O Balaio Da Dislexia u4g72

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editor: Thiago Domingues Regina

projeto editorial: BookPro

coordenação editorial: Blenda Castro

revisão: Gabriel Branco

copidesque: Adriele da Silva

versão digital: Fabio Martins

capa: Clara Wanderley

e-ISBN 978-65-598-5449-3

Todos os direitos reservados, no Brasil, por

Editora Viseu Ltda.

[email protected]

www.editoraviseu.com

O Balaio da Dislexia

O balaio da dislexia era o que dizia Jeremias.

Logo pequeno tinha que lidar bruscamente com a vida

Não sabendo o que ao certo tinha

Só queria viver a vida,

Mas com o ar do tempo nem a vida queria.

Ouviu sua professora dizer ao seu pai:

“Olha, ele tem problemas mentais.”

Mas mal sabia ela que ele era sonhador

Vivia sonhando!

Vendo árvores de asas voando, peixes falando.

Sonhava mais do que vivia,

Mas com o ar do tempo a vida lhe consumia.

Já pensou em se matar, do quinto andar quis se jogar.

Sorte a nossa que ele ouvia a voz de um ser supremo

Que lhe dizia: “Por pior que seja a vida, um dia você irá sorrir sem parar!”

Beija-Flor

De sorte que logo amanheça e o amor se importe com o meu despertar.

Solitude

Desculpe, vou ter que me retirar;

preciso conversar comigo!

Nazaré Rufino

Cuidado com o que diz, mulher,

Tens a língua aguçada como a da serpente,

És melindrosa como a sombra da morte.

Quem há de calcar seus pés!?

Tens vinho doce como a própria nudez.

Seu olhar deslumbra a qualquer tolo perdido.

Tenha cuidado, tenha cuidado!

Verifique se colocou archete.

Não deixe o feixe à deriva.

Cuidado com as vigas, as fechaduras.

Cuidado na rua.

Cuidado com a rede, a rede!

O Devoto

Tô pra perguntar, mas não achei a quem:

A santa é santa por parte de quem?

Aliás, ela é devota de alguém?

Não sei se é a mesma,

Mas ontem a vi na vila

Tocando as galinhas.

Estava um sol de deixar nego louco.

E eu num sufoco danado

Pedi água à santa

Em vez de me dar um copo d’água

Me jogou foi a jarra.

Eu fiquei infernizado!

Disse a ela: Ah, dona santa,

Vou reclamar para o seu senhor!

Fui na capela e só tinha uma vela

E nenhuma alma viva

Me tremi foi todo de medo.

Eu que nunca tinha entrado em uma igreja

Percebi um clima intrigante

Um silêncio absoluto,

Deu pra ouvir até o som das minhas lombrigas.

O mais esquisito é que na terra onde eu vivo,

Todo mundo diz que é devoto de um santo.

Mas olha, acho que eles se esqueceram

Porque eu vi com minhas próprias vistas, não tinha uma alma viva na capela

Só uma vela acesa

E nenhum devoto pra rezar.

É, vai saber o que há!

Psiu

Ei, psiu!?

Eu preciso falar, mas baixinho

Senão Ele vai escutar

Olha, eu acho que Deus é poeta.

Terra do Esquisito

O Zé Brito esqueceu que o riso é grito

Na terra do esquisito,

Quem dirá cantarolar.

A ópera vira cama, a faca tâmara

E o disco sabiá.

É tanta confusão que pra chegar em um refrão,

Tem que sambar.

Isso é o que dá cantar fora do ritmo

O menino replicou, na terra do esquisito.

Aqui os doidos são aceitos,

Olho torto, três mamilos,

Unha de trapo e testa de quina.

Aqui pode ser baixinho,

Barriga volta redonda e Zé pretinho.

Só não pode ser este tipinho caricato engomadinho,

Deste que diz ser bonitinho.

Mas calma, quando todos forem aceitos

Não vai ter pretexto para não ser feliz!

O Dito de Deus

E nesse feriado foi o assunto mais falado.

Foi Deus que deu o recado:

— Pode reformar o telhado que hoje vai chover desenfreado!

Mas o povo se esqueceu do dito de Deus

E ficou todo mundo à vontade,

Na frente do mar, o sol de rachar o coco

Fazia qualquer garoto alado feliz.

