabalho é muito plástico. Ele usa elementos da perfomance para apresentar suas roupas conceituais. As formas são enormes e arrojadas. Uma mistura de possibilidades, como um quadro de Basquiat. Em alguns casos, as formas são dramáticas e exageradas, como os trabalhos de Bruss. Um repertório híbrido que podemos ver como tradução do que ficou conhecido como Pós-Modernismo.
Conclusão Nesta aula, conhecemos um pouco da Contracultura e do movimento Pop, movimentos que deixaram um lastro muito importante para a sociedade ocidental. A produção artística do movimento Pop vai refletir e criticar a sociedade consumista dos Estados Unidos. O movimento hippie ainda hoje é discutido e analisado. O hipismo trouxe mudanças significativas para o comportamento da juventude. A moda foi um dos segmentos que apresentou mais mudanças. No campo das artes plásticas, as performances e os happenings são as grandes novidades do fazer artístico. O público faz parte da arte. Nas últimas décadas do século XX, muitos acreditavam que o moderno chegara ao fim. Foi um tempo em que as normas culturais da sociedade ocidental foram todas questionadas. Existia um pluralismo, pois todas as doutrinas subjacentes ao Modernismo eram criticadas. Pessoas de diferentes campos de estudo adotaram o termo Pós-Moderno para expressar o clima de mudança cultural que caracterizou as últimas décadas do fim do século XX.
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Formas na Moda
Para uma segunda olhada… Os anos de 1960 assistem a transformações radicais na sociedade e, consequentemente, no mundo das artes. A cultura Pop dita as formas da década de 1960, integrando as imagens do mundo da publicidade com as imagens das histórias em quadrinhos, mistura cinema e jornal, televisão e o mundo das revistas. A arte Pop surgiu nas cidades de Londres e Nova York como a expressão de um grupo de artistas que procuravam valorizar a cultura popular. O movimento Pop utiliza-se dos recursos da publicidade, das histórias em quadrinhos, dos cartazes publicitários, dos elementos de consumo diário e das imagens dos astros do cinema, da televisão e do rock. A moda feminina, com o surgimento da minissaia, reflete a liberdade que as mulheres am a ter com a invenção da pílula anticoncepcional. Os hippies apresentam um novo jeito de se vestir. Surge a Arte Psicodélica. As formas deste período são abstratas ou onduladas, esticadas ou deformadas. As cores usadas são brilhantes, muitas vezes intensas, às vezes com tons contrastantes adjacentes. Imagens são muitas vezes inusitadas, podendo ser sensuais, bizarras ou bonitas, filosóficas ou metafísicas. Há um grande detalhamento das ilustrações, elementos simétricos, objetos amorfos e distorcidos, repetição de motivos e tipografia inovadora. Surge a Optical Art. Um movimento que se centrava nos efeitos ilusórios de linhas e formas manipuladas. A arte sai das galerias, surge o happening e as performances. A forma começa a perder o seu valor. Surge a arte conceitual. No fim do milênio, a forma é tosca e suja. Há um pluralismo nas possibilidades artísticas. É o Pós-Modernismo.
Referências ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BREWARD, Christopher. The culture of fashion. Manchester, UK: Manchester University Press, 1995. DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo: CosacNaify, 2003. EVANS, Caroline. Fashion at the edge. London: Yale University Press, 2007. FERRARI, Silvia. Arte contemporânea. Lisboa: Editorial Presença, 2001. HOLLANDA, Heloisa Buarque. Cultura e participação nos anos 60. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. MONTANER, Josep Maria. As formas do século XX. Barcelona: Editorial Gustavo Gill, 2002. 129
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TORTORA, Phyllis; EUBANK, Keith. Survey of Historic Costume. Nova York: Fairchild Publications, 2001.
Sites Consultados ADOROCINEMA. Disponível em:
. FLICKR. Disponível em: <www.flickr.com>. o em: 28 out. 2010. HAIR the movie. Disponível em:
. PICASA Web. Disponível em: <www.picasaweb.google.com>. o em: 28 out. 2010.
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Aula
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A re-invenção da Forma: fontes de referência para o uso da FORMA em alguns dos caminhos apontados na contemporaneidade
Seus Objetivos: Ao final desta aula, esperamos que você seja capaz de: 1. analisar forma, estampa e estrutura na Moda Contemporânea; 2. relacionar as possibilidades e caminhos da FORMA na arquitetura com a Moda Contemporânea.
