‘The Matrix’ e a Filosofia No filme ‘ The Matrix’ a história desenvolve-se no futuro, onde os humanos foram dominados pelas máquinas. Na luta entre máquinas e humanos o protagonista, Neo, é programador de uma grande empresa de software e no seu tempo livre, hacker. Durante o filme, irá descobrir a verdadeira realidade acompanhado por um grupo estranho, liderado por Morpheus, e vai encontrar uma realidade em que os seres humanos são submetidos por máquinas, mantendoos conectados a um mundo de sonho e falso que vem de um programa de computador chamado Matrix. Para “acordar” Neo dessa realidade simulada, Morpheus convence-o a duvidar do que ele, até então, tinha aceitado como real e é aí que se pode observar uma ligação com o ceticismo de Descartes com relação à capacidade dos sentidos de nos proporcionar uma diferenciação entre o real e o irreal. Morpheus, no processo de tentar abrir a mente de Neo para essa ideia, questiona o que é real, como se define o ‘real’. De acordo com essa forma de pensar, até mesmo o que presenciamos em um sonho ou durante uma alucinação poderia ser considerado como real. O gênio maligno de Descartes é vividamente percebeu no filme como a inteligência artificial que força uma realidade virtual em seres humanos. Assim como Descartes percebeu que as sensações nos sonhos eram vívidas o suficiente para convencê-lo os sonhos eram reais, os humanos que estão conectados à Matrix não têm ideia de que suas sensações são falsas, criadas artificialmente ao invés de surgirem a partir de experiências reais. Mas como sabemos que estamos realmente acordados? Talvez os nossos sonhos tenham sido sonhados em um sonho. René Descartes apresenta uma questão fundamental: como se distingue a realidade dos sonhos? Morpheus também menciona o argumento do sonho quando pergunta a Neo se este já tinha tido um sonho que lhe parecia real e se saberia a diferença entre o mundo dos sonhos e o mundo real. Dessa forma, esta personagem confirma a sua crença na imprudência de confiar plenamente nos sentidos com o argumento de que, ao sonharmos, acreditamos que as coisas que acontecem nos sonhos são reais e, desse modo, nunca poderemos ter certeza se estamos “acordados” ou “ a dormir”. Morpheus dá a Neo duas possíveis escolhas que definiriam o seu destino: uma seria tomar uma pílula azul, que o faria continuar na Matrix, acreditando numa única realidade, ou tomar a vermelha, que o acordaria para o mundo real, fazendo-o deixar para trás a ilusão à qual ele tinha estado preso até então. Quando Neo escolhe tomar a pílula vermelha e acorda dentro de uma cápsula com vários tubos e fios ligados ao seu corpo, para Descartes esse despertar para a realidade significaria somente ter a noção de que a maior parte do que acreditamos ser verdade provavelmente não o é, e a chegada à teoria do cógito, ou seja, a confirmação de que, se nada existe, pelo menos podemos confirmar a existência de um “eu” pensante. O filme Matrix contém um teor filosófico que inclui temas pertinentes na relação do indivíduo com o mundo exterior, a sua mente e as implicações que surgem a partir da decisão que este toma sobre a questão do que considerar como real ou falso. É-nos induzida a partir desta narrativa, a reflexão sobre a validade do conhecimento provindo dos nossos sentidos, que é indispensável para se chegar a teoria do cogito de Descartes.