É dia de sol, o menino diz:

— Guarda-sol estendido, trajes de banho por baixo do vestido

E o samba comendo solto.

Nem o André, nem o Toco saíram pra furtar.

Até as devotas do santo foram se arriscar.

Tinha crente do saião, seguidor de Alá, Hare Krishna,

Até George, o intelectual, aterrissou,

Se despiu e foi, a previsão é salgar.

Nesse dia de sol não se viu tristeza,

Era todo mundo alegre de pouca roupa desfrutando o verão!

Mas não é que Deus ficou contente!?

E decidiu deixar essa gente mais um bocado de tempo feliz.

“Mais duas pra eles e chega!

Lá do outro lado tem sertão,

Tem menino com sede pedindo provisão,

Eu vou fazer chover no sertão!”

E o tempo ou e virou a gota.

Eita, que o povo foi pego com a calça frouxa,

Esqueceram do dito de Deus.

E o céu virou!

De repente a correria,

“O povo ficou o dia inteiro na água

Agora chove e o povo se esconde?”

Disse Augustinho.

E garro a chover!

Choveu, choveu como nunca antes havia chovido.

O povo foi logo se abrigando.

O dia adormecia e chovia.

Agora é a vez do menino!

Ria, ria como quem nunca riu.

Foi do eixo até o lago seco,

Viu tudo se enchendo.

Não é que Deus deu uma gargalhada!?

Achou graça do menino feliz.

Encheu o lago seco, o riacho e o poço.

E é como quem diz, quando um está triste o outro está feliz!

A Porta

A porta está

Aberta

Ela sempre estará

Pra lembrar

Você

Que

O seu desorganizar

Faz flores em mim.

O Dilúvio

O dilúvio é ageiro,

Nessa terra de forasteiro,

De gigante, de Babilônia,

De arteiro.

Só não queira ser o primeiro a naufragar

Sem paradeiro,

Sem candeeiro.

Tenha um Bom dia!

Eu aqui da janela fiquei observando aquela mulher me saudando todos os dias,

Não era paixão que eu via, nem solidão,

Era só cordialidade, um coleguismo coisa assim.

Ela ava todos os dias na mesma hora,

Com um coque na cabeça, um vestido escuro,

Sempre de salto, seu perfume exalava como as flores da manhã.

Parecia sempre alegre e sorridente,

Era quase que uma obrigação estar às 6h45min na janela pra ouvir ela dizer:

— “oi vizinho, bom dia!”, e eu sempre repetia com toda alegria:

— “oi vizinha, bom dia!”.

Hoje eu tenho 75 anos e fico muito feliz em dar bom dia a todos,

Às vezes observo olhares tristes, perdidos, mas aí é só ser surpreendido por um

“bom dia” que do nada abre-se um sorriso no rosto.

A todos vocês amigos, um BOM DIA!

Desencontro

Eu fui, subi ali e não vi você ar

Desci a fim de ver o tempo ar

ou e nada de você voltar pra mim.

Acho que você não gosta mais de mim

Penso “Óh meu Deus, o que será de mim!?”

Eu fui, subi, desci, não vi você ar

Peguei o anel que eu trouxe pra te dar;

Eu vi o céu girando sem parar e nada de você voltar.

Acho que você não gosta mais de mim

Penso “Óh meu Deus, o que será de mim!?”

No Dia que o Palhaço Chorou

No dia que o palhaço chorou

Todo mundo parou pra ouvir

Quem estava no topo do prédio viu

Quem estava na laje viu

Quem estava na rua viu

Até o morto ressuscitou

O surdo voltou a ouvir

O cego ou a enxergar

Quem estava rindo parou

Só pra ver o palhaço chorar

O palhaço chorou,

Mas ninguém viu que o choro do palhaço era de brincadeirinha

Em qualquer outro lugar nunca se viu um palhaço chorar

Porque o choro do palhaço causa tristeza

E incerteza daqueles que esperam da felicidade

Senhor do Tempo I

E se tudo parasse?

Assim como quem respira e morre

Como a engrenagem de um automóvel,

Que por via de um mal funcionamento, deixa de engrenar.

E se tudo parasse com o tempo?

O globo parasse de se mover,

Quer seja sul ou norte,

O vento parasse de soprar.