3 horas de aula
Formas na Moda
1. Introdução Conhecer as formas faz parte de um conjunto de competências, conhecido como “Educação Visual”, conhecimento que procura, através de reflexões críticas e vivenciais, desenvolver a percepção visual e a formação estética do indivíduo através da leitura de imagem. Vale ressaltar que tais competências não são exclusivas da atividade profissional do designer, arquiteto ou do artista: elas peram as vidas das pessoas, independente da sua área de atuação. Assim, a Educação Visual propõe-se a articular, através de métodos e processos, imaginação, razão e emoção, atitudes indispensáveis para o desenvolvimento da expressão projetual do designer. Porém, desenvolver repertório referente às formas traz novas perspectivas para a atuação profissional do designer, pois esse repertório influenciará a maneira como ele desenvolve projetos e comunica-se, além do modo como a a interpretar os significados do quotidiano e a observar os elementos do seu entorno, usando-os como referências em seus projetos. Ao proporcionar elementos que fundamentem a reflexão sobre as formas que nos cercam, sejam elas naturais ou projetadas, é nossa intenção dar subsídios para o desenvolvimento de uma maior sensibilidade estética, a partir do conhecimento da “gramática visual” e dos seus meios de expressão e comunicação. Desse modo, formas também funcionam como narrativas visuais, que deveriam ser concebidas e empregadas em função das mensagens que elas carregam e pretendem comunicar, compondo os códigos visuais. E é na contemporaneidade – a tão falada “pós-modernidade” -, sobretudo, que esses códigos visuais ganham força, contam histórias, vendem produtos, sendo imprescindível para um designer nos dias atuais não dominar – ou pelo menos conhecer! – tal linguagem. Concluindo, você verá que o foco da nossa reflexão está nas formas por sua predominância enquanto instrumento de unificação de estilos, escolas e movimentos, onde vemos frequentemente o uso de formas similares, a fim de atingir os objetivos estéticos próximos, ainda que essas diferentes correntes estejam relacionadas a diferentes ideologias.
2. Pós-moderno X Hiper-moderno – E agora José, e agora Maria? Dá para entender os nossos dias? A origem da “Pós-modernidade” é bastante controversa, sendo datada por alguns autores com seu início nos anos 1960, enquanto, para outros, o pe133
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ríodo histórico inicia-se ao final dos anos 1970, sobretudo a partir da crise do petróleo (1979), no campo econômico, a primeira (e extremamente polêmica) Bienal de Arquitetura de Veneza (1979), no campo artístico, e a queda do muro de Berlin (1989), nos campos sociopolítico. A única coisa que não se questiona é o seu lugar de origem: nasceu nos Estados Unidos da América, espalhando-se pela Europa, repercutindo em praticamente todos os países industrializados do
Fonte: Wikipedia | Foto: Sue Ream
Fonte: Wikipedia | Foto: Deutsches Bundesarchiv – Arquivo Federal Germânico
Fonte: Wikipedia | Foto: Deutsches Bundesarchiv – Arquivo Federal Germânico.
mundo, atualmente.
À esquerda, fotos mostrando a construção do muro que dividiu a Alemanha Oriental e Ocidental, em 1961. Este muro representava a divisão do mundo em dois blocos: o capitalismo e o socialismo. À direita, foto mostrando
Fonte: Wikipedia | Foto: Benutzer:Sansculotte
a queda do muro, em 1989.
Mapa da Alemanha, com sua divisão pós-muro: à esquerda, a parte ocidental (capitalista); à direita, a Alemanha Oriental (comunista).
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Bienal de arquitetura de Veneza (1979) Organizada pelo arquiteto italiano Paolo Portoghesi, atuou como espaço de expressão para o inconformismo dos arquitetos com o Projeto Moderno.
É a partir dessa breve introdução que convido você a conhecer as possíveis origens da Pós-modernidade, segundo correntes teóricas. Em suas “Notas de Aula sobre Design e Estética”, Bomfim (2001) apresenta duas interpretações acerca do surgimento da pós-modernidade, defendidas por correntes teóricas diversas: • para alguns pensadores, o Pós-moderno seria a expressão contemporânea de uma sociedade decepcionada com as promessas da modernidade, cujo “Projeto” privilegiava o racionalismo como meio principal para a construção de uma sociedade emancipada e igualitária, onde as contradições econômicas e sociais seriam superadas pela industrialização. Ou seja, partindo do princípio que o Projeto do Moderno tinha na razão o elemento principal na construção da Estética, Bomfim afirma: As promessas do Moderno, contudo, foram cada vez mais questionadas pela própria história. A Guerra Fria dos anos 1950, as previsões catastróficas do Clube de Roma, a Guerra do Vietnam, as constantes ameaças de catástrofes nucleares, a destruição do Meio Ambiente, a crescente diferença entre nações ricas e miseráveis são apenas alguns fatos que ajudaram a demolir a crença na razão moderna. (BOMFIM, 2001)
Nesse primeiro sentido, “pós” indica uma sucessão temporal, linear e cronológica, como aparece nas primeiras obras teóricas, dedicadas a estudar esse fenômeno (LYOTARD, 1998; HARVEY, 1996). Então, é usando esse primeiro conceito que faremos um breve histórico. A 2ª Guerra Mundial dividiu o mundo em dois grandes blocos (a favor e contra Hitler) e teve como sua principal consequência a Guerra Fria. Esta última manteve o mundo dicotomizado, porém agora personalizado na figura dos países capitalistas (guiados pelos EUA) vesus os países socialistas (orquestrados pela antiga União Soviética). A tensão da Guerra Fria gerou constantes ameaças de hecatombes planetárias, crise energética (fim do petróleo), destruição maciça do Meio Ambiente, além do crescente abismo entre as “nações ricas” e as “nações miseráveis”. A continuidade das dicotomias só vem a enfatizar, para estes autores, uma constatação: a demolição total da crença na razão moderna, gerando a 135
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pós-modernidade (ou sociedade pós-industrial), isto é, o “após”, a superação
Fonte: Wikipédia Commons
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Dbenbenn, Zscout370, Jacobolus, Indolences, Technion.
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Domínio Público
Fonte: Wikimedia commons | Foto: Imperial War Museum collection
Wikimedia Commons | Foto: Arquivo da Marinha Americana
Fonte: Wikimedia Commons | Foto: Arquivo Nacional Norte Americano
do moderno.
Imagens da 2ª Guerra Mundial e a sua principal consequência: um mundo dividido em 2 ideologias, porém em “3 mundos”: capitalistas, guiados pelos americanos; socialistas, guiados pelos soviéticos, e todo o restante de países não desenvolvidos – como era o caso do Brasil -, que ficou sendo chamado de “3º mundo”.
• para outros autores, este movimento é visto como uma continuação das vanguardas artísticas do início do século XX – Futurismo, Dadaísmo, Expressionismo, Construtivismo, Surrealismo, Neo-plasticismo etc., caracterizando-se em uma “modernidade tardia”, ainda que estejam distantes no tempo por mais de meio século. A Europa do pós-guerra ainda estava em caos, em plena reconstrução, enquanto os EUA tornavam-se um campo fértil para o desenvolvimento de novas experiências culturais – arte cinética, Pop-art, Op-art, bem como os movimentos pacifista (hippie e flower power), feminista, o rock’n roll e outras expressões artísticas resultantes da nova sociedade, os baby boomers. 136
Baby boomers: expressão utilizada para se referir ao grande número de nascimento de crianças no pós 2ª Guerra, bem como para rotular essas mesmas crianças.
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Tais experimentações são consideradas, por alguns teóricos, como uma “retomada” daquelas vanguardas, sobretudo na sua característica principal que é o protesto contra a sociedade burguesa (capitalista) e as consequências sociais da corrida pelo capital. Ou seja, estaríamos vivendo uma nova fase do Moderno, que de modo algum representariam uma ruptura com seus fundamentos e projetos principais. Para esses teóricos, o mesmo continuaria a acontecer até hoje: somos Hipermodernos e não “pós”, já que não adotamos uma postura contrária à modernidade e sim continuaríamos a retornar as mesmas questões e a enfatizarmos os valores daquele mesmo Modernismo de um século atrás. Deste modo, a Pós-modernidade representa uma ambiguidade teórica: por um lado, pode ser considerada como sendo uma simples continuação de um processo transformador. Por outro, o Pós-moderno seria o processo de ruptura com a Modernidade. Independente da argumentação teórica acerca de sua origem, o consenso está no fato de a Pós-modernidade ter sido gerada na Modernidade, assim como a Revolução Russa que tem sua semente social na Revolução sa. E a própria Revolução sa foi fruto da crise do Absolutismo e da ascensão do Protestantismo. Outro consenso entre os autores já citados está no fato de que para ocorrer qualquer mudança de “paradigma”, em qualquer área da vida humana, faz-se necessário um processo de lentas transformações, sobretudo no que diz respeito aos valores e costumes. Seja qual for a interpretação – Hipermodernidade ou Pós-modernidade -, o fato é que este fenômeno influencia o campo do design e da moda, proporcionando grandes transformações no processo de produção e configuração dos objetos de uso e sistemas de comunicação, o que, sem dúvida, reflete-se no modo em que nos apropriamos das formas.
MODERNISMO Cultura elevada Arte Estetização Interpretação Obra/originalidade Forma/abstração Hermetismo Conhecimento superior Oposição ao público Crítica cultural Afirmação da arte
PÓS-MODERNISMO Cotidiano banalizado Antiarte Desestetização Apresentação Processo/pastiche Conteúdo/figuração Fácil compreensão Jogo com a arte Participação do público Comentário cômico, social Desvalorização obra/autor
Fonte: Santos, 1987.