E o tiro saindo da carabina do moço

Ficaria ali parado, se quer se movesse.

Se o padre não tivesse dado amém ao casório,

Se o juiz não tivesse dado o veredito,

Eita, que seria gota!

Mas há quem diga que um homem chamado Josué

Fez uma prece ao Redentor e parou foi é tudo,

Coisa que pra Ele foi desimpossível.

Eu que não duvido! Prefiro manter meus ouvidos antenados.

Acreditando em tudinho, tudinho!

Senhor do Tempo II

Que trato eu tenho com o tempo

Se nem rezar eu sei direito!?

Às vezes me pego pensando

Que diacho foi que me meti

Porque quando vi, já estava aqui

Parido por minha mãe e pela vida.

Não que eu esteja sendo ingrato tempo,

Mas que poderia ser eu, um bêbado,

Um louco, um suicida.

Alguém que desperdiçasse a vida,

Mas o que vou fazer,

É viver com o resto do tempo que o tempo me deu.

Uma coisa te peço tempo,

Não me pegue desprevenido

Porque só de pensar...

Vish, é melhor nem pensar nisso.

A Libertação de Dinorá e a Loucura de Bento

Um dia desses foi Bento revolto com sua cônjuge

Até a praça da nossa senhora do Bonfim

Em frente a capela dos esquecidos

Exclamou em alto e bom tom:

— Tenho contra ti Dinorá,

Que abandonaste seus deveres de mulher divina

Não cozinhastes mais meus pratos preferidos,

Não lavastes mais meus linhos finos,

Nem sequer tem respingo de sabão fino em seu umbigo,

Me largastes sobre a seca do deserto

Rogo, digníssima esposa, volte aos seus deveres de mulher divina

E abandone de vez essa nova vida.

Um Céu Pra Três Marias!?

Um céu pra três marias é culpa de quem?

De Deus ou do espaço?

Que não teve espaço pra criar um céu pra cada Maria.

Culpa de Deus ou do espaço!? O que está feito, está feito!

Mas olhe, pense,

Se foi Deus que criou o céu, a terra e inclusive o espaço, ele é culpado três vezes!

Mas quem é que vai dizer isso a Ele?

Eu que não me atrevo

Num tiro os cambitos do chão pra dizer nada ao Redentor.

Vê se eu sou bicho besta.

Mas olhe, pense,

Se Deus tivesse criado um céu pra cada Maria

O mundo teria que ser grande por demais

De forma que não ia caber.

Eu que me endoido com os meus pensamentos

E o mundo nada que muda com as minhas ideias

É melhor deixar assim

Tudo como está

Deus,

O céu,

O espaço

E as três Marias.

Sobre a Vida

Se não tiver tudo

Pode ser a metade.

Um cesto belo,

A taça pela metade.

Um azul bebê, um estandarte.

Os dedos entrelaçados na mesa,

Olhar perdido,

A sorte vista de um pavio.

Risos e gargalhadas,

Sol de madrugada

E o canto comendo solto.

Sem data para acabar,

Sem hora marcada

E hoje ainda é dia 23.

O Segredo da Fofoqueira

Não costumo jogar sujeira pra debaixo do tapete,

Mas depois desse bilhete é melhor seguir serena.

Sabe lá Deus se esse segredo inverte e fica aí a deriva.

Eu que curtia prosear até tantas da madrugada

Tenho que ficar calada feito minhoca,

Como quem foge em um metrô.

Se me pegam falando nos becos...

Ai meu Deus!

Meu peito quase que chega a parar.

***

Tive que sair fugida feito bala perdida,

Mas tá bom, um dia eu encontro um novo beco

E me caso com ele!

Poema do Amigo

Tijolo de concreto.

Amigo mais eterno.

Candeia que incendeia.

Amor que seja eterno.

Cobiça!? Já pro inferno!

Desejo mais profundo.

É julgo!? Não, eu juro!

Não é o fim de tudo!

Tenha certeza, se está difícil eu rezo.

Te faço um castelo, só pra te ver sorrir.

Tarde, tardinha, traz essa notícia,

Que estagnou meu coração.

Traz esse segredo.

Vai me tira o medo,

Pra aquietar meu coração.

Poesia

Eu não tô aí pro que dizem de mim.

O tiro que saiu pela culatra atingiu o sol

E foi uma explosão de luz!

Se desviou, foi culpa do sol.

Que ardia atrás da árvore de chocolate

Que derreteu e invadiu os quatro cantos da cidade.

Não é miragem, nem fantasia!

Era pra ser carnaval, mas se tornou poesia.

Provas

Segundo um professor, as provas não provam nada, então por que fazê-las?

Poetizando

É o poeta,

A qual sua língua floresce a cada balsar em palavras.

De tanta frase bonita que sai, chega a virar benção no cais.

A quem pode ouvir fica ali e não sai

É um elo tão profundo de fluidez

Que chega vez de fazer fila

Que muda a rotina de quem a.

Não há quem una tão bem as palavras como os poetas!

Ah, poeta...

Aquela Coisa

— Separa uma roupa pra mim?

— Claro! Aquela calça que ‘cê’ tem com aquela blusa que ‘cê’ usa?

Vida Aventureira

Foi deixando o seu canto,

Toda dor do duro pranto,

Se envolvendo entre o rio.

Há que beleza se envolver,

Na incerteza dessa vida,

Dessa vida aventureira.

Grito

Estou tonando o grito,

Escondendo o riso atrás da cara tola.

O Vencedor

Se tudo der errado, continue até que vença!

Ferve

Esse amor ferve mais do que água ardente.

Esse ardente ferve mais do que amor.

O Tempo

Tempo que não se prende em relógio, em calendário,

Não está na data de aniversário, nem no fim ou começo do ano.

Tempo que vai além de dias e das horas,

Tempo esse aqui que estou vivendo,

Tempo real, tempo em que o tempo não tem valor superficial,

Mas sim um significado digno de se exaltar

Enquanto durar esse tempo,

No tempo que eu vivo só quero viver,

Deixar que cada dia baste seu mau tempo.

Onde o tempo não é observado como regra,

Mas é vivido cada momento.

Esse tempo é o tempo que me basta.

Para você desejo bons tempos!

Útero

São paternos, maternas e órfãs.

Mas todos nascido do útero.

Santa obra da divindade.

Nem todo esforço profano vai destruir a arte de viver,

Mas caso morra, o útero tem que viver,

Ainda que não procrie.

O santo útero tem que viver!

Cuidado com as portadoras de útero

Elas são deusas, rainhas,

São eternas divas!

Chegando em Marte

Quero ver o sol,

Deitado na lua,

Olhando as ruas de Marte.

Quero ver o sol,

Olhando as estrelas,

Sentado na mesa do Rei.

Vivendo e sonhando

E acreditando em um futuro bom.

Quero ver o sol,

Quero ver a lua,

Quero andar nas ruas de Marte.

A Mais

Por mais que eu queira, é de outra beira esse olhar.

Poeira

De modo que o silêncio basta a essa alma cinzenta.

Harmônico

Eu amo o mistério,

O interno,

A gota presa na nuvem,

O grito fresco preso em armadilha,

O amor sem defeito, sem explosão,

Sem colisão, sem dor,

Só com o ardor da emoção.

Foguete

Na tomada do impulso, eu vejo o mundo todo rodando.

Pais e Filhos

Ai, Tempo, vê se vai com calma

Antes nem andava e agora está aí

Espichado feito o bico do tucano.

Falando mais do que ouve

Querendo correr, brincar de pega-pega e pique-esconde.

Daqui a pouco tá aí, feito um monte forte

Sorte a minha ter dado vida a essa cria

Que me deu motivos pra voar.

Mas calma, Tempo, vai devagar.

Porque se correr assim tão de pressa,

Não consigo observar.

Calma, Tempo, vai devagar!

Belinha

O que pode ser!? Diga-me você!

Estou sem saber dormir

O que quis dizer, quando olhou pra mim!?

Força do Amor

Quem te deu razão?

Força da paixão.

Foi descarrilhando, feito um trem a mil.

Esse coração não perde a pulsação

Vai justificando toda vez que

O amor te pega de jeito.

Não tem pretexto

É só se entregar

E deixar rolar.

Como bola de sabão

Beijo com paixão

É mais doce que doce de goiaba.

Amor

Amor em tudo,

Amor no nada,

Amor em tempo de água parada.