QUADRO COMPARATIVO: características estéticas
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Algumas outras características da Pós-modernidade: • A ciência continua a prover com conhecimentos a produção de objetos, porém há um retorno às experimentações artesanais e artísticas, a fim de “personalizar” o objeto, produzido industrialmente (customização); • Os objetos vêm ando por um processo contínuo de miniaturização e “Desmaterialização”: se antes precisávamos de um grande parque industrial para produzir os objetos, com a eletrônica e a robótica estas fábricas diminuem sensivelmente de tamanho; a telepresença possibilita, inclusive, que a produção seja segmentada em territórios físicos diversos – isto é, um designer no Brasil pode projetar um carro que será fabricado na China, por robôs operados por funcionários alemães e americanos. Essa “desmaterialização” também pode ser encontrada nos objetos cotidianos: com a eletrônica e os microchips precisamos cada vez de menos matéria-prima para fabricar produtos, que executam um maior número de tarefas, como os aparelhos celulares; • “desagregação” e “desumanização” do trabalho: hoje em dia equipes inteiras podem trabalhar meses sem se conhecer presencialmente, ocasionando o fim do emprego “formal”; • múltiplas possibilidades de comunicação, sobretudo a internet, que ao mesmo tempo aproximam as pessoas, mas também as mantêm distantes. • O tempo e o espaço fundem-se, a partir das possibilidades das redes – podemos estar em vários lugares ao mesmo tempo nos dias atuais: as redes sociais como o Orkut e o Facebook são a materialização disso. Do mesmo modo, a tecnologia e a vida constantemente conectada fez com que as nossas atuações sociais se fundissem, uma vez que o trabalho chega às nossas casas através de e-mails e da mobilidade proporcionada pelos telefones celulares, da mesma forma que a vida pessoal exposta nas redes sociais invade o ambiente de trabalho. Como visto, o contexto histórico do pós-moderno (ou, a “condição pósmoderna”, como chamou Lyotard) caracteriza-se por profundos desenvolvimentos e transformações que estão acontecendo no campo tecnológico, na produção econômica, na cultura, nas formas de sociabilidade, na vida política e na vida cotidiana da contemporaneidade.
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3. O futuro a Deus pertence! Possibilidades para o uso da forma no Design de Moda Por Pós-modernidade podemos chamar, então, o conjunto de características que demarcam uma nova fase histórica em que a humanidade se encontra, apontada por diversos autores como o “fim da modernidade” no mundo contemporâneo, além de uma nova maneira de ser e de estar neste mesmo mundo. A fragmentação presente nas expressões artísticas e em muitas obras de design e moda contemporânea refletem muito mais uma relação de aceitação da nossa realidade que é, por si só, fragmentada e fragmentária, descentralizada e descentralizadora, descontínua. Obras fragmentadas não são uma invenção da atualidade. Elas aparecem desde o Barroco (séc. XVI – XVII), mas é com as experimentações do Abstracionismo e de outros movimentos artísticos de vanguarda (final do séc. XIX e início do séc. XX) que ela se instaura como possibilidade compositiva nas Artes Plásticas, principalmente a partir do Dadaísmo, do Cubismo e do Futurismo. E reaparecem nas expressões dos movimentos de contracultura (décadas de 1950 e 60), como é o caso de muitas obras da Pop Art. Porém, o que diferencia esses pioneiros no uso da fragmentação dos artistas e designers contemporâneos é o fato de que as experimentações feitas anteriormente tinham um caráter muito mais contestador e/ou denunciador. A fragmentação e a simultaneidade de acontecimentos
Fonte: Flickr | Foto: Andrea Gallivanoni
presente em Guernica, de Pablo Picasso, ilustram muito bem isso.
Guernica, Pablo Picasso (óleo sobre tela 350 X 782 cm, 1937).
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Do mesmo modo, podemos perceber nos discursos que ouvimos todo dia, em qualquer um dos meios de comunicação e interação, uma fala comum acerca da “aceitação da complexidade” (ou da necessidade de a aceitarmos), já que a vida cotidiana tem se tornado cada vez mais complexa e simultânea. Além do discurso da complexidade, temos também o discurso da “Cultura do Fragmento”. Essa expressão é utilizada por cientistas sociais para falar dos nossos tempos, onde as representações visuais são, além de fragmentadas, heterogêneas, simultâneas, multi-midiáticas, híbridas, muitas vezes imateriais, caóticas e extremamente perecíveis. Tais características estão presentes na “Estética do Pitoresco”, como nomeia Montaner (2002): Frente aos mecanismos dos classicistas que perseguem a ordem e a harmonia, dos organicistas que geram desenhos universais, baseados na unidade dos organismos vivos, e dos estruturalistas e minimalistas que buscavam as formas básicas e intemporais, a cultura vanguardista do fragmento adotou formas baseadas na acumulação, na inclusão e na articulação de partes isoladas. Estas últimas mantêm uma autonomia própria na obra final, estão separadas do sentido inicial que tinham antes de se converter em fragmentos e já são procedentes do mundo dos objetos, das séries tipológicas ou dos repertórios de imagens (MONTANER, 2002, p. 186).
Assim, para falar do uso das formas na Estética Contemporânea, Montaner (2002) recorre a uma nova classificação que, ao invés de se basear em correntes filosóficas ou movimentos / estilos artísticos, organizados pelos teóricos do campo das Artes, apresentam: • cinco possibilidades de entendermos como os artistas e designers empregam as formas em seus trabalhos ao longo do tempo; • cinco diferentes posturas que expressam como sistemas de pensamentos podem ser materializados em modos de ver e de organizar o mundo que os cercam; • cinco jeitos de realizar projetos, que se desenvolvem ao longo do século XX (como vimos nas aulas anteriores), todos presentes na contemporaneidade, resultantes do que o autor apresenta como sendo “pensamentos complexos”, capazes de agregar conceitos que seriam autoexcludentes em um primeiro olhar. São elas, conforme elenca Montaner (2002): • Realismos, a partir da postura adotada pelos clássicos; • Organismos, lugar para onde olham os organicistas; • Estruturas, elementos mais importantes para os estruturantes, na composição; • Máquinas e seus elementos, sobretudo aquelas que tiram o máximo do mínimo, como projetam os minimalistas; • e as Dispersões dos fragmentários. 140
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A partir de agora, apresentaremos de modo um pouco mais detalhado tais posturas projetuais para que, ao final do curso deste trabalho, possamos utilizar uma – ou todas! – como estratégia projetual em design. O Realismo dos Clássicos - características estéticas marcantes: Uso ir de simetria, equilíbrio e proporções, baseadas na seção áurea dos gregos antigos. Formas simples, tendendo às formas puras, até mesmo geométricas.
Fonte: Wikipedia | Foto: Domínio Público
Observem as imagens abaixo e algumas expressões na Moda:
Quadro Escola de Atenas segue os princípios clássicos de composição, como o uso da simetria, por exemplo. No detalhe, estão representados os filósofos Platão e Aristóteles, principais pensadores nos quais podemos funda-
Fonte: Wikipedia | Foto: H. Churchyard
Fonte:Flickr | Foto: Thomas Nemeskeri
mentar a Estética Clássica.
Tempietto, obra de Bramane. Madame de Verninac por Jacques-Louis David, 1799, observe a cadeira em estilo diretório e indumentária de inspiração clássica (idealização), além do amplo uso de valores compositivos clássicos.
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Como exemplos desse conceito em tempos contemporâneos na Moda,
Fonte: Flickr | Foto: thinkretail
Fonte: Flickr | Foto: Jam Zang
temos: Novo Classicismo, Clássico Chanel Ermenegildo Zegna e Armani.
À esquerda, Ermenegildo Zegna e à direita, Armani.
Novo Classicismo Equilíbrio e simetria: os mesmos cânones clássicos de beleza são redescobertos em 2010 pelos mais importantes estilistas italianos e Alfaparf Milano.
Clássicos Chanel.
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Fonte: Wikipedia | Foto: Domínio Público
Fonte: Flickr | Foto: Christine
Fonte: Flickr | Foto: Wen-Cheng Liu
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=5bZpjfEdSr4
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A Natureza e seus organismos - características estéticas marcantes: Formas orgânicas, naturais, biomiméticas e com forte inspiração nos elementos da natureza. As proporções tendem ao volumoso, ampla utilização da linha curva. Observem tais características nas imagens a seguir e em algumas expres-
Nautilus – Fonte: Flickr | Foto: Joel Abroad
Fonte: Flickr | Foto: Erin Williamson
Fonte: Flickr | Foto: Rockman of Zymurgy
Fonte: Flickr | Foto: Roberto Sena
Fonte: Flickr | Foto: Erin Williamson
sões no campo da moda:
Arquitetura orgânica de Javier Senosiain, inspirada no Nautilus, um molusco marinho, provido de uma concha. À direita, um espremedor de frutas, Juicy Salif, de Philippe Starck, claramente uma referência biomimética, uma vez que a sua forma praticamente repete a estrutura interna de uma fruta cítrica.