Joia Rara

Ele foi tímido até o vale de Assis

Rezou o terço duas vezes,

Tomou a água benta,

Cumprimentou uma moça de rosto conhecido.

O dia estava nublado

O povo todo meio calado

A caminho da trilha de Assis

Adentrando a trilha o tempo virou e a chuva caiu!

Ele se esquivou debaixo de uma cabana de cipó

E ficou observando as pessoas se apressando

Correndo da chuva.

Estava de bermuda azul, um sapato feio,

De camisa batida e no pescoço um colar

Que sua avó, dona Dina, lhe deu,

Após três dias de vida.

Movido Pela Dor

Foi dizendo baixo pelos cantos sua queixa

Embora seja uma atitude incomum

Foi soltando o verbo feito gralha.

Os rostos de absurdo vendo os sussurros desenfreados

Embora sendo baixo, o reprovavam

O que não sabiam é que isso era caso difícil.

Coisa de dor, daquelas que endoida qualquer gente sã

Quem saberia a dor que carregava!?

A quem meça a dor da morte, da saudade!?

Eu mesmo que escrevo, me compadeço

Não sei o que o fez sentir tanta agonia

Mas dá dó, viu? Só quem o viu sabia

Que ele era um cara contente

Mostrava sempre os dentes branco e aparentemente sadios

Hoje o vê pálido, mal cheiroso

Parece que carrega o opróbrio do povo.

Desculpe a emoção,

Me caiu um cisco no olho...

Essa carta o Tião mandou pro Zé, pra replicar pro Bené

Foi para dizer como as cordas aqui andam soltas.

Tá sofrido cada dia mais

É um irmão, parente, amigo, chegado e conhecido

Sofrendo nesse mundão.

Um abraço para todos vocês irmãos!

É!

Depois de Deus tudo é derivado!

Numa Nice

Tô numa nice no Brás

Em frente à estação

Aqui tem José e Maria

Tem gritaria e confusão,

Comida nordestina, produto falso no descontão.

Música lírica, o cara das mímicas,

O som alto no pancadão.

a deputado e ladrão.

Mulher da vila e as patis do Carrão

a o sol, a madrugada,

a chuva e o calorão

Todo santo novo dia é a mesma situação.

Onde Estará?

Cadê você, amor!?

Onde estará depois que o dilúvio veio!?

Eu já troquei a mobília.

Já fiz de cor a minha lista.

Vou me mudar!

Pra um lugar onde não vai me achar.

Eu te procurei, mas não te achei

Fui para Berlim, Bagdá, Ceará, Nova Iorque.

Cadê você, amor?

Os Covardes

De fato, o amor é enfado para os arredios.

Depois da Dor

Chore até enaltecer a dor

Perca o fôlego, a respiração, perca a noção.

Por favor, chore até secar a última gota.

Depois se levante,

Lave o rosto, escove os dentes,

Tire o pijama, tome um café e viva!

O Dito Cujo

O dito cujo, cujo as palavras não fazem o menor esforço para sair.

Cujo a língua está presa na consciência adâmica.

Todas as palavras bonitas têm um desfecho, até as ruins.

Mas ele se nega a diluir a consciência em sonoridade.

Se meu argumento não for verdade, por que não se defende, oras?

Isso é descaso?

Não vê como me deixas agoniado?

Só um pingado de sílabas de adjetivos

Por favor, eu agonizo de dúvidas.

Abate Mundão

Fiquei sentado o dia inteiro,

Vendo meu rosto trançando com o rosto do povão de cara fechada.

Farol vermelho, um palavrão.

Os glúteos chamam mais atenção

Do que a velha caindo

E o menino rindo sem educação.

Aff, a polícia para negão,

Disse: “Põe a mão na cabeça!”

Enquanto a velha do outro lado furta as frutas do sacolão.

A hora do almoço, fica a confusão

Tanta cara, para onde será que vão?

Ah, tá, hora do pratão.

Um real pra quem vivi no chinelo,

Quinze pra quem é mais sério,

Cem reais pra quem ou no Marcelo,

Mas como é certo, ninguém fica sem cafezinho.

E volta o mundo correndo.

As crianças saem do colégio fazendo o maior barulho.

Abriu a igreja, vai ter tarde de oração.

ou em bêbado chato dançando na minha frente, perdi a visão.