Mais exemplos de projetos com inspiração orgânica, vindos da arquite-
Fonte: Flickr | Foto: Tony Gálvez
tura Modernista:
Igreja da Pampulha (BH) – Oscar Niemeyer.
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Fonte: Wikipedia | Foto: Serinde
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Fonte: Flickr | Fotos: Christine
A casa da cascata de Frank Lloyd Wright.
Criações de Balenciaga, que criou formas e volumes que se tornaram imortais, representados através de peças que lembram flores, como a tulipa e a rosa desabrochada, vestidos e trajes onde a referência direta aos elementos da natureza aparece, por exemplo, em pétalas formadas por inúmeros plissados, ou bulbos compostos por franzidos e balonês.
Como podemos ver no incrível trabalho de Balenciaga, arquitetura na moda não é, necessariamente, minimalismo. O reconhecimento da “perfeição nas proporções”, conseguida por Balenciaga em seus projetos, aproximava sua criação em moda daquela realizada por arquitetos. Seu estilo elegante, porém severo - e às vezes dramático! -, tornaram inconfundíveis suas criações. As coleções do Alexandre Herchcovitch e da Glória Coelho fazem retornar este assunto. Em ambos, o que está em jogo é a construção da roupa, assim como foi para Balenciaga.
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Fonte: Flickr | Foto: Alaz
Fonte: Flickr | Foto: sampaist
Fonte: Flickr | Foto: Hique
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Exemplos de coleções de Alexandre Herchcovitch.
Vale a pena conferir o trabalho desses dois virtuosos designers brasileiros e comparar com o mestre espanhol, a fim de perceber aproximações entre o seu trabalho.
Relações entre arquitetura e moda Cristóbal Balenciaga, estilista que tem sido “redescoberto” pelos designers contemporâneos, tem virado fonte de referência para a moda na 1ª década do nosso século. “Arquiteto da moda”, como era chamado em muitos editoriais, na última metade do século XX, Balenciaga é um dos grandes nomes do mundo da moda. Ele criou formas e volumes que se tornaram imortais. Além de grande criador de moda, Balenciaga foi também um indivíduo intrigante! A experiência em alfaiataria, adquirida nos primeiros anos da sua carreira, permitiu que o espanhol se tornasse um designer do, cortando, montando e, não raro, costurando-os por completo, tarefas que desde sempre são realizada por vários profissionais diferentes, raramente sendo todas elas executadas pelo mesmo profissional de moda. Tais habilidades fizeram-no ser considerado como um dos grandes mestres da alta costura no século XX.
Fonte: Wikipedia | Foto: jaypofromvox
Fonte: Flickr | Foto: Christine
completo, não só desenhando seus modelos, mas também modelan-
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A forma como expressão da estrutura – características estéticas mais marcantes: Formas como consequência – ou expressão – dos elementos estruturantes, que lhe dão e, sejam eles naturais ou criados pelo homem, uso de módulos (elemento gerador da estrutura), padrões e grades. Como nas representações clássicas, a geometria destaca-se, porém o uso de formas puras é quase obrigatório. Observem nas imagens abaixo como essas características apresentam-se
Fonte: Flickr | Foto: .Martin.
Fonte: Flickr | Foto: Blanco Teko
e, também, como são exploradas por um designer de moda:
Estação de trem em Lisboa.
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Fonte: Nakao | Fotos: Fernando Louza.
Fonte: Wikipedia | Foto: Gerhard Missbach
À esquerda, prédio em Londres. À direita, teto do Porto Internacional de Yokohama - Japão.
Criação de Jum Nakao.
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Skin + Bones Esta exposição explora os paralelos entre a pele (“skin”) – ou superfície exterior – ou estrutural – de vestimentas e edifícios dos últimos 25 anos. Confira: http://www.arcspace.com/exhibitions/skinandbones/skinandbones.html Uma outra boa pedida é ver algumas produções de Jean Matos, um dos inovadores da moda brasiliense.
Buscando a “essência” da forma através do minimalismo – características estéticas mais marcantes: A essência no uso da forma é o que destaca o minimalismo: “menos é mais” é o lema. Uso de poucos elementos (muitas vezes geométricos e simples) como base para a expressão. Simplicidade extrema de formas, mínimo de recursos e elementos, porém objetivando a sofisticação. Observem o incrível trabalho do arquiteto minimalista japonês Tadao
Fonte: Wikipedia | Foto: Bujatt
Ando e algumas possibilidades de construção da forma mínima em Moda:
Fonte: Flickr | Foto: coco + kelley
Tadao Ando - Church of Light (Igreja da Luz)
Calvin Kelin, 2010.