Me distraí pensando o que vou fazer quando acabar o plantão.

Eita diacho, volta a confusão, o mundo correndo.

A tia que brigou com a Maria vai pegar o mesmo busão.

Vão ficar virada uma pra outra, num abraço involuntário.

Esse aço coletivo é um perigo.

Ambulância fura o trânsito,

Quase leva o vacilão que deixou cair o smartphone no chão.

Minha vez, vou entrar de freguês no trenzão, até a próxima!

Tristeza de Dor

Sofro em solo fértil,

A água é pura, doce

O silêncio é válido, o choro involuntário.

Ah, tristeza!

Descobriu meu rumo e veio me perseguir!?

De fato, me queres assim!?

Abismado, calado feito poste sem Luzeiro!?

Dona Dirce

Se faz de difícil

Foge de mim feito praga

Mas hoje... é, hoje eu vi!

Você me olhando de cantinho de olho.

irando na espreita

Perdeu até a mão na sopa de feijão

Que ficou tão salgada que

Dá até para temperar um boi.

Vive dizendo coisa de mim.

Sou homem moço,

Trabalhador, estudioso,

Num pego um nada que não é meu.

Mas olha, Dona Dirce,

Se quiser me dar a sua mão

Ah, Dona Dirce...

Meu coração chega a pular.

Divino

O nome do amor é perdão,

Capaz de juntar barro e saliva para lhe abrir os olhos.

De romper sua riqueza para se submeter ao mais impuro do ser.

De fechar os olhos por não ar a maldade.

Mesmo assim, demonstra a mais pura ação de bondade.

Cotidiano

Em terra de louco escada rolante é terapia.

Aos 13 Anos

Tá de coitado, jogado no chão.

Sem paradeiro, olhando a noite escura frente a tanta gente.

Embora não tenha a sorte ou companhia,

Tem a dor que serve de poesia.

Ora, tanta gente a,

Tantos sorrisos velhos e alguns até sem graça.

Não há quem se embaraça com seu olhar

E as vidraças manchadas de dedos oleosos.

O sono enfraquecido, uma noite agitada,

O frio te cobrindo na praça.

A ópera no teatro não é mais alta

Que o som do buraco em seu estômago.

Olha esse ônibus cheio de gente e se pergunta:

“Pra onde será que eles vão!?”

Sem pai nem mãe, sem endereço, só a praça!

Procura-se

O alheio veio dizer que o último homem feio da terra sumiu.

Não se sabe o paradeiro,

Nem quando foi o sumiço.

Só deram conta quando não tinha mais sombra negra na terra.

Tudo o que se sabe é que ele era negro.

Não tinha RG, nem F,

Nem título de eleitor ou reservista

Não tinha sequer data de nascimento,

Quanto mais a de partida!

Era pacato, calado e feio.

O Dia do Ócio

Depois do dilúvio, o silêncio

Ao fim de toda arrebentação

A ação das aves voando mais perto do mar.

As vezes o remédio das dores não é a cura,

Mas sim a paz na tribulação.

Se Deus dissesse tudo que eu quisesse saber

Eu não seria o mesmo,

Mas ele me deu algo maior que tudo isso,

A fé!

A Terceira Idade

Tímido fui indo devagar para não gastar.

As estações vêm chegando, será que as verei?

Dindo

Embora tentei esconder estava ali.

O riso que guardei por timidez, mas ri.

Saiu no cantinho do rosto,

Uma muda de felicidade.

O Nome é Joana

E deu a mão à palmatória,

Não reclamou, só caminhou

Leve até o canto mais próximo e ficou.

Não tinha choro só dor,

Que comparado a dor física não era nada, doía o peito!

Quem lhe agrediu foi o tio, irmão da sua mãe.

Já ela tardia como os ventos que viria no inverno

Nada percebia,

Nem o desgosto estampado no rosto da sua filha.

O pai não se ouviu mais falar.

Foi trabalhar no quinto dia do mês e sumiu de vez.

Joana, não sei como lhe consolar,

Mas quando ler esse poema não se estrema!

Põem a boca no mundo, diz o absurdo que anda vivendo.

Meu sincero desejo é te ver livre.

Ah Joana, Joana...

Cortesia

“Ela tem direito” — Disse o sujeito da João 23

Ôh Irenês já és freguês a mais de mês e não sabes o quanto lhe cabe!?

Dessa vez vou deixar ar, mas no próximo não tarde em se apresenta.

Vou lhe deixar o aviso do mês, os fregueses têm vez aqui no Joares.

Marasmo

Tecendo a dor e solidão,

Ele foi lavrando o chão de barro,

Num marasmo conflitante,

Com desgosto tonado na voz.

Rumores do absurdo sussurrando em seus ouvidos

É a voz do menino preto

Suplicando os seios fartos de sua mãe

Que morreu na lavoura.

Ah Senhor! Cure a dor desse negrinho.

Queria ter sido um rei

Nascido em solo fértil, chorar só de alegria.

Não queria eu amaldiçoar a vida,

Mas que farei eu, avista de ser açoitado,

De ser deixado de trapo com as costas cheia de ferida ardendo no sol!?

Que culpa tenho eu de ter nascido preto!?

Tem dias que não vejo a hora do dia acabar

Pra eu me igualar a noite.

O Diálogo do Estúpido e do Disperso

— Por favor, você pode me dizer onde fica o guichê 74?

— Ao lado do 75!

Ponto e Vírgula

Sobre os lenções do amor nos veremos amanhã, sem rastro de dor!

Tenho Dúvida

Te amo, mas se você for uma farsa?

Um fruto espinhoso?

Um fluxo venoso desconjuntado?

Parece um recado profano

Seu encanto repentino.

Óh menino, se não for recíproco, por favor

Insisto, me deixe só!

Assistindo meus dedos se entrelaçando,

Se achando íntimos.

Prefiro isso, a dor da ilusão.

70x7

Ele viu quem o transgrediu.

Fez uma reza tão rasa que nem com asa de motorzinho fez subir.

Vai pecar assim na juventude!

Eita, nem em Hollywood se viu um drama tão assim.

Tomara Deus que Deus tenha paciência.

Por essa cadência, indo dessa maneira não vai ter céu, mas véu para cobrir.

É de Teu Parecer

Não sei por que, mas sinto que é de teu parecer meu olhar.

Chego a encher a cuca de tanta dúvida que dá.

Se dou um o pra lá me divido.

Eu respiro mal sem você.

Não é tão claro pra mim, mas vou arriscar dizer,

Que é de teu parecer meu olhar.

Tangente de Tempo

Tô de olho no grill e no café pequeno.

Vendo o espelho de rosto e o pesadelo.

Refletindo entre meu rosto e o bar da outra esquina.

Bem que eu queria um dia a menos nessa tangente de tempo.

Uma borda doce de salvação pra acompanhar o café.

Eu queria correr, dá no pé.

Mas sacode a realidade dizendo:

“Não tema! Enfrente a dor que um dia a.”

Enquanto isso, entorna a dor,

Mesmo se engasgar,

Pois um dia tudo a.

Sumário

O Balaio da Dislexia

Beija-Flor

Solitude

Nazaré Rufino

O Devoto

Psiu

Terra do Esquisito

O Dito de Deus

A Porta

O Dilúvio

Tenha um Bom dia!

Desencontro

No Dia que o Palhaço Chorou

Senhor do Tempo I

Senhor do Tempo II

A Libertação de Dinorá e a Loucura de Bento

Um Céu Pra Três Marias!?

Sobre a Vida

O Segredo da Fofoqueira

Poema do Amigo

Poesia

Provas

Poetizando

Aquela Coisa

Vida Aventureira

Grito

O Vencedor

Ferve

O Tempo

Útero

Chegando em Marte

A Mais

Poeira

Harmônico

Foguete

Pais e Filhos

Belinha

Força do Amor

Amor

Joia Rara

Movido Pela Dor

É!

Numa Nice

Onde Estará?

Os Covardes

Depois da Dor

O Dito Cujo

Abate Mundão

Tristeza de Dor

Dona Dirce

Divino

Cotidiano

Aos 13 Anos

Procura-se

O Dia do Ócio

A Terceira Idade

Dindo

O Nome é Joana

Cortesia

Marasmo

O Diálogo do Estúpido e do Disperso

Ponto e Vírgula

Tenho Dúvida

70x7

É de Teu Parecer

Tangente de Tempo

Sobre a Viseu

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