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Aula 8
Minimalism and Fashion: Reduction in the Postmodern Era Fundamental para quem se propõe a entender um pouco da moda contemporânea, o livro Minimalism and Fashion: Reduction in the Postmodern Era (2010), escrito pela historiadora de moda Elyssa Dimant é uma grande publicação que “examina”, como sugere a própria autora, o minimalismo na moda, estilo conhecido pelo uso de linhas simples e formas puras. Organizada por período de tempo, na obra são apontadas algumas relações entre a moda e outras modalidades de expressão – arquitetura, design e artes – de forma amplamente ilustrada com fotos de peças de Hussein Chalayan, Chanel, Prada, HalsFoto: divulgação
ton, Cloè e muitos outros designers de trabalho inesquecível, além de obras conhecidas de artistas, como Andy Warhol e Cindy Sherman, entre vários
Fonte: Flickr | Foto: Michael Boitin
outros.
Nas imagens acima, a designer Limi Feu, filha do também designer Yohji Yamamoto demonstra que seguiu os os
Hussein Chalayan SS07 - Fonte: Flickr | Foto: Laurel NYC
Fonte: Flickr | Foto: Ivo Mendes
minimalistas do pai, uma vez que faz uso da linha simples e das formas puras, de modo completamente equilibrado.
Observem as linhas bem demarcadas e a estruturação na construção das imagens, características marcantes do estilo minimalista na moda.
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Atividade 1 – Objetivo 1 A partir de o trecho a seguir, retirado do blog “DUS*INFERNUS”, escrito pelo filósofo e crítico Vítor Ângelo, e das imagens do desfile de primavera/ verão 2011, apresentados pela grife Versace (disponíveis no AVA), escreva um texto crítico, com base nas referências teóricas apresentadas até agora, analisando a relação entre forma, estampa e estrutura na Moda. Texto: A arquitetura na moda está ligada à silhueta e à proporção. Não adianta, por exemplo, fazer uma estampa gráfica por que o trabalho de construção não está nesse item e sim o de ornamentação. Além dessa confusão grosseira, o que vemos no Brasil é uma construção inspirada em arquitetura ou referindose a ela de maneira canhestra (...) (ÂNGELO, 2007)
3.1. As Dispersões contemporâneas “Dispersões contemporâneas” são, antes de mais nada, experiências no campo da configuração de imagens e narrativas, sejam elas construídas através de formas, peças, looks, ou na relação entre a modelagem das peças e suas estampas. Essas possibilidades de compor formas seguem “lógicas” próprias, que são, como nomeia o catalão Josep Montaner (2002): a “fragmentação”, o “caos” e as “energias”. O resultado dessas experimentações atuais são “obras que recriam na condição contemporânea referente intemporal da Torre de Babel, símbolo da dispersão, que existem em um tempo composto por sobreposições e dirigem-se a um sujeito ávido por consumir impressões e espetáculo”, conclui Montaner (2002). A seguir, seguem algumas elaborações, a partir dos 3 conceitos propostos: • utilizar formas na composição de imagens, a partir do conceito de fragmentação, pode ocorrer de dois modos, através da: a) bricolage, técnica de composição que se realiza através de colagens. Ela ganhou notoriedade, a partir da sua apropriação pelas vanguardas modernas, sobretudo o movimento dadaísta, como visto anteriormente, ou b) montagem, principalmente a montagem cinematográfica, que propõe uma narrativa, contar uma história; técnica também amplamente explorada pelas HQs (gibis). 149
Aula 8
• utilizar formas na composição de imagens a partir das experimentações da teoria do caos, onde o que se pretende é representar as for-
Fonte: Flickr | Foto: 10 Corso Como
Fonte: Flickr | Foto: 10 Corso Como
mas de maneira caótica, não padronizada, aleatória, fractais;
Experimentações do designer britânico Alexander MacQueen a partir de fractais.
• utilizar formas na composição de imagens a partir do conceito de desmaterialização/imaterialidade é buscar atingir – ou pelo menos representar – imagens que explicitam os conceitos advindos da física quântica, partindo da observação da luz em um primeiro momento, para, em seguida, recriar as relações de causa e efeito, envolvidas na manipulação de energias. Observe nas imagens a seguir o quanto a luz e as transparências são manipuladas, através de formas geométricas simples, criando jogos visuais onde o esconder e o exibir muitas vezes se confundem, chegando ao ponto de praticamente eliminar
Observem como a transparência e a leveza da cadeira “Louis Ghost Chair”, do designer francês Phillipe Starck, faz com que ela praticamente “desapareça” nos ambientes em que se insere.
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Fonte: Flickr | Foto: Starck Ting
os contornos dos objetos.
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Atividade 2 – Objetivo 2 Observe as maquetes (disponíveis no site indicado no AVA e nas imagens a seguir) propostas pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid que representa bem o seu desconstrutivismo orgânico, pelo arquiteto Tadao Ando, representante do minimalismo japonês e pelo arquiteto americano Frank Gehry, baluarte da cultura do fragmento todas elas elaboradas museus, a serem construídos em Abu Dhabi, no Golfo Pérsico. A partir da análise de como esses arquitetos se utilizam das formas para representar os seus princípios estéticos, identifique três estilistas/designers contemporâneos (diferentes daqueles apresentados nesta aula) e que atuem de forma semelhante aos três arquitetos citados. Apresente imagens das obras
Fonte: Flickr | Foto: Hoss69
Fonte: Flickr | Foto: Trevor Patt
desses estilistas/designers e justifique as suas escolhas.
Fonte: Flickr | Foto: Hoss69
Performing Art Center por Zaha Hadid.
Proposta de Tadao Ando para o Museu Marítimo em Abu Dhabi.
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Fonte: Flickr | Foto: Trevor Patt
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Guggenheim de Abu Dhabi por Frank Gehry.
Faça uma apresentação de slides com os resultados da sua análise, seguindo a seguinte estrutura: Slide 1: capa – identificação da Instituição, curso, disciplina, turma, tutor, nome do aluno e título da atividade; Slide 2: a proposta – proposta da atividade; Slide 3: 1ª Relação Estabelecida – imagem do trabalho do estilista/designer de moda, relacionado com a 1ª arquiteta; Slide 4: comentários 1 – texto com análise da 1ª Relação Estabelecida; Slide 5: 2ª Relação Estabelecida – imagem do trabalho do estilista/designer de moda, relacionado com o 2º arquiteto; Slide 6: comentários 2 – texto com análise da 2ª Relação Estabelecida; Slide 7: 3ª Relação Estabelecida – imagem do trabalho do estilista/designer de moda, relacionado com o 2º arquiteto; Slide 8: comentários 1 – texto com análise da 2ª Relação Estabelecida; Envie sua apresentação pelo Ambiente virtual.
Conclusão Design é uma atividade projetual complexa. A banalização do “fazer design” tem dificultado a compreensão por parte do Senso Comum sobre as verdadeiras atribuições da profissão, já que qualquer profissional – a maioria despreparados – auto intitula-se “designer” – desde o barbeiro, que mudou o letreiro de seu estabelecimento para uma placa de “Hair Designer”, os “micreiros”, que vendem 100 cartões de visita por “dez real”, e coisas do tipo. 152
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Tal desconhecimento da profissão pode ser atribuído, em parte, à pouca idade da profissão no Brasil (institucionalmente falando, já que a primeira escola superior de design instala-se por aqui, em 1963), ao caráter de “não ciência”, já que não possui campo próprio de conhecimentos, baseando-se sempre em outras ciências e atividades práticas, ao despreparo tecnológico (causado pelo grande período de reserva de mercado, sobretudo durante o Regime Militar), e ao enfoque dado a aspectos FUNCIONAIS ou FORMAIS-ESTÉTICOS, na maioria das escolas de Design. Ao Designer não cabe apenas conceber produtos NOVOS (por mais desejável que isso seja); a maioria das suas intervenções ocorrerá sobre produtos já existentes, numa atividade de REDESENHO – por isso o Designer precisa sempre recorrer à gramática das visualidades e às experimentações formais, a fim de aumentar o seu repertório estético. Se antes a forma seguia a função, a razão do Projeto Moderno, como postulavam os modernistas no séc. XX, na contemporaneidade a forma se libertou: hoje ela segue a emoção, ou segue quem ela quiser!
Para uma segunda olhada Ao longo desta nossa última aula, discutimos conceitos importantes para o entendimento dos diversos modos de utilizar a forma na Moda Contemporânea. Para tanto, precisamos adotar aqui, em nossa elaboração teórica, metodologia semelhante à utilizada por muitos dos grandes designers atuais, sobretudo a confrontação de conceitos. Assim, apresentamos as duas principais possibilidades de compreensão do momento atual, a pós-modernidade, a partir da sua confrontação com o momento anterior, o Modernismo. Ao delimitarmos no tempo e no espaço essa realidade, chegamos a uma série de possibilidades criativas para o uso da forma, como a fragmentação, o minimalismo, o estruturalismo e a organicidade, entre outras propostas, algumas delas chamadas de “dispersões”, mas não por desagregarem conceitos e sim por sobrepô-los.
Referências ÂNGELO, Vítor. Essa tal de arquitetura na moda. 2007. Disponível em:
. ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 153
Aula 8
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